PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM AGRICULTORES DA FEIRA DO PRODUTOR RURAL DO BAIRRO DO BURITIZAL, MACAPÁ, AMAPÁ, BRASIL

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1 REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN Volume 13 - Número 2-2º Semestre 2013 PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM AGRICULTORES DA FEIRA DO PRODUTOR RURAL DO BAIRRO DO BURITIZAL, MACAPÁ, AMAPÁ, BRASIL Josean Silva de Jesus 1 ; Rubens Alex de Oliveira Menezes 1 ; Rosemary Ferreira de Andrade 2,3 ; Margarete do Socorro Mendonça Gomes 1 ; Flávio Henrique Ferreira Barbosa 2,3 ; Silvia Maria Mathes Faustino 2,3 RESUMO Este trabalho foi realizado no período de 13 de Junho a 26 de Setembro de 2007, tendo por objetivo verificar a prevalência de enteroparasitas em 144 amostras de fezes, oriundas de agricultores cadastrados na Feira do Agricultor Rural. Sendo 84 indivíduos do sexo feminino e 60 do masculino. Quanto aos resultados obtidos, a quantidade de homens parasitados foi de 50 (34,7%) e das mulheres de 59 (40,9%) indivíduos e somando-se o resultado destes teve-se um total de 109 (75,6%) amostras com presença de Helmintos ou de protozoários e ainda com a associação destes e 35 (24,3%) amostras com ausência de parasitos intestinais. Todas as amostras foram devidamente identificadas e quantificadas, onde os parasitos de maior prevalência foram as formas císticas dos Protozoários: Entamoeba coli (22,2%); Giardia lamblia (21,5%); Endolimax nana (20,1%); Entamoeba histolytica/dispar (19,4%); Blastocystis hominis (5,5%); Iodamoeba butschlii (4,8%); Chilomastix mesnillii (0,6%). Seguidos por ovos dos Helmintos: Ascaris lumbricoides (4,8%); Ancilostomideo (2,0%) e Hymenolepis diminuta (0,6%). Palavras-chave: Parasitoses, Patógeno, Prevalência, Região Amazônica, Brasil. ENTEROPARASITOSIS PREVALENCE AMONG FARMERS FAIR PRODUCER OF RURAL NEIGHBORHOOD BURITIZAL, MACAPÁ, AMAPÁ, BRAZIL ABSTRACT This work was carried out from 13 June to 26 September 2007, aiming to determine the prevalence of intestinal parasites in 144 faecal samples, coming from farmers registered in Rural Farmer Fair. With 84 females and 60 males. As the results, the number of infected men was 50 (34.7%) and 59 women (40.9%) subjects and adding the result of these had a total of 109 (75.6% ) samples with presence of helminths or protozoa and with the combination of these and 35 (24.3%) samples with absence of intestinal parasites. All samples were properly identified and quantified, where the parasites were the most prevalent forms of cystic Protozoa: Entamoeba coli (22.2%), Giardia lamblia (21.5%); Endolimax nana (20.1%), Entamoeba histolytica / dispar (19.4%), Blastocystis hominis (5.5%); Iodamoeba butschlii (4.8%); Chilomastix mesnillii (0.6%). Followed by eggs of helminths: Ascaris lumbricoides (4.8%), hookworm (2.0%) and Hymenolepis diminuta (0.6%). Keywords: Parasites, Pathogen, Prevalence, Amazon, Brazil. 74

2 INTRODUÇÃO No continente americano 200 milhões de pessoas estão poliparasitadas, sendo a maioria apenas infectada e sabe-se que indivíduos assintomáticos que pela natureza de seu trabalho estão em contato direto e permanente com alimentos, podem torna-se fonte potencial de contaminação e disseminação de vários patógenos, entre eles enteroparasitas (NEVES, 2003), que assumiram papel relevante no Brasil, não só pelo aspecto epidemiológico, em face aos seus elevados índices de prevalência, mas também sob o ponto de vista médico-social. (AIDAR SOBRINHO et al., 1995). Por isso, a realização periódica de inquéritos coproparasitológicos, incluindo a determinação da carga parasitária, faz-se necessário para o controle das enteroparasitoses, devido ao hábito do consumo de hortaliças in natura, o que