PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
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- Fernanda Oliveira
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1 QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ Sabrina Peripolli (*) (Programa de Iniciação Científica, Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR, Brasil); Murilo dos Santos Moscheta (Grupo de Estudos em Comunicação e Processos Grupais, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR, Brasil). Palavras-chave: Ensino superior. Lgbt. Saúde mental. contato: sabriperipa@hotmail.com O ingresso no ensino superior passou a fazer parte das aspirações de muitos jovens no Brasil e disso ocorre que o perfil do aluno que tem ingressado tem se diversificado. Considera-se que a democratização do acesso possibilita entrada na universidade de alunos provenientes de diferentes contextos socioeconômicos e sociais, e com desiguais condições de permanência nas instituições de ensino. Entende-se que o desenvolvimento acadêmico do aluno é uma resultante das condições do ensino oferecidas e das condições de vida do aluno. (Moscheta & Makiyama, 2013) Nos últimos dez anos, a UEM quase duplicou o número de alunos de graduação saltando de alunos em 2000 para em 2010, e praticamente dobrou o número de cursos de graduação oferecidos (36 em 2000 e 69 em 2010). Trata-se de uma comunidade grande, com alunos de diversos contextos socioeconômicos e culturais, com distintos recursos, necessidades e condições de permanência e conclusão do curso superior. Além disso, as diferentes demandas dos universitários são, de acordo com Figueiredo e Oliveira (1995), ligadas em sua maioria das vezes com fatores emocionais. Características dos alunos tais como etnia, condição econômica, e orientação sexual conformam cenários de participação na sociedade que tem impacto nesses fatores emocionais. Especificamente no que concerne à orientação sexual identifica-se que no Brasil o pertencimento à uma categoria identitária LGBT circunscreve um lugar de participação social ainda marcado por intensa violência e discriminação. Supõe-se que as especificidades deste lugar social demarcam também vulnerabilidades a serem consideradas no que se refere ao ingresso e permanência destes sujeitos na universidade. Assim, a partir desse projeto há o interesse de identificar as características socioeconômicas e culturais dos alunos LGBT s na UEM. Identificar essas características nos ajuda a demarcar quais são os aspectos da experiência universitária desses alunos que se
2 apresentam com maior vulnerabilidades e isto parece-nos fundamental para subsidiar o planejamento e implantação de políticas de assistência estudantil a essa população. Especificamente, busca-se verificar se existe diferença nos índices de sofrimento psíquico e nas dificuldades do percurso acadêmico apresentados pelos alunos não-heterossexuais em comparação com os alunos heterossexuais. Trata-se de um estudo empírico, exploratório e descritivo com método quantitativo. Neste estudo foi utilizado um questionário estruturado aplicado a uma amostra de 430 alunos da UEM, sorteados aleatoriamente e proporcionalmente contemplando todos os cursos e turnos. Desses 430 alunos, 28 (6,51%) correspondem ao grupo heterossexual e 402 (93,48%) fazem parte do grupo não-heterossexual. O questionário aplicado é composto de 8 seções e para esta pesquisa foram analisados os itens da seção Qualidade de Vida. Os dados depois de colhidos foram tratados estatisticamente e forneceram a base para a análise e discussão fundamentada nos estudos de gênero e sexualidade. De acordo com a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (PNSILGBT, 2010), há uma grande complexidade da situação de saúde dos grupos LGBT, especialmente, diante das evidências que a orientação sexual e a identidade de gênero têm na determinação social e cultural da saúde. Assim, ainda de acordo com a PNSILGBT (2010), Compreender a determinação social no dinâmico processo saúde-doença das pessoas e coletividades requer admitir que a exclusão social decorrente do desemprego, da falta de acesso à moradia e à alimentação digna, bem como da dificuldade de acesso à educação, saúde, lazer, cultura interferem, diretamente, na qualidade de vida e de saúde. Requer também o reconhecimento de que todas as formas de discriminação como no caso das homofobias que compreende lesbofobia, gayfobia, bifobia, travestifobia e transfobia, devem ser consideradas na determinação social de sofrimento e de doença. (p.10) Podemos relacionar esse processo de saúde-doença com os dados coletados na nossa pesquisa, pois os itens que analisamos se referem à qualidade de vida e esta não pode ser pensada separadamente ao processo saúde-doença. Assim, verificamos que em relação ao quanto estressores ou dificuldades interferem na vida ou no contexto acadêmico, a dificuldade financeira atinge 35,7% dos não-heterossexuais contra apenas 14,9% dos heterossexuais, os
