Especialista explica as lições de Warren Buffett para os investidores Angelo Pavini. Arena do Pavini 19/02/2015

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1 Especialista explica as lições de Warren Buffett para os investidores Angelo Pavini. Arena do Pavini 19/02/2015 Tudo que se refere a Warren Buffett, o segundo homem mais rico do mundo, com US$ 73,3 bilhões de patrimônio, e um dos mais bem-sucedidos gestores de recursos do planeta, desperta a curiosidade mesmo daqueles que não são investidores. Ajuda nisso o fato de a versão real e mais moderna do Tio Patinhas tentar todo ano desmistificar sua fama de Midas nas cartas ao mercado de sua empresa, a Berkshire Hathaway. Nelas, Buffett, de 84 anos, conta histórias não só de sucesso, mas os fracassos também. São lições de como lidar com pessoas e situações difíceis do Oráculo de Omaha, cidade onde fica a sede da Berkshire. Mas, entre conhecer as histórias de Buffett e repetir suas estratégias há um espaço enorme, mesmo com as cartas e todos os trabalhos e análises sobre a chamada teoria do investimento em valor que ele utiliza, e que aprendeu com o próprio criador da teoria, Benjamin Graham. Estudioso do trabalho de Buffett e da Berkshire, o professor de contabilidade americano Bruce Busta, Ph.D. pela Universidade de Nebraska, veio ao Brasil em janeiro para dar aulas em um curso internacional de MBA promovido pela espanhola IE Business School, de Madri e aproveitou para fazer uma apresentação especial sobre as principais lições do megainvestidor. A aula especial foi organizada pelo IE numa parceria com o instituto de certificação CFA Society. O MBA da IE reúne 24 executivos dos quatros cantos do planeta e mistura aulas online com presenciais, sendo que os encontros da turma acontecem a cada dois meses em diferentes lugares: Madri, Cingapura, São Paulo e Los Angeles. O Brasil foi a segunda parada dos alunos executivos itinerantes, 18 homens e 6 mulheres dos Estados Unidos, Egito, Espanha, Reino Unido, Bulgária, Moçambique, Rússia. A aula especial, realizada no Insper de São Paulo, analisou algumas das características de Buffett e da teoria de investimento em valor, incluindo a história da Berkshire Hathaway, a cultura de investimento e os erros do megainvestidor. Busta avisa logo de início que há coisas que podem ser copiadas de Buffett, mas outras, infelizmente, poucos poderão fazer. E isso porque Buffett é um investidor fora de série, em boa parte por sua excepcional disciplina. A paciência do caçador de oportunidades Alguns outros pontos, porém, podem ser repetidos, como evitar a alavancagem, ou seja, não usar grandes empréstimos para fazer seus negócios. A recomendação de Buffett é que, quando alguém for ampliar seu negócio, faça isso sem muita dívida. E não tenha pressa, não se precipite, vá devagar. Se estou lucrando 10% acima do mercado, eu até poderia ganhar mais se tomasse empréstimos, mas esse retorno é suficiente, explica Busta. Essa é a ideia, ser paciente, não ser ambicioso.

