ANÁLISE DAS PERÍCIAS JUDICIAIS REALIZADAS POR UMA EMPRESA DE CONSULTORIA NO PERÍODO DE

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1 ANÁLISE DAS PERÍCIAS JUDICIAIS REALIZADAS POR UMA EMPRESA DE CONSULTORIA NO PERÍODO DE Luiz Henrique Batista Moreira (UTFPR) Rodrigo Scoczynski Ribeiro (UTFPR) Rodrigo Eduardo Catai (UTFPR) Adalberto Matoski (UTFPR) Os sistemas de gestão de segurança no trabalho vêm surgindo como soluções para frear a crescente quantidade de acidentes de trabalho. As condições de trabalho também são objetos de discussão, e entre elas se destacam as condições consideradas insalubres, perigosas ou que proporcionam condições especiais para a aposentadoria. Estas condições podem ser solicitadas ou revisadas via poder judiciário, mediante perícia técnica executada por profissional habilitado. Este trabalho analisou 542 perícias técnicas solicitadas no estado do Paraná, das quais 52% comprovaram o direito dos trabalhadores a alguma das condições supracitadas de trabalho. A insalubridade teve suas principais observações quanto aos índices de ruído e agentes químicos. A periculosidade, por sua vez, destacou-se em serviços com energia elétrica. As funções que mais demandaram perícias foram as

2 de operador de máquinas e eletricistas, ficando na contramão do avanço do desenvolvimento industrial e tecnológico. A quantidade de situações onde foi observado o uso inadequado de EPI também chama à atenção. Percebeu-se por meio da quantidade de perícias judiciais analisadas que a Segurança do Trabalho deve procurar melhores soluções às condições do trabalho. Palavras-chave: Insalubridade, Perícia Judicial, Periculosidade, Acidentes de Trabalho. 2

3 1. Introdução Anteriormente à Revolução Industrial a preocupação da sociedade com os riscos era diretamente relacionada aos desastres naturais. À medida que a evolução foi trazendo novas formas e tecnologias de trabalho a preocupação foi se transferindo paras riscos gerados pelo próprio Homem. Segundo Pochmann (2015), as condições de trabalho foram se dividindo conforme as revoluções tecnológicas e momentos de transições econômicas ao longo da história. Atualmente a gestão da segurança do trabalho surge para minimizar e prevenir os acidentes e as doenças de trabalho que foram se demonstrando com o passar dos anos. Prova disto são as Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e Emprego, que estão em constante observância pelos diversos setores do mercado de trabalho desde 1978, apresentando exigências quantitativas e qualitativas para diversas condições de trabalho. Algumas destas condições são caracterizadas como insalubres, perigosas ou dão direito à contribuição especial para a aposentadoria do trabalhador. Estas situações são compensadas com benefícios ao salário do empregado e por vezes são solicitados via poder judiciário. Neste artigo será apresentada uma análise das perícias realizadas por uma consultoria de saúde e segurança do trabalho, do estado do Paraná, com atuação em todo estado, com os objetivos de elucidar para quais funções os juízes solicitam mais perícias; quantificar quantas perícias são relativas a insalubridade e quantas são relacionadas a periculosidade; e ainda, verificar quantas perícias levaram à concessão dos benefícios provenientes da insalubridade ou periculosidade e a questão da utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI). 2. Revisão de literatura Conforme dispõe o art. 19 da Lei nº 8.213/91, acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou 3

4 a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. As doenças profissionais são desencadeadas pelo exercício do trabalho peculiar a cada atividade, e as doença do trabalho surgem em função de condições especiais em que o trabalho é realizado (BRASIL, 2016). A Figura 1 apresenta os dados da quantidade de acidentes de trabalhos registrados desde 1999 a 2014 no Brasil. Figura 1 Quantidade de acidentes de trabalho observados de 1999 a 2014 Fonte: Ministério da Previdência Social (2017) Percebe-se que de 1999 para 2014 a quantidade de acidentes de trabalho quase duplicou. Parte se deve ao aumento da população trabalhadora brasileira e às variações da empregabilidade, porém neste mesmo período houve desenvolvimento tecnológico e inovações. Destaca-se que muitos acidentes ocorrem em locais onde o trabalho é insalubre, perigoso, ou ambos ao mesmo tempo. A insalubridade na segurança do trabalho está relacionada ao pagamento de adicional de insalubridade que trabalhadores expostos à agentes nocivos à saúde tem direito de receber (BRASIL, 2017b). Já a periculosidade, por sua vez, que existe quando se tem perigo à integridade física do trabalhador, dá direito ao indivíduo receber um adicional de periculosidade (BRASIL, 2017c). 4

