Ref. Processo Licitatório SMSC/RN nº 464/ Pregão Presencial nº 008/2015

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1 Ref. Processo Licitatório SMSC/RN nº 464/ Pregão Presencial nº 008/2015 Trata-se de RECURSO ADMINISTRATIVO interposto pelas empresas licitantes DROGARIA BOA PASSAGEM LTDA ME e J.M. DE OLIVEIRA E SILVA & CIA LTDA, contra a decisão do Pregoeiro da Secretaria Municipal de Saúde do Município de Caicó/ RN que INABILITOU as referidas empresas. A empresa licitante DROGARIA BOA PASSAGEM LTDA ME foi inabilitada porque não apresentou o Balanço Patrimonial, demonstrações contábeis e índices de apuração da saúde financeira da empresa, não atendendo as exigências editalícias dos itens b, 7.1.3,c, ; já a empresa licitante J.M. DE OLIVEIRA E SILVA & CIA LTDA foi inabilitada porque não apresentou os índices financeiros que comprovam a boa situação financeira da empresa: Liquidez Geral e Solvência Geral, não atendendo as exigências editalícias dos itens No dia da sessão, os representantes credenciados manifestaram seu interesse de recorrer da decisão proferida pelo Pregoeiro sob a alegação de que as micro e pequenas empresas, de acordo com o art. 27 da Lei Complementar nº 123/2006, gozam da faculdade de apresentação do Balanço Patrimonial junto aos órgãos fiscalizadores. O Pregão Presencial nº 008/2015 tem por objeto o Registro de Preços para possível aquisição gradativa de medicamentos, suplementos e material médico de justiça. Invocou a empresa licitante recorrente DROGARIA BOA PASSAGEM LTDA ME, em seus memoriais escritos, que as empresas optantes pelo regime diferenciados de tributos Optante pelo Simples Nacional estão isentas de apresentarem balanços patrimoniais. Fundamentou sua inconformação na decisão do TCE/ RO nº /2013-9, Decreto Federal nº 6.204/07, art. 3º, e Lei Complementar nº 123/2006, arts. 26 e 27. Já a empresa licitante recorrente J.M. DE OLIVEIRA E SILVA & CIA LTDA, invocou nos seus memoriais escritos que a lei Complementar nº 123/2006 em nenhum 1

2 momento obriga as Microempresas e Empresas de Pequeno porte optantes pelo Simples Nacional a elaborar balanço patrimonial e suas demonstrações contábeis, e que os índices apresentados pela empresa, mesmo não sendo aqueles exigidos no edital (solvência geral e liquidez geral), representam a boa situação financeira da empresa. Fundamentou sua inconformação na Lei Complementar nº 123/2006, arts. 25 e 27, na Lei nº 8.666/1993, art. 31, DA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS DA VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO VINCULATÓRIO E DO JULGAMENTO OBJETIVO Há previsão editalícia no item 16.4 concedendo a oportunidade de qualquer pessoa solicitar esclarecimentos, providências ou impugnar o ato convocatório do Pregão, não havendo nenhuma manifestação das empresas recorrentes quanto à exigência editalícia objeto destes recursos administrativos. E ainda, o item , expressamente conclama a aplicação integral dos termos editalícios quando não houver a provocação dentro do prazo estabelecido, tudo em cumprimento e aplicação ao Princípio da Vinculação ao Instrumento Vinculatório Até 02 (dois) dias úteis anteriores à data fixada para recebimento das propostas, qualquer pessoa poderá solicitar esclarecimentos, providências ou impugnar o ato convocatório do Pregão A petição será dirigida ao Pregoeiro, que decidirá no prazo de 01 (um) dia útil Acolhida a petição contra o ato convocatório, será designada nova data para a realização do certame Não havendo provocação para esclarecimentos, providências ou impugnação dos termos do edital, o mesmo será aplicado na íntegra, operando a preclusão processual para todos os possíveis licitantes Os casos omissos do presente Pregão serão solucionados pelo Órgão Gerenciador. 2