possibilita a exposição de uma grande parcela da população às formas de transmissão destes parasitos (MACHADO et al., 1999). A falta de higiene também é um fator que predispõem e facilita a disseminação de cistos, que são a forma de resistência de muitos parasitas (LEVAI et al., 1986). Sendo os portadores assintomáticos, que manipulam os alimentos um dos principais disseminadores de cistos (MIRANDA; XAVIER; MENEZES, 1998). Sabe-se também que as parasitoses intestinais são amplamente difundidas tanto nas áreas rurais quanto nas áreas urbanas dos países em desenvolvimento devido às más condições sanitárias, sendo as hortaliças consideradas também como um dos veículos de suas estruturas infectantes (OLIVEIRA; GERMANO, 1992; SILVA; OLIVEIRA; STAMFORD, 2003). Este trabalho teve o objetivo de verificar a prevalência de parasitas intestinais em agricultores que trabalham na produção e venda de gêneros alimentícios na feira do agricultor rural do bairro do buritizal. MÉTODO Foram realizadas analises parasitológicas em 144 amostras de fezes oriundas dos agricultores que trabalham na feira do Agricultor Rural localizada na Rua Claudomiro de Moraes, número 0975 do Bairro do Buritizal, Macapá, Amapá, Brasil. No período de 13 de Junho a 26 de Setembro de 2007, sendo estas analisadas no laboratório da Unidade Básica de Saúde Dr. Lélio Silva, localizado na Rua José Valente dos Santos, número 126, bairro do Buritizal, utilizando-se a técnica do Método Direto a fresco sem e com o uso do lugol para coloração. (WALTERS et al., 1998). Quanto às amostras, estas foram colocadas sobre lâminas de vidro devidamente identificadas onde foram preparadas duas gotas uma com solução salina NaCl a 0,85% e outra com lugol, colocaram-se sobre elas lamínulas e estas foram examinas no microscópio óptico com objetivas de 10X e de 40X com intensidade de luz baixa.(walters et al., 1998; BELLIZZI el al., 2005). Os ovos de helmintos preservam melhor sua morfologia em preparações de salina; o lugol fornece boa morfologia dos cistos dos protozoários (WALTERS et al., 1998; PIATTI; SCARCELLI, 2002). Nesta pesquisa utilizou-se o coeficiente do Índice de Prevalência, que é um termo que descreve a força com que subsistem as doenças nas coletividades. Operacionalmente, o coeficiente de prevalência pode ser definido como a relação entre o número de casos conhecidos de uma dada doença e a população, multiplicando-se o resultado pela base referencial da população, que é potência de 10, usualmente 100 ou Os dados obtidos neste trabalho foram digitados na planilha Excel e foi utilizado o programa Bioestat 3 para a realização dos cálculos estatísticos (AYRESM et al., 2007). Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade SEAMA com o protocolo número 011/2007. RESULTADOS 75

3 Das 144 amostras Analisadas, 84 eram de indivíduos do sexo feminino e 60 do sexo masculino, entretanto destes indivíduos que participaram da pesquisa, a quantidade de homens parasitados foi de 50 (34.7%) e a de mulheres de 59 (40.9%) indivíduos, tendo-se como resultado 109 (75.6%) amostras com presença de Helmintos e Protozoários e 35 (24.3%) amostras com ausência destes parasitos. Das 109 amostras positivas para a presença de helmintos e protozoários, 77 amostras (70.6%) apresentaram apenas um tipo de parasita e 32 amostras (29.3%) apresentaram mais de um tipo de parasita, ou seja, os indivíduos estavam poliparasitados, tabela 01. Tabela 01. Indivíduos Prevalência do Número de Parasitos por Enteroparasitoses n % Indivíduos Parasitados Monoparasitismo 77 70,6 Poliparasitismo 32 29,3 Nas amostras positivas foram identificados os seguintes parasitos: Entamoeba coli (cisto), Giardia lamblia (cisto), Endolimax nana (cisto), Entamoeba histolytica/dispar (cisto), Blastocystis