LEVANTAMENTO DO USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ENTRE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR



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Transcrição:

ISBN 978-85-61091-05-7 Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar 27 a 30 de outubro de 2009 LEVANTAMENTO DO USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ENTRE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Juliana Paes de Pontes 1 ; Paula Caroline Buges da Rocha 2 ; Keila Mary Gabriel Ganem 3 ; Rute Grossi Milani 4 RESUMO: O consumo de substâncias psicoativas tem gerado, em todas as partes do mundo, problemas sociais e de saúde, e os estudos vêm demonstrando que são os jovens, por suas características tão peculiares, os indivíduos mais propensos a fazer uso de tais substâncias e com maiores riscos de desenvolver padrões prejudiciais de consumo. Com esta pesquisa realizou-se um levantamento sobre o uso de álcool e outras drogas entre acadêmicos do primeiro ano dos cursos de Psicologia, Enfermagem e Medicina Veterinária de uma instituição de Ensino Superior de Maringá, a fim de identificar o comportamento destes jovens em relação às drogas. Um questionário anônimo de auto-preenchimento foi aplicado em sala de aula, e respondido por um total de 157 acadêmicos. Entre os participantes, a maioria tinha idade entre 17 e 19 anos (70,06%); eram solteiros (87,26%) e do sexo feminino (74,52%). Para o uso na vida foi verificada a prevalência de 91,08% para a bebida alcoólica, 50,32% para o cigarro e 20,83% para as drogas ilícitas. Nos últimos 30 dias, 61,15% dos participantes beberam, 19,11% fumaram e 5,1% fizeram uso de alguma droga ilícita. Tais resultados indicam que a prevalência do uso de drogas entre esses acadêmicos pode ser considerada alta, e essa constatação deve servir de alerta para a necessidade de criação programas de prevenção ao abuso e dependência de tais substâncias. PALAVRAS-CHAVE: Acadêmicos; Álcool; Uso de Drogas; INTRODUÇÃO O uso de substâncias psicoativas tem sido considerado um dos principais problemas do mundo contemporâneo, e tem provocado, em todas as partes do mundo, problemas sociais e de saúde (Baus, Kupek e Pires, 2002; Tavares, Beria e Lima, 2004; Pratta e Santos, 2006; Wagner e Andrade, 2008). Embora o consumo de tais substâncias não seja uma novidade de nossos dias, o cenário sob o qual esse consumo acontece atualmente o é, pois, se antigamente essas substâncias eram consumidas por razões e ocasiões muito específicas (como festas, rituais religiosos ou problemas de saúde, por exemplo), hoje as pessoas as utilizam a todo e qualquer momento, na fantasia de que elas são capazes de trazer uma solução fácil e rápida para os seus problemas (Paulino, 2003; Tavares, Beria e Lima, 2004; Pratta e Santos, 2006). 1 Acadêmica do Curso de Psicologia. Departamento de Psicologia do Centro Universitário de Maringá CESUMAR. E-mail: juppontes@yahoo.com.br 2 Acadêmica do Curso de Psicologia. Departamento de Psicologia do Centro Universitário de Maringá CESUMAR. E-mail: paulabuges@hotmail.com 3 Orientadora e docente do Curso de Psicologia. Departamento de Psicologia do Centro Universitário de Maringá CESUMAR. E-mail: keilagabriel@cesumar.br 4 Co-orientadora e docente do Curso de Psicologia. Departamento de Psicologia do Centro Universitário de Maringá CESUMAR. E-mail: rute@cesumar.br

