UFGD série de análises literárias. CANTOS DE TERRA Poesia EMMANUEL MARINHO. Professor Renato Tertuliano
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- Maria dos Santos Cordeiro
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1 UFGD 2016 série de análises literárias CANTOS DE TERRA Poesia EMMANUEL MARINHO Professor Renato Tertuliano
2 SOBRE O AUTOR Emmanuel Marinho é poeta, ator e educador, nascido em Dourados. Tem formação acadêmica em Psicologia e pós-graduação em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Publicou os livros: "Ópera 03" (1980); "Cantos de Terra" (1982); "Jardim das Violetas" (1983); "Margem de Papel", (1994); "Satilírico", (1995), "Caixa de Poemas", (1997) e "Caixa das Delícias", (2003). Na música, Emmanuel gravou os CDs "Teré" e "Encantares" (2015), onde reuniu nomes singulares da música brasileira. É criador e intérprete dos espetáculos "Porã", "O Encantador de Palavras", "Satilírico", "Ultimato: O Poema Secreto de S.J.", dentre outros espetáculos solo, com encenação e texto do poeta. O multiartista excursiona, desde 1994, pelo Brasil, América Latina e Europa, sempre com sucesso de público e da crítica
3 "O título deste livro não é Cantos "da" terra, são cantos "de" terra. Se são "de" terra, são da matéria que envolve, absorve e transforma tanto a semente lançada quanto o fruto maduro. A terra é o invólucro da vida em seu nascimento e morte; o elo orgânico de um ciclo que não tem fim. Com toda a materialidade que evoca, "terra" desperta nos corações humanos o sentimento de pertencimento e de origem, de território, de identidade. "Canto" é uma das palavras mais bonitas da língua portuguesa: ela significa "emitir sons musicais". A beleza de seu significado, contudo, está no fato de que o canto é a expressão lírica de um sentimento tão profundo que não basta ser verbalizado; tem que ser cantado, tem que ser poesia. Os cantos de Emmanuel Marinho são seus poemas. São exaltações, declarações, confissões; são lamentos, denúncias, protestos", argumenta no prefácio, a professora da UFGD, Rita Pacheco Limberti.
4 As ilustrações de "Cantos de Terra", são marcadas pela originalidade. É um diferencial. "Os traços de Fernando Uzeda tentam reproduzir o ambiente onírico de "Índia Velha", projetam sombras mágicas nos personagens de "Juana e o Boiadeiro", prenunciam com etéreo lirismo os "Cantos de Juana", explodem em simbolismo em "O Menino e o Papagaio", até despedir-se em curvas fluidas como o vento entre A Lua e a Cidade e o Cantar dos Ventos...".
5 Segundo Rita Limberti, que assina o prefácio do livro: Cantos de terra. O título deste livro não é Cantos da terra, são cantos de terra. Se são de terra, são da matéria que envolve, absorve e transforma tanto a semente lançada quanto o fruto maduro. A terra é o invólucro da vida em seu nascimento e morte; o elo orgânico de um ciclo que não tem fim. Com toda a materialidade que evoca, terra desperta nos corações humanos o sentimento de pertencimento e de origem, de território, de identidade.
6 Canto é uma das palavras mais bonitas da língua portuguesa: ela significa emitir sons musicais. A beleza de seu significado, contudo, está no fato de que o canto é a expressão lírica de um sentimento tão profundo que não basta ser verbalizado; tem que ser cantado, tem que ser poesia. Os cantos de Emmanuel Marinho são seus poemas. São exaltações, declarações, confissões; são lamentos, denúncias, protestos. Todos são de terra: essa matéria cósmica e misteriosa que é a origem e o fim do homem, esse sentimento original que é quase um pecado, na medida em que rompe o trato de ser divino para ser humano.
7 Este livro é telúrico. Não só no nome, mas em sua composição gráfica artesanal: desde suas letras marrons despojadamente dispostas em caixa alta no áspero papel craftcor de terra, à modesta apresentação de seus dados catalográficos. Há uma igualdade surpreendente na forma de apresentação do título, do autor, do ilustrador, da editora, da dedicatória. O livro, em sua materialidade, é a metáfora perfeita da vida e do fazer artístico do poeta: seus poemas são puro artesanato sensorial, esculpido no barro bruto da condição humana, sua lida laboriosa com as palavras são o exercício cotidiano de um engajamento social inato e praticado.
8 Por uma viagem por campos, índios, cidades, luas, o homem e sua nudez. Um canto sem limites para exploração, em uma poesia que passeia por microcosmos do sangue e da dor da América Latina, buscando algum olhar que possa ser o melhor lugar do mundo. Cantos de Terra é a nova publicação de Emmanuel Marinho, poeta, ator e educador, considerado uma das maiores referências da cultura de Mato Grosso do Sul.
9 ÍNDIA VELHA : NARRATIVIDADE E A ARQUITETURA DE PATAMARES SINTÁTICOS NO FAZER POÉTICO DE EMMANUEL MARINHO Tomando como objeto de interesse o poema Índia velha de Emmanuel Marinho, que na sua estrutura, um narrador traz à lembrança de uma personagem, fatos históricos que marcaram a dizimação cultural dos indígenas com a chegada dos brancos tornando-se numa espécie de clamor dos povos indígenas à sua cultura. A análise identifica, no discurso utilizado pelo poeta, a retratação de socialização do povo indígena à cultura da sociedade não-indígena, por meio da análise das estruturas narrativodiscursivas, o sentido pode ser observado no plano do conteúdo e no plano de expressão, ou seja, nos textos e nos discursos. Jorgina Espíndola Ortega de Lima, Rita de Cássia A. Pacheco Limberti
10 ÍNDIA VELHA índia velha se lembra do cheiro verde na fonte limpa onde se matava a sede água boa de beber índia velha se lembra do teu tempo de criança tinha festa e tinha dança pra chover. índia velha se lembra do primeiro do segundo do terceiro branco que chegou se lembra? se lembra Quando tu andavas nua olha a cor de teu vestido encardido quando andas pela rua. se lembra! se lembra de teus colares teus amores a lua cheia lençóis de flores na aldeia se lembra? índia velha se lembra dos pés pisando no mato olha a cor de teu sapato pisando asfalto e areia. índia velha se lembra tantos brancos que chegaram tantos que até perdestes as contas e as contas de teus colares hoje andas tonta nos bares e é tão grande a dor que sentes e que o amor de tua gente foi junto ao rio foi junto ao rio por onde os brancos chegaram se lembra? se lembra? (MARINHO, 2000, s/p)
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