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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA DIANTE DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DE 06 A 10 ANOS NO ENSINO FUNDAMENTAL Por: Renata Guanaes Fogaça DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL Orientadora Profª. Me. Fátima Alves Rio de Janeiro 2012

2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA DIANTE DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DE 06 A 10 ANOS NO ENSINO FUNDAMENTAL Apresentação de monografia à AVM Pós-Graduação Lato Sensu, Projeto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicomotricidade. Por.: Renata Guanaes Fogaça.

3 AGRADECIMENTOS A todos os meus queridos alunos que me despertam a curiosidade e a vontade de cada vez mais entendê-los e ajudá-los. Em destaque, meu aluno Breno Carvalho do Nascimento que me encantou com seu jeitinho especial e me encorajou nessa nova jornada. A querida professora e orientadora, Fátima Alves, por me apoiar no desenvolvimento desse trabalho.

4 DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a minha queria e amada família, em especial Sergio Guimarães Fogaça (em memória), meu pai que com certeza, está orgulhoso de mim, mais uma vez. E como educadora e incentivadora, espero estar contribuindo para um brilhante futuro da minha sobrinha e afilhada Mariana Fogaça.

5 RESUMO Quando a criança chega à escola traz consigo marcas dos primeiros anos de vida. Um conjunto de pré-requisitos, de atitudes e valores que servirá de base para o sucesso ou fracasso escolar. A referência de vida que a criança traz são características de seu comportamento, aspecto biológico, psicológico e social, portanto é preciso analisar e avaliar as causas que levam a criança apresentar dificuldades de aprendizagem considerando as alterações em qualquer um desses aspectos. O corpo em sua totalidade é o eixo de percepção existente, o agente do sujeito na percepção do mundo que o envolve. A aprendizagem é vista como um sistema dinâmico de interação, pois o processo humano é biológico, intelectual, emocional e social e se relacionam entre si. Os processos cognitivos básicos interferem no processo da aprendizagem do sujeito onde aprender resulta das condições e oportunidades proporcionadas ao aluno, sejam elas culturais, econômicas e educacionais. Sendo o corpo sinônimo de movimento, uma ação da criança sobre o mundo em que vive, a educação psicomotora é um meio prático de auxiliar no processo de maturação que resulta a aprendizagem. Atualmente, as dificuldades de aprendizagem é um grande problema para o sistema educacional. A parceria da família com os educadores juntamente com o auxílio do profissional da psicomotricidade é de suma importância para identificar os bloqueios existentes, fazendo uma relação de dados entre o aluno, a escola e a família.

6 METODOLOGIA Esse trabalho caracteriza como pesquisa bibliográfica, com o objetivo de produzir novos conhecimentos a respeito da minha prática pedagógica, para melhor resolver determinadas dificuldades de aprendizagem. Diante das dificuldades que encontrei em sala de aula, em detectar o motivo pelo qual a criança apresenta uma dificuldade de aprendizagem, resolvi fazer uma pesquisa que me orientasse e mostrasse o caminho correto a percorrer. A pesquisa foi de natureza quantitativa e qualitativa, descritiva e analítica das dificuldades de aprendizagem, uma análise das causas e implicações no processo pedagógico, buscando ajuda de muitos autores para desenvolver o tema trabalhado.

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I - O QUE É PSICOMOTRICIDADE 11 CAPÍTULO II - DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 17 CAPÍTULO III O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA 27 CONCLUSÃO 39 BIBLIOGRAFIA 42 ÍNDICE 44

