DESEMPENHO DE VARIEDADES DE MILHO-VERDE NO CULTIVO ORGÂNICO EM REGIÕES DE CLIMA QUENTE DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

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1 DESEMPENHO DE VARIEDADES DE MILHO-VERDE NO CULTIVO ORGÂNICO EM REGIÕES DE CLIMA QUENTE DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Luiz Fernando Favarato 1, Maristela Aparecida Dias 2, Gustavo Augusto Moreira Guimarães 2, Anderson Martins Pilon 1, Rogério Carvalho Guarçoni 1, Jacimar Luis de Souza1, André Ângelo Bellon 1 1 Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER). Centro Regional de Desenvolvimento Rural Centro Serrano, Rodovia BR 262, Km 94, CEP , Domingos Martins-ES, luiz.favarato@incaper.es.gov.br, anderson.pilon@incaper.es.gov.br, rogerio.guarconi@incaper.es.gov.br, jacimarsouza@yahoo.com.br, aa-bellon@hotmail.com 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano - Campus Iporá Avenida Oeste, Loteamento Parque União, CEP , Iporá-GO, maristela.dias@ifgoiano.edu.br, gustavo.guimaraes@ifgoiano.edu.br Resumo- Atualmente, grande parte do cultivo orgânico de milho é feito com sementes de híbridos convencionais, no entanto, as variedades de polinização aberta são preferíveis nesta situação. Desta forma, torna-se necessário o desenvolvimento de trabalhos para avaliação de variedade de milho-verde no cultivo orgânico em diferentes ambientes de produção. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar e selecionar variedades de milho-verde adaptadas aos sistemas de produção familiar e orgânico em regiões de clima quente do estado do espírito santo. Os experimentos foram conduzidos no delineamento em blocos casualizados com quatro repetições, em três propriedades orgânicas pertencentes ao município de Laranja da Terra - ES, sendo os tratamentos constituídos por seis variedades de milho-verde. As espigas foram colhidas avaliadas quanto ao número de espigas total e comerciais por hectare, produtividade de espigas total e comerciais e análise sensorial. Verificou-se que, no geral, todas as variedades apresentaram bom desempenho produtivo nos diferentes ambientes avaliados, no entanto, concluíu-se que as variedades recomendadas como alternativas para produção de milho-verde no sistema orgânico no município de Laranja da Terra foram AM 4003, INCAPER 203 e EMCAPA 201. Palavras-chave: Zea mays, produtividade de espigas, análise sensorial. Área do Conhecimento: Agronomia Introdução A sustentabilidade na produção de alimentos tem ocupado lugar de destaque entre as importantes questões para o futuro da agricultura no planeta, uma vez que a população mundial cresce a taxas superiores ao esperado, tendo a população atingido 7,2 bilhões de pessoas em O cenário para os próximos anos indica a necessidade de mudanças para o sistema produtivo. Neste ambiente, o cultivo orgânico apresenta-se como um caminho para a mudança de paradigma da relação da sociedade com a agricultura, como uma forma alternativa ao sistema agroindustrial em vigor na atual agricultura (NASCIMENTO et al., 2011). O resgate das questões sociais, ecológicas e ambientais na produção agrícola é o grande diferencial do sistema agroecológico, pois permite a equidade e o equilíbrio das relações e a sua sustentabilidade no tempo e no espaço. Soma-se a isso, uma maior preocupação com a preservação ambiental e com a crescente demanda por alimentos mais seguros, além da agregação de valor aos produtos (SOUZA; RESENDE, 2014; BOEF et al., 2007). Atualmente, grande parte do cultivo orgânico de milho é feito com sementes de híbridos convencionais, no entanto, as variedades de polinização aberta são preferíveis nesta situação, pois este tipo de variedade é formada por um conjunto de plantas com características comuns 1