5 O art. 192 da CLT determina o valor para o pagamento do adicional de insalubridade, dependendo do tipo de exposição a que o trabalhador estiver submetido, que pode ser de 40, 20 ou 10% sobre o salário mínimo da região, dependendo do agente nocivo, da intensidade e do tempo de exposição aos seus efeitos. Ou seja, é preciso verificar, através de perícia, se os agentes insalubres estão acima dos limites permitidos para que se possa configurar essa condição de trabalho, o que mostra um aspecto quantitativo na determinação legal, embora existam outras situações (MARTINS, 2010; BRASIL, 2017d). Segundo Martins (2008), o adicional de periculosidade é devido para quem tenha contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. Neste caso o empregado deve estar exposto apenas de forma habitual e permanente a atividades periculosas para ter o direito de recebimento de adicional, que é sempre 30% sobre o salário conforme ainda no art. 193 da CLT. Nas situações em que tais benefícios são solicitados via poder judiciário, pode existir a figura do perito judicial, podendo ser um Engenheiro de Segurança, ou Médico de Segurança do Trabalho. O papel do perito é o de realizar a verificação, em nome do juiz, do ambiente laboral do reclamante para identificar eventuais agentes nocivos e/ou periculosos que coloquem em risco a saúde do funcionário, levando ao conhecimento do juiz as reais condições do ambiente de trabalho do reclamante, por meio de um laudo pericial conclusivo e convincente, com um respectivo e obrigatório embasamento técnico e legal (PEREIRA e CASTELO FILHO, 2000). 3. Metodologia A pesquisa se desenvolveu como um estudo de caso, caracterizada pela coleta e registro de dados de vários casos, organizadas em um relatório ordenado e crítico para avaliar analiticamente a experiência com o objetivo de tomar decisões ou propor ação transformadora (CHIZZOTTI, 2006). Foram analisados de forma quantitativa os laudos pericias realizados no período de 2014 a 2016 solicitados por diversas varas trabalhistas do estado do Paraná. A partir destes dados, foram realizadas comparações e discussões sobre os resultados. 5

6 As pericias judiciais são realizadas com base nas 36 Normas Regulamentadoras existentes, sendo que para esta pesquisa foram utilizadas as seguintes: NR-1 (Disposições Gerais); NR-6 (Equipamentos de Proteção Individual); NR-10 (Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade); NR-15 (Atividades e Operações Insalubres) e NR-16 (Atividades e Operações Perigosas. Cabe destacar que a NR-15 traz 14 anexos, que estipulam diversos limites quantitativos que vão desde níveis de ruído até agentes biológicos (BRASIL, 2017b). Já a NR-16 classifica as atividades perigosas como sendo devidas a trabalhos ou operações com explosivos, inflamáveis, exposição a roubos ou violência física (usual de profissionais de segurança pessoal ou patrimonial), energia elétrica, motocicleta e com radiações ionizantes ou substâncias radioativas (BRASIL, 2017c). O universo de laudos entregues e com foco em insalubridade e periculosidade é composto de 542 amostras, distribuídas nos meses de análise conforme a Figura 2. Figura 2 Quantidade de laudos realizados pelos meses de análise Fonte: Os autores (2017) 4. Resultados e Discussões Dentre os resultados, alguns se destacam, como a distribuição de solicitações de perícias para determinados casos, conforme demonstra a Figura 3. 6

7 A função que mais teve perícias judiciais solicitadas foi a de Operador de Máquinas, que considera também funções semelhantes, como Operador de Empilhadeira, Operador de Bobcat, entre outras. Se a causa for o equipamento, e não a falta de capacitação ou conscientização do empregado, Mendes (2001) destaca que o grave problema dos acidentes do trabalho mutiladores e incapacitantes provenientes de máquinas devem ser analisados em cinco vertentes: A utilização de máquinas e equipamentos obsoletos ou perigosos em um parque industrial tecnologicamente obsoleto e economicamente limitado; A comercialização de máquinas e equipamentos obsoletos e perigosos, usados ou de segunda linha ; A comercialização de máquinas ou equipamentos novos que não vem com dispositivos de segurança; A comercialização de máquinas e equipamentos novos mas tecnologicamente obsoletos; A existência de causas básicas dos acidentes com máquinas, popularmente conhecidas como gambiarras. Figura 3 Solicitações de perícias judiciais para diferentes funções 7

8 Fonte: Os Autores (2017) Nas perícias analisadas, percebeu-se que as vertentes mencionadas ainda são válidas, e que as solicitações de perícias podem se basear nestas. A segunda função com mais solicitações de perícias judiciais foi a de eletricistas, cujas avaliações foram realizadas por meio da NR-10. Percebe-se que em funções cuja tecnologia está cada vez mais sendo empregada (máquinas e energia elétrica) existem maiores solicitações para a observância das condições perigosas ou insalubres de trabalho, um paradoxo com o avanço do desenvolvimento científico. A Figura 4 apresenta as quantidades de perícias onde foram comprovadas as situações de periculosidade, insalubridade, periculosidade e insalubridade e as que não foram comprovadas. Figura 4 Quantidade de perícias comprovadas 8

