1 O rei D. Carlos I ( ) foi a figura central dos últimos anos do regime monárquico. Autoritário e interveniente na política, embora sem
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- Margarida Castelhano Deluca
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1 1 O rei D. Carlos I ( ) foi a figura central dos últimos anos do regime monárquico. Autoritário e interveniente na política, embora sem persistência, tornou-se uma personagem discutida, atacada e pouco estimada. Dizia que em Portugal não havia monárquicos.
2 2 O rei, com uma visão lúcida das dificuldades nacionais, deixou-se encadear a um regime que dava sinais de exaustão e cedo foi anunciado que se aproximava do fim.
3 3 A eleição de quatro aguerridos republicanos para a câmara dos deputados em 1906 Afonso Costa, João de Meneses, António José de Almeida e Alexandre Braga fazia prever uma situação política agitada para Portugal.
4 4 João Franco, escolhido por D. Carlos para presidir ao ministério e mudar de política em 1906, não consegue equilibrar-se na defesa da monarquia por todos os meios e travar o avanço para um regime democrático que o crescimento republicano mostrava urgente.
5 5 Professor e advogado de renome, Afonso Costa destaca-se como deputado pelos tremendos ataques desferidos contra a monarquia: saberá explorar o grande escândalo do período final do regime a questão dos adiantamentos à casa real.
6 6 No final de intervenções provocadoras sobre os adiantamentos Afonso Costa e Alexandre Braga foram expulsos da câmara dos deputados pelos soldados da guarda. A propaganda anti-monárquica logo aproveitou a situação para mostrar a repressão que crescia, mesmo no interior do parlamento.
7 7 Os políticos do rotativismo eram cúmplices dos adiantamentos à família real. O arrependimento mostrado já não colhia na opinião pública: a Pátria castigava-os.
8 8 O aproveitamento propagandístico contra os adiantamentos foi uma arma de arremesso dos republicanos, culpando políticos monárquicos. Todos eles tinham sido cúmplices, todos tinham conjugado o verbo adiantar nas várias pessoas.
9 9 A propaganda republicana instala-se também na rua, realizando-se comícios muito concorridos em que os caudilhos atacavam as instituições. O mais querido dos tribunos foi o Dr. António José de Almeida.
10 10 A Universidade de Coimbra era atacada pelo seu tradicionalismo e atraso, dando origem a protestos como em 1907 a chamada questão académica aproveitada pelo governo de João Franco e pelos republicanos.
11 11 Figura notável de professor da Universidade, político regenerador passado à República, o Dr. Bernardino Machado demitiu-se de lente da Faculdade de Filosofia em protesto contra a repressão instalada na Universidade em 1907.
12 12 O jornalista João Chagas, figura central da propaganda. Sofreu cadeia, deportação e exílio e elevou a grande qualidade a escrita panfletária com as Cartas Politicas ( ). Esteve também envolvido na organização da revolta armada.
13 13 A ditadura de João Franco (e do rei) apoiava-se naturalmente na repressão e na vigilância da imprensa. Antevia-se perigo numa revolta que essa situação estimulava.
14 14 O Dr. António José de Almeida foi o mais conhecido e estimado tribuno da propaganda, sendo também o responsável pela ligação do Partido Republicano à Carbonária para preparar o assalto ao regime.
15 15 A revolta dos marinheiros do navio Vasco da Gama em 1906 foi punida com extrema severidade pelo regime que não hesitava já em resolver pela força as dificuldades que se lhe iam levantando.
16 16 A rainha viúva D. Maria Amélia de Orleães foi uma presença determinante junto do filho, D. Manuel II, influência tida como nefasta. Não era uma pessoa popular.
17 17 José Luciano de Castro, chefe do partido progressista, foi um conselheiro muito ouvido pelo rei D. Manuel II durante o seu curto reinado. As composições e recomposições ministeriais devem-se em boa parte à sua intervenção.
18 18 O Dr. Brito Camacho, médico militar e jornalista, director de A Lucta, tornou- -se uma figura central da propaganda republicana, mostrando os desmandos da governação e do regime monárquico. Seria ministro do Fomento em
19 19 O Dr. Teófilo Braga, professor do Curso Superior de Letras, foi um político e teórico do pensamento republicano. Trabalhador incansável era conhecido pela sua modéstia. Presidiu ao Governo Provisório.
20 20 O Zé Povinho descobre que o interior do cofre da Companhia de Crédito Predial se encontra sem valores e que os seus próprios bolsos estão vazios. Os arrombadores de cartola afastam-se com o dinheiro. José Luciano de Castro, governador da instituição, está à espreita e deixa roubar.
21 21 O último presidente do Conselho da monarquia, o Dr. Teixeira de Sousa, pretendeu ainda salvar a monarquia agonizante com uma política liberal. Entre outras iniciativas, tentou limitar a acção das congregações religiosas porém, já não ia a tempo.
22 22 Padre e escritor de extrema rudeza, não poupando sequer a família real, Lourenço de Matos, director de O Portugal, foi um defensor agressivo da monarquia e uma figura muito criticada pelos republicanos.
23 23 O associativismo foi aproveitado pelos republicanos para propaganda e para criarem os organismos que haviam de servir para a defesa da República. A Federação Portuguesa de Livre Pensamento, ligada à Maçonaria, teve notável papel agregador contrário à política clerical.
24 24 O príncipe D. Afonso Henriques, tio e jurado herdeiro de D. Manuel II, figura popular e sem papas na língua, espantava-se com a beatice do sobrinho.
