Índices de conforto térmico: limitações e variações de classificação
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- Irene Franco de Lacerda
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1 1263 Índices de conforto térmico: limitações e variações de classificação Lílian dos Santos Fontes Pereira Bracarense Universidade Federal do Tocantins lilianfontes@uft.edu.br Betty Clara Barraza de La Cruz Universidade Federal do Tocantins bettyvan2001@yahoo.com.br Ana Jéssica Freire Monteiro Universidade Federal do Tocantins anajessicafreire@gmail.com Ana Paula Felício Santos Universidade Federal do Tocantins anapaulafelicio@mail.uft.edu.br Sarah Letícia Ayres Venâncio Universidade Federal do Tocantins sarahayresv@gmail.com Eduardo Castro Pereira Universidade Federal do Tocantins eduzero_alt@hotmail.com
2 ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO: LIMITAÇÕES E VARIAÇÕES DE CLASSIFICAÇÃO L. S. F. P. Bracarense, B. C. B. de La Cruz, A. J. F. Monteiro, A. P. F. Santos, S. L. A. Venâncio, E. C. Pereira RESUMO A avaliação do conforto térmico implica na definição de índices cujos resultados se agrupam em classes que buscam traduzir o nível de conforto percebido pelo ser humano em consequência de condições térmicas agradáveis ao corpo. Pesquisadores têm desenvolvido métodos de cálculo e classificação dos índices de conforto térmico em diferentes localidades, com diferentes variáveis e intervalos de classificação. Comparam-se nesse artigo as aplicações de diferentes índices de conforto térmico, considerando dados de temperatura, umidade e velocidade do vento. Os resultados demonstram que houve diferenças de classificação. Isso indica influência da percepção das pessoas de cada localidade sobre o conforto térmico, podendo ser reflexo das variações climáticas observadas em cada região. Reforça-se assim a necessidade de se desenvolver faixas de classificação calibradas de acordo com a percepção local. 1 INTRODUÇÃO Os espaços livres urbanos recebem diversos tipos de atividades tais como prática de esportes, atividades recreativas e deslocamentos a pé com diversas finalidades. Ao utilizar esses espaços as pessoas estão expostas a intempéries e variáveis climáticas que interferem na sua sensação de conforto térmico, resultando em incentivo ou fator de desestímulo à prática dessas atividades. Para o planejamento urbano, identificar características do ambiente que propiciem melhores condições de conforto térmico é importante para se adequar os espaços livres. Para se avaliar o conforto térmico nesses ambientes, são desenvolvidos índices a partir da combinação dos fatores influentes, buscando-se traduzir, por meio de medições objetivas, a sensação de conforto percebida pelo ser humano. Segundo a American Society of Heating, Refrigerating, and Air-Conditioning Engineers - ASHRAE (1992), o conforto térmico é definido como a condição da mente que expressa satisfação com o ambiente térmico. Nesse sentido o conceito de conforto térmico representa o entendimento de satisfação do homem com o espaço em que vive. Estudos sobre a análise de conforto térmico em espaços externos podem considerar a taxa de metabolismo, a vestimenta, a radiação solar, respostas fisiológicas aos efeitos combinados entre os fatores climáticos e a atividade, além da inclusão dos fatores psicológicos na complexidade da análise (LOIS e LABAKI, 2001).