8 INTRODUÇÃO A psicomotricidade possui vários conceitos. Muitos deles confundidos entre as pessoas que acreditam ser apenas algo relativo ao movimento corporal. Na realidade, o conceito de psicomotricidade vai muito além da simples movimentação do corpo, uma vez que contribui de maneira significativa para a formação e estruturação de todo o esquema corporal. Ela pode ser definida como a consciência de que o corpo, mente e espírito estão intimamente conectados, mediante a ação. A afetividade e a formação de personalidade da criança também estão associadas à psicomotricidade. Por tudo isso, a abordagem da psicomotricidade na aprendizagem é importante, pois ela explica como a criança busca experiências com seu próprio corpo, seja para movimentar-se, seja para se expressar. É fato que a psicomotricidade é importante para a vida do ser humano, e é exatamente por isso, que se torna ainda mais importante procurar entender e analisar as definições para essa ciência, a fim de ensinar como aplicá-las em situações educacionais fundamentais. A psicomotricidade torna-se um assunto muitas vezes desconhecido pelos pais e profissionais da educação. O conhecimento a respeito da psicomotricidade para o profissional da educação é indispensável, apesar de que, muitas vezes é ignorado, pois sua filosofia estimula traçar um perfil psicológico do aluno. O fato é que a ciência do movimento constitui-se uma importante ferramenta para desenvolver a capacidade postural, uma imagem mental do corpo e, por conseguinte, trabalhar o intelectual da criança, uma vez que corpo e mente são intimamente ligados no ser humano.

9 A psicomotricidade está completamente ligada com a aprendizagem e vários são os aspectos que interferem positivamente ou negativamente na aprendizagem do indivíduo. Durante o período escolar, encontramos crianças que apresentam as chamadas Dificuldades de Aprendizagem. O termo Dificuldades de Aprendizagem refere-se a um tipo de transtornos que se manifesta por dificuldades significativas o uso e aquisição da fala, escrita, leitura e habilidades matemáticas. As dificuldades se manifestam em diversas áreas de aprendizagem, quanto aos tipos é possível destacar os seguintes: verbais (dificuldades para adquirir os processos simbólicos da leitura, escrita e matemática) e não verbais (problemas de adaptação social). A escola e o educador são considerados os primeiros a detectar que o aluno está manifestando Dificuldades de Aprendizagem, pois exercem papel fundamental na formação da criança. Há muito tempo, educadores vêm realizando pesquisas e investigando as causas que possam justificar as Dificuldades de Aprendizagem. A partir do momento que o profissional da educação tenha consciência sobre o assunto psicomotricidade, saiba reconhecer isso na criança e propor atividades que instiguem a todos ao movimento corporal, muitas das Dificuldades de Aprendizagem serão amenizadas. A Psicomotricidade pode auxiliar no enfrentamento das Dificuldades de Aprendizagem através de orientação e ação pontual sobre as situações já existentes ou na prevenção. Deste modo, com o trabalho adequado da psicomotricidade em sala de aula e com auxílio e dedicação do educador, poderá amenizar as

10 Dificuldades de Aprendizagem apresentadas pelos alunos, diminuindo o fracasso escolar, contribuindo para uma educação de qualidade. A educação psicomotora, quando aplicada, é preponderante para o sucesso no sistema escolar. O presente trabalho divide-se em três capítulos, o primeiro apresentará o conceito de psicomotricidade, baseado em diversos autores da área. O segundo capítulo, buscará a análise e compreensão da definição das Dificuldades de Aprendizagem. Já no terceiro capítulo, será analisada a importância da psicomotricidade nas séries iniciais como método de diagnosticar, reduzir e prevenir as Dificuldades de Aprendizagem, apresentadas pelos alunos.

11 CAPÍTULO I O QUE É PSICOMOTRICIDADE Entender o cérebro de uma criança e a forma de ele se desenvolver é a chave para se entender a aprendizagem. Jane M. Healy Podemos dar inúmeras definições para Psicomotricidade. Uma delas, de AAP (2007) e Santos (2006) é a seguinte: A psicomotricidade pode ser definida como o campo transdisciplinar que procura compreender e investigar as relações e influências recíprocas e sistêmicas entre o campo psicológico e o campo motor, tendo como objectivo principal desenvolver a capacidade de ser e de actuar num contexto psicossocial. Outra, mais diretamente relacionada com a aprendizagem, conforme Galvão, diz que: Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. È sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o cognitivo. (GALVÂO, 1995, p. 10) O termo psicomotricidade se divide em duas partes: a motriz e o psiquismo, que constituem o processo de desenvolvimento integral da pessoa. (Fonseca, 2004, p.:16). A palavra motriz se refere ao movimento, já psico determina a atividade psíquica em duas fases, a sócio-afetiva e cognitiva. Em

