O mundo que se prepare, pois realmente haverá, ou já está havendo uma guerra no momento em que você estiver lendo este artigo.

Transcrição

1 Poucas vezes na história contemporânea estivemos diante da eclosão de uma guerra anunciada, em questão, o ataque anunciado das forças lideradas pelos EUA ao Iraque, antiga pérsia, terra famosa pelas suas antigas lendas árabes, mas também de ricas jazidas de petróleo. Que mesmo depois de seguidas guerras, embargo econômico e um parque industrial obsoleto, consegue ser responsável por 4% de toda a produção de petróleo do mundo, tendo muito ainda a ser explorado. Nas mãos certas, uma nação, com as riquezas petrolíferas do Iraque, poderia assegurar posição privilegiada na produção de derivados, bem como o controle de uma área geográfica estratégica no oriente médio. O mundo que se prepare, pois realmente haverá, ou já está havendo uma guerra no momento em que você estiver lendo este artigo. Ao contrário daquilo que o presidente George W Bush tenta propagar em sua própria casa - a idéia de libertar o Iraque de um ditador, idéia essa que não colou sequer entre parte da população norte-americana, onde o presidente já é inclusive chamado de George WAR Bush -, os interesses envolvidos vão muito além de subjugar um país hostil, e o mundo já compreendeu claramente quais são esses interesses: Domínio de uma região, hoje vital para os países industrializados por suas jazidas de petróleo, e que garantiria aos EUA, não apenas a total hegemonia no controle dos principais países produtores, mas também a possibilidade de ditar os destinos de outras nações dependentes da produção. 1 / 7

2 Michael Klare, professor de Estudos de Segurança Internacional da Universidade de Massachusetts afirma que é muito difícil evitar uma guerra agora, a não ser que Saddam Hussein renuncie, ou seja deposto. O presidente Bush deu indicações de que seu verdadeiro objetivo é uma mudança de regime, isto é, a substituição de Saddam por alguém amigável aos interesses americanos. Ele não aceitará nada menos do que isso. Interesses em jogo Não é por simples ideologia que países como a Alemanha, França (tradicional aliado), Rússia (que tem um acordo de petróleo de U$5 bilhões com o Iraque) e China se opõem a essa guerra. Numa hipótese dos EUA conquistarem o território Iraquiano, já tendo o controle político de países como o Afeganistão, Kuait, Israel, Catar e forte influência econômica sobre a Arábia Saudita, todo o oriente médio mudará virtualmente de bandeira estando praticamente submisso aos interesses americanos, que poderá estabelecer isoladamente políticas de preços e 2 / 7

3 comercialização do petróleo. Tornar a OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) uma subsidiária das decisões de Washington. Enfim, colocar o mundo como refém de sua política energética. Esse interesse é tão patente, que as empresas que lotearão a produção do Iraque já foram escolhidas (notadamente empresas ligadas à família do presidente Bush). Mais uma vez sob a falsa proposição de reconstruir o país após a guerra. Coisa difícil de acreditar quando recordamos que George Bush (o pai), incitou as populações rebeldes do Iraque a se levantarem durante a primeira guerra do golfo. Tendo libertado o Kuwait, o avanço americano em direção a Bagdá foi suspenso, justamente pelos mesmos motivos que as grandes nações antagonistas da guerra hoje propagam. Como resultado, a guerra civil ensejada foi sufocada pelo próprio Saddam, e centenas de civis foram massacrados. Guerra inevitável Já é consenso, que mantida a ótica imperialista americana, a guerra é inevitável. O cientista político John Siegle, do Conselho de Relações Externas, instituição americana que edita a revista Foreign Affairs, afirma que mesmo com a renúncia de Saddan e seu pedido de asilo à 3 / 7