hominis (cisto), Iodamoeba bustchilii (cisto), Hymenolepis diminuta (cisto), Chilomastix mesnillii (cisto), ovos de Ascaris lumbricoides e Ancilostomideo. Na tabela 02, tem-se os parasitas e suas respectivas prevalências. Tabela 02. Prevalência de parasitas intestinais encontrados nos agricultores rurais. Parasitas intestinais n % Entamoeba coli (cisto) Giardia lamblia (cisto) Endolimax nana (cisto) Entamoeba histolytica/dispar (cisto) Blastocystis hominis (cisto) Ascaris lumbricoides (ovo) Iodamoeba butschlii (cisto) Ancilostomídeo (ovo) Chilomastix mesnillii (cisto) Hymenolepis diminuta (cisto) (*) Os numero de parasitas apresentados nesta tabela não é igual ao numero de indivíduos da pesquisa devido a esta não diferenciar indivíduos com um parasito dos com mais de um parasito Nesta pesquisa também foi observado um elevado número de protozoários 137 (93.1%) em suas formas císticas, quando comparado aos Helmintos 10 (6.8%). Sabe-se que as enfermidades intestinais causadas por protozoários constituem sério problema de saúde pública em diversos países, incluindo o Brasil, onde os coeficientes de prevalência de algumas protozooses ainda são consideravelmente elevados (OLIVEIRA; GERMANO, 1992). DISCUSSÃO Nesta pesquisa, obteve-se uma prevalência de amostras com presença de enteroparasitas no valor de 75.6%. Destes, os considerados patogênicos para o homem com suas respectivas prevalências, foram os protozoários: Giardia lamblia (21.5%), Entamoeba histolytica/dispar (19.4%), Hymenolepis diminuta (0.6%), seguidos pelos helmintos Ascaris lumbricoides (4.8%) e Ancilostomídeo (2.0%). Enquanto que os parasitos que são considerados não patogênicos para o homem encontrados na pesquisa foram: os protozoários: Entamoeba coli (22.2%), Endolimax nana (20.1%), Blastocystis hominis (5.5%) e Iodamoeba butschillii (0.6%). A ação do parasito em um organismo depende de fatores inerentes ao parasito e ao hospedeiro. Os fatores pertinentes ao parasito condicionam sua patogenicidade, isto é, transformam-no em agente morbífico ou patogênico como, por exemplo, a localização da Giardia lamblia no duodeno e íleo condiciona alterações mórbidas de intensidade variável, decorrentes de sua ação mecânica irritativa sobre a mucosa. O que caracteriza a ação nociva do parasito ao hospedeiro (MORAES, 2000; CIMERMAN, B.; CIMERMAN, 2002; NEVES, 2003). Quanto aos cistos dos protozoários, estes podem permanecer viáveis por meses em condições favoráveis no meio exterior e continuam viáveis mesmo após processo de cloração, o que enfatiza mais a possível transmissão destes por manipuladores contaminados (AIDAR SOBRINHO et al., 1995; PIATTI; SCARCELLI, 2002). O nível sócio-econômico e o cultural influenciam as condições de higiene pessoal e cuidados com a água e os alimentos, podendo-se inferir já que em classes menos favorecidas estes cuidados não são rigorosamente 76

4 observados, aumentado assim as chances de contaminações (REZENDE; COSTA-CRUZ; GENNARI-CARDOSO, 1997; ROUQUAYROL; FILHO, 2003). Verificou-se também que os agricultores manipulam os produtos alimentícios sem a utilização de luvas ou outros equipamentos de proteção individuais o que se mostra algo preocupante tendo em vista a alta prevalência de amostras com presença de cistos de protozoários, pois, sabe-se indivíduos assintomáticos que pela natureza de seu trabalho estão em contato direto e permanente com alimentos, podem torna-se fonte potencial de contaminação e disseminação de vários patógenos, entre eles enteroparasitas (REY, 2002; BELLIZZI el al., 2005). CONCLUSÃO A falta de controle higiênico dos alimentos vendidos por pessoas que manipulam os mesmos constitui uma das principais fontes de disseminação de enteropatógenos. Neste trabalho pode-se notar