12 outras palavras, o que se quer dizer é que na ação da criança se articula toda sua afetividade, todos seus desejos, mas também todas suas possibilidades de comunicação e articulação de conceitos. Inicialmente a psicomotricidade estava relacionada a uma concepção neurofisiológica, ancorada na neuropsiquiatria infantil, mas o interesse de estudiosos de outras áreas, como psicólogos e professores, foi mudando o enfoque deste trabalho. Os autores que mais influenciaram os psicomotricistas nesta mudança foram Wallon, Piaget e Le Boulch, que em suas obras tratam da formação da inteligência a partir da experiência motriz da criança. Vários estudos já foram realizados neste sentido e atestaram a importância do desenvolvimento psicomotor e cognitivo desde a primeira infância, já que o desenvolvimento psicomotor é de grande importância inclusive para o aprendizado da leitura e escrita e que as crianças com nível superior de desenvolvimento conceitual e psicomotor são as que apresentam os melhores resultados escolares. Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1999), psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Dessa forma, tem como objetivo incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança, contribuindo para a formação e estruturação do esquema corporal; promovendo a união do ser corpo, ser mente, ser espírito, ser natureza e ser sociedade; promover a utilização do corpo na expressão de sentimentos; compreender a forma como a criança toma consciência do seu corpo, localizando-se no meio e espaço. Psicomotricidade, portanto, é um temo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências

13 vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. A Psicomotricidade é uma prática pedagógica que visa contribuir para o desenvolvimento integral da criança no processo de aprendizagem, favorecendo os aspectos físicos, mental, afetivo emocional e sócio cultural, buscando sempre estar condizente com a realidade dos estudos. Segundo Le Boulch (1969), a Psicomotricidade se dá através de ações educativas de movimentos espontâneos e atitudes corporais da criança, proporcionando-lhe uma imagem do corpo contribuindo para a formação de sua personalidade. A Psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo. Por isso a Psicomotricidade é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança. A estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo intelectivo e de aprendizagem da criança. O desenvolvimento evolui do geral para o específico; quando uma criança apresenta Dificuldades de Aprendizagem, o fundo do problema, em grande parte, está no nível das bases do desenvolvimento psicomotor. Durante o processo de aprendizagem, os elementos básicos da psicomotricidade são utilizados com frequência. O desenvolvimento do esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e pré-escrita são fundamentais na aprendizagem; um problema em um destes elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem. Segundo Fonseca (1992), a Psicomotricidade é indicada para as seguintes problemáticas: com incidência corporal (dispraxia, lateralidade, desarmonias tônico-emocionais, estruturação temporal e espacial, problemas

14 psicossomáticos, perturbações da imagem corporal, perturbações do esquema corporal, instabilidade postural); com incidência cognitiva (déficits de atenção, de memória, de organização perceptiva, simbólica e conceitual); ou com incidência relacional (inibição, hiperatividade, agressividade, dificuldades de comunicação). A psicomotricidade pode ser classificada em dez funções psicomotoras: esquema corporal, tônus da postura, coordenações globais, motricidade fina, organização espacial e temporal, ritmo, lateralidade, equilíbrio e relaxamento, definidas abaixo: Esquema corporal - A consciência do corpo é o reconhecimento do conjunto de estruturas representativas, simbólicas e semióticas que servem de base à ação. É a noção da imagem do corpo e dos meios de ação que estabelecem, com a memória, a formação do esquema corporal, ou seja, é a capacidade da criança de conhecer cada parte do seu corpo, sua habilidade na movimentação. O esquema corporal desempenha um papel fundamental no aprendizado da leitura e escrita. Tônus da postura - O tônus está ligado com as funções do equilíbrio e regulações mais complexas do ato motor. Coordenações globais - Chamada também de motricidade ampla, é definida como a colocação em ação simultânea de grupos musculares diferentes. É o conjunto de habilidades desempenhadas com o corpo todo, buscando a harmonia e o controle de movimentos amplos, como receber e arremessar uma bola por exemplo. Motricidade fina - Em suma pode-se afirmar que motricidade fina resume-se a movimentação de pequenos músculos, englobando principalmente a atividade manual e digital, ocular, labial e lingual.

