Controle da broca da erva-mate através da galinha-d'angola



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Transcrição:

Controle da broca da erva-mate através da galinha-d'angola Mallmann, Álvaro José (1), Szepaniuck, Alita Maria (2), Stertz, Eldo (3) e Marmitt, Luis Antônio (4)* 1 O problema De todos os problemas de cunho fitossanitário que ocasionam perdas economicamente significativas para a matecultura, a broca da erva-mate (Hedypathes betulinus, COL.: Cerambycidae) é o mais importante, visto que apenas uma larva pode destruir parcial ou completamente uma erveira. * (1) Eng. Florestal e Assistente Técnico Regional do Escritório Regional da EMATER/RS de Estrela; (2) Extensionista Social do Escritório Municipal da EMA- TER/RS de Cruzeiro do Sul; (3) Eng. Agr. do Escritório Municipal da EMATER/RS de Mato Leitão; (4) Téc. Agr. do Escritório Municipal da EMATER/RS de Venâncio Aires. Muitos fatores tornam a broca da erva-mate de difícil controle. As larvas, que ocasionam o principal dano ao escavarem as galerias no tronco, nas raízes ou nos galhos, compactam atrás de si serragem resultante, obstruindo, desta forma, o orifício e tornando quase impossível acessá-las. Os adultos ocorrem em baixa densidade populacional, procuram as regiões mais protegidas da planta para se abrigarem, possuindo ainda uma longevidade prolongada. As fêmeas apresentam uma grande habilidade materna representada pelo extremo cuidado com que protegem suas posturas. Os ovos colocados em fendas escavadas especialmente para abrigá-los ficam protegidos contra a dessecação, bem como dificilmente são alcançados por predadores. A viabilidade é alta, pois de cada estação de postura, 85% dos ovos em média se transformam em insetos adultos. O uso de agrotóxicos não é aconselhável pois, além de ocasionar desequilíbrios na 13

R elato de 14 entomofauna, destruindo inimigos naturais e determinando o surgimento de pragas secundárias, também poderia deixar resíduos nos produtos (chá, chimarrão) e acarretar riscos de intoxicação aos trabalhadores e aos animais domésticos. Além disso, cabe salientar que não existem princípios ativos registrados para a cultura, não se sabe da eficiência destes produtos e, além disto, seriam necessárias várias aplicações, devido ao prolongado período em que os níveis populacionais de adultos de praga, fase mais apropriada para controle, estão presentes no cultivo. 2 A broca da erva-mate 2.1. Descrição do inseto O inseto adulto é um besouro do grupo dos serradores, que mede aproximadamente 25 milímetros de comprimento. O corpo apresenta coloração geral preta, sendo recoberto em quase toda a sua superfície por pelos brancos (figura 2). Na parte mediana das asas coriáceas (élitros), ocorrem manchas escuras que se caracterizam pelo formato de "M". As antenas são longas e finas, apresentando de forma alternada manchas claras e escuras. As larvas possuem coloração branca. A parte anterior é um pouco mais larga do que a posterior. As fêmeas realizam as posturas principalmente no tronco da erveira, próximo ao solo. Também são preferidos as raízes expostas e os brotos ladrões (brotos que se originam do colo da planta). Os adultos possuem prolongada longevidade e estão presentes em abundância no período compreendido entre os meses de setembro e maio. 2.2 Danos provocados pela broca da erva-mate Os danos mais severos são ocasionados pelas larvas, mas os adultos também provocam perdas que usualmente não são percebidas pelos produtores. As larvas, durante o processo de alimentação, constroem galerias no tronco e nas raízes das erveiras, dificultando a circulação da seiva, o que debilita a planta, que geralmente apresenta queda de folhas. Um erval pode ter sua produção reduzida em até 50% quando altamente infestado por este inseto. Se o broqueamento é muito intenso, ou se ocorrem sucessivas gerações de praga, os galhos da planta podem secar e, muitas vezes, ocorre a morte da erveira. Os adultos roem a casca dos ramos, ocasionalmente anelando-os, o que determina que estes murchem e sequem. Ao comerem os pecíolos das folhas, ocasionam a queda destas. 3 A galinha-d'angola 3.1. Origem No Brasil, a galinha-d'angola é conhecida por vários nomes, dependendo da região. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina é mais conhecida como "tô fraco", "angolista" e "galinha-d'angola". Originária da África, foi introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses, que a trouxeram da África Ocidental, passou a ser conhecida aqui como galinha-d'angola. É bastante rústica, aclimatouse muito bem no Brasil. 3.2. Comportamento As aves ficam nervosas à toa. São extremamente agitadas, muitas vezes chegam ao estresse. São aves de bando: vivem em bandos, locomovem-se em bandos e precisam do bando para se reproduzir, pois só assim sentem estímulo para o acasalamento. E, como grupo, são organizadas. Cada um tem seu líder, o que é fácil de constatar no momento em que se alimentam: o líder vigia enquanto seus companheiros comem, e só depois de verificar que está tudo em ordem é que começa a comer. Na hora do acasalamento a iniciativa é da fêmea. O período de abril a agosto (intervalo de postura) é aquele em que as angolas estão

