OS 05 CRITÉRIOS DE PENTEADO PARA ANÁLISE DA CONCAUSA



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Transcrição:

OS 05 CRITÉRIOS DE PENTEADO PARA ANÁLISE DA CONCAUSA O estabelecimento ou não do nexo de concausa na justiça do trabalho tem sido um grande desafio e motivo de discussões acaloradas, angustias e frustrações em peritos, assistentes técnicos e magistrados. Por ser um tema subjetivo, observamos ao longo destes anos que uma grande aposta dos procuradores em ações judiciais tem como pano de fundo a possibilidade do estabelecimento de um nexo concausal. Em artigo anterior (Revista Proteção Setembro de 2011) procuramos trazer à baila 10 critérios para estabelecimento de nexo causal em doenças ocupacionais, de modo que esta análise saísse do campo do subjetivismo. Da mesma forma, acreditamos que para o estabelecimento de nexo concausal existam também critérios bem definidos. A concausa foi definida segundo Cavalieri Filho como: outra causa que juntando-se a principal, concorre com o resultado. Ela não inicia e nem interrompe o processo causal, apenas o reforça, tal qual um rio menor que deságua em outro maior, aumentando-lhe o caudal. Por sua vez A Lei 8213 no seu artigo 21 relata que equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei, o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação Lembrando que a Lei 8213 é de origem previdenciária, questiona-se muito a aplicação destes conceitos, com a determinação de uma responsabilidade civil da empresa em uma possível indenização na esfera trabalhista. Recente artigo publicado pelo Dr Sebastião Geraldo de Oliveira na Revista Proteção de Novembro de 2103 fala sobre a necessidade de atribuir graus à contribuição do trabalho como concausa para o adoecimento. Relata que na Previdência Social não há necessidade de precisar qual das causas foi aquela que efetivamente gerou a doença para que seja considerada como ocupacional. Deixa, entretanto bem claro que o seguro acidentário tem caráter meramente social, com apoio na teoria da responsabilidade objetiva e se a sociedade com um todo é beneficiária do progresso e do trabalho dos empregados, também deve ampará-los por ocasião do infortúnio., socializando os riscos. Além disso, o enquadramento a nível previdenciário não traz prejuízo nem para o trabalhador nem para a Previdência, já que os valores previdenciários estão equiparados aos acidentários. Entretanto, acertadamente, o desembargador escreve que o nexo concausal no âmbito da responsabilidade civil não pode ser feito sem considerar alguns ajustes ou adaptações, pois o princípio previdenciários são mais protetivos do ponto de vista social quando em comparação com os prejuízos no enfoque do Direito Privado. Discorre o magistrado sobre a necessidade do perito informar se a concausa é pré-existente (existência de um fator anterior que deixa a pessoa mais susceptível à complicações), concorrentes (causa concomitantes) ou supervenientes (complicações posteriores) Por fim informa que na seara da responsabilidade civil, uma vez constatada concausa, no momento da fixação dos valores indenizatórios é necessário considerar o grau de contribuição dos fatores laborais e dos extra-laborais. Resumidamente, no caso de concausa propõe uma classificação:

Temos visto infelizmente o emprego generalizado de concausa, em especial em doenças osteomusculares e transtornos mentais, tanto por profissionais técnicos como por magistrados mesmo em casos de realização de movimentos assim ditos como normais, dentro de uma atividade laboral. Afirmar que o simples fato de eventualmente carregar um peso de 10 quilos ou à vezes levantar o braço acima dos ombros pode ser danoso é apostar na total imperfeição da máquina humana. O simples trabalho em pé não é causador de problemas na coluna. É de nosso conhecimento também que a coluna foi feita para flexionar, o ombro levantar, o joelho para dobrar e assim por diante. A ocorrência de um movimento ou sequencia de movimentos durante o trabalho não é fator isolado de risco para se estabelecer um nexo causal ou concausal. O que caracteriza a possiblidade de adoecimento é se os mesmos ocorrem com repetitividade ou sobrecarga suficiente para levar a algum dano, aliada a ausência de pausas reparadoras. Acreditamos então que para se determinar uma concausalidade devem ser estabelecidos os critérios que propomos próximas linhas: 1) Existência de uma doença multicausal Para que exista uma concausa, por óbvio deve haver outras causas. Não é necessário o perito iniciar uma longa avenida de investigação de todas as causas da doença, mas baseado na literatura técnica podemos afirmar ou não a existência de outras causas. São exemplos as doenças degenerativas, reumatológicas, metabólicas e transtornos mentais, onde sabemos que fatores extra-laborais estão presentes na evolução doença Exemplo: - Hérnia de disco: hérnias e protrusões aparecem no decorrer da vida como resultado de uma degeneração natural, ocorrendo em todas as idades, mesmo sem realizar esforços intensos. Tem papel também na sua gênese os fatores genéticos e alterações congênitas na coluna, sem contar a obesidade e o tabagismo - Tendinopatias do supraespinhoso: revisão bibliográfica publicada em Novembro de 2004 na Revista Brasileira de Ortopedia sobre as lesões do manguito rotador demonstra a importância como causa da lesão, o processo degenerativo relacionado ao envelhecimento natural dos tendões (entesopatia), devido a mudanças na vascularização do manguito ou outras alterações metabólicas associadas com a idade, sendo comum aparecer após os 40 anos de idade. - Tendinopatias tem origem também em doenças reumatológicas e metabólicas: Artrite Reumatóide, Lúpus, Artrite Gotosa entre outras, que aos poucos levam a uma degeneração articular com tendinopatias associadas