15 Organização espacial e temporal - A organização espacial é a capacidade de situar-se, orientar-se e movimentar-se em um espaço, tendo sempre como referência a própria pessoa. Refere-se às relações de perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora, etc. Ritmo É uma ordenação específica, característica e temporal do ato motor, ordenação esta que se refere a processos parciais interligados no ato motor. Há ainda uma ligação entre ritmo e organização espacial e temporal. Lateralidade - É a manifestação de um lado preferencial na ação, vinculado a um hemisfério cerebral; é necessário que não se discrimine a esquerda e a direita. A aquisição deste conceito para a aprendizagem da leitura e escrita é de fundamental importância, sendo que sua falta implica em confusão na orientação espacial, podendo resultar em dificuldades tais como: troca de letras, palavras e escrita em espelho. Equilíbrio - É a noção de distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade, podendo ser trabalhado estática e dinamicamente. Os exercícios de equilíbrio têm a finalidade de melhorar o comando nervoso, a precisão motora e o controle global dos deslocamentos do corpo no espaço. Um mau equilíbrio motor afeta a construção do esquema corporal, porque traz como consequência a perda da consciência de algumas partes do corpo. Relaxamento - Fenômeno neuromuscular resultante de uma redução de tensão da musculatura esquelética. Pode ser dividido em relaxamento total, diferencial e segmentar, sendo que o primeiro envolve todo o corpo e está diretamente vinculado a processos psicológicos, o segundo responde pela descontração de grupos musculares que não são necessários à execução de determinado ato motor específico e o último é alcançado em partes do corpo.

16 Com isso e apesar de vários estudos já demonstrarem a importância da psicomotricidade no desenvolvimento cognitivo, na aprendizagem da leitura e escrita e na formação da inteligência, tradicionalmente a escola tem dado pouca importância à atividade motora das crianças, reduzindo-a a visão de que o movimento é algo essencialmente motor, destacado das outras esferas do desenvolvimento. Como professores, precisamos pensar no desenvolvimento da criança de forma integrada, buscando atender aos aspectos físicos, afetivos, sociais e cognitivos. Assim, torna-se indispensável uma ampla utilização do movimento, realizado através de atividades psicomotoras conscientes.

17 CAPÍTULO II DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM A psicomotricidade está presente em todas as atividades da nossa vida cotidiana. Seria natural que, desde cedo, as crianças pudessem aprender esta educação pelo movimento. MEUR; STAES, 1984 A Definição do Comitê Nacional Americano de Dificuldades de Aprendizagem (National Joint Committee of Learning Disabilities, 1988) é a seguinte: As Dificuldades de Aprendizagem constituem um ou mais défices nos processos essenciais da aprendizagem que necessitam de técnicas especiais de educação (definição por défice). As crianças com Dificuldades de Aprendizagem apresentam discrepância entre o nível da realização esperado e o atingido em linguagem falada, leitura, escrita e matemática (definição por discrepância). As Dificuldades de Aprendizagem não são devidas a deficiências sensoriais, motoras, intelectuais, emocionais e/ou a falta de oportunidade de aprendizagem (definição por exclusão). De acordo com Grigorenko, Sternenberg (2003, p.: 29), Dificuldade de Aprendizagem significa um distúrbio em um ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos no entendimento ou no uso da linguagem, fala

