PROCESSO Nº TST-RO A C Ó R D Ã O SDI-2 GMMHM/ale/lfo

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1 A C Ó R D Ã O SDI-2 GMMHM/ale/lfo RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA INCIDENTE SOBRE HONORÁRIOS MÉDICOS RECEBIDOS PELO IMPETRANTE. LEGALIDADE. ARTIGO 833, 2º, do CPC/2015. Na presente hipótese, a ilegalidade apontada é a decisão judicial proferida na reclamação trabalhista de origem, que determinou o bloqueio dos créditos do executado, ora impetrante, até atingir o valor total da execução, qual seja R$ ,78. Observe-se, no caso, que a decisão combatida foi prolatada em 8/5/2017, portanto, na vigência do CPC/2015. Nesse contexto, cumpre assinalar o que preceitua o 2º do art. 833 do citado Código: O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, 8º, e no art. 529, 3º. Assim, verifica-se que o inadimplemento de prestações alimentícias independentemente de sua origem enseja penhora de salários e proventos no limite estabelecido na novel lei processual. Note-se que a expressão destacada não existia no CPC de 1973 e, por essa razão, esta Corte Superior consagrou o entendimento segundo o qual a exceção do revogado art. 649, 2, do CPC/1973 fazia referência apenas à prestação alimentícia fixada com espeque no art do CC/2002. Por fim, ressalte-se que o Tribunal Pleno dessa Corte Superior alterou a redação da Orientação Jurisprudencial nº 153 da SBDI-2/TST (Res. 220/2017, DEJT divulgado em 21, 22 e ) para

2 fls.2 deixar claro que a diretriz ali contida aplica-se apenas a penhoras sobre salários realizadas quando ainda em vigor o revogado CPC de 1973, o que não se verifica na espécie. Destarte, não se há de falar em afronta a direito líquido e certo da impetrante, tampouco em violação de dispositivo de lei. Dessa forma, conclui-se que a decisão impugnada não merece reparos. Recurso ordinário conhecido e não provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Ordinário n TST-RO , em que é Recorrente ANAEL FARIAS MADRUGA e Recorrido VALTER SALGADO PEREIRA, RAUL SILVEIRA MADRUGA E FILHOS LTDA. e SEBASTIÃO JOSÉ PEREIRA e Autoridade Coatora JUIZ TITULAR DA 1ª VARA DO TRABALHO DE GRAMADO. Trata-se de recurso ordinário interposto contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região que negou provimento ao agravo regimental interposto em face de decisão que extinguiu a ação mandamental (fls.42/44). ordinário. Não foram apresentadas contrarrazões ao recurso É o relatório. V O T O 1-CONHECIMENTO conheço do recurso interposto. Atendidos os pressupostos gerais de admissibilidade, 2 MÉRITO 2.1 PENHORA INCIDENTE SOBRE HONORÁRIOS MÉDICOS. LEGALIDADE. ARTIGO 833, 2º, do CPC/2015. O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, por intermédio de acórdão da lavra do Desembargador Luis Carlos Pinto Gastal negou provimento ao agravo regimental com base nos seguintes fundamentos:

3 fls.3 Transcreve-se a decisão agravada, propondo à Seção que negue provimento ao agravo regimental: A inconformidade do impetrante diz respeito à forma de condução do processo de execução pelo Juízo de origem, por não concordar com a decisão que determinou a penhora de seus créditos junto à Unimed, até o limite da dívida em execução, conforme auto de penhora anexado aos autos, totalizando o valor de R$ ,79. No entanto, pelos documentos juntados aos autos, não há notícia de que o autor tenha manifestado sua insurgência perante o Juízo da origem, a quem compete a condução do processo de execução e o julgamento dos incidentes processuais, vindo a atacar o ato judicial diretamente por meio desta ação mandamental que, no entanto, não se presta como via alternativa quando existe remédio próprio para tanto (embargos à execução ou embargos à penhora). De fato, a impetração do mandado de segurança não é o meio adequado para a parte se insurgir contra a decisão de origem, pela existência de medidas específicas, nos termos do artigo 5º, II, da Lei /2009 e da OJ 92 da SDI-II/TST, cuja competência funcional cabe ao Juízo de origem ou, em grau de recurso, à Seção Especializada em Execução deste Tribunal. Registra-se, ainda, que não se cogita de exame da questão pela via estreita do mandado de segurança em face de eventual lesividade imediata do ato dito coator, considerando não haver prova nos autos de que a penhora determinada na origem comprometa a subsistência do impetrante. Ademais, nem mesmo está esclarecido se se tratam de créditos por pertencimento à sociedade cooperativa ou em contraprestação por serviços prestados. Por fim, destaca-se que a própria inicial transcreve subsídio denunciando que o ora impetrante também recebe valores do Município e do INSS. Incide ao caso o artigo 10 da Lei /2009: "A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não for caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração". Dito isso, indefere-se a petição inicial do presente mandado de segurança e EXTINGUE-SE O PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO (artigos 485, I, do NCPC e 170 do Regimento Interno do Tribunal). Inicialmente, registra-se que o agravo regimental não se presta ao julgamento do mérito do mandado de segurança, de modo que a mera reprodução dos