3 Não concordando possível licitante com as regras dispostas em Edital, é assegurada a mesma, dentro dos prazos ali fixados, apresentar pedido de esclarecimentos, providências ou impugnar os seus termos. Assim dispõe a Lei nº 8.666/93, em seu art. 3º: Art. 3 o A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. Quando da proclamação da decisão de INABILITAÇÃO DAS EMPRESAS LICITANTES RECORRENTES, pelo não atendimento às exigências editalícias de HBAILITAÇÃO já identificadas, a mesma foi motivada e respaldada por critérios previamente fixados no Edital, de forma clara e explícita, aplicando-se estritamente o PRINCÍPIO LICITATÓRIO DO JULGAMENTO OBJETIVO, segundo o qual as decisões proferidas em sede de licitação devem ser abalizadas nas regras previamente exigidas no instrumento editalício. DA APRESENTAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DO ÚLTIMO EXERCÍCIO SOCIAL E DA COMPROVAÇÃO DA BOA SITUAÇÃO FINANCEIRA ATRAVÉS DE INDÍCES CONTÁBEIS PELAS ME E EPPS OPTANTES PELO SIMPLES NACIONAL A Lei Federal nº 9317/96, que dispôs sobre o regime tributário das microempresas e das empresas de pequeno porte, instituiu o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e 3

4 Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte SIMPLES dispensava as pequenas empresas na elaboração do balanço patrimonial. Já a Lei 8666/93 regra sobre a exigibilidade da apresentação do balanço como condição para participação nas licitações públicas. Então vejamos: Dispõe o 1º do artigo 7º da Lei 9317/96: 1º A microempresa e a empresa de pequeno porte ficam dispensadas de escrituração comercial desde que mantenham, em boa ordem e guarda e enquanto não decorrido o prazo decadencial e não prescritas eventuais ações que lhes sejam pertinentes: Dispõe o inciso I do artigo 31 da Lei 8666/93: Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômicofinanceira limitar-se-á a: I balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último exercício social, já exigíveis e apresentados na forma da lei, que comprovem a boa situação financeira da empresa, vedada a sua substituição por balancetes ou balanços provisórios, podendo ser atualizados por índices oficiais quando encerrado há mais de 3 (três) meses da data de apresentação da proposta; À época, criou-se o entendimento de que sob a premissa tributária as pequenas empresas tinham a faculdade de elaborar o balanço patrimonial. Porém, partindo-se da premissa Administrativa, no que se referem às compras governamentais, as pequenas empresas deverão apresentar o balanço em cumprimento ao inciso I do artigo 31 da Lei 8666/93. 4

5 Estávamos sob duas (02) premissas: tributária e administrativa. Sob a premissa tributária, a empresa optante pelo regime do SIMPLES não estaria obrigada a formar anualmente o Balanço. Sob a premissa administrativa, a Lei de Licitações tornou a apresentação do balanço patrimonial obrigatória. Havendo normas legais vigentes e conflitantes no ordenamento jurídico, aplica-se o PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE DA LEI, segundo o qual será aplicada a legislação específica que rege as licitações e contratos administrativos, em prejuízo da norma conflitante. Contudo, em 2006, a Lei nº 9.317/1996 foi expressa e totalmente revogada pela Lei Complementar nº 123/2006. E a LC nº 123/2006, que Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis n o e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n o 5.452, de 1 o de maio de 1943, da Lei n o , de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar n o 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis n o 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999, não manteve a dispensa de escrituração comercial, tratando sobre a matéria no seu art. 27. Assim dispõe o art 27 da LC 123/2006: Art. 27. As microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional poderão, opcionalmente, adotar contabilidade simplificada para os registros e controles das operações realizadas, conforme regulamentação do Comitê Gestor. A Resolução Nº 1.115/07, que aprovou a NBC T Escrituração Contábil Simplificada para Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, disciplinou no seu item 7: 5