18 ou escrita, que pode se manifestar em uma aptidão imperfeita para ouvir, pensar, falar, ler, escrever, soletrar ou realizar cálculos matemáticos. O homem, diferente dos outros animais, que no curso de seu desenvolvimento vive a experiência individual adquirida durante toda a sua vida, vive um segundo tipo de experiência que o transforma em um ser diferente dos demais, pela sua capacidade de assimilação e apropriação da experiência acumulada pelo gênero humano. Este tipo de experiência, para que seja significativa, deve ser permeada por afetividade, já que cognição e afeto caminham lado a lado na trilha do conhecimento humano. Por isto mesmo, aprender é um exercício constante e tem que estar de braços abertos para todo e qualquer conhecimento. Aprendizagem é a mudança de comportamento, seja essa mudança por fatores intrínsecos ou extrínsecos ao sujeito aprendiz. Para reconhecer em uma criança a Dificuldade de Aprendizagem, se faz necessário primeiramente entender o que é aprendizagem e quais os fatores que nela interferem. Pode se dizer que aprendizagem é um processo complexo que se realiza no interior de um indivíduo e se manifesta em uma mudança de comportamento. Para estabelecer se houve ou não aprendizagem é preciso que as mudanças ocorridas sejam relativamente permanentes. Existem, pelo menos, sete fatores fundamentais para que tal aprendizagem se efetive e são eles: saúde física e mental, motivação, prévio domínio, maturação, inteligência, concentração ou atenção e memória. A falta de um deles pode ser a causa de insucesso e das Dificuldades de Aprendizagem que irão surgindo. A partir disso, pode-se entender que uma criança é dita com Dificuldades de Aprendizagem quando apresenta desvios de expectativas de comportamento do grupo etário a que pertence, ou seja, quando ela não está

19 ajustada aos padrões da maioria desse grupo, e, portanto, seu comportamento é perturbado, diferente dos demais. Podem-se destacar algumas das principais causas das Dificuldades de Aprendizagem, como causas físicas, sensórias, neurológicas, intelectuais ou cognitiva, socioeconômicas e emocionais, sendo esta última uma das principais causas que podem dificultar a aprendizagem. Como resultado, as crianças com Dificuldades de Aprendizagem têm, muitas vezes, baixos níveis de autoestima e de autoconfiança, o que pode conduzir à falta de motivação, afastamento, crises de ansiedade e estresse e, até mesmo, depressão. As crianças com Dificuldades de Aprendizagem podem apresentar uma série de características próprias e problemas associados, estes fatores podem agir individualmente ou interrelacionados. Os seguintes problemas são: atenção, percepção, cognitivos, memória, psicomotores e emocionais. Dentre as características pode-se observar diversos tipos de mudança no comportamento. Por manifestarem insegurança e baixa autoestima, tende a apresentar ansiedade, regressão, oposições, agressividade reacional, tensão e problemas nos relacionamentos interpessoais, tudo isso acarretada em um rebaixamento em suas habilidades sociais. O problema no desenvolvimento da aprendizagem da leitura, escrita e aritmética tem sido uma forte barreira para muitas crianças e professores. O educador, escola, a família e a sociedade envolvem aspectos socioculturais importantes para o aprender de uma criança. Segundo Paulo Freire: Aprender a ler e escrever é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. (FREIRE, 1990, p.:8)