3 não-heterossexuais também tiveram mais dificuldades de adaptação à novas situações de moradia 25%, contra 18,9% no grupo heterossexual, a dificuldade de acesso a materiais e meios de estudo (livros, computador, outros) atinge 14,35% dos não-heterossexuais contra 10,1% no heterossexuais. Além disso, nesse projeto verificamos que nos últimos 12 meses, os não-heterossexuais tiveram maiores dificuldades significativas ou crise emocional com 60,7%, e os heterossexuais com 41,8%. O contexto de socialização LGBT ainda é um contexto segregado, portanto seu espaço de socialização se dá em guetos, que são ambientes cujos roteiros de socialização e pertencimento incluem em grande parte o uso de substâncias como álcool, tabaco e drogas ilícitas. Verificamos isso nos dados que mostram que o uso freqüente de remédio para controle de dificuldades emocionais teve maior índice no grupo heterossexual, com 3,9% e 0% no grupo não-heterossexual, porém o uso de bebidas alcoólicas, tabaco e droga não lícitas foi maior no grupo não-heterossexual, com 14,3%, 10,71% e 14,28% respectivamente, contra apenas 3,98%, 2,48% e 0% do grupo heterossexual. Ainda de acordo com a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (PNSILGBT, 2010), a depressão, as crises de ansiedade e sensações de pânico parecem ser freqüentes entre as travestis. Apesar de nesse estudo não termos estudado especificamente as travestis, podemos verificar no grupo não-heterossexual há maiores índices de depressão (17,85% contra 16,9% no grupo heterossexual), maior ansiedade (78,5% contra 76,6 no grupo heterossexual) e pânico (14,3% contra 12,4% no grupo heterossexual). Assim, segundo a PNSILGBT (2010), A impossibilidade de manifestar sua orientação sexual no interior da família e nos locais públicos define para os gays o destino do exercício clandestino da sexualidade. Essa situação leva a freqüentar lugares e situações desprovidos de condições favoráveis à prevenção de doenças. (p.12) A condição de não-heterossexual incorre em hábitos corporais ou mesmo práticas sexuais que podem ter relação com o grau de vulnerabilidade destas pessoas, além do grande sofrimento psíquico decorrente da discriminação e preconceito, que podem acarretar entre
4 outras coisas em prejuízos para a vida acadêmica, como verificamos nos estudantes LGBT S da UEM. Os dados desse estudo devem ser considerados como indicativos iniciais da necessidade de uma pesquisa mais ampla e com maior abrangência em relação ao número de alunos, pois a amostra relacionada ao grupo não-heterossexual é pequena, de apenas 6,5% do total de entrevistados. Referências Dinis, N. F. (2011). Homofobia e educação: quando a omissão também é signo de violência. Curitiba, PR: Educar em Revista, 39, Figueiredo, R. M., & Oliveira, M. A. P. (1995). Necessidade de Estudantes Universitários para Implantação de um Serviço de Orientação e Educação em Saúde Mental. Ribeirão Preto, SP: Revista Latino-americana de Enfermagem. 3(1), Guimarães, F. D., & Rosa, M. C. (2012). Homofobia: a angústia e medo de ser o que se é. Humanidades, Artes e Ciências/UFBA. Recuperado em 9 de setembro, 2013 da, ABEH (Associação Brasileira de Estudos da Homocultura): option=com_content&view=article&id=129<emid=104 Kich, F. D. (2008, janeiro/junho). Da invisibilidade à visibilidade política: homossexualidade e processos de ruptura no Brasil. [S.L]: Revista Fórum Identidades. 2 (3) Moscheta, M., Makiyama C. T., Acorsi, C. R. L., Sebim, A.C., Borges, W. A., et al. (2012). Perfil Socioeconomico e Cultural dos Alunos de Graduação da Universidade Estadual de Maringá. Projeto de pesquisa, Departamento de psicologia, Universidade estadual de Maringá, Maringá, PR Pereira, G. R., & Bahia, A. G. M. F (2011, abril). Direito fundamental à educação, diversidade e homofobia na escola: desafios à construção de um ambiente de aprendizado livre, plural e democrático. [S.L]: Educar em Revista Santos, A. M. C. C. DOS. (2009/agosto). Articular saúde mental e relações de gênero: dar voz aos sujeitos silenciados. [S.L]: Ciência & Saúde Coletiva. 14 (4)
5 Sistema Nacional de enfrentamento à violência contra LGBT e promoção dos direitos (2013). Recuperado em 5 de setembro, 2015, de Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. (2010). Recuperado em 29 de março, 2015, de Borillo, D. (2010). Homofobia: história e crítica de um preconceito. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora. Moscheta, M. S. DOS. (2011) Responsividade como recurso relacional para a qualificação da assistência a saúde de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Tese de doutorado, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP. Recuperado em 29 de junho, 2014, de Grupo Gay da Bahia (GGB). Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais no Brasil (LGBT). Recuperado em 29 de junho, 2014, de dfe548b921d1.pdf/
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