RECEITA PÚBLICA. Resultado primário é receita no aspecto restrito, ou seja, é aquilo que o Governo arrecada e não tem que devolver.
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- Victor Gabriel Aragão
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1 Curso/Disciplina: Lei de Responsabilidade Fiscal / 2017 Aula: Conceito e classificação da receita pública. RCL / Aula 10 Professor: Luiz Jungstedt Monitora: Kelly Silva Aula 10 RECEITA PÚBLICA Previsão art. 11 e seguintes da LRF (capítulo III) Existe uma clássica discussão sobre o conteúdo da receita pública. A doutrina (ex: Aliomar Baleeiro) afirma que receita pública envolve apenas aquilo que o Governo arrecada e tem à sua disposição para usar, sem precisar se preocupar em devolver esse recurso no futuro (ex: arrecadação de tributos). É o que a doutrina chama de receita no aspecto restrito. No entanto, a lei nº 4.320/64, quando apresentou um conceito de receita, optou em trazer para o conteúdo desse conceito a chamada operação de crédito, que é sinônimo de dívida pública. Ou seja, não se enquadra muito bem com a ideia restrita de receita. Resultado primário é receita no aspecto restrito, ou seja, é aquilo que o Governo arrecada e não tem que devolver. A discussão sobre o conceito de receita pública sempre existiu. A lei nº 4.320/64, ao usar operação de crédito como receita, está tratando receita sob o aspecto amplo. Em síntese, existem dois conceitos de receita: (I) (II) Sob o aspecto restrito capitaneado pela doutrina; receita é apenas a entrada ou ingresso que se incorpora ao patrimônio; Sob o aspecto amplo capitaneado pela lei nº 4.320/64, em seu art. 11; receita é toda e qualquer entrada ou ingresso fluxo de caixa/movimento. Página1
2 Importantíssima no conceito de receita pública apresentado acima é a expressão sem reservas, condições ou correspondências no passivo, ou seja, o valor não precisa ser devolvido a ninguém. Esse é o conceito de receita sob o aspecto doutrinário, em que as operações de crédito não estão incluídas. O 4º da lei nº 4.320/64 divide a receita em corrente e de capital. Em relação à esta última, a lei apresenta o seguinte: RECEITAS DE CAPITAL OPERAÇÕES DE CRÉDITO ALIENAÇÃO DE BENS AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS TRANSFERÊNCIAS DE CAPITAL OUTRAS RECEITAS DE CAPITAL Operação de crédito é sinônimo de dívida pública, tendo em vista que o valor será devolvido no futuro. Para a doutrina, a operação de crédito não poderia fazer parte do conceito de receita. No entanto, a lei nº 4.320/64 considerou como receita. Essa discussão já foi cobrada em concursos por diversas vezes. O art. 11 da lei nº 4.320/64, em seu caput, estabelece que: Página2 Art A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) 1º - São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982)
3 Receita corrente é para bancar despesa corrente, que, normalmente, é a despesa do dia-a-dia (de manutenção). Logo, se é uma despesa certa, deve ter uma receita certa para custeá-la. O art. 11 prossegue em seu 2º: Art. 11 [...] 2º - São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. (Redação dada pelo Decreto Lei nº 1.939, de 1982) Para a doutrina, receita oriunda de dívida não é receita pública porque está atrelada à uma devolução. Ou seja, a lei nº 4.320/64 e a doutrina não se entendem quanto ao conceito de receita pública. Ademais, receita pública tem na lei nº 4.20/64 uma classificação quanto à categoria econômica, em que são encontradas as receitas correntes para as despesas correntes (despesas de manutenção) e a receita de capital para as despesas de capital (ex: obra pública). Tanto a receita corrente, quanto a despesa de capital são codificadas pela Portaria Interministerial nº 163/2001 (Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento). Essa codificação é chamada de especificação da receita e da despesa. Isto é, para facilitar o controle, os órgãos de gestão possuem tabelas identificando as despesas e as receitas e existe um código da portaria para cada tipo de receita e despesa. Página3 Para o Direito Financeiro, empréstimo compulsório é uma operação de crédito (para o Direito Tributário é um tributo). É uma operação de crédito que entra no conceito de receita pública de capital. Existem outras formas de enxergar a receita pública. A doutrina, por exemplo, gosta da classificação quanto à coercitividade, em que se tem a receita originária e a receita derivada. Esta última são os tributos, objeto de estudo do Direito Tributário. A receita originária é aquela proveniente do próprio patrimônio público, ou seja, ela tem origem nos bens que o Governo tem (ex: recebimento de foro do terreno da Marinha).
