NOTIFICAÇÃO RECOMENDATÓRIA Nº 7101/2013
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1 Ao Excelentíssimo Senhor Prefeito do Município do Natal CARLOS EDUARDO NUNES ALVES Prefeitura Municipal de Natal Natal/RN NOTIFICAÇÃO RECOMENDATÓRIA Nº 7101/2013 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, por intermédio dos Procuradores do Trabalho signatários, no uso das atribuições que lhes são conferidas pela Lei Orgânica do Ministério Público da União (Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993), especialmente a prevista no artigo 6º, inciso XX, que o autoriza a expedir recomendações, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como o respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando o prazo para a adoção das providências cabíveis ; CONSIDERANDO que o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 127 da Constituição Federal); CONSIDERANDO que incumbe ao Ministério Público do Trabalho a defesa de interesses difusos e coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos, a teor do inciso III do art. 83 da Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993;
2 CONSIDERANDO que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo para preservá-lo para as presentes e futuras gerações (art. 225 da Constituição Federal); CONSIDERANDO que o meio ambiente do trabalho compreende o conjunto das condições internas e externas do local de trabalho e sua relação com a saúde dos trabalhadores; CONSIDERANDO que é direito dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social, a redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, XXII, da Constituição Federal); CONSIDERANDO que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de acidentes/doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (art. 196 da Constituição Federal); CONSIDERANDO que cabe às empresas cumprir e fazer cumprir as normas de saúde e segurança do trabalho, e adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente (CLT, arts. 157 e 200, Normas Regulamentadoras expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego); CONSIDERANDO que as condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado (Norma Regulamentadora nº 17, do
3 Ministério do Trabalho e Emprego, item 17.5); CONSIDERANDO que as questões relativas à segurança e saúde dos trabalhadores são de interesse público, indisponíveis por vontade das partes, com graves reflexos, tanto nos sistemas de aposentadoria, como no Sistema Único de Saúde; CONSIDERANDO que o Município de Natal, ao encaminhar projeto de lei para Licitação da Concessão de Serviço de Transporte Público Urbano de Passageiros, tem deveres e responsabilidades com a saúde dos trabalhadores do setor de transporte coletivo, pois como pessoa jurídica de direito público que integra o Estado brasileiro (Estado Democrático de Direito) deve, na sua iniciativa legislativa e atuação administrativa, promover a concretização dos princípios da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho e o direito à saúde ( arts. 1º e 196 da Constituição Federal); CONSIDERANDO que o descumprimento das normas de saúde e segurança do trabalho e a concorrência de fatores como excesso de jornada, assaltos, trânsito, poluição sonora e visual, dupla pegada e dupla função, especialmente no desempenho das atividades de motorista e cobrador, concorrem para o desgaste físico e psíquico do trabalhador, causando-lhes graves danos à saúde. CONSIDERANDO que os danos à saúde dos trabalhadores das empresas de transporte coletivo têm por consequência a geração de demandas para o Sistema Único de Saúde, cujas dificuldades de funcionamento são notórias; CONSIDERANDO que a exigência de adoção de medidas
4 voltadas à prevenção de doenças e acidentes de trabalho, nos editais de concessão de serviços públicos, é providência necessária para evitar maior sobrecarga do Sistema Único de Saúde; CONSIDERANDO que a Portaria nº 340/2000 do Ministério do Trabalho e Emprego reconhece o ônibus como ambiente de trabalho ao qual são aplicáveis as Normas Regulamentadoras de saúde e segurança do trabalho; CONSIDERANDO que dados de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) revelam que os principais fatores de risco de doenças e acidentes no setor de transporte têm origem no próprio veículo, os quais agem diretamente sobre a saúde física e mental do profissional e, somados a outros fatores externos como congestionamento, alimentação inadequada, falta de descanso e violência urbana, potencializam o aparecimento de doenças ocupacionais como surdez, desordens músculoesqueléticas, distúrbios do sono e problemas cardiovasculares (in Condições de saúde no setor de transporte rodoviário de cargas e de passageiros: um estudo baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, publicado em Cadernos de Saúde Pública, 2005, pesquisadores Marcelo Néri, Wagner Soares e Cristiane Soares); CONSIDERANDO que os fatores de riscos de doenças e acidentes de trabalho no setor de transportes que têm origem no próprio veículo podem ser reduzidos ou eliminados com a adoção de especificações técnicas na fabricação de veículos de características urbanas para transporte coletivo de passageiros, conforme Norma 15570:2009, da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT; CONSIDERANDO que a Norma 15570:2009, da ABNT,