4 Arábia Saudita, o Iraque será ocupado. Na verdade os EUA desejam que o conflito se consume, pois dessa forma não terão que recomeçar toda a batalha diplomática, que já tem durado meses em busca de apoio, sem ter obtido êxito. Richard Falk, professor de Política e Relações Internacionais da Universidade de Princeton afirma que a guerra é inevitável tanto pelos argumentos do governo Bush quanto pela preparação militar americana em curso na região. Os motivos dos EUA estão ligados à geopolítica do petróleo e ao interesse americano em adquirir o controle político do Oriente Médio. Espera-se que uma mudança de regime em Bagdá leve à transferência do setor petroleiro para a iniciativa privada, principalmente companhias americanas, assim como a um maior controle do Golfo Pérsico pelos americanos. Jon Alterman, diretor do programa de Oriente Médio do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington afirma que há 70% de probabilidade de que a guerra ocorra. Os 30% restantes se dariam se Saddam fosse derrubado ou se o mundo inteiro se unisse contra a guerra. Para isso, porém, essa oposição teria de incluir os países vizinhos do Iraque, aliados dos EUA, como a Turquia, o Kuwait e a Arábia Saudita, indispensáveis como base para um ataque americano. Conseqüências da guerra Como em toda guerra, suas conseqüências são quase sempre previsíveis em curto prazo a 4 / 7

5 depender da natureza do conflito. Entretanto, há de se considerar tratar-se de uma guerra que ganhou amplitude global, dado ao caráter estratégico da região; como também, sob o ponto de vista econômico e em relação ao seu caráter de conflito de civilizações - em questão, o mundo árabe-muçulmano e o mundo ocidental. Nahum Sirotsky, correspondente em Israel do Jornalismo IG, afirma: devido ao pedido de reunião do Conselho de Segurança pelos americanos, os serviços de segurança pelo mundo estarão entrando em alerta máximo. Existem células de extremistas e terroristas por todos os cantos. E compromissos, como o do Hezbolá, de atacarem interesses americanos e israelenses estejam onde estiverem. Não quero criar pânico. Os ataques são prováveis. Mesmo aí, em casa (no Brasil). Podemos estar no limiar de um recrudescimento do terrorismo em todo o mundo, e por conseguinte, o surgimento de novos conflitos armados em projeção geométrica. Dado à superioridade bélica americana, é muito provável, que a exemplo do conflito no Afeganistão, a invasão do Iraque seja uma guerra breve, já que os ataques partirão de diversas frentes e com força máxima. Mas suas conseqüências serão duradouras, pois a guerra ao terrorismo não é um conflito fácil de ser vencido. Terroristas são soldados infiltrados nas sociedades civis de todo o mundo. São grupos herméticos, onde não é fácil a penetração dos serviços de inteligência e não há uma espinha a ser quebrada. São células independentes, formadas por homens e mulheres que querem morrer em favor de sua causa, morte essa que dignificaria sua existência. Como então lutar contra um inimigo sem rosto e que deseja morrer? 5 / 7

6 Israel é a prova de que essa luta não pode ser vencida pelos meios convencionais. Com a guerra no Iraque viveremos provavelmente um período negro na história humana como nunca visto. Conclusão Recordo-me do dia onze de setembro de 2001, onde, entre as várias imagens que marcaram o dia, uma não foi sequer reprisada pelos principais noticiários. A imagem veiculada pela CNN Latina, de uma moça que fugia em meio à multidão, que quando perguntada se sabia o que estava acontecendo, respondeu que não, mas que parecia ser um ataque terrorista, mas que não se deveria responder àquela infâmia com a violência, mas com o amor. Até ali não havia informações absolutamente seguras de que havia se tratado de um ataque terrorista, eram pouco mais de 14h daquele dia. Infelizmente essa imagem não foi mostrada nunca mais. E talvez aquela moça tenha sintetizado tudo aquilo que pensamos a respeito da política inconseqüente dos EUA. Enquanto se poderia esperar, mesmo que utopicamente, que os EUA reveriam sua política internacional de incitação a golpes políticos e financiadores da miséria global, e dividiria com o mundo seus notáveis avanços sociais. O que temos visto é uma nação, que sob a égide de uma falsa democratização mundial subjuga os povos, tendo se tornado um verdadeiro câncer político para todo o mundo. Nenhuma nação, nenhum império em toda a história humana teve uma influência tão grande sobre os destinos do mundo inteiro. Se antes culpava-se a guerra fria pela insegurança do mundo, e os russos pelos males da humanidade, hoje o Capitão América se tornou um vilão, 6 / 7

7 hoje os vencedores da antiga guerra fria estão inaugurando outra, e dessa vez não serão comunistas e capitalistas em contenda. Talvez o novo formato dessa guerra fria seja: Estados Unidos da América contra o resto do mundo. Que Deus tenha piedade de todos nós. Elbson Araujo do Carmo 7 / 7