20 O educador desempenha um papel importante na identificação da dificuldade, por isso deve ter a capacidade de identificar o melhor para a criança utilizando, se possível, variação metodológica dentro de sala de aula. O problema de aprendizagem traz sofrimento para as crianças, e este, pode ser traduzido por comportamentos de desinteresse, desatenção e irresponsabilidades. Quando isso ocorre não adianta apenas pensar no reforço ou aulas particulares. A identificação das causas que estão gerando essas dificuldades requer uma intervenção especializada. são: As Dificuldades de Aprendizagem, de acordo com Cruz, V. (1999), Dificuldade Global É uma situação mais preocupante. Pode ser grave e envolve aspectos sociais, culturais e emocionais. Os fatores sociais desfavoráveis também estão implicados na gênese de dificuldades escolares, sendo a família e o ambiente escolar os principais motivos, pois visam conteúdos em ação na procura de uma melhor educação e formação de valores humanos que nos une. Mas detêm um papel fundamental no desenvolvimento das capacidades e das atitudes da criança perante a transmissão dos demais saberes: saber ser, saber estar e saber fazer, no desenvolvimento das relações interpessoais, no incentivo à autoestima, empatia, tolerância enfim, na educação. Na Dificuldade Global não há nada de orgânico. A estrutura cognitiva está intacta, o nível intelectual é normal, mas mesmo assim provoca insucessos. Disfunção Cerebral Nestes casos as crianças são inteligentes, socialmente são normais e apresentam informações verbais adequadas. Suas dificuldades ocorrem em áreas específicas, por exemplo, uma incapacidade de identificar as letras e consequentemente as palavras. Uma área do cérebro não funciona adequadamente, neste caso aquela responsável pela percepção e análise visual. O restante do cérebro está intacto. Esta Disfunção Cerebral

21 afeta áreas específicas relacionadas à linguagem, leitura, escrita, cálculo, motricidade, raciocínio, memória, atenção etc. Essas crianças sofrem muito e, muitas vezes, são confundidas como crianças pouco inteligente, preguiçosa, desleixada, quando na verdade o seu impedimento não é a nível intelectual, mas de execução. As principais disfunções são: Disfasia, Dislexia, Disgrafia, Disortografia, Discalculia, Déficit de Atenção, Lesão Cerebral, Dislalia ou Gaguez. Disfasia A criança pode ter dificuldade em nível de expressão (disfasia expressiva) ou compreensão (disfasia compreensiva). Clinicamente o comprometimento é importante, pois são crianças que não elaboram frases, expressam as partes finais das palavras. O risco desta criança apresentar dilexia ou disortografia na idade escola é muito grande. Deve-se considerar que as disfasias são quadros preocupantes e graves diferentes da dislalia ou atraso simples da linguagem em que ocorrem trocas simples e evoluem para melhora rapidamente com atendimento fonoaudiológico e que estão relacionados à maturidade. A disfasia é caracterizada por voz arrastada, lenta. Está relacionada à lesão motora e não à área da linguagem leitura (dislexia). Dislexia É uma Dificuldade de Aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração. Não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência. É uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda, alterações no padrão neurológico. Por sua complexidade de ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar. Apenas aos 8-9 anos de idade pode-se afirmar que a criança é disléxica. É uma dificuldade duradoura na aquisição da leitura, podendo variar desde uma incapacidade quase total em aprender a ler, até uma leitura quase normal, mas silabada, sem automatização. O quadro básico é de uma criança que apresenta dificuldade para identificação dos símbolos gráficos. A dislexia, principalmente quando tratada, não implica em falta de sucesso no futuro. Alguns pesquisadores acreditam que pessoas disléxicas têm até uma maior probabilidade de serem bem sucedidas; acredita-se que a

