Por Dom Jaime Pedro Gonçalves, Arcebispo da Beira

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Ana Sofia Leveck Amaro
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1 SESSÃO DE ABERTURA Por Dom Jaime Pedro Gonçalves, Arcebispo da Beira Bem vindo o Senhor Dom Francisco, Bispo de Chimoio e vós todos participantes desta Semana Teológica. Mais uma vez, repetindo as mesmas palavras do Padre Zubiría, desejo boas vindas aos que chegaram das várias partes do País, das várias paróquias e missões para este pequeno grande Centro de Formação de Nazaré. Este Centro foi recuperado nos anos Desde então ele vai pouco a pouco recuperando a sua actividade e sua glória. As suas actividades são actividades que sofreram um pouco desvios e buracos de acordo com os tempos, na medida em que no início o Centro estava dedicado à Formação de casais de Catequistas. Por isso, o Centro tinha sido construído em forma de casas familiares, residências familiares disseminadas em várias partes do terreno. Mais tarde realizaram-se também actividades de investigação pastoral. Isso foi feito quando o Centro já tinha uma certa experiência até chegar ao tempo das Revoluções. Agora que recuperamos o Centro, portanto como dizia, vai recuperando novas actividades e está a conseguir um certo apreço entre nós homens da Igreja. Até os Bispos já gostam de se reunirem neste Centro, o que é muito bonito para o Centro. Acabais vindo assim a este Centro que vos acolhe cordialmente. O objectivo principal deste nosso encontro aqui é discutir e apreciar o papel da Igreja em Moçambique ao serviço da Reconciliação, da Justiça e da Paz. Este é um

2 tema importante na medida em que, em primeiro lugar, a própria Igreja de Moçambique é conhecida a nível internacional, a nível da Igreja de base universal, como uma igreja realmente comprometida nesta área. Se nós pedirmos a universalidade da Igreja a partir da Cúria Romana até, digamos, as Conferências Episcopais de diferentes partes do mundo, então, a esse nível, a nossa Igreja de Moçambique é conhecida como uma Igreja que trabalhou para a Reconciliação, e que guiou o processo de Paz em Moçambique. Por todos os lados, a gente ouve isso. Muita gente sabe que a Igreja de Moçambique trabalhou muito neste campo. Na primeira visita Ad Limina, que foi há dois anos, com o novo Papa Bento XVI, a primeira coisa que me referiu, na medida em que fui o primeiro a ser atendido, foi exactamente isso: São vocês que trabalharam pela Paz em Moçambique? Eu disse: sim... sim, fizemos esse trabalho. Tudo isso para dizer que este tema é importante no sentido que deu um nome a esta Igreja que está em Moçambique. Poucos consideram aquilo que fizemos depois da Paz no interior da Igreja. Pouca gente considera isso como algo que marcou a Igreja em Moçambique, mas o processo de Paz sim. Por isso fizestes bem em escolher este tema e torná-lo a reflectir. Fica bem reflectir sobre isso na medida em que nós, no passado, tomamos este tema como linha da nossa pastoral em Moçambique. Saíamos duma situação difícil, da Revolução Moçambicana, que nasceu um mês depois da independência com o jogo das nacionalizações. A Independência foi o 25 de Junho e 24 de Julho começaram as nacionalizações. Consideramos isso como 2

3 o início da Revolução Moçambicana, que depois se desenvolveu em muitos sectores da nossa sociedade e da Igreja. Então nós fomos apanhados nessa situação. Depois entramos numa outra situação complicada, a da guerra civil, que nos atingiu muito cedo, na medida em que a contra revolução apareceu a 17 de Dezembro de 1975, quando se deu a revolta em Maputo. Daí seguiu-se o processo até chegar a Renamo. Saíamos duma situação difícil naqueles anos, na medida em que a nossa Independência foi concebida como o resultado de uma guerra contra uma situação injusta, que é a colonização. É o conceito político e popular que existia naquela altura. Colonialismo significava na realidade dominação e exploração. Foi assim que a Igreja tomou o caminho da promoção da reconciliação, da justiça e da paz, sobre o qual volta a ser considerada aqui nesta Semana Teológica. Seria interessante, depois, ver o papel que elementos externos jogaram nesta situação. Situação já não só interna, pois, saíamos das guerras vizinhas: a guerra no Zimbabwe; a guerra na África do Sul com ANC, que nos tocou, porque nós estávamos implicados; e a guerra de Angola, que também nos tocava porque havia paralelismo com a guerra civil em Moçambique. Portanto, vedes que esse título, que marca a Igreja de Moçambique, veio também do sofrimento. Não sei se não vai fazer parte da nossa reflexão as circunstâncias actuais e penso que vai ser. Pois, esse tema tem a sua relevância, na medida em que no próximo Outubro a Igreja, ao nível do continente africano, vai retomar esse tema. 3

4 Eu digo retomar, porque este tema já aparece num documento, «A Igreja em África», onde há um capítulo sobre a Justiça e a Paz. Neste sentido vamos retomar esse tema no Sínodo Africano, que começa a 4 de Outubro e termina a 25 do mesmo mês. Já não é tanto a Igreja ao serviço da Reconciliação, da Justiça e da Paz em Moçambique, mas sim na totalidade do Continente Africano. Mas ao falarmos do continente africano, estamos a falar também de uma maneira especial de Moçambique porque, mais do que em muitas outras partes, o tema é de grande actualidade para nós, como um dos casos de conflitos, aqui em África, em que a Igreja tendo intervindo, a coisa ficou definitivamente resolvida. Noutras partes os nossos colegas também trabalharam, mas as situações são reincidentes. Durante alguns meses param os conflitos e, depois, dentro de pouco tempo, recomeçam. E às vezes mesmo, não muda nada. Bom, isso então dá importância ao tema que o Centro escolheu para nós todos nesta Semana Teológica. Então chegaremos a conclusão de que é preciso trabalhar pela Justiça e pela Paz em Moçambique e os pormenores hão-de vir mais tarde com os intervenientes. Por enquanto, queria só dizer a vós todos que estais a celebrar agora esta Semana Teológica, que tendes nas vossas mãos um tema interessante como história, um tema interessante como necessidade pastoral do momento presente e um tema através do qual podemos nós também responder às ansiedades da Igreja no Continente Africano, que busca um caminho próprio para enfrentar todas estas questões que nós hoje 4

5 resumimos com as palavras: Reconciliação, Justiça e Paz. Bom trabalho a nós todos e ao Centro. Melhor trabalho ainda para os que nos vão ajudar a reflectir. Então, bem vindos e obrigado. Dom Jaime Pedro Gonçalves, Arcebispo da Beira 5

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