2 No lugar dos empréstimos, Buffett mantém grandes volumes de dinheiro em caixa e espera até que o mercado ou o papel que ele quer comprar entre em um período de baixa. E, se ele sente que essa queda é emocional e não racional, ou seja, o negócio da empresa não está comprometido, então ele compra a ação e espera que suba. Ele levanta um grande volume em dinheiro e espera por más notícias, resume Busta. Trata-se da aplicação prática da teoria do investimento em valor, que busca comprar barato empresas que o mercado ignora que estão com desconto. O caso Amex Um dos exemplos mais famosos dessa estratégia foi no começo da carreira de Buffett, antes da Berkshire Hathaway, quando ele geria outro fundo americano, o Buffett Partnership. Em meados dos aos 1960, uma das subsidiárias da gigante de cartões American Express se envolveu em uma fraude e a ação do grupo despencou. Buffett fez a lição de casa e viu que era uma reação emocional do mercado, pois a fraude não envolvia o negócio da empresa, que continuava sólido, e que a ação ia voltar a subir. Então ele comprou 5% do capital da Amex, aplicando 40% do patrimônio do fundo em papéis da empresa. Foi uma enorme aposta, arriscada, não acho que ele faria o mesmo hoje, mas ele era jovem, diz Busta. Em três anos, ele ganhou três ou quatro vezes o valor que aplicou. Se você ganhar três ou quatro vezes o valor aplicado em alguma coisa uma vez na vida já pode ser considerado bom, e ele fez isso várias outras vezes, lembra o professor. Racional e metódico O principal desafio para quem quer seguir os passos de Buffett é não se deixar levar pelas emoções do mercado. Ele é um investidor muito racional, penso até que se tornou um pouco chato por isso, muito metódico., diz Busta. Os hábitos de Buffett são, volta e meia, alvo de piadas na imprensa. Como o Tio Patinhas dos quadrinhos, Buffett não é de esbanjar dinheiro, mora na mesma casa desde 1958, dirige o próprio carro, não viaja e nem tira férias, almoça na mesa de trabalho e odeia festas e badalações. Sua grande diversão, admite, é ler balanços e, como o personagem, ganhar dinheiro, claro. Mas Buffett chamou a atenção ao doar, em 2006, US$ 30,7 bilhões para a Fundação Bill e Melinda Gates, do homem mais rico do mundo, Bill Gates, da Microsoft. Coisa que Tio Patinhas nunca faria e que fez Buffett entrar na história como o autor da maior doação já feita para uma instituição beneficente. Análise de empresas em 4 dias Outra coisa que Buffett faz muito bem, afirma Busta, é a lição de casa financeira. Ao comprar uma empresa, ele analisa os dados com muito cuidado, conferindo os números básicos do negócio, como as receitas, o fluxo de caixa, os lucros recorrentes. Ele faz também uma análise cuidadosa dos setores em que a empresa atua, para não ser pego de surpresa por problemas

3 conjunturais e para saber se o setor não está sujeito a mudanças drásticas, como ocorre no segmento de tecnologia. Mesmo com todo esse cuidado, Buffett costuma avaliar uma empresa muito rapidamente, em três ou quatro dias. Por isso é importante conseguir um bom desconto ou um preço bastante baixo, pois se ele cometer um erro de avaliação, ainda assim o negócio será vantajoso, diz Busta. Quanto mais simples, melhor Também para facilitar as análises e projeções, Buffett prefere negócios e setores mais simples, como ferrovias ou alimentos, que não estão sujeitos a tantas mudanças. Um exemplo foi a compra recente da gigante Heinz, famosa fabricante de catchup, em sociedade com o brasileiro Jorge Paulo Lemann. Lemann, o homem mais rico do Brasil e dono da Ambev, da Lojas Americanas, do Burger King e sócio da AB InBev é, para Busta, um exemplo de alguém que consegue seguir os passos de Buffett. Uma questão de caráter Buffett tem uma grande capacidade de avaliar a qualidade dos executivos das empresas que adquire, e não só para tocar o negócio, afirma Busta. Quando compra uma empresa, Buffett verifica se os executivos têm os atributos de bom caráter, integridade e confiabilidade necessários. Segundo ele, os executivos têm de ser o tipo de pessoa com quem você gostaria de se casar, explica Busta. Ele é muito bom em avaliar pessoas, se são confiáveis, eficientes, apaixonados pelo negócio, uma capacidade de avaliação difícil de encontrar, diz. São características difíceis de duplicar ou de reunir em uma única pessoa, talvez o caso de Lemann seja similar, diz. Reconhecer os erros Outra característica importante de Buffett, e que nem todos grandes empresários cultivam, é o hábito de reconhecer os erros que comete. Há 25 anos, o investidor escreveu em sua carta anual aos acionistas Os meus erros nos últimos 25 anos. Isso foi em 1990 e agora o mercado espera uma nova edição, neste ano, com os novos erros dos últimos 25 anos. Ele prometeu fazer o mesmo este ano e isso deve sair provavelmente em 15 de março, quando ele faz o encontro anual de acionistas, afirma Busta. As cartas anuais da Berkshire são uma boa forma de os investidores conhecerem as experiências e os conselhos de Buffett. Eu sempre encorajo meus alunos a lê-las, são engraças e sempre dedicam um capítulo para ensinar algo sobre um tópico específico fora do resultado da empresa, afirma Busta.