mais sociais, vivendo em grandes grupos, e no qual trocam as penas. No final dessa fase, vão escolhendo seus pares (duas fêmeas para um macho), depois ocorrem os acasalamentos. O período principal de postura vai de setembro a março, com uma média de setenta a oitenta ovos cada fêmea. São aves rústicas e fáceis de criar, exceto num ponto: deixadas soltas, escondem os ninhos com o requinte de botar os ovos em camadas e ainda cobertos por palha ou outro material disponível. É importante salientar que tentou-se realizar a incubação através de incubadoras, porém, os resultados não foram satisfatórios. As galinhasd'angola não são boas mães, fazem posturas conjuntas, ninhadas de até 40 ovos, dispostos em camadas, desta forma somente os ovos de cima recebem o calor da ave e descascam. São inquietas, arrastam os pintos para a umidade, podendo comprometer a sobrevivência dos pintos. 4 Como surgiu a experiência Este trabalho teve início no município de Venâncio Aires, em 1993, por ocasião de uma reunião sobre a cultura da erva-mate. Nas discussões sobre controle de pragas, o agicultor Odilo Hickmann, possuidor de 13 hectares de erva-mate, consorciados com diversas culturas anuais, enfatizou em meio à reunião com cerca de 40 produtores e técnicos que a galinha-d'angola era um predador natural da broca da erva-mate. A declaração, a princípio, causou espanto e risos por parte de alguns agricultores, que no primeiro momento não acreditaram na história contada pelo senhor Hickmann. A criação ampliou-se a partir do ano de 1995, depois de introduzida com a colaboração de produtores pioneiros. A Secretaria Municipal da Agricultura, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a EMATER/ RS foram entidades de coordenação do trabalho, divulgação através da Rádio Venâncio Aires, jornais Folha do Mate (Venâncio Aires), Zero Hora (Porto Alegre) e Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul) e pela RBS TV, entre outros meios de comunicação. Os produtores pioneiros em Venâncio Aires foram os responsáveis pela reprodução e criação desta ave, principalmente para controlar o besouro da broca da erva-mate, formigas pimenta e cortadeiras, além de outros insetos que atualmente prejudicam as culturas cultivadas. Atualmente, existem outras pesquisas que estão sendo desenvolvidas por entidades, para o controle da broca da erva-mate, através de feromônios e catação manual, sendo que quanto mais métodos de controle nos ervais, haverá maior eficiência e, conseqüentemente, um leque de opções maior terão as famílias rurais, de acordo com cada realidade, para diminuir os prejuízos com a queda de produtividade e a mortandade de plantas. 5 Organização dos produtores As campanhas de distribuição de pintos de angola tiveram início com a introdução da ave nos ervais do município de Venâncio Aires, primeiramente na propriedade de Odilo Hickmann em Linha Travessa e de Loreno de 15

16 Borba, em Linha São João do Erval, estendendo-se posteriormente para outros colaboradores. A galinha-d'angola sempre esteve presente em Venâncio Aires e outros municípios onde ocorreu a colonização açoriana, porém com a finalidade de ornamentação sendo que mais recentemente, através de observações nos ervais, o controle do besouro da broca da erva-mate passou a ser realizada. Em 1995, foram distribuídos os primeiros pintos de angolistas para os produtores de Linha São João do Erval, ocasião em que a Secretaria Municipal da Agricultura, a EMATER/ RS e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais organizaram produtores que realizaram a incubação dos ovos e posteriormente o repasse das aves para os produtores envolvidos. A partir deste período, sucessivamente todos os anos foram realizadas as distribuições de pintos com esta organização. Já no ano de 1999, foi realizado o primeiro concurso Angola Ecológica, com o objetivo de valorizar os produtores envolvidos no processo e divulgar o controle do besouro da broca da erva-mate com este método. Neste concurso, participaram 61 produtores que inscreveram 1290 aves entre adultas e pequenas, basicamente na região de concentração de ervamate. Atualmente, as campanhas de distribuição de pintos de angolista continuam, porém a comercialização é realizada pelas casas agropecuárias de Venâncio Aires, que regulam os preços de comercialização. Com a organização obtida pelos produtores, hoje já existe autogestão de produção das aves, iniciando a preocupação de conquista de mercados para a comercialização de ovos e carnes. Estima-se que em Venâncio Aires há 250 produtores adotadores e cerca de 2.500 aves, com as mais diversas funções ecológicas. Outros municípios da região como Mato Leitão e Cruzeiro do Sul também já apresentam resultados significativos com a utilização da galinha-d'angola nos ervais plantados e nativos e no controle de pragas de outras culturas. Após este período de 1999 em diante, os produtores de pintos passaram a repassar diretamente para as agropecuárias locais a distribuição para produtores interessados na galinha-d'angola. Outros trabalhos foram observados junto com produtores rurais, como controle da vaquinha no feijão, lagartas e outros insetos em pequenas hortas, formigas pimenta e cortadeiras em pomares de laranja e bergamota, entre outros. No ano de 1998, foi realizado o Concurso Galinha-d'Angola Ecológica, tendo como participantes 67 produtores com 1290 aves inscritas, pois o regulamento, elaborado pelos próprios produtores, determinava que para se inscrever o produtor deveria ter no mínimo dez aves adultas. 6. Como é feito o controle da broca da erva-mate com uso da galinha-d'angola O controle da Broca da erva-mate através da galinha-d'angola ocorre com maior freqüência quando a fêmea do "cascudo corintiano" vai realizar a postura, momento em que a fêmea se encontra mais vulnerável pois está mais próxima do solo, embora a galinhad'angola também capture os insetos nas partes mais altas da erva-mate, saltando (voando) após identificar o seu movimento nos ramos das plantas. Ainda, os insetos adultos têm o hábito de defesa de se desprender dos ramos quando ameaçados. Se as angolistas não obtiverem sucesso no ataque sobre os cascudos quando em vôo, os mesmos se arremessam sobre o solo e são capturados neste local pelo bando de angolas que estão mais próximas. A nova sistemática de condução dos ervais com podas mais intensas reflete em plantas de menor porte e por conseqüência fica mais fácil a captura desta praga que está mais pró-