- Depressão: estudos mostram a forte influência genética na doença. Os fatores laborais podem apenas desencadear o quadro e não ser a causa única. - Síndrome do Túnel do carpo: além do fator laboral, pesam como maiores causas da doença a idiopatia (não se consegue descobrir a causa), a obesidade, o hipotireoidismo, alterações hormonais (climatério), etc. Varizes: é necessária a existência de defeito básico de origem congênita que é a agenesia ou atrofia das válvulas - Hérnias inguinais: existe uma pré-disposição inerente ao indivíduo, seja por persistência conduto peritôniovaginal de origem congênita (hérnia indiretas) ou por fraqueza da parede muscular (hérnias diretas) 2) Existência de um fator de risco ocupacional capaz de levar a um dano Chama-se fator de risco a qualquer situação que aumente a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde. Como diz Hudson de Araújo Couto O ser humano tem capacidade de fazer movimentos com as suas juntas, e não é pelo simples fato de se encontrar alguma flexão do braço acima do nível dos ombros ou abdução dos ombros ou mesmo flexão, extensão ou desvio ulnar do punho no ciclo é que será caracterizado o risco. O risco será caracterizado pela frequência desse tipo de ação (repetitividade) ou pela manutenção da mesma (esforço estático). Deve-se então analisar a existência de um fator risco que potencialmente seja capaz de agravar a doença. a) Para doenças osteomusculares: verificar se exposição a um risco ergonômico, possui intensidade e tempo de exposição diário capaz de causar ou agravar um dano b) Para transtornos mentais: identificação efetiva de fatores organizacionais no trabalho e assédio moral capazes de gerar um dano. Neste caso inclui-se também intensidade e tempo de exposição. É importante lembrar que cerca de 25% da população mundial sofre de algum transtorno emocional, portanto é factível encontrar dentro de qualquer empresa cerca 15 a 25% de trabalhadores acometidos por algum a patologia mental sem qualquer relação casal ou concausal com o trabalho. Em qualquer local de trabalho existem cobranças de metas e alguma forma de pressão, inclusive no Judiciário (magistrados, servidores, peritos, etc), porém na maioria das vezes são cobranças compatíveis com o trabalho de um homem médio. Ainda assim, em qualquer local de trabalho poderá ocorrer algum tipo de desavença, mal estar ou dificuldade de relacionamento sem necessariamente configurar-se assédio moral. Uma pessoa normal terá problemas de relacionamento com aproximadamente 10% dos seus colegas de trabalho. O desafio do perito e do magistrado é analisar todas as circunstâncias trazidas aos autos e identificar se existe ou não plausibilidade técnica para relacionar um transtorno mental comum na população mundial, independente do trabalho, com a presença ou não de fatores organizacionais da empresa passíveis de causar ou agravar esta doença. c) Para doenças alérgicas: devemos identificar a existência efetiva no local de trabalho de um risco químico capaz de desencadear crises nestes pacientes, lembrando que fora do local de trabalho o trabalhador também está exposto a estes riscos. 3) Comprovação de que a exposição ao risco alterou a evolução da história natural da doença Como o princípio básico da concausalidade deverá ocorrer a existência de um agravamento de um dano préexistente ou então associação de causas que concorreram para o resultado (concausa concorrente). Por tal razão deve o expert, na análise da concausalidade, não apenas apontar a existência do fator risco, mas efetivamente demonstrar que sua existência influenciou de forma a alterar a história natural de evolução da

