REGISTRO DE PARASITAS INTESTINAIS RECORRENTES EM PSITACÍDEOS DO CENTRO DE REABILITAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES - UNIVAP

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1 REGISTRO DE PARASITAS INTESTINAIS RECORRENTES EM PSITACÍDEOS DO CENTRO DE REABILITAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES - UNIVAP Deni Biasoli, Matheus Salgado de Oliveira, Nádia Maria Rodrigues de Campos Velho, Karla Andressa Ruiz Lopes Universidade do Vale do Paraíba/Faculdade de Educação e Artes/Centro de Estudos da Natureza, Avenida Shishima Hifumi, 2911, Urbanova São José dos Campos-SP, Brasil, denibiasoli@hotmail.com; italiamatheus@hotmail.com; nvelho@univap.br; karla@univap.br Resumo: Um dos grandes problemas relacionados à mortalidade de animais mantidos em cativeiro são os casos de parasitismo que são considerados como uma relação interespecífica desarmônica, que acarreta danos à saúde do hospedeiro, podendo resultar no óbito. Nesse contexto, os psitacídeos são um bom exemplo, principalmente por serem animais muito encontrados em centros de reabilitação de animais silvestres, e também, por serem alvos de tráfico de avifauna silvestre. O presente estudo teve por finalidade analisar a incidência de parasitos intestinais em exemplares da família Psittacidae recebidos no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Universidade do Vale do Paraíba. Durante o período de estudo de janeiro de 2016 a janeiro de 2018, 334 laudos coproparasitológicos foram analisados, sendo que 42,81% indicavam positivo para a presença de parasitoses e 57,19% negativos. Eimeria sp. foi o que obteve a maior frequência correspondendo a aproximadamente 60,14%. Palavras-chave: Parasitoses intestinais, Psittacidae, coccídeos, espontânea método de sedimentação Área do Conhecimento: Ciências Biológicas, Parasitologia. Introdução O Brasil é constituído por diversos biomas, resultando em uma biodiversidade com fauna e flora muito exuberante. Alberga uma grande quantidade de psitacídeos como: papagaios, araras e periquitos, que, por sua vez, são muito visados pelo tráfico de animais (Rede Nacional contra o Tráfico de Animais Silvestres - RENCTAS, 2018). Os representantes da família Psittacidae possuem uma forte interação social, são gregários, exibindo uma complexa organização social (MATOS, 2016). Características essas que os tornam muito visados no comércio ilegal da avifauna silvestre, e são comumente apreendidos pela Polícia Militar Ambiental, sendo posteriormente encaminhados a empreendimentos de conservação de fauna ex situ para reabilitação e posterior reintrodução em ambiente natural. Na natureza, as aves silvestres apresentam precária resistência imunológica a parasitas, por não estarem expostos de forma recorrente a estes oportunistas. Quando mantidos em recintos e/ou gaiolas, em geral, ficam mais vulneráveis a contrair enteroparasitoses, devido aos problemas relacionados com o manejo e estresse (LIM et al., 2008). Os parasitas intestinais comumente encontrados em aves, aproveitam da suscetibilidade do animal para se proliferar e manter seu ciclo biológico. As causas das doenças e infecções podem estar relacionadas a vetores que possam transitar entre as gaiolas ou recintos, onde as aves estão alojadas, contaminando a área adentrada, assim como a procedência da água (SOUZA; BIASOLI, 2017). Os endoparasitas podem ser protozoários, assim como parasitos do grupo dos nematódeos, como por exemplo: Ascaris sp., Capilaria, Strongyloides sp., Hymenolepis sp., Entamoeba sp., Eimeria sp., Endolimax sp. e Giardia sp. (CORDÓN et al., 2009). O objetivo do presente estudo foi realizar uma análise sobre os parasitas encontrados nos exemplares da familia Psittacidae recebidos no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) da Universidade do Vale do Paraíba, no período compreendido entre janeiro/2016 a janeiro/