2 geneticamente estável ao longo dos anos de cultivo. Com os devidos cuidados em sua multiplicação, pode ser reutilizada sem perda de seu potencial produtivo, permitindo ao agricultor produzir sua própria semente a um preço menor (CRUZ et al., 2008) e possibilitando sua autonomia em relação a este insumo. Mesmo adquirindo a semente de variedade todos os anos, o custo da semente para se plantar um hectare de uma variedade é cerca de cinco a seis vezes menor do que o preço de um híbrido simples. Desta forma, torna-se necessário o desenvolvimento de trabalhos para avaliação de variedade de milho-verde no cultivo orgânico em diferentes ambientes de produção. Objetivou-se caracterizar e selecionar variedades de milho-verde adaptadas aos sistemas de produção familiar e orgânico em regiões de clima quente do estado do espírito santo. Metodologia O Município de Laranja da Terra localiza-se na mesorregião central do Estado do Espírito Santo e está situado a 190 metros de altitude. O clima é do tipo tropical quente, com temperatura média anual em torno de 22,35 C, apresentando índices pluviométricos situados na faixa de 800 a mm ano -1, com maior ocorrência de chuvas nos meses de outubro a março. Os experimentos foram conduzidos no delineamento em blocos casualizados com quatro repetições, em três propriedades orgânicas pertencentes ao município de Laranja da Terra - ES, sendo os tratamentos constituídos por seis cultivares de milho AL Piratininga variedade convencional de ciclo semiprecoce, com textura de grãos semidentado, produzido pela CATI; UFVM 100 Nativo variedade convencional de ciclo semiprecoce, com textura de grãos dentado, produzido pela UFV; AM4002 variedade convencional de ciclo semiprecoce, com textura de grãos semiduro, produzido pela empresa Melhoramento Agropastoril Ltda.; AM4003 variedade convencional de ciclo semiprecoce, com textura de grãos semidentado, produzido pela empresa Melhoramento Agropastoril Ltda.; Capixaba INCAPER 203 variedade convencional de ciclo semiprecoce, com textura de grãos duro, produzido pelo INCAPER; EMCAPA 201 variedade convencional de ciclo semiprecoce, com textura de grãos semiduro, produzido pelo INCAPER. As parcelas foram constituídas por quatro linhas de milho espaçadas de 1,00 m com 5,00 m de comprimento, totalizando uma área total de 20 m², sendo considerado como área útil duas linhas centrais excluindo-se 0,50 m em cada extremidade da linha, perfazendo 8 m² de área útil da parcela. O preparo do solo foi realizado mediante aração e gradagens seguida pela confecção de sulcos de plantio. As adubações foram feitas com composto orgânico, na dose de 40 m³ ha -1, e fosfato natural reativo na dose de 100 g m -1 de sulco de plantio. Nos dias 07, 08 e 26 de julho de 2014 foi realizada a semeadura das variedades de milho, respectivamente, nas propriedades 1, 2 e 3. O espaçamento utilizado foi de 1,00 m entre linhas e 0,20 m entre plantas na linha, na densidade de duas sementes por covas, posteriormente desbastadas para uma planta por cova, preconizando um estande final de plantas ha -1. Foram realizadas uma capina e uma amontoa aos 30 dais após a semeadura, além de irrigações conforme a necessidade da cultura. A colheita das espigas, da área útil da parcela, foi realizada no estádio de grão leitosos e avaliadas quanto ao número de espigas total e comerciais por hectare, produtividade de espigas total e comerciais e análise sensorial. A escala de aceitação utilizada na análise sensorial foi 7 gostei muitíssimo; 6 gostei muito; 5 gostei moderadamente; 4 nem gostei/nem desgostei; 3 desgostei moderadamente; 2 desgostei muito; 1 desgostei muitíssimo. Os dados obtidos foram submetidos análises de variâncias conjunta de experimentos utilizando o teste de F a 5% de probabilidade. As médias de número de espigas total e comerciais por hectare, produtividade de espigas total e comerciais com e sem palha foram comparadas utilizando o teste de Scot Knott a 5% de probabilidade e análise sensorial pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados Na Tabela 1 encontram-se apresentadas as médias de número total de espigas ha -1, observase que o número médio de espigas por planta foi superior a unidade em todos as variedades avaliadas, indicando maior prolificidade dos materiais. Nota-se também que o grupo formado pelas variedades AM 4002, AM 4003, INCAPER 203 e UFVM 100 se destacou com maior produção de espigas ha -1 na propriedade 1, diferentemente, na área da propriedade 2 o grupo que apresentou maior produção de espigas foi formado pelas variedades AM 4002, AM 4003, INCAPER 203 e EMCAPA 201. Já na área da propriedade 3 não 2

3 houve diferenças entre as variedades quanto ao número total de espigas ha -1. Quanto ao número de espigas comerciais ha -1 (Tabela 2) observa-se que não houve diferenças entre as variedades nas propriedades 1 e 3, no entanto na área da propriedade 2 a variedade UFVM 100 apresentou menor número de espigas comerciais ha -1. Nota-se também que não houve diferenças entres os ambientes utilizados, e comparado ao número total de espigas ha -1 (Tabela 1). Em termos de produtividade total de espigas ha - 1 (Tabela 3) nota-se que não houve diferenças entre as variedades nas propriedades 1 e 3. Na propriedade 2 destaca-se o grupo formado pelas variedades AM 4003, EMCAPA 201, INCAPER 203 apresentando maior produtividade total chegando aos kg ha -1 com a variedade AM Observa-se não houve diferença entre as variedades nos diferentes ambientes. Quanto a produtividade de espigas comerciais ha -1 observa-se que apenas na propriedade 2 houve diferenças entre as variedades, com o grupo formados pelas variedades AM 4003, EMCAPA 201, INCAPER 203 e AL Piratininga apresentando produtividade superior (Tabela 4). Tabela 1 Médias da característica número total de espigas por hectare avaliadas em seis cultivares de milho-verde e em três ambientes AM a A a A a A ,1 AM a A a A a A ,8 EMCAPA b A a A a A ,3 INCAPER a A a A a A ,0 UFVM a B b B a A ,8 AL Piratininga b B b A a A ,8 Média , , ,7 Tabela 2 Médias da característica número de espigas comerciais por hectare avaliadas em seis cultivares de milho-verde e em três ambientes. AM ,5 a A ,8 a A ,0 a A ,8 AM ,3 a A ,3 a A ,0 a A ,5 EMCAPA ,5 a A ,5 a A ,3 a A ,1 INCAPER ,8 a A ,3 a A ,3 a A ,1 UFVM ,0 a A ,3 b A ,3 a A ,5 AL Piratininga ,3 a A ,0 a A ,0 a A ,8 Média , , ,5 Tabela 3 Médias da característica produtividade total de espigas por hectare (kg ha -1 ) avaliadas em seis cultivares de milho-verde e em três ambientes. AM ,0 a A ,0 b A ,3 a A ,8 AM ,5 a A ,3 a A ,0 a A ,6 EMCAPA ,0 a A ,0 a A ,8 a A ,3 INCAPER ,0 a A ,8 a A ,8 a A ,2 UFVM ,3 a A ,0 b A ,0 a A ,1 AL Piratininga ,0 a A ,5 b A ,3 a A ,3 Média , , ,7 3