3 Ao longo do tempo, diversos índices de conforto térmico foram desenvolvidos, sendo que muitos deles objetivaram relacionar variáveis do ambiente tais como temperatura, umidade, ventos e radiação com processos fisiológicos de trocas térmicas como taxa de metabolismo e taxa de sudação, considerando-se inclusive variações de vestimentas utilizadas (LOIS e LABAKI, 2001). Considerando-se a diversidade de metodologias empregadas na definição desses índices, as diferenças de condições climáticas predominantes nos ambientes nos quais as pesquisas foram desenvolvidas, e a possibilidade de alterações metabólicas em função da adaptação a essas condições climáticas, esse estudo buscou verificar a existência de divergências de classificação obtida por diferentes índices para os mesmos dados. Propõe-se então, discutir os resultados de aplicações de diferentes índices de conforto térmico, adotando-se como estudo de caso a cidade brasileira de Palmas TO, de clima tropical, com temperatura média de 26,8 C e máximas que ultrapassam 30 C durante todo o ano. 2 CONFORTO TÉRMICO O homem é um animal homeotérmico, ou seja, tende a manter, dentro de certos limites, a temperatura interna do organismo entre 36,5 C e 37 C, relativamente constante independente das condições climáticas. A temperatura interna do corpo é o resultado do equilíbrio entre a produção e a perda de calor. Quando o organismo está sob baixas temperaturas, a pessoa se encolhe para evitar o dispêndio de calor, ao mesmo tempo, o organismo provoca tremores para produzi-lo (FREITAS, 2005). Os estudos de conforto térmico feitos por Lamberts et al. (2008) visam analisar e estabelecer as condições necessárias à satisfação do homem, permitindo-o sentir-se termicamente confortável tanto no ambiente familiar, como no social e no de trabalho, de forma que sua performance ou rendimento físico e/ou intelectual seja aumentada. Os autores definem a importância dos estudos de conforto térmico a partir de três fatores: a satisfação do homem ou seu bem-estar permitindo-lhe se sentir termicamente confortável; a performance humana, os estudos mostram uma clara tendência de que o desconforto causado por calor ou frio, reduza o desempenho humano nas atividades intelectuais, manuais e perceptivas; e a conservação de energia, uma vez que conhecendo-se as condições e características referentes ao conforto térmico dos ocupantes do ambiente evitam-se desperdícios com calefação e refrigeração. Grande parte da pesquisa relacionada à verificação experimental do conforto objetiva aplicações para ambientes fechados, dadas as condições controláveis e passíveis de intervenção com sistemas de aclimatação. Em espaços abertos, a ausência de confinamento requer a consideração da interação entre diferentes variáveis (MONTEIRO; ALUCCI, 2010). Tais variáveis podem ser classificadas em objetivas e subjetivas. As objetivas referem-se aos elementos do clima (temperatura do ar, umidade relativa, velocidade do ar e radiação), a vestimenta, e como variáveis subjetivas, pode-se citar a aclimatação, forma e volume do corpo, cor, metabolismo entre outros. A junção desses fatores, quando produzem sensações térmicas agradáveis, relacionadas com as trocas térmicas do corpo humano com o ambiente, são responsáveis por determinar a zona de conforto.
4 Em relação aos fatores objetivos, segundo Lamberts et al. (2008), temperatura do ar é a temperatura ao redor do corpo humano. A umidade relativa varia com a temperatura do ar e velocidade do ar pode reduzir a sensação de calor, ambas atuando na percepção de calor do indivíduo. Apesar disso, Nikolopoulou e Lykoudis (2006, pág. 1459) afirmam que em geral, as pessoas não são muito boas em julgar as mudanças nos níveis de umidade, a menos que a umidade relativa seja muito alta ou muito baixa e que o vento não parece ter uma influência tão grande no aumento dos níveis de conforto térmico geral (pág. 1462). Em