5 estabelece os requisitos mínimos para as características construtivas e os equipamentos auxiliares aplicáveis nos veículos produzidos para operação no transporte coletivo urbano de passageiros, de forma a garantir as condições e segurança, conforto, acessibilidade e mobilidade aos seus condutores e usuários, independentemente da idade, estatura e condição física e sensorial. CONSIDERANDO que, em consonância com a Norma 15570:2009, da ABNT, que prevê a colocação de motores, nos ônibus, na parte traseira do veículo, alguns Municípios brasileiros têm adotado medidas para atender esse exigência, apresentando-se como exemplo dessa conduta o Município de São Paulo/SP, que, por meio do artigo 2º do Decreto nº , de 02/10/2003, que regulamentou a Lei Municipal nº , de 24/03/2003, proíbe a administração municipal de efetuar aquisições, pelos operadores do Sistema de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros na Cidade de São Paulo, de ônibus com motor dianteiro para integrarem as respectivas frotas. CONSIDERANDO que, no mesmo sentido, está em tramitação, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro/RJ, o Projeto de Lei nº 15/2011, que dispõe sobre a proibição de novas aquisições de ônibus com motor dianteiro para operar no Sistema de Transporte Coletivo Intermunicipal de passageiros naquele Estado; CONSIDERANDO que a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Distrito Federal, por intermédio do Ofício nº 278/2012 GAB/SEMARH, datado de 14/05/12, expôs que, Considerando o momento oportuno no qual o Distrito Federal discute sobre o transporte urbano, a Subsecretaria de Saúde Ambiental recomenda para o transporte coletivo, com base nos estudos existentes: ( ) Que a localização do motor
6 seja na parte central ou traseira dos veículos que circulam na área urbana, entre outras recomendações. CONSIDERANDO que essas providências são necessárias porque, nos veículos com motor dianteiro, o ruído e a vibração são maiores, aumentando a possibilidade de desenvolvimento de Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), em virtude dos níveis de exposição ao ruído; e as vibrações no corpo podem provocar problemas de coluna, como a lombalgia, além de problemas neurológicos e psicológicos; CONSIDERANDO que são notórias a inadequação do posto de trabalho dos motoristas e cobradores e a importância de intervenções ergonômicas para evitar agravos à sua saúde, faz-se necessária a adoção de medidas que previnam o adoecimento dos empregados, tais como motor situado na parte traseira do ônibus, a fim de diminuir o ruído, vibração e temperatura interna; câmbio automático, de modo a reduzir os riscos oriundos da fadiga, estresse e movimentos repetitivos que comprometam a integridade física do motorista e, por conseguinte, dos passageiros; poltronas anatômicas que proporcionem conforto e segurança, de modo a garantir posturas adequadas dos motoristas e cobradores, dotadas de assentos com ajustes de altura e inclinação, encosto de espaldar alto com inclinação ajustável, encosto de cabeça com regulagem de altura, e braços retráteis com o objetivo de evitar danos à sua saúde, notadamente em relação à coluna vertebral e demais articulações corporais; cintos de segurança com quatro pontos de ancoragem, de modo a proporcionar conforto e segurança para motoristas, entre outras medidas estabelecidas na Norma 15:570:2009, da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT; RESOLVE RECOMENDAR AO MUNICÍPIO DE NATAL, na pessoa de seu representante legal, que INSIRA no projeto de lei, no edital de licitação e nos
7 contratos administrativos para concessão do serviço de transporte público urbano de passageiros de Natal, as seguintes cláusulas: 1) as concessionárias somente poderão utilizar veículos integrantes do sistema de transporte coletivo de passageiros que possuam as características construtivas e os equipamentos auxiliares previstos na Norma nº :2009, da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas; 2) as concessionárias deverão comprovar o cumprimento integral da legislação trabalhista e previdenciária, inclusive das Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança do Ministério do Trabalho e Emprego; 3) proibição de adoção dos sistemas de dupla pegada e dupla função ; 4) as concessionárias deverão, na fase de habilitação da licitação, comprovar a elaboração e implementação de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, da Análise Ergonômica do Trabalho e do Programa de Conservação Auditiva, com avaliação e quantificação dos riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos; 5) as concessionárias deverão apresentar, na fase de habilitação da licitação, os seguintes documentos: a) Registro do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) junto ao
8 Ministério do Trabalho e Emprego, nos termos previstos no item 4.17 da NR-4; b) atas de eleição e de posse da Comissão Interna de Prevenção de Acidente (CIPA), prevista na NR-5, do Ministério do Trabalho e Emprego; c) Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), previsto na NR-7 do Ministério do Trabalho e Emprego; d) Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), previsto na NR-9 do Ministério do Trabalho e Emprego; e) Análise Ergonômica do Trabalho (prevista na NR-17 do Ministério do Trabalho e Emprego) e Programa de Conservação Auditiva (Ordem de Serviço INSS/DAF/DSS nº 608/1998 c/c NR 09/MTE); 6) a falta de cumprimento das normas trabalhistas, pelas concessionárias, relativas à remuneração e registro dos contratos de trabalho dos seus empregados, jornada de trabalho e normas de saúde e segurança do trabalho, ensejarão a suspensão da concessão, até a correção da irregularidade, e, persistindo o descumprimento da lei, será rescindido o contrato administrativo celebrado, nos termos do art. 78 da Lei nº 8.666/1993; 7) as empresas concessionárias deverão disponibilizar, nos terminais de passageiros, aos seus empregados, água potável e instalações sanitárias separadas por sexo e em condições adequadas de dimensionamento, higiene e limpeza, de modo a atender ao previsto na Norma Regulamentadora nº 24 do Ministério do Trabalho e Emprego.
9 Fica Vossa Excelência notificada de que deverá encaminhar, no prazo de 10 (dez) dias, informações sobre a inserção das cláusulas recomendadas, no projeto de lei, cujo encaminhamento, ao Poder Legislativo, encontra-se na iminência de se concretizar. Natal, 13 de junho de 2013 ILEANA NEIVA MOUSINHO Procuradora Regional do Trabalho XISTO TIAGO DE MEDEIROS NETO Procurador Regional do Trabalho ROSIVALDO DA CUNHA OLIVEIRA Procurador do Trabalho Procurador-Chefe
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