4 Tabela 4 Médias da característica produtividade de espigas comerciais por hectare (kg ha -1 ) avaliadas em seis cultivares de milho-verde e em três ambientes. AM ,0 a A ,7 b A ,7 a A ,8 AM ,5 a A ,5 a A ,7 a A ,9 EMCAPA ,5 a A ,7 a A ,7 a A ,3 INCAPER ,7 a A ,2 a A ,2 a A ,4 UFVM ,5 a A 8.310,5 b A ,7 a A ,6 AL Piratininga ,3 a A ,7 a A ,5 a A ,2 Média , , ,6 Tabela 9. Médias de notas da análise sensorial de espigas de milho cozidas. Notas da análise sensorial AM4002 3,8571 AB AM4003 4,3571 AB EMCAPA 201 4,0714 AB INCAPER 203 5,2857 A UFVM 100 2,9286 B AL Piratininga 3,7857 AB Médias seguidas de uma mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Discussão Observa-se que o percentual médio de classificação de espigas como comerciais ficou em torno de 70 %, indicando que apesar da elevada produção total de espigas, chegando a 1,12 espigas por planta, em média, uma grande parte não atingiu o tamanho padrão para comercialização, sendo aquelas com comprimento superior a 22,0 cm, conforme MOREIRA et al. (2010). Em termos de produtividade, observa-se que a média de produtividade de espigas comerciais por hectare ( kg ha -1 ) se encontra dentro da média brasileira, que segundo Albuquerque et al. (2008), que se situa entre e Kg ha -1. Na análise sensorial observa-se que a variedade INCAPER 203 se destaca com a maior nota em valor absoluto, no entanto não difere estatisticamente das variedades EMCAPA 201, AM 4002, AM 4003 e Al Piratininga. Apesar de apresentar maior aceitação, a variedade INCAPER 203 foi desenvolvida para produção de grãos, apresentando baixo tempo de colheita, ou seja, passa do ponto ideal de colheita de forma rápida. Conclusão No geral, todas as variedades apresentaram bom desempenho produtivo nos diferentes ambientes avaliados, no entanto, tomando como base as características número de espigas comerciais ha -1, produtividade de espigas comerciais ha -1 e analise sensorial, tidas como as de maior impacto para os produtores, as variedades recomendadas como alternativas para produção de milho-verde no sistema orgânico no município de Laranja da Terra são AM 4003, INCAPER 203 e EMCAPA 201. Referências - BOEF, W. S.; THIJSSEN, M. H.; OGLIARI, J. B.; STHAPIT, B. R. Biodiversidade e Agricultores: fortalecendo o manejo comunitário. Porto Alegre, L&PM., CRUZ, J. C.; PACHECO, C. A. P.; PEREIRA FILHO, I. A.; OLIVEIRA, A. C.; QUEIROZ, L. R.; MATRANGOLO, W. J. R.; MOREIRA, J. A. A. s de milho em sistema orgânico de 4

5 produção. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, p. (Embrapa Milho e Sorgo. Comunicado técnico, 158) - MOREIRA, L. M.; FONSECA, D. M.; VÍTOR, C. M. T.; ASSIS, A. J.; NASCIMENTO JÚNIOR, D.; RIBEIRO JÚNIOR, J. I.; OBEID, J. A. Renovação de pastagem degradada de capim-gordura com a introdução de forrageiras tropicais adubadas com nitrogênio ou em consórcios. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 34, n. 2, p , NASCIMENTO, W. M. VIDAL, M. C.; RESENDE, F. V Produção de sementes de hortaliças em sistema orgânico. Disponível em: < /prod_sist_org.pdf>. Acesso 14 ago SOUZA, J. L.; REZENDE, P. Manual de. Horticultura Orgânica. 3 ed. Viçosa: Aprenda Fácil, p. 5