22 batalha inicial de disléxicos para aprender de maneira convencional estimula sua criatividade e desenvolve uma habilidade para lidar melhor com os problemas e com o estresse. Disgrafia É a dificuldade (parcial), porém não na impossibilidade para a aprendizagem da escrita de uma língua. Acontece devido a uma incapacidade de recordar a grafia da letra. Ao tentar recordar este grafismo, escreve muito lentamente o que acaba unindo inadequadamente as letras, tornando a letra ilegível. A disgrafia é também chamada de letra feia. Algumas crianças com disgrafia possui também uma disortografia, amontoando letras para esconder os erros ortográficos. Mas não são todos disgráficos que possuem disortografia. A disgrafia se subdivide, segundo Fonseca (1995), em: Disgrafia Específica - Não se estabelece uma relação entre o sistema simbólico e as grafias que representam os sons, as palavras e as frases. A isto se denomina simplesmente disgrafia. Disgrafia Motora Ocorre quando a motricidade está particularmente em jogo, mas o sistema simbólico não. A isto se denomina discaligrafia, entendendo-a não somente como o resultado de uma alteração motora, mas também de fatores emocionais (restrição do eu etc.), o que altera a forma da letra. O termo Disgrafia Motora (discaligrafia) consiste na dificuldade de escrever em forma legível. Os indicadores mais comuns da discaligrafia são: micrografia, macrografia, ambas combinadas, distorções ou deformações, dificuldades nos enlaces, traçados reforçados, filiformes, tremidos, inclinação inadequada, aglomerações etc. A criança consegue falar e ler e as dificuldades ocorrem na execução de padrões motores

23 para escrever letras, números ou palavras. Pode ocorrer defeito motor ou apenas a nível de integração (neste caso, a criança vê a figura, mas não sabe fazer os movimentos para escrever as letras). Disortografia Muitas vezes acompanha a Dislexia, mas pode também vir sem ela. É a impossibilidade de visualizar a forma correta da escrita das palavras. A criança escreve seguindo os sons da fala e sua escrita, por vezes, tornam-se incompreensível. Geralmente as trocas de grafemas que representam fonemas homorgânicos acontecem por problemas de discriminação auditiva. Discalculia É uma desordem neurológica específica que afeta a habilidade de uma criança de compreender o mecanismo do cálculo, a solução dos problemas e manipular números. Pode ser causada por déficit de percepção visual. O termo Discalculia é usado frequentemente ao consultar especificamente à inabilidade de executar operações matemáticas ou aritméticas, mas é definido por alguns profissionais educacionais como uma inabilidade mais fundamental para conceitualizar números como um conceito abstrato de quantidades comparativas. Apresenta problemas de diferenciar entre esquerdo e direito, falta senso de direção (para o norte, sul, leste e oeste), pode também ter dificuldade com um compasso, dificuldades frequentes com os números, confundindo as operações etc. É um quadro bem mais raro e quase só acontece acompanhado de síndromes. Déficit de Atenção (com ou sem Hiperatividade) É um quadro em que os impulsos a nível cerebral se dão em uma velocidade muito acima do normal. É um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente o acompanhará por toda a sua vida. As consequências podem ser diversas, como falta de atenção, impulsividade e agressividade e, também, criança portadora desse quadro tende a ser desorganizada, desleixada e desastrada. O Déficit de Atenção pode estar

24 associado ou não à Hiperatividade. Ocorre predominantemente em meninos com início antes dos 7 anos de idade. A criança pode apresentar dificuldade na aprendizagem escolar (algumas vezes associadas a outras disfunções) ou distúrbio de conduta. Não se deve considerar toda criança Hiperativa como de causa neurológica. Lesão Cerebral Afeta a criança como um todo. Pode ser sensorial, isto é, auditivo ou visual, mental, quer dizer, rebaixamento da capacidade intelectual ou, ainda, emocional grave, como Autismo ou Psicose. No obstáculo sensorial, a criança frequentemente pode ser trabalhada em classe regular. Sendo deficiência mental leve, também poderá ser trabalhada em sala de aula regular, com mediador. Se for uma deficiência mental moderada ou um problema emocional sério, a criança deve ser encaminhada à uma classe especial. O obstáculo global é diferente do funcional, no sentido de que afeta a criança como um todo e principalmente no caso da deficiência mental, a criança apresentará dificuldade em todas as áreas. Dislalia ou Gaguez Consiste na má articulação das palavras, seja omitindo ou acrescentando fonemas, trocando um pelo outro, ou ainda distorcendo fonemas. A falha na articulação das palavras pode ainda ocorrer no nível de fonemas ou de sílabas. É uma perturbação da fala caracterizada por uma hesitação repetitiva, demora na emissão das palavras ou pelo prolongamento anormal dos sons. A Gaguez começa, geralmente, na infância e em 90% dos casos antes dos 8 anos de idade. Há, portanto, várias causas possíveis para a Dislalia ou Gaguez. A psicanalista Nicole Fabre, afirma que a Gaguez é mais do que tudo um sintoma que traduz um conflito intrapsíquico, o qual sem ser expremido fica no fundo da garganta com as palavras que não conseguem sair. Outros males se podem associar à Dislalia: crispação (ao nível dos lábios, da língua, da laringe e até do peito), palidez, transpiração excessiva, rubor intenso, tremores e muitas vezes, tiques. A criança gaga possui, geralmente, uma inteligência normal. Toda criança vítima deste

