DIREITO AMBIENTAL. Proteção à Fauna Lei n 5.197/67 Parte 2. Prof. Rodrigo Mesquita

Transcrição

1 DIREITO AMBIENTAL Proteção à Fauna Lei n 5.197/67 Parte 2 Prof. Rodrigo Mesquita

2 CAÇA E SUAS MODALIDADES

3 CAÇA PROFISSIONAL CAÇA E SUAS MODALIDADES A caça profissional era permitida pelo Código de Caça de 1943, sendo somente extirpada do ordenamento jurídico nacional pela LPF, que a proibiu. Em outras palavras, a partir da edição da Lei nº 5.197/1967, ninguém mais pode auferir lucro com o produto da caça profissional e fazer dessa atividade lesiva ao meio ambiente o seu labor no Brasil, sendo, inclusive, a caça profissional tipificada como crime pela Lei nº 9.605/1998 (LCA).

4 A Lei nº 9.985/2000 (art. 18, 6º, da Lei nº 9.985/2000) também determinou a proibição da caça profissional, mas somente para a prática dela em reserva extrativista, sendo desnecessário tal dispositivo legal, pois, conforme argumentado, existe previsão genérica referente à proibição de referida conduta lesiva ao meio ambiente na LPF e na LCA.

5 O objetivo dos dispositivos que proíbem a caça profissional é evitar o abatimento indiscriminado e, consequentemente, a extinção de espécies da fauna silvestre, além de relativizar a concepção antropocêntrica de ser o homem o centro do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

6 Logo, se alguém desafiar a Lei e fizer da caça a sua profissão, estará incorrendo no crime previsto no art. 29, caput, e 5º, da Lei dos Crimes Ambientais, transcrito, ipsis litteris, a seguir:

7 Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena detenção de seis meses a um ano, e multa. 5º - A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional.

8 CAÇA DE CONTROLE A LPF (art. 3º, 2º), em exceção à regra que proíbe a caça, admite-a para fins de destruição de animais silvestres considerados nocivos à agricultura ou à saúde pública. Tal modalidade de caça destina-se ao reequilíbrio do ecossistema, em decorrência do aumento populacional de alguns animais, que podem se tornar indesejáveis. Apesar dessa possibilidade de controle, algumas exigências devem ser cumpridas, tais como as previstas no art. 10, alíneas a/m, da LPF.

9 Além disso, a pessoa que executa a caça de controle precisa estar munida da licença expedida pela autoridade competente, consoante o art. 13, caput, da Lei nº 5.197/1967.

10 Uma outra hipótese de caça de controle também está prevista na LPF (art. 8º, parágrafo único), ao estabelecer a possibilidade de ser igualmente objeto de utilização, caça, perseguição ou apanha os animais domésticos que, por abandono, tornem-se selvagens ou ferais

11 Portanto, a caça de controle exclui a ilicitude prevista no caput do art. 29, da Lei dos Crimes Ambientais, sendo, desta forma, permitida essa modalidade de caça, em situações que envolvam a destruição de animais silvestres considerados nocivos à agricultura ou à saúde pública, ou de animais domésticos que, por abandono, se tornem selvagens ou ferais, que, no caso de não serem abatidos, possam pôr em risco o equilíbrio do meio ambiente e a sadia qualidade de vida.

12 Recentemente, a Lei nº /2012 (art. 6º, 2 o, inciso I e II, da Lei nº12.725/2012) dispôs sobre o controle da fauna nas imediações de aeródromos, sendo, portanto, criada mais uma hipótese de caça controle. Por essa Lei, o abate de animais será permitido após comprovação de que o uso de manejo indireto e direto da(s) espécie(s)- problema ou do ambiente não tenha gerado resultados significativos na redução do perigo de colisões de aeronaves com espécimes da fauna no aeródromo e após comprovação de que o impacto ambiental ou o custo econômico da transferência de espécies sinantrópicas ou da(s) espécie(s)-problema não ameaçada(s) de extinção não justificam a translocação.

13 Resta lembrar que o produto da caça de controle não é passível de ser comercializado (art. 3º, caput, da Lei 5.197/1967).

14 CAÇA AMADORISTA O mesmo legislador que proibiu a caça profissional recua ao estabelecer, em seu art. 1º, 1º, da Lei 5.197/1967 que se peculiaridades regionais comportarem o exercício da caça, a permissão será estabelecida em ato regulamentador do Poder Público Federal, o que cria, em tese de duvidosa constitucionalidade, uma modalidade permitida de caça no ordenamento jurídico ambiental brasileiro, que exclui a ilicitude.

15 Essa modalidade de caça também é conhecida como caça esportiva ou recreativa. Contudo, a referida é de duvidosa recepção constitucional, pois a Lei Maior que inaugurou o Estado Democrático de Direito vigente, em seu art. 225, 1º, inciso VII, de forte carga biocêntrica, proíbe práticas que submetam os animais à crueldade, não estando, dessa forma, a cláusula legal que autoriza essa modalidade de caça, em consonância com o conteúdo material, referente ao meio ambiente na Constituição Federal de 1988.

16 Não restam dúvidas de que qualquer modalidade de caça é uma prática que derrama sangue e causa dor, sendo, por isso, degradante e cruel aos animais, e somente possível de ser tolerada em situações excepcionais extremas. A crueldade é a qualidade do que é cruel, e o art. 225, 1º, inciso VII, da Constituição Federal busca proteger o homem e não o animal, isso porque a saúde psíquica daquele não permite ver esse sofrendo em decorrência de atos cruéis.

17 A LPF autoriza ainda a captura e manutenção de espécimes da fauna silvestre em cativeiro (art. 9º, caput). Apesar de essa possibilidade estar prevista em Lei, é razoavel defender que não houve recepção desse dispositivo, pelas mesmas razões já expostas. Por fim, existe previsão legal de vedação absoluta da prática de caça amadorista em reserva extrativista (art. 18, 6º, da Lei nº 9.985/2000).

18 CAÇA DE SUBSISTÊNCIA Não existe previsão dessa modalidade de caça na LPF. Porém, podemos dizer que está implícita no art. 37, inciso I, da Lei nº 9.605/1998, que explica não ser crime o abate de animal, quando realizado em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família. Outra justificativa é o direito fundamental do Ser Humano se manter com vida, que reflete diretamente na argumentação do estado de necessidade. Restar lembrar que o produto da caça de subsistência não é passível de ser comercializado.