A mudança de comportamento experimentada com o uso da droga, ainda que curto e temporário, pode provocar nos indivíduos sentimentos agradáveis, euforizantes ou mesmo de alívio quando existe um problema (seja ele físico, psicológico ou social), o que favorece e estimula o seu uso (Andrade, 1997). Além disso, a cada dia têm surgido novas drogas, com novos efeitos, capazes de oferecer prazer ao público ávido por novas sensações, e isso tem levado não só ao aumento no consumo, mas tem feito também com que ela aconteça em períodos cada vez mais precoces na vida das pessoas (Baus, Kupek e Pires, 2002; Pratta e Santos, 2006). Um dos maiores avanços decorrentes das pesquisas sobre o uso de drogas foi a superação da visão dicotômica que até então fazia com que apenas o usuário pesado e dependente fosse alvo de preocupações e cuidados (Ribeiro, Laranjeira e Messas, 2006). Atualmente se sabe que todas as substâncias psicoativas possuem propriedades farmacológicas que produzem alterações no organismo do usuário (seja aumentando, diminuindo ou simplesmente modificando seu padrão de funcionamento cerebral), e são justamente essas alterações que podem levá-lo a desenvolver um padrão de abuso, uso nocivo e dependência. Sendo assim, não existe nenhum padrão de consumo totalmente isento de riscos, e tanto o bebedor social como o dependente de álcool, por exemplo, podem vir a ter complicações físicas e psicossociais causadas pelo consumo da substância (Ribeiro, Laranjeira e Messas, 2006). Muitas pessoas, no entanto, tem se mostrado capazes de usar substâncias legais e ilegais de maneiras que não se encaixam perfeitamente nas categorias de abuso e dependência, o que leva alguns autores a classificar o uso de substâncias em uso experimental, uso ocasional e uso compulsivo (Washton & Zweben, 2009). O uso experimental marca a iniciação no uso; as pessoas são motivadas pela curiosidade a experimentar o efeito de uma droga e normalmente a primeira vez é utilizado em uma situação social. O uso ocasional pode ser chamado como uso social ou recreacional e o uso compulsivo é dado por um padrão episódico, no qual, grandes quantidades de álcool ou drogas são consumidas intensamente (Washton & Zweben, 2009). O uso recreacional de drogas entre os estudantes de segundo grau e universitários tem sido considerado preocupante (Pillon, O Brien e Chavez, 2005). Nessa fase seja pela necessidade de engajar-se socialmente, como uma fuga da realidade, para a obtenção de prazer ou quaisquer outros motivos, é comum os jovens recorrerem ao uso de drogas, tanto lícitas quanto ilícitas, sem prever as conseqüências em longo prazo. Além disso, neste período da vida, as atividades culturais geralmente são celebradas com festas onde há a presença de álcool, o que pode vir a configurar um ambiente propício para o uso experimental de outras drogas e para a prática de comportamentos de risco (dirigir embriagado, fazer sexo sem proteção, envolver-se em brigas e acidentes, etc) (Pillon, O Brien e Chavez, 2005). Sendo assim, desenvolveu-se o presente trabalho com o objetivo de realizar um levantamento sobre o uso de álcool e outras drogas entre estudantes de graduação de uma instituição de ensino superior de Maringá, a fim de identificar o comportamento destes jovens em relação às drogas. A expectativa era que o grau de conhecimento dos participantes em relação às drogas fosse condizente com seu nível de escolaridade e que este conhecimento influenciasse o comportamento em relação à utilização dessas substâncias. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada com os alunos de primeiro ano dos cursos de Enfermagem, Medicina Veterinária e Psicologia de uma instituição de ensino superior de Maringá. Como forma de garantir o respeito à liberdade de decisão dos participantes foram oferecidos todos os esclarecimentos possíveis sobre os objetivos e procedimentos

adotados na pesquisa, e àqueles que concordaram em participar foi solicitado que assinasse o termo de consentimento livre e esclarecido. Antes da abordagem aos participantes foi obtida, junto à diretora de ensino uma autorização para que a coleta de dados fosse realizada nas salas de aula da instituição. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário anônimo de auto-preenchimento com questões sobre dados sóciodemográficos e atitudes frente ao uso de bebida alcoólica e drogas. A coleta de dados foi realizada em abril de 2009. RESULTADOS E DISCUSSÃO O questionário foi aplicado a um total de 163 acadêmicos, sendo 30 do curso de enfermagem, 55 da medicina veterinária, 35 da psicologia (matutino) e 43 da psicologia (noturno). Das turmas de enfermagem e psicologia, todos os acadêmicos concordaram em participar, mas na turma de medicina veterinária 6 se recusaram, resultando em um total de 157 questionários respondidos. Em linhas gerais, os resultados obtidos vêm confirmar que a adolescência, sobretudo em seu período final, é um período no qual é comum o uso recreacional de substâncias, entre as quais se destaca o álcool. Entre os participantes, observou-se que o número de pessoas que fizeram uso de bebida alcoólica ao longo da vida (91,08%) foi maior do que o observado entre os estudantes da mesma faixa etária na pesquisa realizada em Curitiba no ano de 2004(entre 86,7 e 87,1%). Foi maior também o uso freqüente (de 6 a 19 dias), relatado por 17,20% dos participantes, contra apenas 13% da referida pesquisa do Cebrid. É possível que tal variação se deva principalmente ao fato de que a presente pesquisa refere-se a universitários, entre os quais é normal a ocorrência de festas e freqüência a barzinhos, onde geralmente ocorre o consumo de bebidas alcoólicas. Entre o uso recreacional, freqüente e pesado, nos últimos 30 dias o consumo de bebidas alcoólicas foi relatado por 61,15% dos participantes, o que é considerado um índice muito alto e preocupante. O uso de cigarros na vida foi relatado por 50,32% dos participantes, o que vai ao encontro dos resultados apresentados pelo levantamento do Cebrid, no qual o uso na vida para essa faixa etária na cidade de Curitiba ficou entre 43,5% (para as idades de 16 a 18 anos) e 72,8% (para os maiores de 18 anos). O uso nos últimos 30 dias foi relatado por 19,11% dos participantes, dos quais 10,19% disseram fazer uso recreacional, 4,46% uso freqüente e 4,46%, uso pesado. Em relação ao uso de drogas ilícitas, o uso na vida, relatado por 20,83% dos participantes, ficou próximo dos 21,9% relatado pelo total de estudantes que participaram do levantamento do Cebrid, e significativamente abaixo do relatado pelos estudantes de mesma faixa etária (34,7% entre 16-18 anos e 44,3% para maiores de 18 anos). O uso no mês foi relatado por 5,1% dos participantes, sendo 3,82% uso recreacional, 0,64% uso freqüente e 0,64% uso pesado. Vale a pena lembrar, porém, tal como afirma Baus et al (2002), que mesmo com a garantia de que o questionário seria totalmente anônimo, alguns acadêmicos recusaram-se a participar da pesquisa, e existe a possibilidade de que alguns participantes não tenham revelado o uso de drogas lícitas e ilícitas por autocensura, erro de memória, sentimento de culpa ou quaisquer outros motivos inibitivos. Embora haja uma significativa quantidade de acadêmicos que já fizeram uso de alguma droga ilícita ao longo da vida e ainda seja preocupante a quantidade daqueles que ainda fazem uso (ainda que seja recreacional), na instituição pesquisada os dados mais alarmantes referem-se ao consumo do álcool, o que corrobora os dados observados na população em geral. CONCLUSÃO

