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1 Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 13ª Vara Federal de Curitiba Av. Anita Garibaldi, 888, 2º andar - Bairro: Cabral - CEP: Fone: (41) prctb13dir@jfpr.jus.br AÇÃO PENAL Nº /PR AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: MARCIO DE ALBUQUERQUE ACHE CORDEIRO RÉU: BO HANS VILHELM LJUNGBERG RÉU: RAFAEL ACHE CORDEIRO RÉU: CANDIDO ELPIDIO DE SOUZA VACCAREZZA RÉU: CARLOS ROBERTO MARTINS BARBOSA RÉU: LUIZ EDUARDO LOUREIRO ANDRADE RÉU: PAULO SERGIO VAZ DE ARRUDA RÉU: BRUNO GONCALVES LUZ RÉU: CARLOS HENRIQUE NOGUEIRA HERZ RÉU: JORGE ANTONIO DA SILVA LUZ DESPACHO/DECISÃO 1. Trata-se de denúncia oferecida pelo MPF por crime de lavagem de dinheiro contra (evento 1): a) Bo Hans Vilhelm Ljungberg; b) Bruno Gonçalves Luz; c) Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza; d) Carlos Henrique Nogueira Herz; e) Carlos Roberto Martins Barbosa; f) Jorge Antônio da Silva Luz; g) Luiz Eduardo Loureiro Andrade; 1 of 8 22/08/ :39

2 h) Márcio Albuquerque Aché Cordeiro; i) Paulo Servio de Vaz Arruda; e J) Rafael Aché Cordeiro; A denúncia tem por base o inquérito e processos conexos, especialmente o processo de busca e apreensão A denúncia é extensa, sendo oportuna síntese. 2. Tramitam por este Juízo diversos inquéritos, ações penais e processos incidentes relacionados à assim denominada Operação Lavajato. A investigação, com origem nos inquéritos e , iniciou-se com a apuração de crime de lavagem consumado em Londrina/PR, sujeito, portanto, à jurisdição desta Vara, tendo o fato originado a ação penal Em grande síntese, na evolução das apurações, foram colhidas provas, em cognição sumária, de um grande esquema criminoso de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da empresa Petróleo Brasileiro S/A - Petrobras cujo acionista majoritário e controlador é a União Federal. Empresas fornecedoras da Petrobrás pagariam sistematicamente propinas a dirigentes da empresa estatal, também em bases percentuais sobre os grandes contratos e seus aditivos. A prática, de tão comum e sistematizada, foi descrita por alguns dos envolvidos como constituindo a "regra do jogo". Receberiam propinas dirigentes da Diretoria de Abastecimento, da Diretoria de Engenharia ou Serviços e da Diretoria Internacional, especialmente Paulo Roberto Costa, Renato de Souza Duque, Pedro José Barusco Filho, Nestor Cuñat Cerveró e Jorge Luiz Zelada. Surgiram, porém, elementos probatórios de que o caso transcende a corrupção - e lavagem decorrente - de 2 of 8 22/08/ :39

3 agentes da Petrobrás, servindo o esquema criminoso para também corromper agentes políticos e financiar, com recursos provenientes do crime, partidos políticos. Aos agentes políticos cabia dar sustentação à nomeação e à permanência nos cargos da Petrobrás dos referidos Diretores. Para tanto, recebiam remuneração periódica. Entre as empreiteiras, os Diretores da Petrobrás e os agentes políticos, atuavam terceiros encarregados do repasse das vantagens indevidas e da lavagem de dinheiro, os chamados operadores. O presente caso envolve uma fração desses crimes Em síntese, a denúncia tem por objeto o pagamento de vantagem indevida a executivos da Petrobrás em contratos de fornecimento de asfaldo firmados entre a estatal e a empresa norte-americana Sargeant Marine. Segundo a denúncia teriam sido pagas vantagens indevidas no total de USD ,54 em troca da contratação da Sargeant Marine como fornecedora de asfalto à Petrobrás, em detrimento da participação da empresa Asphaltos Trade. Reporta-se a denúncia a cinco operações de fornecimento de asfalto entre 28/07/2010 a 31/12/2011, no valor de dezenas de milhões de dólares. Ainda segundo a denúncia, os acusados haviam se associado em grupo autodenominado "Brasil Trade", com o intuito de alavancar negócios e comissões junto à Petrobrás. As três primeiras operações teriam rendido USD ,66 ao grupo criminoso. Nas fls da denúncia, consta a divisão desses valores entre o grupo. A quarta operação teria rendido USD ,25, constando na fl. 59 da denúncia a divisão de valores entre o grupo. A quinta operação teria rendido USD ,63, constando na fl. 65 a divisão dos valores entre o grupo. Os valores foram repassados ao grupo mediante transferências da Sargeant Marine para as contas em nome das off-shore Total Tec Power e Pentagram Engineering 3 of 8 22/08/ :39