ambientes externos, a combinação das referidas variáveis é determinante do conforto térmico. Conhecê-las é importante para o planejamento de espaços ao ar livre, uma vez que os níveis da temperatura, velocidade do vento e radiação solar em um local externo podem ser modificados por elementos de projeto, como inclusão de áreas sombreadas, tipo de material, vegetação, cores das superfícies, entre outros (GIONAVI et al., 2003) Outro aspecto em relação a ambientes externos ressaltado por Nikolopoulou e Lykoudis (2006) refere-se à escolha pessoal de estar no sol ou na sombra, bem como com a oportunidade de deixar a área quando as condições de conforto térmico se tornam insuportáveis. Segundo os autores, esta escolha pode estar implícita nas ações e razões para estar no espaço, na medida em que as pessoas nem sequer saibam sua importância. O conceito de conforto térmico para Gomes e Amorim (2003) implica necessariamente na definição de índices em que o ser humano sinta confortabilidade e diversas pesquisas se voltaram à determinação desses índices, que serão detalhados na seção seguinte. 3 ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO Como revelam Monteiro e Alucci (2005), as primeiras tentativas para estabelecimento de um índice genérico para predição de conforto, por meio de uma escala de sensação térmica, são os trabalhos empíricos de Temperatura Efetiva (ET) de Houghten e Yaglou (1923), de Nova Temperatura Efetiva (ET*) de Vernon e Warner (1932), e de Temperatura Resultante (RT) de Missenard (1948). Monteiro e Alucci (2010) concluem que, historicamente, buscouse a determinação empírica de um índice válido universalmente. Porém, os estudos realizados ao longo do século XX demonstraram que os índices empíricos apresentam respostas significativas para as situações específicas em que foram determinados. Modelos mais universais acabam convergindo para perfis analíticos, com a vantagem de possibilitar uma avaliação específica das diversas trocas térmicas, porém com a desvantagem de resultados menos precisos. Nesta pesquisa, foram identificados onze diferentes índices para a avalição do conforto térmico, apresentados na Tabela 1. Observa-se que os índices utilizam diferentes combinações de variáveis para fazer a predição do conforto térmico. O Índice de temperatura e umidade () e o Índice de desconforto térmico () baseiam-se nas condições das variáveis temperatura e umidade do ar e são de mais fácil aplicação, principalmente a nível comparativo (THOM, 1959). O Índice Humidex (HU) também emprega essas variáveis e é mais utilizado em climas quentes (NICK; NEDEL, 2017). Os Índices temperatura equivalente percebida (), Temperatura Efetiva com Vento - (TEv) e Temperatura Equivalente de Windchil (TW), além de considerarem a temperatura do ar, também são calculados a partir da velocidade do vento. A Temperatura efetiva (TE), apesar de levar em consideração a temperatura do bulbo úmido e seco, como dito por Givoni (1969) citado por
5 Monteiro e Alucci (2007), superestima o efeito da umidade. O Voto Médio Estimado (PMV) é obtido combinando as variáveis ambientais e a partir dele também é possível obter o índice Porcentagem de pessoas insatisfeitas com o ambiente térmico (PPD). O Índice de sensação térmica (TS), foi desenvolvido por Givoni e Noguchi (2000) a partir de pesquisas experimentais em espaços abertos envolvendo dados de temperatura do ar, radiação solar e velocidade do vento, com o objetivo de quantificar vários aspectos de projeto que interferem na incidência do sol e dos ventos (MONTEIRO e ALUCCI, 2007). E o último índice avaliado, a Equação da carga térmica sobre o corpo, define a diferença entre o calor gerado pelo corpo e o trocado com o meio ambiente (LAMBERTS et al., 2008). Tabela 1: Índices de conforto térmico ÍNDICES EQUAÇÕES FONTE Índice de Temperatura e Umidade () Índice de Desconforto Térmico () Temperatura equivalente percebida () Temperatura Efetiva com Vento - (TE v) Temperatura Equivalente de Windchil (TW) Temperatura efetiva (TE) Voto Médio Estimado (PMV) = 0,8 T ar + ( U r T ar 500 ) Nóbrega e Lemos (2011). = T a (0,55 0,0055 * U R) * (T a 14,5) Thom (1959) = -3, ,4828 T ar + 0,5172 T rm + 0,0802 U r - 2,322 V ar TE v = T 1 [0,68 0,0014RH+ 1,76+1,4 V (1 RH 100 ) 0,75 0,29T (10 V + 10,45 V) (T 33) Monteiro, (2008), adaptadas por Monteiro e Alucci (2009) Missenard (1937) apud Suping et. al. (1992) Siple e Passel (1945) TE= 0,4 (Td + Tw) + 4,8 Thom (1959) PMV = (0,303 e 0,36M + 0,028) L Fanger (1970) Porcentagem de PPD = e [0,03353 PMV4 +0,2179 PMV 2 ] Fanger (1970) pessoas insatisfeitas com o ambiente térmico (PPD) Índice Humidex (HU) HU= T ar +( 5 ) (Pv -10) Masterton e 9 Richardson (1979) Índice de sensação térmica (TS) TS= 1,7+0,118 * T ar + 0,0019 I H -0,322 * V - 0,0073 * U r + 0,0054 * T s,ent Givoni e Noguchi (2000) Equação da carga térmica sobre o corpo L = M - 3,05 *(5,73-0,007 *M - P a) - 0,42 *(M - 58,15) - 0,0173 *M *(5,87 - P a) - 0,0014 *M *(34 - T a) - 3,96x10-8 *fcl *[(tcl +273) 4 - (T r + 273) 4 ] - fcl *hc *(tcl - ta) Fanger (1970) Variáveis das equações: Tar= Trm= T = temperatura do ar, (ºC); UR= RH = umidade relativa do ar, (%); V = Var = velocidade do vento, (m/s); Td = temperatura de bulbo seco; Tw = temperatura de bulbo úmido; PMV = voto médio estimado, ou voto de sensação de conforto térmico; M= taxa metabólica (W/m²); L = carga térmica atuante sobre o corpo; Par = Pa = Pv = pressão parcial de vapor de água, (hpa); IH = radiação solar no plano horizontal, (W/m2); Ts,ent = temperatura superficial do entorno, (ºC); tcl = Temperatura superficial das roupas, (ºC); fcl = razão entre a área superficial do corpo vestido pela área do corpo nu; hc = coeficiente de transferência de calor por convecção (W/m² C).
6 Além de considerarem variáveis distintas, os índices foram desenvolvidos utilizando-se de metodologias variadas. Alguns foram determinados a partir de relações de variáveis externas com taxas metabólicas observadas nos indivíduos submetidos a diferentes condições. A Equação da carga térmica sobre o corpo, proposta por Fanger (1970) é oriunda da equação de balanço térmico. Posteriormente foi expandida para englobar uma grande gama de sensações térmicas, determinando o índice PMV, sendo consideradas e tratadas estatisticamente as respostas fisiológicas do sistema termoregulador de mais de 1300 pessoas (LAMBERTS et al. 2008). Também baseia-se na equação de balanço de energia o MEMI, índice desenvolvido por Höppe em 1984 (MAYER; HÖPPE, 1987), que consiste em três equações: a de balanço de energia total do corpo; o fluxo de calor (Fcs) do interior do corpo para a pele, e o fluxo de calor (Fsc) da pele, através das camadas de roupa, para as superfícies externas das roupas. O sistema permite calcular a temperatura média da pele, temperatura da roupa e temperatura interna do corpo, quando são conhecidos os parâmetros meteorológicos (temperatura do ar, pressão de vapor, velocidade do ar e temperatura radiante média) e os parâmetros pessoais (idade, sexo, pelo, altura, taxa metabólica, resistência térmica da roupa, posição do corpo). (LOIS; LABAKI, 2001) Outra abordagem de determinação dos índices de conforto térmico relaciona os parâmetros externos à percepção de pessoas submetidas à diferentes condições. Costa e Araújo (2006) concluem que a definição de faixas-limite por análise estatística e pesquisa de campo por meio de entrevistas é uma metodologia possível, embora deva ser suficiente e cuidadosamente abrangente em virtude da multiplicidade de variáveis envolvidas. Como exemplo dessa abordagem, o TS foi desenvolvido a partir das respostas subjetivas de homens e mulheres submetidos a diferentes condições experimentais, ou seja, áreas com diferentes características, havendo uma pequena distância entre elas (área sombreada, área ao sol e uma área