4 Investimento em ouro Na carta relativa a 2011, por exemplo, Buffett comentou os diferentes tipos de ativos de investimento, como títulos de renda fixa, ouro, e no que um é melhor que outro. Sobre o ouro, que ficou na moda durante a crise internacional de 2008, o gestor estimou que, se juntássemos todo o ouro do mundo, teríamos um cubo de 20,7 metros de cada lado e 170 mil toneladas métricas, com um valor aproximado de US$ 9 trilhões. Buffett lembrou que, com essa quantia, você poderia comprar toda a área de produção agrícola dos Estados Unidos, o que em cinco anos teria muito mais valor que o cubo de ouro, afirma Busta. Oportunidades fora do radar Busta observa que as maiores oportunidades hoje estão em empresas fora do radar, em geral em empresas pequenas e médias. Mas é preciso tomar cuidado com os setores. Quando se fala em negócios pequenos e médios, em geral se pensa em tecnologia, onde há um maior número desse tipo de negócio, mas também é onde o risco de uma empresa desaparecer é muito maior pela rapidez com que ocorrem mudanças no setor, diz. Prefira setores chatos Assim, dentro da visão de Buffett, é preciso ter certeza de que a empresa, daqui a 20 anos, vai continuar ali. Um exemplo excelente é a Heinz. As mudanças de hábitos alimentares humanos são muito lentas, afirma Busta. Há novos alimentos, mais saudáveis para nós, mas não mudamos nossos hábitos muito rápido, então, catchup é um investimento muito sólido, como picles, ironiza. A mesma lógica levou Buffett a investir em ferrovias. Buffett pensou, a população está crescendo, os padrões de vida estão melhorando, as pessoas vão querer transportar coisas, e qual tecnologia nova há para movimentar um monte de coisas?, lembra Busta. Não há muitas, e trens são muito confiáveis, então, ele investiu em trens. Então, temos de olhar empresas de sucesso pequenas e médias e procurar segmentos chatos, sem emoções, resume Busta. Empresas que chamam muito a atenção podem ter vida curta. Incentivos aos executivos Buffett se diferencia da maioria do mercado também na forma como recompensa seus executivos. Busta observa que ele é um dono que dá muita liberdade, não interfere muito nos negócios, e até por isso procura formas diferentes de motivar seus executivos, levando em conta que muitos deles já são bastante ricos. Aí entra novamente a capacidade de avaliar a personalidade dos dirigentes das empresas, para detectar se há paixão pela organização e pelos projetos e não apenas pelo dinheiro.

5 Busta destaca que Buffett é um sério crítico do sistema de incentivos via opções de ações e bônus com base em resultados de curto prazo. Em geral, os planos de remuneração dos executivos da Berkshire são baseados em itens que Buffett pode controlar, como relatórios concisos de resultados e ganhos de mercado, coisas que são importantes para a empresa. Além disso, as compensações são muito grandes, mas você não pode recebê-las antes de alguns anos, elas vão sendo pagas com o tempo, explica Busta. Isso evita que os bônus dependam apenas de decisões de curto prazo. Você precisa continuar apresentando resultados por um período longo e há cláusulas que podem reduzir os valores dos bônus se os resultados não se confirmarem ou forem revertidos. Recompra de ações Buffett mudou de ideia em alguns pontos, como não distribuir dividendos aos acionistas e nem fazer recompras de ações. No caso de recompras, a mudança reflete a visão de Buffett, que considera todos os demais acionistas da Berkshire como parceiros, explica Busta. Isso é muito importante, pois quando você recompra uma ação você está basicamente comprando o papel com desconto, e de certa forma tirando vantagem de seu parceiro, afirma o professor. Por isso ele fez comunicados em que dizia que achava que as ações estavam baratas, que os acionistas não deveriam vendê-las, mas se mesmo assim eles insistissem, a Berkshire recompraria pois era um bom negócio, diz Busta. Em 2011, ele disse que não gostaria de fazer isso, mas tinha de fazer antes que outro comprasse. Distribuição de dividendos Sobre dividendos, que Buffett prefere reinvestir na empresa, Busta acredita que o motivo de distribuir parte do lucro recentemente foi a conjuntura. Às vezes é um problema você ter muita geração de caixa e um momento difícil para compras. Até depois Buffett comprou a Heinz, e não entendi muito bem por que ele comprou apenas 50%, deixando outros 50% para o private equity brasileiro de Jorge Paulo Lemann, o 3G, afirma Busta. Ele tinha condições de comprar 100%, mas talvez quisesse ter a gestão da 3G no negócio, explica. Fonte: Angelo Pavini. Disponível em: