Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 13ª Vara Federal de Curitiba

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1 Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 13ª Vara Federal de Curitiba Av. Anita Garibaldi, 888, 2º andar - Bairro: Cabral - CEP: Fone: (41) prctb13dir@jfpr.jus.br AÇÃO PENAL Nº /PR AUTOR: PETRÓLEO BRASILEIRO S/A - PETROBRÁS AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: ROGERIO SANTOS DE ARAUJO RÉU: JOAO VACCARI NETO RÉU: ANTONIO PALOCCI FILHO RÉU: MARCELO BAHIA ODEBRECHT RÉU: EDUARDO COSTA VAZ MUSA RÉU: MONICA REGINA CUNHA MOURA RÉU: HILBERTO MASCARENHAS ALVES DA SILVA FILHO RÉU: RENATO DE SOUZA DUQUE RÉU: JOAO CERQUEIRA DE SANTANA FILHO RÉU: LUIZ EDUARDO DA ROCHA SOARES RÉU: BRANISLAV KONTIC RÉU: MARCELO RODRIGUES RÉU: FERNANDO MIGLIACCIO DA SILVA RÉU: OLIVIO RODRIGUES JUNIOR RÉU: JOAO CARLOS DE MEDEIROS FERRAZ DESPACHO/DECISÃO 1. Sentença prolatada no evento A Defesa de Fernando Migliaccio da Silva apresenta embargos de declaração (evento 1.039). Reclama em síntese contra a imposição do uso de tornozeleira eletrônica durante o cumprimento do assim denominado "regime aberto diferenciado", com recolhimento domiciliar noturno, finais de semana e feriados, o que não estaria previsto no acordo. Como consignei na decisão, o acordo vincula as partes e não o Juízo. Embora com deferência em relação às opções das partes, cabe ao Juízo exclusivamente dimensionar as penas no momento do julgamento, considerando culpabilidade e efetividade. 1/5

2 Todos os demais colaboradores, executivos da Odebrecht, em igual situação que Fernando Migliaccio da Silva, como Luiz Eduardo da Rocha Soares e Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, foram também submetidos a regime similar ao de Fernando Migliaccio da Silva, com recolhimento domiciliar noturno, finais de semana e feriados, sendo lhes imposto, inclusive nos acordos e na sentença, a utilização da tornozeleira eletrônica. Não há justificativa, considerando culpabilidade e efetividade da colaboração, para tratamento diferenciado em relação a Fernando Migliaccio da Silva quanto ao tópico. Por outro lado, tornozeleira eletrônica não é sanção, mas mecanismo de controle da efetividade do recolhimento domiciliar. A imposição da tornozeleira eletrônica não significa contrariedade à decisão de homologação do acordo, uma vez que o controle judicial então feito é de mera validade e voluntariedade, com análise dos aspectos gerais das cláusulas do pacto, e não quanto à minúcias ali previstas, como uso ou não de tornozeleira eletrônica. Questão similar já foi submetida ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região no Agravo de Execução Penal em relação ao condenado Pedro José Barusco Filho: "AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL. OPERAÇÃO 'LAVA-JATO'. MONITORAMENTO ELETRÔNICO. ACORDO DE DELAÇÃO PREMIADA. POSSIBILIDADE. FISCALIZAÇÃO DO CUMPRIMENTO DO REGIME. RECOLHIMENTO DOMICILIAR. UMA SÓ RESIDÊNCIA. HORÁRIO DE RECOLHIMENTO. 1. A tornozeleira eletrônica não é regime de cumprimento de pena (o que de fato foi estabelecido no acordo de colaboração celebrado) e sim forma de controle do respeito às condições desse regime. 2. Sendo forma de fiscalização, cabe ao juízo da execução decidir sobre a adequação da imposição do uso da tornozeleira ao caso concreto, não estando na esfera de disponibilidade do apenado a escolha acerca do método de controle para cumprimento das condições do regime aplicado. Tratando-se de mera forma de fiscalização do regime imposto, desnecessária a sua menção expressa no termo de acordo de colaboração, razão pela qual não há falar em descumprimento deste. 3. Tomando por empréstimo o conceito do direito civil, entende-se por domicílio da pessoa natural o 'lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo' (artigo 70 Código Civil). Sendo único o domicílio do agravante, é nele que deve ser cumprida a pena imposta. 4. O acordo de colaboração é claro ao dispor sobre a necessidade de recolhimento integral nos finais de semana, não deixando margens para interpretação diversa. 5. Agravo de execução penal desprovido." (Agravo de Execução Penal nº , Rel. Des. Federal João Pedro Gebran Neto - 8ª Turma do TRF4 - un. - j. 20/07/2016) 2/5

