bacia do Ródano Rios, climas e homens
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- Kevin Stachinski Camelo
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1 Rios, 21
2 O Ródano, rio reordenado Denominado Rotten na primeira parte de seu curso, o Ródano nasce do derretimento da geleira de Furka no Cantão do Valais, na Suíça. Ele percorre 300 km antes de chegar ao Lago Léman. O trecho francês do Ródano, de Genebra até o Rio Saône, atravessa num curso sinuoso os maciços do Jura e dos Pré-Alpes antes de desembocar na planície do Rio Ain. Em Lyon, o rio esbarra na barreira rochosa do Maciço Central, que o obriga a mudar a direção do curso, seguindo um eixo Norte-Sul que manterá até o delta, na Camarga. A é notável pela diversidade dos - montanhoso, A geleira de Furka, como a maioria das outras geleiras alpinas, regrediu fortemente nos últimos 150 anos por causa da mudança climática. oceânico, continental, mediterrâneo - que afetam seu regime. O Ródano é uma via de comunicação importante, reordenada para otimizar a sua navegação, já na primeira metade do século XIX. A partir de 1934, foram desenvolvidas a navegabilidade, a energia hidrelétrica e o uso de águas para irrigação. O Ródano é um rio ordenado, represado e canalizado, cujo curso natural foi desviado há muito tempo. VOCÊ SABIA? Hoje, no Ródano francês, existem 22 usinas hidrelétricas, 16 reatores nucleares e 19 eclusas permitindo a navegação fluvial em quase 300 km. BACIA DO RÓDANO Doubs ALEMANHA OCEANO ATLÂNTICO CARTEIRA DE IDENTIDADE Mâcon FRANÇA Lyon RÓ DA NO Gardons Chalonsur-Saône Saône Drôme Ain Valence Avinhão Arles R Ó D AN O Du ra nce Isère Grenoble Lago Léman Genebra Verdon SUÍÇA Sion ITÁLIA Rotten Nascente: geleira de Furka, Alpes suíços Foz: Mar Mediterrâneo Comprimento: 810 km Vazão na foz: m 3 /s Área da bacia hidrográfica: 0,1 milhão de km² MAR MEDITERRÂNEO Boca do Ródano no Lago Leman, do lado suíço, carregado de sedimentos glaciais. Países: Suíça, França A lône é um braço abandonado ou secundário do Ródano. A maioria delas resulta principalmente da desconexão artificial após obras de correção do rio. Elas são alimentadas com as águas do aquífero aluvial ou diretamente pelo rio na época das cheias. Os rios Ain, Saône, Isère e Durance, os quatro principais afluentes do Ródano, drenam 60% das águas da bacia. Confluência do Ródano (à direita) e do Saône (à esquerda) em Lyon. A temperatura do Ródano e de seus afluentes aumentou significativamente nos últimos 40 anos. Essas alterações se devem à mudança climática, à vazão menos intensa e à descarga de água quente das centrais térmicas e nucleares. O Ródano despeja 54 bilhões de m 3 de água por ano, ou seja 20% das contribuições fluviais do Mediterrâneo 22
3 Um rio complexo Os afluentes do Ródano apresentam fluxos mensais muito variados. Alguns, alimentados pelo derretimento da neve, têm uma forte vazão no verão, outros, alimentados principalmente pelas chuvas, têm um regime importante no outono e no inverno. Os aportes desses rios pesam diferentemente no escoamento, nas cheias e nas secas do Ródano, conforme a localização e a estação. Diferentes cheias podem ocorrer na bacia no inverno e no outono: as oceânicas, no norte da bacia, as montanhosas (do maciço dos Cévennes) e as mediterrâneas A recebe fortes precipitações, quase mm de média anual. Nos Alpes, observam-se precipitações superiores a 3 m por ano, principalmente na forma de neve. extensivas no sul, estas últimas sendo extremas e repentinas. Quando ocorrem ao mesmo tempo ou com poucos dias de diferença, ocorre uma cheia generalizada, geralmente devastadora, como a de Segundo os pesquisadores, é difícil avaliar o impacto das mudanças climáticas na bacia do Ródano. Distinguir essa influência de outros fatores, como as atividades humanas e as mudanças no meio ambiente, é complexo. No entanto, observou-se que as temperaturas estão subindo, a evaporação é mais forte e o derretimento da neve mais precoce. Órgãos científicos (Irstea, CNRS, Météo-France, as universidades ou as