4 fls.4 argumentos apresentados na petição inicial não autoriza a reforma da decisão monocrática. Assim, as razões recursais não têm o condão de modificar a decisão que extinguiu o mandado de segurança, pela existência de remédios jurídicos específicos para atacar o ato dito coator, sequer manejados pela parte, que optou por manifestar sua insurgência diretamente na via mandamental, que não se presta como sucedâneo recursal. Ademais, reitera-se não haver provas de que a penhora determinada comprometa a subsistência do agravante e tampouco restou esclarecida a exata origem dos créditos penhorados, constando registro expresso na decisão atacada de que ele também recebe valores do Município e do INSS. Nesse contexto, nada há o que modificar na decisão monocrática que indeferiu a petição inicial e extinguiu a ação mandamental sem resolução de mérito. Nega-se provimento ao agravo regimental. Nas razões do recurso ordinário, o recorrente reitera as alegações no sentido de que Está mais do que evidente que os dispositivos infraconstitucionais elencados, bem como o entendimento sumulado acerca do fato ora exposto, estão sendo violados pela conduta decisória adotada pela autoridade coatora e mantida pelo Regional, ao determinar o bloqueio de parcela do salário do Recorrente para pagamento do crédito trabalhista, sob execução na Reclamação. Afirma que Também resta evidenciado o periculum in mora, exatamente por estar sendo violada a dignidade do Recorrente, que perde a possibilidade de garantir os meios necessários à sua própria subsistência e a de sua família, por ser privado de parcela de seu salário, já comprometido com outras despesas e pagamentos. Ressalte-se que a manutenção desse ato impugnado representa dano irreparável a sua esfera de direitos, pois será privado de parcela representativa de seu salário, até que garantido, em plenitude, o juízo da execução, da forma como determinado da decisão proferida pela autoridade coatora. Requer o efeito suspensivo com base no parágrafo único do art. 995, do CPC/2015 uma vez que há risco de danos grave e de difícil ou impossível reparação.

5 fls.5 Pontua que... no caso em apreço, não se há de falar na exceção prevista no 2º do art. 649 do CPC, que permite a penhora para garantir o pagamento de prestação alimentícia, pois, por se tratar de espécie, e não gênero, de crédito de natureza alimentícia, não pode ser interpretada de forma a englobar o crédito trabalhista. Aponta violação ao art. 833, IV, do CPC/2015 e contrariedade à OJ 153 do TST. Transcreve arestos. Na presente hipótese, a ilegalidade apontada é a decisão judicial proferida na reclamação trabalhista nº , que determinou o bloqueio dos créditos do executado, ora impetrante, até atingir o valor total da execução, qual seja R$ ,78. Por oportuno, transcreve-se a decisão impugnada: Depreco a V. Exa. a penhora de créditos vencidos e vincendos do devedor Anael Farias Madruga (CPF ) junto à Unimed Uruguaiana/RS, com endereço Rua Santana, 2772, Centro, Uruguaiana/RS, CEP , até o limite da dívida de R$ ,78 (trinta e sete mil e novecentos e setenta e um reais e setenta e oito centavos), atualizada até 08/05/2017. Em 08/05/2017. Com efeito, embora o artigo 5º, II, da Lei /2009 disponha que o mandado de segurança não representa a via processual adequada para impugnar decisões judiciais das quais caiba recurso, ainda que com efeito diferido (OJ 92 da SBDI-II do TST), os remédios processuais disponíveis, embargos à execução e agravo de petição, não possuem força de desconstituir, de imediato, a constrição indevida, de forma a ensejar dano de difícil reparação. Por conseguinte, cabível o mandamus. Cabe pontuar que a aludida verba penhorada, honorários médicos, constitui-se em remuneração pelos serviços prestados pelo impetrante, profissional liberal, e, portanto, trata-se de verba de natureza alimentícia.

6 fls.6 Observe-se, no caso, que a decisão combatida foi prolatada em 8/5/2017, portanto, na vigência do CPC/2015. Nesse contexto, cumpre assinalar o que preceitua o 2º do art. 833 do citado Código: 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, 8º, e no art. 529, 3º. Assim, verifica-se que o inadimplemento de prestações alimentícias independentemente de sua origem enseja penhora de salários e proventos nos limites novel lei processual. Note-se que a expressão sublinhada não existia no CPC de 1973 e, por essa razão, esta Corte Superior consagrou o entendimento segundo o qual a exceção do revogado art. 649, 2, do CPC/1973 fazia referência apenas à prestação alimentícia fixada com espeque no art do CC/2002. Nesse sentido, a Orientação Jurisprudencial nº 153 da SBDI-2/TST: MANDADO DE SEGURANÇA. EXECUÇÃO. ORDEM DE PENHORA SOBRE VALORES EXISTENTES EM CONTA SALÁRIO. art. 649, IV, do CPC DE ILEGALIDADE. (DEJT divulgado em 03, 04 e ) Ofende direito líquido e certo decisão que determina o bloqueio de numerário existente em conta salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que seja limitado a determinado percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para fundo de aplicação ou poupança, visto que o art. 649, IV, do CPC de 1973 contém norma imperativa que não admite interpretação ampliativa, sendo a exceção prevista no art. 649, 2º, do CPC de 1973 espécie e não gênero de crédito de natureza alimentícia, não englobando o crédito trabalhista. Ressalte-se que o Tribunal Pleno dessa Corte Superior alterou a redação da Orientação Jurisprudencial nº 153 da SBDI-2/TST (Res. 220/2017, DEJT divulgado em 21, 22 e ) para deixar claro que a diretriz ali contida aplica-se apenas para penhoras sobre salários

7 fls.7 realizadas quando ainda em vigor o revogado CPC de 1973, o que não se verifica na espécie. No que tange ao valor do bloqueio efetuado, registre-se que inexistem documentos nos autos que permitam aferir qual a renda percebida pelo impetrante e, dessa forma, qual o percentual correspondente ao salário do executado. Destarte, não se há de falar em afronta a direito líquido e certo do impetrante, tampouco em violação de dispositivo de lei. Dessa forma, conclui-se que a decisão impugnada não merece reparos. Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros da Subseção II Especializada em Dissídios Individuais do, por unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário. Brasília, 5 de dezembro de Firmado por assinatura digital (MP /2001) MARIA HELENA MALLMANN Ministra Relatora