TRIBUNAL SUPREMO. Câmara do Cível e Administrativo NA CÂMARA DO CÍVEL E ADMINISTRATIVO DO TRIBUNAL SUPREMO, ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, EM NOME DO POVO:

Transcrição

1 . Câmara do Cível e Administrativo ACÓRDÃO PROC. Nº 47/09 NA CÂMARA DO CÍVEL E ADMINISTRATIVO DO TRIBUNAL SUPREMO, ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, EM NOME DO POVO: FERNANDO ANTÓNIO GINGA, residente em Luanda, na rua Américo Júlio de Carvalho, nº 129, Bairro Azul, casado, interpôs a presente suspensão de eficácia do acto administrativo praticado pela ORDEM DOS ADVOGADOS DE ANGOLA,OAA, representada por Digno Bastonário, com sede em Luanda, na Rua Ho Chi Min, (Edifício da Direcção Nacional de Estatística). Para dar suporte ao peticionado veio em resumo dizer que: Não tendo a OAA exercido o seu direito de punir o infractor dentro do prazo (2 anos) precludiu o seu direito. Como consequência, estamos em presença de uma excepção peremptória que implica a absolvição do recorrente do pedido; O recorrente exerce a advocacia em tempo integral há mais de 10 anos, casado, pai de filhos, com escritório e funcionários em serviço no mesmo e foi, em 18 de Outubro de 1999, constituído para exercer patrocínio judiciário em defesa dos interesses de Paulo Cassanga, no processo n.º 300/99-C, (execução para pagamento de quantia certa); O acórdão ora recorrido julgou já prescrito, numa violação clara da lei do Estatuto da OAA e do seu regulamento. Houve prescrição do 1

2 procedimento disciplinar; A pena ora aplicada é exagerada e viola a legislação em vigor porquanto, na aplicação de uma medida disciplinar, todas as circunstâncias devem ser ponderadas, isto é, a condição social do infractor, a gravidade da infracção, o prejuízo provocado com a conduta, os antecedentes, tudo isto foi ignorado pela OAA, por se tratar do primeiro processo, atendendo ainda que o recorrente exerce a advocacia em tempo integral e é dessa profissão que sustenta a sua família, funcionários do escritório e demais encargos. Notificada, a recorrida, fls. 23, contestou nos seguintes termos: A pretensão do requerente não deve proceder porquanto na peça apresentada não foi alegado um só facto susceptível, ainda que rudimentarmente, invocando prejuízos; O recorrente já interpôs recurso contencioso da decisão da recorrida com o nº 218/09. Remetidos os autos para o digno Magistrado do M. Público este expendeu o seu visto, a fls. 29v. Colhidos os vistos legais. Cumpre apreciar e decidir. Decidindo Aos autos veio o ora recorrente peticionar a suspensão de eficácia 2

3 do acto proferido pela OAA. Resulta do nº 1 da Lei 8/96, conjugado com o nº 1 do art. 60 Decreto-Lei 4-A/96, de 5 de Abril, a possibilidade dos cidadãos e outras entidades privadas acautelarem os seus interesses, por via de requerimento dos interessados, lançando mão à suspensão da eficácia do acto administrativo, supostamente eivado do vício de legalidade, como acto prévio à interposição do recurso. Contudo, para que do requerido possam emergir os efeitos jurídicos almejados, o nosso legislador estabelece no nº 2 do art. 1º da Lei 8/96 que: A suspensão requerida só pode ser decretada quando cumulativamente se verifiquem os seguintes pressupostos: a) Existir séria probabilidade de execução do acto causar prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação ao interessado; b) E que da execução do acto não resulte lesão grave para a realização do interesse público; No caso sujeito, importa subsumirmos a factualidade alegada aos pressupostos legais acabados de elencar, para afinal decretarmos ou não a providência. Relativamente ao primeiro pressuposto legal somos a afirmar que o requerente, a dado passo do seu articulado, afirma que: Exerce a advocacia em tempo integral há mais de 10 anos, é 3

4 casado, pai de filhos, com escritório e funcionários em serviço no mesmo; Que o acórdão ora recorrido julgou numa violação clara da lei do Estatuto da OAA e do seu regulamento, porquanto houve prescrição do procedimento disciplinar; A pena aplicada é exagerada e viola a legislação em vigor já que na aplicação de uma medida disciplinar todas as circunstâncias devem ser ponderadas, o que não foi o caso. Do acabado de transcrever, somos a afirmar que o interessado não faz referência a eventuais prejuízos, quando está obrigado a invocar factos concretos e consequentemente a prová-los o que não nos é possível descortinar nem do requerimento inicial, nem do processo. Os factos alegados pelo requerente não revelam a existência, em concreto, do fundado receio da produção de prejuízos de difícil reparação ou irreparáveis, ou seja, até que ponto a sentença proferida na acção principal será inútil caso lhe venha a ser favorável. Aplicando subsidiariamente o consagrado no art. 342º do C. Civil, à jurisdição administrativa, ao requerente também impende o ónus de provar que, em concreto, os factos invocados causaram determinados danos concretos. Por outro lado, que prejuízos, ao se verificarem em concreto, são idóneos de causar danos irreparáveis. 4

5 A omissão de factos susceptíveis de consubstanciar, em concreto, o prejuízo irreparável, redunda apenas em detrimento para o requerente que pretende ver atendido o seu pedido pois que, em face do vertido nos autos, o Tribunal de modo algum e com segurança, pode constatar a existência do primeiro pressuposto legalmente exigido. Quanto ao segundo pressuposto legal, que consiste na possibilidade de resultar lesão grave para a realização do interesse público, somos a afirmar que dos factos alegados pelo recorrente esta questão não foi suscitada. Por outro lado, ficou bem patente dos preceitos legais acima citados a necessidade da verificação cumulativa dos pressupostos legais a fim do Tribunal deferir a providência. Outrossim, dada a complexidade dos interesses de que o recorrente se pretende acautelar, e a natureza da presente providência, o julgamento seguro dos factos arregimentados apenas poderá ter lugar na acção principal e nunca na presente providência. Decisão: Nestes termos e fundamentos, acordam os desta Câmara em indeferir o pedido de Suspensão de Eficácia do Acto Administrativo. Custas pelo recorrente. 5

6 Luanda, 14/05/10 Teresa Buta Joaquina do Nascimento André da Silva Neto 6