doença. Portanto, deve ter certeza de que a doença pesquisada estaria melhor caso não houvesse exposição ao risco laboral Cito como exemplo clássico de agravamento de uma doença pré-existente, um indivíduo portador de uma protrusão discal, que após um esforço físico com a coluna em flexão, apresenta um quadro agudo de dor lombar e uma extrusão da hérnia. Outro exemplo é trabalhador com pré-disposição congênita para uma hérnia inguinal que trabalha com esforços físicos e tem o aparecimento da mesma. Da mesma forma pacientes submetidos a situações estressoras e constrangedoras no trabalho que desenvolvem um episódio depressivo, este pode ser classificado como uma concausa. Muito cuidado deve ser tomado na determinação de uma concausa e em pacientes idosos, diabéticos, portadores de doenças metabólicas ou reumatológicas. É comum apresentarem alterações de exames imagem que estão em um nível coerente com a idade ou com a doença de base. O estabelecimento generalizado de concausas nestes casos, como já disse Newton, desencadeará uma reação igual em contrário, e empresas acabarão por adotar políticas discriminatórias com relação a trabalhadores de mais idade, diabéticos ou alérgicos, acabando ao final desamparando o trabalhador ao invés de ajuda-los 4) Existência de atos contrários às normas de proteção à saúde do trabalhador É importante lembrarmos que, ao contrário da justiça previdenciária, na esfera trabalhista estamos discutindo a responsabilidade civil da empresa na concausalidade da doença Ao estabelecer efetivamente uma concausa, deve analisar se a empresa agiu contra-jus ou o resultado da doença ocorreu por fatos inesperados. O homem médio pode estar exposto a determinados riscos sem que efetivamente exista a possibilidade de adquirir uma doença. Sabemos que pacientes com doenças pré-existentes e muitas vezes não diagnosticadas (ou o mais comum, omitidas pelos trabalhadores em exame médico admissional) predispõe e torna a doença do individuo mais vulnerável ao agravamento. Tendo a empresa cumprido as normas regulamentadoras e não expondo o trabalhador a um risco maior que o homem médio, não podemos falar de responsabilização da empresa. Como exemplo podemos citar um individuo previamente alérgico (que não sabia ou que omitiu para conseguir o emprego) contratado para trabalhar com pintura em ambiente com boa ventilação, quantificação dos produtos químicos abaixo do limite de tolerância (porém presentes), e com uso de proteção respiratória, que desenvolve um quadro agudo de alergia respiratória. Obviamente existirá uma concausa na crise alérgica, mas em nossa análise não caberá nenhuma responsabilidade civil subjetiva à empresa no desencadeamento desta crise, pois as medidas protetivas sabidas foram todas devidamente tomadas. Conclusão O estabelecimento de nexo concausal deve seguir critérios para seu real enquadramento. Deve o perito responder às seguintes perguntas quando do estabelecimento do nexo concausal: 1) A doença discutida nos autos tem origem multicausal? 2) No caso de doença multicausal foi encontrado efetivamente nas atividades laborais a existência de fator de risco capaz de agravar a doença ou atuar de forma concorrente no aparecimento do dano, considerando tempo e intensidade de exposição?

3) Identificado o risco há como afirmar que o mesmo atuou de forma a alterar a história natural de evolução da doença.? 4) A empresa deixou de cumprir alguma norma de segurança e prevenção que contribuiu para a ocorrência do dano 5) Qual o grau de contribuição do fator laboral em comparação com os fatores extra-laborais? Pode o perito classificar em Leve (grau 1 25%) Moderado (Grau 2-50%) ou acentuado (grau 3-75%)? Não seguir critérios técnicos para estabelecimento do nexo de concausa gera claro subjetivismo na conclusão, não podendo ser considerada como forma adequada de ciência ou de justiça. Dr José Marcelo de Oliveira Penteado Médico do Trabalho. Especialista em Doenças Ocupacionais Perito Judicial Membro Titular da Associação Nacional de Medicina do Trabalho Member of International Commission on Occupational Health Membro da Sociedade Brasileira de Perícias Médicas Consultor em Ergonomia LER/DORT. Analista Certificado de Occupational Repetitives Actions pela Escola OCRA Internacional Membro Titular da Associação Portuguesa de Avaliação do Dano Corporal, Pós Graduado pela Universidade de Coimbra