25 25 Luz de Almeida, Machado Santos e António Maria da Silva constituíram a Alta- Venda da Carbonária, direcção da sociedade secreta que preparou a intervenção armada popular na revolta contra a monarquia.
26 26 A campanha eleitoral de Agosto de 1910 foi em boa parte polarizada pela intervenção clerical, fazendo propaganda do bloco conservador e muito em especial do partido nacionalista.
27 27 As eleições de 28 de Agosto de 1910 deram um aumento da votação nos republicanos embora só elegendo 14 deputados e numa indecisão quanto ao equilíbrio dos partidos monárquicos. Em Lisboa, cidade republicana, e no Porto a vitória foi clara.
28 28 Soldados e civis juntos de uma barricada fingida durante a revolta.
29 29 Militares e civis junto de um peça de artilharia, durante a revolta de 4 para 5 de Outubro de 1910.
30 30 Auto da proclamação da República Portuguesa que ocorreu nos Paços do Concelho da cidade de Lisboa, pelas 8 horas e quarenta e cinco minutos de 5 de Outubro de Em nome do Directório do Partido Republicano Português Eusébio Leão declara abolida a monarquia e proclamada a República. Inocêncio Camacho anuncia a composição do Governo Provisório. A divisa do novo regime seria Ordem e Trabalho.
31 FONTES 1 Caricatura de D. Carlos por Leal da Câmara, História da República, Lisboa, Editorial O Século, p. 208 [1960]; 2 D. Carlos 1º, O Último, de Rafael Bordalo Pinheiro, in J. A. França, Rafael Bordalo Pinheiro, O português tal e qual, Lisboa, Bertrand, 1980, p. 308; Museu Bordalo Pinheiro / Câmara Municipal de Lisboa; 3 A fogueira: O inquilino do primeiro andar Parece-me que vou aquecendo, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 474, de 29 de Novembro de 1906; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 4 Exercício difícil, João o Temerário, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 453 de 3 de Junho de 1906; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 5 Afonso Costa, in Francisco Valença, Varões assinalados, Lisboa, nº 20, anno 1º, Junho de 1910; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 6 Futuro regulamento da câmara dos deputados, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 476, de 13 de Dezembro de 1906; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 7 O adiantador, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 559, de 16 de Julho de 1908; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 8 Um verbo irregular, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 560. de 23 de Julho de 1908; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 9 Comício republicano em Lisboa, uma ovação a António José de Almeida, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 545 de 9 de Abril de 1908; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 10 As Universidades, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 489, de 14 de Março de 1907; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 11 Bernardino Machado, in Francisco Valença, Varões assinalados, Lisboa, nº 20, anno 1º, Junho de 1910; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 12 João Chagas, in Francisco Valença, Varões assinalados, Lisboa, nº 24, anno 1º, Agosto de 1910; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal;
32 13 Jogo arriscado, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 501 de 5 de Junho de 1907; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 14 António José de Almeida, in Francisco Valença, Varões assinalados, Lisboa, nº2, anno 1º, Setembro de 1909; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 15 Ás mulheres portuguezas, in Suplemento Humorístico de O Seculo, nº 482, de 24 de Janeiro de 1907; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 16 D. Manuel II e a Rainha D. Amélia (viúva), História da República, p. 398; 17 José Luciano por Silva e Souza, in Xuão, nº 58, 2º anno, 6 de Abril de 1909, O Vulcano da política. Enquanto eu for vivo não hão de faltar ministros ; foto cedida pela Hemeroteca Municipal de Lisboa; 18 Brito Camacho in Francisco Valença, Varões assinalados, Lisboa, nº 33, anno 2º, Janeiro de 1911; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 19 Theophilo Braga, retrato da presidência da República, História da República, p. 356 / 357; 20 Crédito Predial, Desenho de Alberto Sousa, n O Mundo, nº 3414, de 4 de Maio de 1910; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 21 Teixeira de Sousa, in Francisco Valença, Varões assinalados, Lisboa, nº21, anno 1º, Julho de 1910; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 22 Padre Lourenço de Matos: in Xuão, nº 76, 2º anno, Tem razão. ; foto cedida pela Hemeroteca Municipal de Lisboa; 23 Estandarte da Federação Portuguesa de Livre Pensamento, in Museu Maçónico; 24 D. Manuel e o príncipe D. Afonso: por Silva e Souza in Xuão, nº 75, 2º anno, É sacristão ou chefe de Estado?... ; foto cedida pela Hemeroteca Municipal de Lisboa; 25 Luz de Almeida, Machado Santos e António Maria da Silva, in Francisco Valença, Varões assinalados, Lisboa, nº29, anno 2º, Novembro de 1910; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 26 Campanha eleitoral em Agosto de 1910: desenho em O Seculo, nº , de 23 de Agosto de 1910; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 27 A eleição de Domingo Lisboa faz o apuramento, in Suplemento humorístico de O Seculo, nº de 25 de Agosto de 1910; foto cedida pela Biblioteca Nacional de Portugal; 28 Arquivo Municipal de Lisboa / Arquivo Fotográfico: A Revolução de 5 de Outubro de 1910, de Anselmo Franco; 29 Arquivo Municipal de Lisboa / Arquivo Fotográfico: Acampamento revolucionário, de Alberto Carlos Lima; 30 Arquivo Municipal de Lisboa / Arquivo Fotográfico: Palácio da Mitra, Antigo Museu Municipal. Auto da proclamação da República Portuguesa a 5 de Outubro de 1910, do Estúdio Mário Novais.
Mas, um golpe de Estado militar instaurou a forma republicana presidencialista, em 15 de novembro de 1889.
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