A presente pesquisa constatou que uma quantidade significativa desses acadêmicos fazem, ou já fizeram, uso de algum tipo de droga. O álcool e o cigarro são, de longe, os mais consumidos entre os referidos jovens, mas as drogas ilícitas também já foram experimentadas por muitos deles. A princípio, pode-se pensar que os dados não são tão alarmantes, principalmente porque muitos dos acadêmicos referem ter apenas experimentado ou fazer uso recreacional. Não sabemos, porém, quando se deu esse uso experimental, o que deixa dúvidas quanto a possibilidade de virem a usar novamente. E o mesmo vale também para aqueles que relataram fazer apenas uso recreacional. Restam dúvidas ainda em relação à sinceridade com que os estudantes responderam ao questionário, pois existe a possibilidade de que alguns participantes não tenham revelado o uso de alguma substância ou a real freqüência com que a utilizam. De qualquer forma, a prevalência do uso de drogas entre esses acadêmicos pode ser considerada alta, e essa constatação deve servir de alerta para a necessidade de programas de prevenção ao abuso e dependência de tais substâncias. Levando em consideração todas essas questões, julgamos que seja de extrema importância que pesquisas dessa natureza estejam sendo constantemente realizadas nas instituições de ensino superior. Tais pesquisas, além de caracterizar o consumo de substâncias entre essa categoria de estudantes e contribuir com a produção científica da área, podem servir também como subsídios para a elaboração e execução de programas de intervenção para a comunidade específica na qual foi realizada. REFERÊNCIAS ANDRADE, A.G. Fatores de risco associado ao uso de álcool e drogas na vida entre estudantes de Medicina do Estado de São Paulo. Revista ABP-APAL, vol. 19, 1997. BAUS, J.; KUPEK, E.; PIRES, M. Prevalência e fatores de risco relacionados ao uso de drogas entre escolares. São Paulo: fev., 2002. Rev. Saúde Pública, v.36, n.1, p.40-46. CEBRID, Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas, UNIFESP, Departamento de Psicologia, 2004. PAULINO, W. Drogas. 9 ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. PILLON, S. C.; O BRIEN, B; PIEDRA, K.A.C.. A relação entre o uso de drogas e comportamentos de risco entre universitários brasileiros. Rev. Latino-am. Enfermagem [on-line]. 2005, v. 13, n. spe2, p. 1169-1176. PRATTA, E. M. M.; SANTOS, M. A. Levantamento dos motivos e dos responsáveis pelo primeiro contato de adolescentes do ensino médio com substâncias psicoativas. SMAD, Rev. Eletrônica de Saúde Mental Álcool Drogas, ago. 2006, v.2, n.2. RIBEIRO, M.; LARANJEIRA, R.; MESSAS, G. P. Transtornos relacionados ao consumo de álcool e outras drogas. Tratado de Clinica Médica. São Paulo: Roca, 2006, v. II, p. 2491-2501. TAVARES, B. F.; BERIA, J. U.; LIMA, M. S. Fatores associados ao uso de drogas entre adolescentes escolares. Rev. Saúde Pública. 2004, v.38, n.6, p. 787-796. WAGNER, G. A.; ANDRADE, A. G. Uso de álcool, tabaco e outras drogas entre estudantes universitários brasileiros. Rev. Psiq. Clin. 2008, supl.1, p. 48-54.

WASHTON A. M.; ZWEBEN, J. E.; Prática psicoterápica eficaz dos problemas com álcool e outras drogas. Porto Alegre: Artmed, 2009.