9 Fonte: Os autores (2017) A Figura 4 apresenta em números, a quantidade de exposição a ambientes insalubres, perigosos, em ambas as situações ou que não houve exposição. Verifica-se que mesmo com um alto número de nenhuma exposição, ainda há um grande número de casos decretados como insalubres ou perigosos. E entre os dois, a insalubridade foi caracterizada como a mais recorrente, isto se deve ao fato de que a maioria das perícias realizadas foram feitas em ambientes com a existência de algum tipo de agente nocivo, como ruído, agentes químicos ou agentes biológicos. A periculosidade, por sua vez, demonstrou pela grande quantidade de solicitações por parte de eletricistas, função onde pode ser constatado o contato permanente com o agente perigoso eletricidade. A insalubridade pode ser analisada por mais subdivisões, de acordo com seus anexos, conforme a Figura 5. 9

10 Figura 5 Distribuição das perícias relacionadas aos agentes de insalubridade Fonte: Os autores (2017) O ruído, só não foi o maior caso de incidência por conta dos protetores auriculares, que na maioria dos casos possuíam atenuações necessárias para manter o nível de exposição abaixo do limite de tolerância. A exposição a agentes biológicos, é um caso grave, pois mesmo com a utilização de EPI adequados, a situação de contato permanente com materiais infecto contagiantes é considerada insalubre. A periculosidade possui suas estatísticas conforme pode ser observado na Figura 6. Figura 6 Distribuição das perícias relacionadas aos agentes de periculosidade 10

11 Fonte: Autoria própria (2017) Conforme já mencionado, por haver uma grande solicitação de perícias judiciais para a função de eletricistas, o agente de periculosidade que mais possui ocorrência é a energia elétrica, seguida pela exposição a substâncias inflamáveis. Quanto à utilização de EPI adequados, a Figura 7 apresenta a informação sobre a utilização ou não utilização de forma correta, bem como da dispensa de necessidade de EPI. Figura 7 Utilização de EPI adequado Fonte: Autoria própria (2017) Percebe-se que 63% dos casos apresentaram a utilização de EPI adequados, porém o valor de 34% para a não observância a este item é um valor significativo. Os 3% identificados como 11

12 não necessita, são referentes aos motoristas de caminhão e ônibus, que não necessitam do uso de EPI. A utilização de EPI, conforme os preceitos da engenharia de segurança do trabalho, deve ser feita em último caso (BRASIL, 2017a). Existem outros procedimentos a serem adotados antes desta exigência, como a minimização do agente causador, por meio de adaptações e interferências nas máquinas ou no ambiente. 5. Conclusões Verificou-se para os trabalhadores do estudo realizado que a exposição comprovada a algum tipo de risco é de 52% do total de empregados. Este dado chama à atenção dos sistemas de engenharia de segurança do trabalho implantados no estado do Paraná, visto o alto índice de comprovação de situações insalubres e/ou perigosas por meio de perícias judiciais e também pela alta taxa de utilização de EPI de forma inadequada observada. A insalubridade se demonstrou como o agente mais predominante quando comparada à periculosidade. Por exemplo, é mais comum ter trabalhadores expostos a ruído do que com explosivos. Além disso, o custo com análises de exposição ao ruído são mais barato que os custos para a verificação de exposição a vibrações ou agentes químicos, fator este que influencia diretamente nas ações do perito judicial. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº de 24 de julho de Disponível em: < Acesso em: BRASIL. Normas Regulamentadoras. Trabalho e previdência social. Disponível em: < Acesso em: 20 de janeiro. 2017a. BRASIL. Norma Regulamentadora 06. Trabalho e previdência social. Disponível em: < Acesso em: 20 de janeiro. 2017a. 12

13 BRASIL. Norma Regulamentadora 15. Trabalho e previdência social. Disponível em: < Acesso em: 20 de janeiro. 2017b. BRASIL. Norma Regulamentadora 16. Trabalho e previdência social. Disponível em: < Acesso em: 20 de janeiro. 2017c. BRASIL. CLT Consolidação das leis do trabalho. Disponível em: < Acesso em: 20 de janeiro. 2017d. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. 2ª edição. São Paulo, Editora Vozes, MARTINS, Sergio Pinto. Msc. Comentários à CLT. 12ª Edição. São Paulo, Ed Atlas, MARTINS, Sergio Pinto. Msc. Direito do Trabalho. 26ª Edição. São Paulo, Ed Atlas MENDES, René. Máquinas e Acidente de Trabalho. MTE/SIT, Coletânea Previdência Social, 13º volume. Brasília, MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. AEAT - Base de Dados Históricos de Acidentes do Trabalho. Disponível em < Acesso em abril de PEREIRA, Fernandes José, CASTELO FILHO, Orlando. Manual Prático: Como Elaborar uma Perícia de Insalubridade e de Periculosidade. São Paulo, LTr, POCHMANN, Márcio. O emprego na globalização: a nova divisão internacional do trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu. Boitempo Editorial,