R elato de xima das angolistas. Por questão de hábito as galinhas-d'angola se movimentam em bando, em alinhamentos predeterminados, com pequena distância entre as mesmas, e com este movimento realizam uma espécie de "arrastão" dentro dos ervais, capturando todos os cascudos que forem identificados no percurso. De uma forma geral, o controle da broca da erva-mate com o uso da galinha-d'angola representa uma prática totalmente ecológica, porque apenas as angolistas são envolvidas no processo de controle, além de refletir a consciência dos produtores que adotaram esta prática, mesmo diante de críticas de outros agricultores, investindo em pintos, instalações e alimentação para a criação e a manutenção dos animais. Outro método de controle que é preconizado para este inseto é a coleta manual dos adultos, visto que em ervais onde este procedimento é rotineiro os danos ocasionados pelo corintiano não são expressivos. Todavia, quando não é realizado, a população da praga aumenta em um ano, aproximadamente, quatro vezes. Além disto, o método é muito econômico, podendo ser dependente apenas da mão-de-obra familiar e não ocasiona desequilíbrios. Cabe destacar que a adoção do método por um grupo de produtores o torna ainda mais eficiente do que quando adotado apenas por um agricultor. A coleta de adultos deve ser realizada no período que vai de setembro até maio. O horário mais adequado se estende das 10 horas às 16 horas. Os melhores resultados são obtidos nos dias quentes e ensolarados, quando o inseto apresenta maior atividade. Durante a coleta, ao se examinar a erveira, deve-se prestar especial atenção para os vestígios da atividade do besouro, como casca dos ramos recentemente roída, presença de fezes frescas (moles) nos galhos e de ramos cujas folhas foram cortadas junto ao pecíolo. Estes sinais indicam que o besouro está próximo e que a planta merece ser melhor vistoriada. Cabe destacar que os galhos e troncos mortos pela ação da broca devem ser retirados do erval e destruídos, uma vez que se permanecerem no campo permitirão que a praga termine o seu ciclo e ataque outras erveiras. 7 Outras vantagens da criação da galinha-d'angola As galinhas-d'angola, circulando em bandos pelas lavouras, formando um verdadeiro "arrastão", procuram se alimentar com todo e qualquer tipo de insetos que encontram, como, por exemplo, as cigarrinhas, lagartas, besouros, cascudos, formigas e outros, os quais apetecem o paladar das angolistas. Até o momento não foi constatado que, nas suas andanças, as aves tenham causado dano econômico expressivo nas plantações. Além desses benefícios, a carne e os ovos são apreciados na culinária, podendo tornarse, num futuro próximo, mais uma fonte de renda para as famílias rurais da região. As variações no preparo da carne da galinhad'angola são idênticas à carne da galinha colonial. É excelente para uma "angolada" (em substituição à "galinhada") bem como ao molho. Os ovos são usados da mesma forma e nas mesmas receitas que os ovos médios da galinha colonial. A Bibliografia consultada ANUARIO BRASILEIRO DA ERVA-MARTE 1999. Santa Cruz do Sul: Gazeta Grupo de Comunicações, 1999.63p. ANUARIO BRASILEIRO DA ERVA-MARTE 2000. Santa Cruz do Sul: Gazeta Grupo de Comunicações, 2000.79p. FRANCO, Maria Virgínia (Cons.) Galinha-d Angola. Revista Globo Rural, Rio de Janeiro, v.5,n.49,p.92-95,nov. 1989. 17