4 Existem outras classificações e outros conceitos, mas a da doutrina e a da lei nº 4.320/64 são as mais conhecidas. A LRF criou o conceito de receita corrente líquida (RCL), que é um novo conceito de receita pública. É importante chamar a atenção porque toda vez que a LRF vai fixar o limite de algo, o parâmetro é a RCL. Ex: quando o art. 23 da LRF traz limite de gasto com pessoal, é observada a RCL, conforme art. 19 e 20; quando o art. 31 da LRF fala no limite da dívida pública, é observada a RCL. É um conceito novo e que está sendo utilizado. Ademais, o conceito de RCL se afina com o conceito de receita no aspecto restrito. Diante do exposto, não é interessante falar que a lei tem um conceito de receita e que a doutrina tem outro, pois existem duas leis conceituando receita. Uma no conceito amplo (lei nº 4.320/64) e uma no conceito restrito (LRF). No art. 2º da LRF tem-se o conceito de RCL: Art. 2º Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como: [...] IV - receita corrente líquida: somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzidos: a) na União, os valores transferidos aos Estados e Municípios por determinação constitucional ou legal, e as contribuições mencionadas na alínea a do inciso I e no inciso II do art. 195, e no art. 239 da Constituição; b) nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional; c) na União, nos Estados e nos Municípios, a contribuição dos servidores para o custeio do seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira citada no 9º do art. 201 da Constituição. Página4 O conceito de RCL despreza a receita de capital, estando preocupada, especialmente, com a arrecadação tributária. Existem dois regimes de aposentadoria no Brasil: o regime geral de previdência social (RGPS) e o regime próprio de previdência social (RPPS). O primeiro é referente ao regime da CLT, enquanto que o segundo é o
5 referente ao estatutário. A previdência tem natureza contributiva. Essa contribuição não está incluída no conceito de RCL porque não vem do Governo, mas do servidor. Então, RCL é aquilo que entra e fica com o Governo. Por isso que se afina com a ideia de recita no aspecto restrito. Importante destacar que essas receitas correntes serão apuradas em um mês de referência olhando para os 11 anteriores. Essa ideia é para neutralizar a sazonalidade do gasto público. De acordo com o 3º do art. 2º da LRF: Art. 2º [...] 3º A receita corrente líquida será apurada somando-se as receitas arrecadadas no mês em referência e nos onze anteriores, excluídas as duplicidades. Receita corrente está ligada a receita tributária. Alguns Estados e Municípios tem um período de grande arrecadação. Ex: o Município arrecada bastante no início do ano com o IPTU. Para evitar que o levantamento seja realizado em um período ruim, é adotado o parâmetro para evitar a sazonalidade. A exclusão da duplicidade se refere às receitas intra-orçamentárias. Às vezes a receita arrecadada fica passeando por órgãos, mas ela já entrou no ente da federação. Quando uma lei fala em abre o orçamento fiscal, o órgão X não usou uma certa receita e pretende passar para o órgão Y. Então, abre o orçamento fiscal, retira de um órgão e passa para outro. Isso não pode ser considerado uma nova receita porque já foi contabilizado. Com isso, evita-se a duplicidade. As receitas intra-orçamentárias já foram contabilizadas uma vez como receita do Governo e não pode ser computada novamente por ter mudado o destino. Em síntese, RCL não envolve receita de capital, não envolve operação de crédito e por isso se aproxima ao conceito de receita no aspecto restrito. Próxima aula serão estudados os artigos 11 e seguintes da LRF. Página5
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