3 Assim, considerando cumulativamente que tornozeleira eletrônica não é sanção, mas meio de controle destinado a garantir o efetivo cumprimento do recolhimento domiciliar, que a culpabilidade e efetividade da colaboração de Fernando Migliaccio da Silva não justifica tratamento diferente dos demais executivos da Odebrecht da mesma situação, e que cabe ao Juízo na sentença aplicar a pena, com deferência, mas não vinculação absoluta ao acordo, deve ser mantida a exigência da utilização da tornozeleira eletrônica também para Fernando Migliaccio da Silva durante o cumprimento do assim denominado regime aberto diferenciado. Ante o exposto, acolho os embargos, para os esclarecimentos acima, sem alteração da pena. 3. A Defesa de Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho apresenta embargos de declaração (evento 1.049). Reclama em síntese que o período em que se encontra em prisão domiciliar também deveria ser considerado para fins de detração da pena. Retoma-se o consignado na sentença: "A pena privativa de liberdade de Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho será cumprida em regime inicial fechado de seis meses de reclusão. Será descontado dessa pena, o período em que ele ficou preso cautelarmente no processo , entre 22/03/2016 a 17/06/2016. A partir de então cumprirá mais um ano no assim denominado regime fechado diferenciado, desta feita feita com recolhimento domiciliar integral e tornozeleira eletrônica. Findo o período, deverá cumprir mais três anos e seis meses no assim denominado regime semiaberto diferenciado, desta feita com recolhimento domiciliar noturno, finais de semana e feriados, com tornozeleira eletrônica, prestação de serviços à comunidade por vinte e duas horas mensais durante o cumprimento da pena. Findo o período, deverá cumprir mais três anos e seis meses no assim denominado regime aberto diferenciado, com recolhimento domiciliar nos finais de semana e feriados, com prestação de serviços à comunidade por vinte e duas horas mensais durante o cumprimento da pena. Após, ficará sujeito apenas a prestação, semestral, de informações quanto as suas atividades. A efetiva progressão de um regime para o outro dependerá do mérito do condenado e do cumprimento do acordo." Acolho parcialmente o requerido, o período em que o condenado permaneceu em prisão domiciliar de 17/06/2016 até a presente data deve ser considerado para fins de detração do período de um ano no assim denominado regime fechado diferenciado. Afinal é justo que a detração seja efetuada em relação à parte da pena cujo regime de cumprimento guarda mais equivalência com a prisão cautelar com recolhimento domiciliar. 3/5

4 Quanto ao período de prisão cautelar domiciliar excedente de um ano, deverá ser descontado no cumprimento do recolhimento domiliar integral durante os finais de semana e feriados durante o assim denominado regime semiaberto diferenciado. Então, portanto, fica mantida a obrigação de cumprimento do remanescente da pena de seis meses, descontado o período de 22/03/2016 a 17/06/2016. Por questão de segurança, deverá ser cumprido no cárcere da Polícia Federal em Curitiba. Após, o condenado prosseguirá diretamente para o regime semiaberto diferenciado, já que o regime fechado diferenciado foi consumido pela detração. Quanto ao fato da prisão preventiva ter sido substituída por recolhimento domiciliar integral, este Juízo pôde verificar, na audiência de interrogatório, que a saúde do condenado foi completamente restabelecida, não havendo mais óbice à prisão em regime fechado. Ante o exposto, acolho parcialmente os embargos de declaração, alterando a sentença nos termos acima. 4. A Defesa de Antônio Palocci Filho apresentou os embargos de declaração do evento Questiona a Defesa que o Juízo não examinou o argumento de que não poderia ser criminalizada a lavagem de dinheiro praticada concomitantemente ao crime antecedente, em vista de suposto "bis in idem" ou que isso seria interpretação extensiva da lei penal. Como a própria Defesa aponta, o Juízo abordou expressamente a questão na sentença alusiva à suposta confusão entre o crime de corrupção e o de lavagem (itens ), em cerca de quinze parágrafos. Trata-se de argumentação suficiente, não sendo necessária refutação específica da cada argumento da Defesa. De todo modo, se é este o ponto, a criminalização da lavagem não representa dupla punição, pois o crime atinge bens jurídicos diferentes do que o do crime antecedente, ainda que as condutas sejam concomitantes. da lei penal. Não se trata, por outro lado, de interpretação extensiva, mas estrita Questiona a Defesa ainda omissão do Juízo quanto ao argumento de que seria um único crime de lavagem e não dezenove em continuidade delitiva. Também não há omissão, a posição deste Juízo foi externada no item 788 da sentença. Poder-se-ia cogitar em crime único se a transferência do numerário com condutas de ocultação e dissimulação fosse realizada mediante fracionamento para burlar os sistemas de compliance da instituição financeira, como, por 4/5

5 exemplo, ocorreu no caso examinado na sentença prolatada na ação penal (fracionamento em transferências inferiores a dez mil reais). No presente caso, não foi isso que aconteceu, pois como se verifica no item 249, não houve fracionamento para evitar a identificação da operação, mas depósitos separados que se estenderam de 19/07/2011 a 18/07/2012, cada um deles representando uma operação de lavagem ainda que em continuidade delitiva. Seria ainda inadequado considerar crime único condutas que se repetiram e se estenderam por quase um ano. Não cabe, portanto, pelos dois tópicos, alteração da sentença. Ante o exposto, acolho parcialmente os embargos apenas para o fim dos esclarecimentos acima. para todos. 5. Decidirei em conjunto quanto às apelações, após o fim do prazo Ciência ao MPF, Assistente de Acusação e Defesas desta decisão. Curitiba, 06 de julho de Documento eletrônico assinado por SÉRGIO FERNANDO MORO, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei , de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico mediante o preenchimento do código verificador v7 e do código CRC ae6918d0. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): SÉRGIO FERNANDO MORO Data e Hora: 06/07/ :21: V7 SFM SFM 5/5