4 Ltd, dos acusados Jorge Antônio da Silva Luz e Bruno Gonçalvez Luz mediante simulação de contratos de prestação de serviços, com posterior distribuição aos demais. Na fl. 69 da denúncia, há um quadro discriminando os repasses. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, seria um dos beneficiários e revelou, em acordo de colaboração, o esquema criminoso. Teria recebido cerca de USD ,42 em conta secreta mantida no exterior em nome da off-shore Ost Invest & Finance Inc, no Banco Lombard Odier, em Genebra. Na fl. 73 da denúncia, há discriminação desses repasses. Márcio Albuquerque Aché Cordeiro, então coordenador da Gerência Executiva de Abastecimento da Petrobrás, teria recebido cerca de USD ,00 que foram direcionados para aquisição de diamantes junto à empresa Rosy Blue DMCC. Rafael Aché Cordeiro participou de reuniões do grupo criminoso e auxiliou o pai, Márcio Albuquerque Aché Cordeiro, na lavagem de dinheiro. Carlos Roberto Martins Barbosa, então Gerente de Comércio e Produtos da Petrobrás, teria recebido cerca de USD ,71 por intermédio de Luiz Eduardo Loureiro Andrade Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza, na época deputado federal, teria recebido uma parte da propina, cerca de USD ,00, com o auxílio de Paulo Sergio Vaz de Arruda que teria recebido os valores no exterior e entregue a contrapartida em reais no Brasil. Parte dos valores, cento e vinte mil reais em espécie, foi apreendida na residência de Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza. Na fl. 76 da denúncia, há discriminação das transferências no exterior em favor de Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza. Jorge Antônio da Silva Luz e Bruno Gonçalvez Luz teriam atuado como intermediadores do pagamento da propina. Paulo Sergio Vaz de Arruda, como adiantado, atuaria como operador do mercado negro de câmbio e teria auxiliado Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza a receber a vantagem indevida em reais no Brasil Luiz Eduardo Loureiro Andrade, Carlos Henrique 4 of 8 22/08/ :39

5 Nogueira Herz e Bo Hans Vilhelm Ljungberg atuaram como representantes dos interesses Sargeant Marine nos negócios e negociaram as propinas, retendo comissão em benefício próprio. Eram sócios em empresas brasileiras. USD ,17 foram repassados das contas Total Tec e Pentagram, controladas por Jorge Antônio da Silva Luz e Bruno Gonçalvez Luz, para contas controladas por Luis Eduardo Loureiro Andrade, conforme quadro de fls da denúncia. USD ,04 foram destinados a Carlos Henrique Nogueira Herz e Bo Hans Vilhelm Ljungberg mediante transferência para conta da off-shore Encom Trading. Argumenta o MPF que o recebimento e a ocultação da vantagem indevida em contas secretas no exterior e com simulação de prestação de serviços também configuraria lavagem de dinheiro. Imputa o MPF aos acusados os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Essa a síntese da denúncia. Não cabe nessa fase processual exame aprofundado da denúncia, o que deve ser reservado ao julgamento, após contraditório e instrução. Basta apenas, em cognição sumária, verificar adequação formal e se há justa causa para a denúncia. Relativamente à adequação formal, inexistem, em princípio, reparos a serem feitos. Reputo válida a opção do MPF de não denunciar Paulo Roberto Costa, uma vez que ele já foi condenado ao máximo de pena prevista em seu acordo de colaboração. No que se refere à justa causa para a denúncia, entendo que os fundamentos longamente expostos da decisão de 28/07/2017 (evento 12) no processo , na qual foram deferidas, a pedido do MPF, buscas e apreensões e prisões cautelares, são suficientes para recebimento da denúncia. Agrego a identificação, mediante prova emprestada, de que as contas em nome de off-shore que receberam USD ,00 para Cândido Elpídio de Souza 5 of 8 22/08/ :39