grandes escolas) têm há anos uma parceria numa série de programas para estudar o recurso água e o impacto das mudanças climáticas. Esses projetos de modelagem hidroclimática, desde o Gewex-Rhône ao programa atual Modelização do Ródano, permitem demonstrar a sensibilidade do sistema às flutuações de origem humana e natural. Vazão média mensal Fonte: Banque Hydro O Rio Isère é um afluente alimentado pelo derretimento das neves e geleiras, o Rio Saône é um curso d água de regime estritamente pluvial. A vazão de cada um desses rios é muito diferente em função das estações. Em função dos regimes hidrológicos contrastados de suas várias sub-bacias e dos diferentes que atravessa, o Ródano é um rio de escoamento complexo, que pode experimentar períodos de cheias ou de secas em diversos momentos no ano. A partir de Valence, o Ródano e seus afluentes são afetados pelo clima mediterrâneo, as chuvas de outono sujeitas a cheias frequentes, como aqui nos Gardons. Os cais do Ródano em Lyon, em Essa cheia generalizada causou danos de mais de 1 bilhão de euros, tornando este episódio uma das inundações mais prejudiciais na França. Os pesquisadores preveem um aumento da temperatura do ar de 1 a 3 C, uma evolução incerta das precipitações no inverno (-10 a + 10%) e uma diminuição de 5% da pluviometria no verão. No entanto não vislumbraram a uma clara tendência da evolução das cheias. A Camarga é extremamente vulnerável às inundações do Ródano, porque sua topografia é plana e pouco elevada. Pode ser inundada em caos de ruptura do dique, como aqui em dezembro de O rio atingiu uma vazão excepcional de m 3 /s em dezembro de
4 Um rio anestesiado O material em movimento nos rios consiste de limo e argila em suspensão, areia, cascalho e seixos arrastados no fundo do leito. No caso do Ródano, o transporte de sedimentos finos em suspensão e areia foi reduzido no último século, mas continua grande. O do cascalho e dos seixos por arrasto quase já não existe. Desta forma, somente a areia, o limo e a argila dão forma à planície e chegam atualmente à foz do Ródano. Os ordenamentos Girardon, concebidos para aumentar a profundidade do canal navegável, bem como os grandes reservatórios represados, retêm grande parte dos sedimentos em suspensão e da areia. Os aportes de seixos e cascalho pelos afluentes são retidos pelas extrações maciças de agregados. Com a escassez de aluviões e sua canalização, o rio agora ficou inerte, seu leito e suas margens não evoluem mais, não se reconstroem mais. Os administradores do rio trabalham atualmente no desmantelamento dos ordenamentos Girardon para limitar o nível das cheias, estimular o transporte de sedimentos e incentivar os ecossistemas, recuperando os braços mortos do Ródano, as lônes e os meios ribeirinhos terrestres. O Observatório dos sedimentos do Ródano (OSR) é uma plataforma de pesquisa de parceria múltipla. Sua missão é produzir, a longo prazo, conhecimentos científicos interdisciplinares para melhor compreender a dinâmica do sistema e orientar os operadores públicos. Parceiros: Zone Atelier Bassin du Rhône, OHM Vallée du Rhône, os administradores do rio, os diversos serviços do Estado, a Agência da Água, a Compagnie Nationale du Rhône, a EDF (companhia energética francesa), as regiões ribeirinhas do rio, os institutos de pesquisa. A passagem de sedimento fino em Arles é estimada em 10 milhões de toneladas por ano, em comparação com os 20 milhões de toneladas por ano na década de 1950 e talvez 30 milhões toneladas por ano, no final do século XIX. Digues basses longitudinales Accumulation des galets Digue basse Epis plongeants Implementado entre 1880 e 1920, o sistema Girardon, constituído de respigas, travessas e diques baixos, reduz a largura do rio, aprofundando-o. Esses ordenamentos resultaram no aumento do período de navegação mas também cavar significativamente o leito, reduzir a diversidade do fundo, favorecer o depósito de limo e areia nas margens, agravar o efeito das cheias a jusante e isolar os afluentes secundários do Ródano. Depois