2 Metodologia As amostras fecais foram coletadas do assoalho das gaiolas que não haviam sido higienizadas, utilizando um palito de madeira, o material fecal recolhido foi acondicionado em coletores universais. Após a coleta, as amostras foram transportadas para o laboratório e submetidas ao método de Sedimentação espontânea ou Método de Hoffman, Pons & Janer (1934) para a pesquisa de formas parasitárias, onde foram colocadas em um bécker e adicionou-se 10 ml de água para facilitar a homogeneização mecânica com bastão de vidro. Em seguida, realizou-se a filtração por meio de gaze cirúrgica e o filtrado recolhido em um cálice de sedimentação. Decorridas duas horas, o sobrenadante foi eliminado. Com uma pipeta, retirou-se uma gota do material sedimentado no fundo do cálice e a mesma transferida para uma lâmina de vidro adicionando uma gota de lugol e recobrindo com lamínula. O preparado foi observado no microscópio óptico nos aumentos de 100X e 400X. Quando encontrado o parasita, foi realizado a fotodocumentação para posterior identificação a nivel de gênero. Resultados Foram avaliados durante o período de estudo (janeiro/2016 a janeiro/2018) 334 laudos coproparasitológicos, sendo 42,81% (143) indicavam positivo para a presença de parasitoses, e 57,19% (191) negativos. Foram observados em 60,14% dos casos o coccídeo Eimeria sp. (Figura 10,A), parasita com maior frequência nos psitacídeos. Em 22,38% dos casos observou-se Entamoeba coli (Figura 10,B), parasita que é amplamente disseminado por vetores mecânicos e fômites (figura 9). Das amostras positivas para parasitoses: 11,89% Ascaris sp. (Figura 11,A); 1,40% Strongyloides sp. (Figura 11,B) formas larvais e ovo larvado; casos considerados mais raros 1,40% Dicrocoelium sp.; 1,40% Giardia lamblia; 0,70% Capilaria sp. e 0,70% para presença de Isospora sp. (Figura 9). Figura 9 - Relação percentual dos parasitas encontrados nas espécies de família Psitacídeos recebidos no CRAS Univap no período de janeiro de 2016 a janeiro de

3 Figura 10: Fotomicrografia óptica das formas parasitárias encontradas nas amostras fecais dos psitacídeos recebidos no CRAS Univap. (A) Eimeria sp., (B) Entamoeba coli. Aumento: 400X Figura 11: Fotomicrografia óptica das formas parasitárias encontradas nas amostras fecais dos psitacídeos recebidos no CRAS Univap. (A) Ascaris sp., (B) Strongyloides sp. Aumento: 400 X Discussão No presente estudo, o parasita mais recorrente pertence ao gênero Eimeria sp., apresentando60,68% das amostras infectadas analisadas e, Isospora sp. apenas 0,70% ambos são membros da família Eimeriidae. Os protozoários do gênero Eimeria sp. representaram a maior incidência nos laudos, isso pode ser explicado, em razão da rápida reprodução e facilidade de dispersão no meio ambiente. Geralmente viabilizando a infecção de animais alojados em recintos próximos, além da capacidade de sobreviver 3

4 em condições ambientais adversas, pois entra em estado de latência, voltando a ser ativo quando as condições ambientais estiverem favoráveis (GALHA et al.,2008; PENHA et al., 2008). A elevada prevalência de Ascaris sp. encontrada durante as análises, totalizando 17 amostras das 143 infectadas (quadro 1), de acordo com ZHANG et al. (2014), pode estar relacionada com o ciclo de vida simples do parasita e sua capacidade de proliferação no ambiente. Nos estudos realizados por Snak et al. (2014) sobre endoparasitas presentes em aves cativas, foram coletadas 228 amostras fecais de 37 espécies e os parasitos que obtiveram maior frequência foram do gênero Strongyloides sp.. Desta forma, estando em discordância com os dados encontrados no presente estudo, nos laudos analisados da família Psittacidae. A recorrência deste parasita pode estar relacionada a dimensão espacial do cativeiro, tipo do confinamento e outros manuseios que podem causar estresse ao animal e fortalecimento da disseminação do parasitismo. De acordo com Graczyk et al. (2008), os protozoários da espécie Entamoeba coli tem como um dos principais meios de disseminação a água contaminada, sendo assim, sugere-se que a elevada incidência desses protozoários esteja ligada a contaminação ambiental pela água. A baixa incidência de Giardia lamblia em psitacídeos, apresentando 0,70% das amostras infectadas corrobora com os achados de Fernandez et al. (2015) em que analisaram 433 amostras fecais de diversas aves silvestres, onde apresentou baixa frequência do protozoário com uma incidência de 2,1% em seus resultados, já os parasitas da espécie Dicrocoelium sp. apresentaram baixa incidência nos laudos dos psitacídeos corroborando com Souza et al. (2017) que realizaram o levantamento parasitológico em psitacídeos da espécie Psittacara leucouphtalmus no CRAS da Univap. A análise do laudo foi considerada sugestiva podendo tratar-se de uma contaminação do vetor que adentrou o recinto das aves, pois, de acordo com Boundenga (2018), esses parasitas necessitam de hospedeiros intermediários como formigas e caracóis e, possuem a necessidade de ser ingerido por um hospedeiro definitivo mamífero para manter seu ciclo de vida. Dos 334 laudos analisados, 191 tiveram resultados negativos, totalizando 57,18%, ressaltando a importância dos cuidados com a higiene dos recintos e manuseio de alimento e água para os animais para se evitar riscos de contaminação por parasitose como citada por Cordon et al. (2009). Conclusão Após análise dos resultados, concluiu-se que: O parasita com maior inciência pertence ao gênero Eimeria sp., apresentando 60,68% das amostras infectadas. É de fundamental importância realizar análises parasitológicas periodicamente pois não se pode ter o controle da disseminação do agente infectante apenas higienizando os recintos de forma convencional. Os parasitas podem ser resistentes a certas condições extremas, assim como a facilidade de se proliferar em lugares conglomerados e infectar outros animais próximos. Manter exames periódicos ajudam a entender o nível infecção de cada recinto e/ou gaiola, podendo-se tomar as medidas higienização necessárias. Agradecimentos Á médica veterinária Hanna Sibuya Kokubun, do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Univap, pelo auxílio no diagnóstico clínico parasitológico e a biomédica Giselle Ferreira Ribeiro pelo trabalho de documentação parasitológica e registro fotográfico. 4

