IMPLICAÇÕES GEOPOLÍTICAS DA CRISE NA TURQUIA

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Augusto Fidalgo Soares
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1 IMPLICAÇÕES GEOPOLÍTICAS DA CRISE NA TURQUIA Prof. Alcides Costa Vaz Centro de Estudos Estratégicos do Exército Brasileiro Núcleo de Estudos Prospectivos 6ª. Reunião Quinzenal

2 A tentativa fracassada de golpe Em , a Ponte do Bósforo, em Istambul e Ponte Fatih Sultan Mehmet são fechadas. -Logo depois, o Primeiro-Ministro turco Binali Yildirim denuncia uma "tentativa ilegal" de tomada do poder por um grupo dentro do Exército;. - Em comunicado, as forças armadas anunciam imposição da lei marcial e toque de recolher em todo o país, após a mobilização de tropas em Istambul e na capital Ancara. - O acesso a mídias sociais (Facebook, Twitter, YouTube e outras redes sociais) é restringido; - Embates generalizados entre forças rebeldes e de oposição ao golpe em Ancara e Istambul. Dezenas de milhares de pessoas que saíram às ruas do país. O Parlamento e o Palácio Presidencial são alvos de ataques aéreos. Na madrugada de 16.07, o Presidente Recep Tayyip Erdogande retorna a Istambul e reassume o comando do governo. Em seguida, o chefe interino do exército, o general Ümit Dündar, anuncia que a

3 Turquia como ponte entre regiões

4 O contexto geopolítico regional

5 O Panorama geopolítico regional Território da Turquia e os espaços a ele adjacentes: Espaço de concentração e convergência de condições e dinâmicas de três importantes contextos geopolíticos conformados em torno dos flancos sul e leste do Mediterrâneo, do Mar Negro e do Mar Cáspio e dos respectivos estados lindeiros. Sua importância deriva da/de: (i) concentração e sobreposição de interesses estratégicos competitivos das grandes potencias, notadamente os Estados Unidos, a União Europeia e a Rússia; (ii) potencialidades econômicas associadas à existência de grandes reservas de insumos energéticos próximas de um grande mercado de destino (EU); (iii) existência de aspirantes à condição de hegemons regionais (a própria Turquia, Irã, Israel, Arábia Saudita); (iv) existência de importantes contenciosos políticos e conflitos (Georgia, Iraque, Síria, Armenia, Grécia e Chipre) e reivindicações de autonomia (Curdos); (v) fatores de insegurança de caráter transnacional que se reforçam mutuamente (fluxos migratórios, questões étnicas, terrorismo)

6 A Turquia no contexto geopolítico regional Tradicionalmente, a Turquia procurou tirar proveito de sua localização e da condição de elo ou ponte entre diferentes regiões; Mais recentemente, o país dá mostras de disposição de assumir o status de potência regional, alterando substantivamente a lógica de seu relacionamento com as grandes potencias e com os demais países de seu entorno vicinal e regional. Ao mesmo tempo, o país enfrenta dificuldades no relacionamento com quase todos seus vizinhos e países próximos.

7 Panorama das relações com os atores regionais Armênia: morte de 1,5 milhões de cidadãos armênios no contexto da Primeira Guerra Mundial; recusa da Turquia de reconhecer o fato como genocídio; alinhamento com o Azerbaijão no com a Armênia; Iraque: reinvidicação por independência e criação de um Estado curdo a partir da região semi-autônoma ao norte do Iraque;

8 Panorama das relações com os atores regionais Irã: sólidas relações diplomáticas mas limitadas pelo isolamento imposto pelas sanções a que o Irã esteve submetido por conta de seu programa nuclear; convergência quanto à questão da autonomia da população curda no norte do Iraque. Síria: forte oposição ao regime de Assad mas engajamento limitado no enfrentamento ao mesmo; União Europeia: diferenças em torno da questão do Chipre e das condições de sua pretensão de ingresso na União Europeia; Rússia: importantes fricções políticas; competição por recursos energéticos e por mercados para os mesmos; diferenças políticas em relação ao conflito da Síria e aos vínculos com a OTAN e com as diferentes aproximações com os Estados Unidos e a União Europeia; Estados Unidos: proximidade histórica, mas tentativa de maior autonomia e engajamento limitado nos temas regionais.

9 Delineamento das relações vicinais Ações da Turquia em seu entorno privilegiam movimentos táticos com os quais gerencia o quadro de oportunidades e riscos nas relações com seus vizinhos e com as grandes potencias; Movimento recorrente que intercala pragmaticamente ações de aproximação e distanciamento; Evita o envolvimento direto e ativo nos diferentes conflitos ou o alinhamento definitivo com as perspectivas e desígnios políticos e estratégicos das grandes potencias e relação aos mesmos.

10 Desdobramentos da crise no plano geopolítico Status quo da Turquia: reforço da tendência de consolidar o status de potencia regional com base em seu poder econômico que sobrepassa o dos demais aspirantes a hegemon regional e que sustenta a ampliação seu poder militar de modo proporcional; Dinâmicas no plano vicinal: - recrudescimento do antagonismo ao projeto de autonomia dos curdos no Iraque e da luta contra o PKK; - congelamento das perspectivas em relação ao Chipre e Armênia; - maior aproximação com Israel; - convergência com o Irã na oposição à independência dos Curdos no norte do Iraque, mas representando igualmente um fator de contrapeso ao poder e influencia do Irã no Oriente Médio após o acordo alcançado com os Estados Unidos em torno de seu programa nuclear; - Síria: recrudescimento na oposição ao regime de Assad; - manutenção da política de evitar engajamento direto e intenso nos conflitos da região).

11 Padrões de alinhamento e o equilíbrio de poder no contexto regional (EUA, EU, Russia, OTAN; outras potencias regionais) -distanciamento em relação à União Europeia por conta do esforço de concentração de poder assumido pelo Presidente Erdogan e de perspectivas em torno de questões como a pena de morte; - maior proximidade, porém limitada, com a Rússia; - buscar de maior autonomia frente aos Estados Unidos nos diferentes temas estratégicos regionais.

12 Geopolítica dos recursos energéticos: - reforço da tendência de diversificação das parcerias no campo energético, evitando excessiva dependência para com qualquer fornecedor individualmente; - fortalecimento do papel de articulação de projetos de geração, distribuição e de comercialização de insumos energéticos; -revalorização dos projetos de distribuição de gás e petróleo que transformem a Turquia em um grande hub de distribuição de insumos energéticos;

13 Questões correlatas de segurança: - possibilidade de reintrodução da pena de morte provocará a diminuição do fluxo migratório para e através da Turquia; - eventual repressão aos opositores do regime de Erdogan pode levar ao aumento do fluxo de migrantes, particularmente de refugiados sírios, para a Grécia e para a União Europeia de modo geral; intensificação das ações contra o PKK.

14 Apreciação Geral Implicações geopolíticas da crise na Turquia tendem a ser mais importantes no curto prazo no que diz respeito à autonomia dos Curdos, ao fluxo de refugiados e à aproximação da Turquia com a Rússia e ao afastamento em relação à União Europeia, alterando, potencialmente os padrões de alinhamento e de equilíbrio de poder na região no médio prazo; O desenlace da crise e o fortalecimento da liderança de Erdogan em bases personalistas e das perspectivas de concentração do poder presidencial favorecem o processo de consolidação da Turquia como potencia regional com reflexos importantes no equilíbrio de poder regional, no relacionamento com as grande potencias nos planos político, de segurança e energético.

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