de Lyon, o Ródano foi objeto de sucessivos ordenamentos para a proteção contra inundações, a navegação e a energia hidroelétrica. Eles modificaram o transporte de sedimentos do rio e, de modo mais amplo, sua geometria e seu regime. O litoral da Camarga regride porque o aporte de material sólido do rio flui diretamente para o mar pelos braços exteriores do delta, deixando a Camarga represada e isolada. Os aportes sólidos dos afluentes foram reduzidos em 5 vezes devido principalmente à retirada de agregados, particularmente na foz, a alguns ordenamentos hidrelétricos e à redução da vazão, que limita a capacidade de transporte. Em Saintes-Maries de la Mer, na Camarga, o blockhaus alemão construído originalmente no alto da praia, está atualmente submerso, o que permite avaliar o recuo da costa. A represa de Génissiat retém mais de 12 milhões de m 3 de sedimentos diversos 24
5 De volta às origens Com mais de um século de ordenamentos, o Ródano passou de um sistema com vários canais para um rio canalizado. Os desafios da restauração são múltiplos: reintroduzir e melhorar o transporte dos sedimentos grossos, reconectar os braços abandonados ( lônes ) e abastecê-los de água, aumentar a vazão nos trechos retificados, recuperar os habitats fluviais e restaurar os eixos de migração dos peixes. As lônes, postas à margem da dinâmica fluvial pelos diques e a regulação da vazão, se enchem de areia e limo, levando à formação de lagoas isoladas, poças e fossos. Drenar o leito e suprimir parcialmente os diques favorece o escoamento, recriando uma diversidade de habitats típica das planícies aluviais. Outros braços do leito histórico, ou Velho Ródano, recebiam apenas uma fração de sua vazão inicial. A vazão nesses trechos retificados aumentou a fim de melhorar o funcionamento ecológico e recuperar um rio intenso e caudaloso. Estas medidas contribuem para restabelecer uma continuidade ecológica e incentiva o acesso dos peixes na parte maior da bacia. É essencial acompanhar e analisar os efeitos da restauração para estendê-la a outras regiões da, sempre levando em conta o impacto das atividades humanas e das mudanças climáticas nesses novos habitats. O RhônEco (acompanhamento científico da restauração do Ródano) é um programa executado pela ZABR (Zone Atelier Bassin du Rhône) dentro do âmbito do plano do Ródano. O RhônEco está focado no acompanhamento ecológico do Velho Ródano e seus anexos restaurados. É um programa de pesquisa a longo prazo cujos objetivos são de analisar os efeitos ecológicos da restauração, avaliar a capacidade de prevê-los e, portanto, contribuir para a definição do potencial ecológico do rio. Antes Depois Desde 1995, está sendo implantado um programa de restauração hidráulica e ecológica, para recriar os habitats e tentar recuperar uma biodiversidade característica dos grandes rios europeus (Reno, Ródano e Danúbio). Depois do aumento da vazão reservada de 10 para 100 m3/s, em 2000, no Velho Ródano de Pierre-Bénite, a abundância relativa de certas espécies de peixes (alburnete, boga, leucisco) aumentou significativamente (42% em média). As lônes são restauradas por limpeza dos sedimentos e por abertura a jusante e algumas vezes a montante. Restauração antes e depois da lône Ciselande no setor de Pierre Bénite, ao sul de Lyon. A vazão do Velho Ródano foi reduzida (de 80 a 98%) para alimentar usinas hidrelétricas por um canal de desvio. Velho Ródano de Chautagne à direita e canal à esquerda. Os ordenamentos e barragens no rio fragmentaram o espaço aquático. Os deslocamentos dos peixes migradores foram limitados, como é o caso da savelha do Ródano. O plano de gestão dos peixes migradores implementado em 1993 permite a reabertura progressiva dos eixos de migrações. O zingel do Ródano, única espécie endêmica da bacia, não é mais recenseada no Ródano e só está presente hoje em alguns afluentes. A recuperação do Velho Ródano contribui para a preservação de centenas de outras espécies animais e vegetais 25
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