aberta, porém protegida do vento com uma placa transparente). Através da análise dos dados foi possível o desenvolvimento de uma fórmula prognosticando a sensação de conforto de um indivíduo em área externa. O índice PPD se baseia na percentagem de um grande grupo de pessoas que gostariam que o ambiente estivesse mais quente ou mais frio, votando +3, +2 ou -3 e -2, na escala sétima de sensações (LAMBERTS et al. 2008). Para aplicação neste estudo, foram selecionados índices que podem ser calculados a partir de informações da temperartura e umidade relativa do ar e velocidade do vento: Índice de Temperatura e Umidade () (Nóbrega e Lemos, 2011), Índice de Desconforto Térmico () (THOM, 1959), Temperatura Efetiva com Vento Tev (SUPING et. al., 1992), = temperatura equivalente percebida (MONTEIRO, 2008), adaptada por Monteiro e Alucci (2009). Apesar de existirem índices de conforto térmico mais completos que o, esse tem sido muito utilizado, por envolver apenas informações meteorológicas normalmente disponíveis em estações meteorológicas e em bancos de dados obtidos a partir de imagens de satélite (SOUZA et al., 2010). Além disso, o Índice de Temperatura e Umidade () é um índice utilizado para ambientes abertos que permite quantificar o stress no ambiente urbano (Querino, 2017). O é o índice bioclimático proposto por Thom (1959), sendo considerado apropriado em estudos de clima urbano para regiões tropicais, para descrever a sensação térmica que uma pessoa experimenta devido às condições atmosféricas de um ambiente. O de um dado ambiente pode ser sucintamente definido como uma escala de
7 sensação térmica que apresenta valores numericamente iguais aos da temperatura do ar de um ambiente de referência em que se verifica o mesmo valor médio de percepção de sensação térmica que no ambiente em questão. Segundo Coelho (2013), o Índice de Temperatura Efetiva Resultante do Efeito do Vento (Tev), proposto por Suping et al. (1992), se assemelha ao conceito de temperatura efetiva com base na sensibilidade individual, leva em consideração a velocidade do vento. Leal (2017) afirma que este índice também estabelece uma relação entre a temperatura média e a umidade relativa do ar, considera dados de velocidade do vento, apresentando onze faixas distintas de níveis de conforto térmico. Ressalta-se que a equação foi obtida a partir de dados compreendidos em determinadas situações ambientais e que a utilização em outras situações depende da verificação de correlação de resultados de possíveis extrapolações com dados observados. 4 METODOLOGIA O desenvolvimento do estudo seguiu as seguintes etapas: i) revisão bibliográfica; ii) tratamento dos dados iii) seleção dos índices a serem avaliados e cálculo dos índices; iv) análise comparativa. A revisão bibliográfica permitiu identificar e estudar 11 índices de conforto térmico, desenvolvidos em período e ambientes distintos, utilizando-se de diferentes variáveis de cálculo. A partir desse levantamento foram selecionados os índices para comparação, em função dos dados disponíveis. O presente artigo utilizou os dados coletados por Pereira (2016) no câmpus da Universidade Federal do Tocantins situado no município de Palmas- TO ( Fig. 1) no final de setembro e meados de outubro de 2016, contemplando o fim do período de estiagem e início do período de chuva. As medições foram registradas a cada cinco minutos no período das 09:30 horas às 16:15 horas, em quatro pontos distintos, sob a sombra de árvores de diferentes espécies: Jamelão, Fava de Bolota, Caju Manso e Pequi. Para cada ponto sombreado, foram realizadas medições simultâneas ao sol. Os dados de temperatura, umidade e velocidade do ar utilizados na pesquisa foram coletados por meio de estação meteorológica Professional Touch Screen Weather Center with PC Interface contendo termômetro de bulbo seco, anemômetro (medidor da velocidade do ar) e higrômetro (medidor de umidade).