5 Referências BIASOLI, D.; SOUZA, G. H. B.; NISHIYAMA, B.; OLIVEIRA, M. S.; VELHO, N. M. R. C.; LOPES, K. A. R. Avaliação da incidência em parasitas intestinais em Amazona aestiva Recebidos pelo CRAS Univap, BOUNDENGA, L.; MOUSSADJI, C.; MOMBO, I. M.; NGOUBANGOYE, B.; LEKANA-DOUKI, J. B.;HUGOT, J. P. Diversity and prevalence of gastrointestinal parasites in two wild Galago species in Gabon, CORDÓN, G. P.; PRADOS, A. H.; ROMERO, D.; MORENO, M. S.; PONTES, A.; OSUNA, A.; ROSALES, M. J. Intestinal and haematic parasitism in the birds of the Almuñecar (Granada, Spain) ornithological garden. Vet. Parasitol. v.165, n.3-4, p.361-6, FERNANDEZ, A. R.; ARES-MAZÁS, E.; CACCIO, S. M.; GÓMEZ-COUSO, H. Occurrence of Giardia and Cryptosporidium in wild birds in Galicia (Northwest Spain), GALHA, V.; BONDAN, E. F.; LALLO, M. A. Relação entre imunossupressão e coccidiose clínica em frangos de corte criados comercialmente. Ver. Inst. Ciênc. Saúde. v.26, n.4, p.432-7, GRACZYK, T. K; MAJEWSKA, A. C.; SCHWAB, K. J. The role of birds in dissemination of human waterborne enterophagens. Trends in Parasitology. v. 24, n.2, p , HOFFMAN, W. A; PONS, J.A; JANER, J. L. Sedimentation concentration method in Schistosomiasis mansoni. Puerto Rico J. Publ. Health & Trop. Med. 9: , LIM, NGui.R, SHUKRI.J, ROHELA. M, MAT NAIM H.R. Intestinal Parasites in various animals at a zoo in Malaysia. Vet. Parasitol p , MATOS, L. S. S. Hierarquia e estresse social em papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva - Linnaeus, 1758) fora da estação reprodutiva. p. 31, PENHA, G.A.; SUZUKI, E. Y. U; BOCARDO, F.S; PERES P.M; ELISABETH R. Coccidiose aviária. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária ISSN: , RENCTAS, Rede Nacional contra o Tráfico de Animais Silvestres. Disponível em: Acesso em 18 de abril de SNAK, A.; LENZI, P. F.; AGOSTINI, K. M.; DELGADO, L. E.; MONTANUCCI, C. R.; ZABOTT, M. V. Análises coproparasitológicas de aves silvestres cativas. Cienc. Anim. Bras., Goiânia. v.15, n.4, p , SOUZA, G.H.B.; NISHIYAMA, B.; BIASOLI, D.; OLIVEIRA, M. S.; VELHO, N. M. R. C.; LOPES, K. A. R. Incidência de parasitas intestinais em Psittacara leucophthalmus (Statius Muller, 1776) recebidos no CRAS Univap, ZHANG, X.; QIAO, J. Y.; WU, X. M.; MA, Q. Y.; Hu, H.; WANG, J.; CHE, L. F. Ascaris spp. and Capillaria caudinflata Infections in Captive-Bred Crested Ibis (Nipponia nippon) in China,