6 7 A microempresa e a empresa de pequeno porte devem elaborar, ao final de cada exercício social, o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado, em conformidade com o estabelecido na NBC T 3.1, NBC T 3.2 e NBC T 3.3. A referida Resolução estabeleceu que a microempresa e a empresa de pequeno porte deveriam elaborar o Balanço Patrimonial. A Resolução Nº 1.115/07 foi revogada pela Resolução CFC N.º 1.330/ Atualmente, vigora a Resolução CFC N.º 1.418/2012 que aprovou a ITG 1000 Modelo Contábil para Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, que em seu item 26 estabeleceu que: 26. A entidade deve elaborar o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado e as Notas Explicativas ao final de cada exercício social. Quando houver necessidade, a entidade deve elaborálos em períodos intermediários. Assim, diante da exposição da evolução da legislação contábil em nosso país aplicável às micro e pequenas empresas optantes pelo SIMPLES, CONSTATA-SE INDUBITAVELMENTE que não há dispositivo legal (lei ordinária, complementar e resolução do conselho federal de contabilidade) que DISPENSE as micro e pequenas empresas da apresentação do balanço patrimonial, principalmente em sede de Licitações Públicas. Acerca do assunto, o jurista Sidney Bittencourt leciona: Situação sui generis ocorre no caso de microempresa, principalmente em função do tratamento diferenciado a ela conferido pelo art. 175 da Constituição Federal, vigendo, para essa, o Estatuto das Microempresas, que afasta a necessidade de possuírem demonstrações 6

7 contábeis, o que não impede que o edital exija essas demonstrações referentes ao último exercício social, de modo a permitir uma avaliação das condições financeiras para arcar com o compromisso. De outra forma, entendendo a Administração licitadora que o objeto é simples e facilmente executável, poderá não exigir a demonstração no edital. (in Licitação passo a passo. 4ª ed. atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Temas & idéias Editora, 2002, p. 158) Outrossim, o prof. Carlos Pinto Coelho Motta versou: As microempresas e empresas de pequeno porte devem, igualmente, elaborar o balanço patrimonial, considerando que, nesse aspecto, a LNL não foi derrogada pela LC 123/06. (in Eficácia nas Licitações e Contratos. 11ª ed. rev. E atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, 389) Por fim, foi editado o Decreto Federal nº 6.204/2007 que regulamentou o tratamento diferenciado às pequenas empresas no âmbito da administração pública federal. Assim dispõe o art 3º do referido dispositivo legal: Art. 3º Na habilitação em licitações para o fornecimento de bens para pronta entrega ou para a locação de materiais, não será exigido da microempresa ou da empresa de pequeno porte a apresentação de balanço patrimonial do último exercício social. Diante do dispositivo legal, podemos dizer que há uma exceção que dispensa às pequenas empresas na apresentação do balanço, que é nas licitações realizadas pela Administração Pública Federal cujo objeto seja para fornecimento de bens para pronta entrega ou para a locação de materiais, mesmo ultrapassando a sua função regulamentar. 7

8 Assim, não há sustentação legal e normativa nos MEMORIAIS ora analisados. Frente ao exposto, RATIFICO a decisão proferida nos autos deste processo, para INABILITAR as empresas licitantes: DROGARIA BOA PASSAGEM LTDA ME porque não apresentou o Balanço Patrimonial, demonstrações contábeis e índices de apuração da saúde financeira da empresa, não atendendo as exigências editalícias dos itens b, 7.1.3,c, ; e J.M. DE OLIVEIRA E SILVA & CIA LTDA - porque não apresentou os índices financeiros que comprovam a boa situação financeira da empresa: Liquidez Geral e Solvência Geral, não atendendo as exigências editalícias dos itens Encaminhem-se os autos para apreciação e julgamento do Exmº Sr Prefeito Municipal. Caicó/ RN, 04 de março de Ivaldo Dias de Medeiros Pregoeiro da SMSC 8