8 Fig. 1 Localização da cidade de Palmas - TO Os índices foram calculados para cada medição realizada, encontrando-se a faixa de classificação para cada período do dia. Para permitir a comparação dos resultados, foi feita uma equivalência entre as classes, considerando que o número de classes varia entre os índices analisados, apresentada na Tabela 2. As classes foram identificadas por cores a fim de facilitar a visualização dos resultados. Tabela 2: Equivalência de classificação entre os índices de conforto térmico para efeito de comparação. Equi. Tev 1 Confortável Neutralidade Confortável Confortável 2 Ligeiramente quente Pouco calor Parcialmente confortável - 3 Quente moderado - - Levemente desconfortável 4 Quente Calor Desconfortável - 5 Muito quente Muito calor Muito desconfortável Extremamente desconfortável Para cada grupo de dados, foram então elaborados gráficos do conforto térmico observado ao longo do dia. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO As figuras 2 a 9 apresentam as classificações de conforto térmico obtidas de acordo com cada um dos índices, para cada ponto de medição. Os resultados demonstram que, para os mesmos dados, foram obtidas classificações distintas de conforto térmico, de acordo com cada índice. Foi possível observar que os índices e forneceram classificações mais próximas entre si, e predominantemente mais extremas que os índices e. Interessante observar que para os índices e, em geral, foi possível perceber mudança de classificação das medições realizadas ao sol e à sombra, nos mesmos períodos, revelando maior sensibilidade dos mesmos a variações dos parâmetros. Fava de Bolota - Sombra Fava de Bolota - Sol Fig. 2 Índices de conforto térmico ponto à sombra da árvore Fava de Bolota. Fig. 3 Índices de conforto térmico ponto ao sol próximo da árvore Fava de Bolota.
9 Cajú Manso - Sombra Cajú Manso - Sol Intervalo de tempo(min) Fig. 4 Índices de conforto térmico ponto à sombra da árvore Caju Manso. Fig. 5 Índices de conforto térmico ponto ao sol próximo da árvore Caju Manso. Jamelão - Sombra Jamelão - Sol Fig. 6 Índices de conforto térmico ponto à sombra da árvore Jamelão. Pequi - Sombra Fig. 7 Índices de conforto térmico ponto ao sol próximo da árvore Jamelão. Pequi - Sol Fig. 8 Índices de conforto térmico ponto à sombra da árvore Pequi. Fig. 9 Índices de conforto térmico ponto ao sol próximo da árvore Pequi. Os resultados mostram-se coerentes com as análises de Fante et al. (2017), que compararam diferentes metodologias de classificação do conforto térmico na cidade de Presidente
10 Prudente, Brasil, (temperaturas entre 18 C e 29,1 C) e observaram diferentes resultados. Os autores consideraram preponderantes as diferenças de metodologia empregadas (índices, diagrama e questionário de predileção). As causas das variações observadas no presente estudo podem estar associadas às condições climáticas dos locais onde se desenvolveram as equações utilizadas, e aos métodos empregados para se determinar as equações. Analisar os fatores de índice de conforto é uma tarefa complexa, pois além dos fatores físicos, envolve uma gama de fatores pessoais que tornam sua definição bastante subjetiva. Desta forma, o conforto térmico pode ser visto e analisado sob dois pontos de vista: pessoal ou ambiental. O ponto de vista pessoal, como sendo uma condição mental, expressa a satisfação com o ambiente térmico, por sua vez, o ponto de vista físico permite identificar se ocorre a manutenção da temperatura interna sem a necessidade de serem acionados os mecanismos termorreguladores, ou seja, o organismo humano se encontra em balanço térmico com o meio ambiente. Como observado por Borges e Labaki (2006) a existência de microclimas diferenciados em diferentes áreas está associada a variações de efeito psicológico nas sensações térmicas. Pezzuto e Labaki (2007) identificaram ainda que o uso do solo urbano interfere na sensação térmica do usuário da cidade. Nikolopoulou e Steemers (2000) detectaram a importância dos fatores de adaptação fisiológica tais como naturalidade, expectativa, experiência, tempo de exposição, controle e estimulação ambiental, apresentando uma análise de cada um destes parâmetros, com a forma com que podem influenciar uma análise de conforto em um espaço aberto. Seus resultados revelaram que os fatores físicos de adaptação fisiológica e fatores psicológicos podem ser responsáveis pela diferença de 50% entre a avaliação de conforto objetiva e a subjetiva. Outro fator relevante que traz