6 Vaccarezza seriam controladas por Paulo Sergio de Vaz Arruda (evento 1, anexo114) Agrego a posterior confissão de dois dos acusados Jorge Antônio da Silva Luz e Bruno Gonçalves Luz (evento 1, anexo10 e anexo53) e a petição por eles apresentada no evento 1, anexo102, discriminando os beneficiários das transações realizadas a partir das contas deles. Para essas transações há prova documental, consistente nos extratos da contas. Além disso, bastante relevante é a apreensão de planilhas eletrônicas com suposta divisão das propinas entre os acusados. Relativamente ao ex-deputado Federal Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza, observo que há, em cognição sumária, três depoimentos que o incriminam, especificamente de Paulo Roberto Costa, Jorge Antônio da Silva Luz e Bruno Gonçalves Luz. Embora seja absolutamente prematuro concluir pela culpa, há alguns elementos de corroboração desses depoimentos, como os registros de suas visitas ao Diretor Paulo Roberto Costa na Petrobrás em conjunto com Jorge Antônio da Silva Luz (fl. 26), a elevada quantidade de dinheiro em espécie apreendida em sua residências, a identificação de seu nome em mensagens eletrônicas entre os demais acusados, entre outros. Em tese, o pagamento de vantagens indevidas a executivos da Petrobrás como contrapartida a obtenção de contratos junto à estatal configura crime de corrupção. Respondem, em tese, pelos crimes todos os autores, partícipes e beneficiários ainda que tenham a condição de agentes públicos. Há, é certo, questões relevantes a serem consideradas, como a tipificação, se há ou não confusão entre corrupção e lavagem, mas isso deve ser deixado para sentença. Evidentemente, a avaliação probatória ora feita sem faz em cognição sumária e é meramente provisória. Presente, portanto, justa causa para a imputação. 3. Presentes indícios suficientes de autoria e materialidade, recebo a denúncia contra os acusados acima 6 of 8 22/08/ :39

7 nominados. Citem-se os acusados para apresentarem resposta no prazo legal. Anotações e comunicações necessárias. Certifiquem-se e solicitem-se os antecedentes dos acusados, aproveitando, quando possível, o já obtido nas ações penais conexas. Consigno que a ação penal deverá tramitar sem sigilo. O interesse público e a previsão constitucional de publicidade dos processos (art. 5º, LX, e art. 93, IX, da Constituição Federal) impedem a imposição de sigilo sobre autos. Não se trata aqui de discutir assuntos privados, mas inclusive supostos crimes contra a Administração Pública. A publicidade propiciará assim não só o exercício da ampla defesa pelos investigados, mas também o saudável escrutínio público sobre a atuação da Administração Pública e da própria Justiça criminal. 4. Acolho a promoção de arquivamento em relação a Daniel Sargeant, Harry Sargeant III, Sillas Oliva Filho, José Raimundo Brandão Pereira, Tiago Cedraz e Sergio Tourinho Dantas, por falta de provas e sem prejuízo de retomada se surgirem. Observo que não chegaram a ser indiciados pela autoridade policial (evento 76, arquivo desp1, do inquérito ), desnecessárias portanto providências a esse respeito.. Intime-se o MPF desta decisão, por telefone, e para esclarecer a que vídeos de depoimentos de colaboradores se refere no item 5, "b", de sua cota ministerial, apresentandoos se for o caso. Prazo de três dias. Intimem-se desta decisão eventuais Defesas dos acusados já cadastradas. Ciência por oportuno à autoridade policial responsável pelo inquérito Curitiba, 22 de agosto de of 8 22/08/ :39

8 Documento eletrônico assinado por SÉRGIO FERNANDO MORO, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei , de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico mediante o preenchimento do código verificador v23 e do código CRC c31789e4. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): SÉRGIO FERNANDO MORO Data e Hora: 22/8/2018, às 11:4: V23 8 of 8 22/08/ :39