uma elevada ocorrência de parasitas gastrointestinais. Estes dados são alarmantes principalmente porque se trata de grupos de alto risco de transmissão, devido as atividades de manipulação de alimentos que realizam. Conclui-se que nesta cidade os manipuladores de alimentos apresentaram elevados índices de parasitoses. Os resultados desta pesquisa podem representar subsídios para futuras ações de controle das enteroparasitoses, bem como contribuir para o aprimoramento da educação sanitária destes profissionais, por meio de palestras educativas, baseadas na análise de risco potencial de contaminação dos alimentos. AGRADECIMENTOS Ao Dr. Eldren Silva Lages, por ter cedido o laboratório de análises clínicas da Unidade Básica de Saúde Dr. Lélio Silva, para que este trabalho de pesquisa pudesse ser realizado e as Técnicas de Laboratório Emília Evangelista de Moura e Zulene Reinaldo Moura que colaboraram em várias fases deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIDAR SOBRINHO, T. et al. Estudo da Freqüência de Ovos de Helmintos Intestinais em Sanitários de uso Público de Sorocaba, SP. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (1): AYRES, M, M. et al. BIOESTAT. Aplicações Estatísticas nas Áreas das Ciências Biomédicas. Belém-Pará-Brasil, BELLIZZI, A. el al. Treinamento de Manipuladores de Alimentos: Uma Revisão de Literatura. Rev. Higiene Alimentar vol n 133, p / Julho, CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S. Parasitologia Humana e Seus Fundamentos Gerais. 2º ed. São Paulo. Editora Atheneu, p. LEVAI, E.V. et al. Pesquisa de Ovos de Helmintos e de Cistos de Protozoários em Dinheiro; Rev. Saúde Públi.,S.Paulo, 20(1): MORAES, R. G. Parasitologia & Micologia Humana, 4 a ed. RJ: Cultura Médica, MACHADO, R. C. et al. Giardíase e Helmintíases em Crianças de Creches e Escolas de 1 e 2 graus (públicas e privadas) da Cidade de Mirassol (SP, Brasil). Rev. Soc. Bras. Med. Trop Vol. 32, nº.6, p ISSN MIRANDA, R. A.; XAVIER, F. B.; MENEZES, R. C., Parasitismo Intestinal em uma Aldeia Indígena Parakanã, Sudeste do Estado do Pará, Brasil. Cad. Saúde Pública, Vol.14, nº.3, p ISSN X. NEVES, D.P., Parasitologia Humana 10 a edição, São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo horizonte: Editora Atheneu OLIVEIRA, C. A. F.; GERMANO, P. M. L Estudo da Ocorrência de Enteroparasitas em Hortaliças Comercializadas na Região Metropolitana de São Paulo SP, Brasil. II 77

5 Pesquisa de Protozoários Intestinais. Rev. Saúde Pública, Vol.26, nº.5, ISSN PIATTI., R.M.; SCARCELLI, E. Patógenos Emergentes Relacionados à Contaminação de Alimentos de Origem Animal. Biológico, São Paulo, Vol. 64, nº.2, p / Dez. REZENDE, C. H. A.; COSTA-CRUZ, J. M.; GENNARI-CARDOSO, M. L. Enteroparasitoses em Manipuladores de Alimentos de Escolas Públicas em Uberlândia (Minas Gerais), Brasil; Rev.Panam Salud Publica/Pan Am / Public Health 2(6) ROUQUAYROL, M, Z; FILHO, N, A. Epidemiologia & Saúde - 6 a edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan REY, L. Parasitologia, 2ª edição, Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan SILVA, C. G. M.; OLIVEIRA, A. M.; STAMFORD, T. L. M. Enteroparasitas em Vegetais: Uma Revisão. Rev. Higiene Alimentar vol n 109, p / Junho WALTERS, N.J. et al. Laboratório Clínico, Técnicas Básicas 3 a edição, Porto Alegre: Artes Médicas, Laboratório Central de Saúde Pública do Amapá - LACEN-AP, Macapá, Amapá, Brazil. 2 - Docente do Programa de Pós Graduação em ciência da saúde da Universidade Federal do Amapá, UNIFAP - Macapá (AP), Brasil. 3 - Docente da Universidade Federal do Amapá, UNIFAP - Macapá (AP), Brasil. Correspondência: Rubens Alex de Oliveira Menezes Avenida João Guerra, n 1566, Bairro dos Congós. CEP: Macapá AP, Brasil. ramenezes@hotmail.com 78