complexidade a definição dos limites de estresse térmico é o histórico térmico dos indivíduos, sendo que, por exemplo, o uso prolongado de ar-condicionado impacta a percepção térmica dos usuários dos espaços públicos, mesmo quando estes não se encontram no momento em ambiente climatizado (KRUGER; DRACH, 2017). Sendo assim, tanto os métodos que se baseiam na percepção das pessoas quanto os que utilizam taxas metabólicas para determinar as zonas de conforto, estão sujeitos às características específicas das condições de pesquisa. Silva et al. (2017) confrontaram resultados de classificação de conforto térmico determinada pelos índices Physiological Equivalent Temperature (PET) e Universal Thermal Climate Index (UTCI) com a percepção de transeuntes em Palmas, Brasil e perceberam que ambos os índices superaram a avaliação térmica de desconforto dos entrevistados, demonstrando a sua inadequação para a amostra considerada. Observa-se, então, que os resultados da avaliação de conforto térmico obtidos por meio de índices preditivos sofrem interferências relativas à metodologia de desenvolvimento do índice, fatores subjetivos da amostra utilizada no desenvolvimento das equações, e adaptação às condições climáticas locais. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O conforto térmico pode influenciar no desempenho de diversas atividades intelectuais, manuais e perceptivas, estando relacionado a fatores objetivos (temperatura do ar, umidade relativa, velocidade do ar e radiação), e subjetivos (aclimatação, forma e volume do corpo, cor, metabolismo). Diversos estudos buscam prever e classificar o nível de conforto térmico percebido pelo ser humano a partir de variáveis externas. É importante então entender as limitações de cada índice e as diferenças que podem ser encontradas entre diferentes
11 métodos, para se determinar aquele mais representativo para uma dada localidade. Nesse artigo foram estudados 11 índices de conforto térmico. Destes, a partir dos dados disponíveis, foram selecionados 4 índices para comparação, calculados por meio de dados de temperatura, umidade e velocidade do vento. Os dados foram coletados nos meses de setembro e outubro de 2016, em pontos sombreados e expostos ao sol, na cidade de Palmas. Os resultados demonstram que houve diferenças de classificação, com variação entre pouco calor até extremamente desconfortável, para os mesmos dados, dependendo do índice utilizado. Considerando as possíveis interferências, seja na metodologia empregada, condições climáticas locais e fatores subjetivos da amostra utilizada no desenvolvimento das equações, que impõem limitações à aplicação dos modelos, os mesmos devem ser avaliados com critério e é importante o desenvolvimento de faixas de classificação próprias para cada local. Sendo assim, devido a diversidade de classificações observadas, destaca-se a importância de estudos complementares para desenvolver faixas de classificação próprias à realidade da região, que reflitam a percepção de seus habitantes, para então ser possível avaliar se algum dos índices existentes apresenta resultados com boa correlação com a percepção local. 7 REFERÊNCIAS ASHRAE (1992). Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy. Standard , American Society of Heating, Refrigerating, and Air-Conditioning Engineers, Atlanta, USA, Borges, M.; Labaki, L. (2006). Conforto térmico em espaços externos: preferência dos usuários e índices de conforto. In: V COTEDI, Ciudad de México, Memorias... UAM Coêlho, T. M.; Maciel, G. F., Silva, R. A.; Estudo do grau de conforto humano a partir de índices biometeorológicos no município de Palmas TO. 9 Seminário de iniciação científica de Palmas -TO. 5p. Palmas, Tocantins, Costa, A.; Araújo, V. (2006). Contribuição para a definição de faixas-limite de conforto térmico para ambientes externos. A Construção do Fututo XI Encontro Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído. Florianópolis/SC. Disponível em < Acesso em 16 nov de 2017 Fanger, P. (1970) Thermal confort. New York: McGraw-Hill, Fante, K. P.; Dubreuil, V.; Sant anna Neto, J. L. (2017) Avaliação comparativa entre metodologias de identificação de situações de conforto térmico humano aplicado ao contexto tropical, Presidente Prudente/Brasil. Revista Brasileira de Climatologia, Ano 13, V. 21, 2017 Freitas, R. (2005) O que é conforto. Encontro Nacional Sobre Conforto No Ambiente Construído, v. 8, p , Disponível em < Acesso em 20 nov de 2018
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