25 complexo distúrbio da fala, diante qualquer tensão aumenta a sua extrema dificuldade em falar. Segundo Fonseca (2004, p.:53), a criança com Dificuldades de Aprendizagem apresenta-se com o seguinte desenvolvimento psicomotor: Organização tônica (tensão muscular permanente) diferente, paratonias (dificuldade de relaxamento voluntária); Diadococinésias (dificuldade em realizar movimentos alternados e opostos); Sincinésias (movimentos imitativos, parasitas e desnecessários); Função de equilibração (provas de imobilidade caracterizada por perturbações posturais e vestibulares; provas de equilíbrio estático e dinâmico e de locomoção férteis em reequilibrações abruptas, quedas unilaterais, dismetrias); Problemas de noção de corpo e lateralização (dificuldades em integrar perceptiva, consciente e cognitivamente o seu corpo e/ou dificuldades nas noções espaciais básicas; esquerda/direita/frente/trás); Estruturação espaço-temporal (uma das mais fracas nas crianças com Dificuldades de Aprendizagem) com dificuldades de memória de curto termo (visual) e rítmica (auditiva), e na verbalização ou em simbolizar a experiência motora; Praxias globais e finas surgem com lentidão ou impulsividade.

26 Muitas das dificuldades escolares não se apresentam em função do nível da turma a que as crianças chegaram, mas segundo Le Boulch (1983) e Meur & Staes (1984), em relação à elementos básicos ou pré-requisitos, condições mínimas necessárias para uma boa aprendizagem, que constituem a estrutura da educação psicomotora. Nesse sentido, é de suma importância a atividade lúdica, realizada através de atividades psicomotoras, no sentido de colaborar para o desenvolvimento integral da criança, e para que ela possa sedimentar bem esses pré-requisitos, fundamentais também para a sua vida escolar. Considerar o gesto ou a linguagem corporal como forma de expressão do ser humano é um caminho para reconhecer a importância da atividade corporal no processo da aprendizagem. O corpo é, de fato, um lugar original de significações específicas e, por ser parte integrante de nosso universo de símbolos, é produto e gerador, ao mesmo tempo, de signos. Coste (1981, p.: 46)

27 CAPÍTULO III O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA Psicomotricidade que se faz apreender, mover, impulsionar, agir o corpo com emoção e afetividade intensificando o intelecto. Fátima Alves (2001) Psicomotricista é o profissional habilitado com curso superior da área da saúde e da educação que previne, avalia, trata e estuda o indivíduo na aquisição e no desenvolvimento de transtornos psicomotores. Este profissional auxilia na equipe intervindo nas bases de estimulação motora e psicomotora, educando o movimento ao mesmo tempo que põe em jogo as funções da inteligência. Durante anos a Psicologia buscou compreender e solucionar o desenvolvimento da criança na medida em que ela cresce e amadurece fisicamente, pois sua inteligência também se desenvolve e muda seu comportamento social e emocional. Assim, surge a educação psicomotora, entendida como uma metodologia de ensino que instrumentaliza o movimento humano enquanto meio pedagógico para favorecer o desenvolvimento da criança. De acordo com Airton Negrine a educação psicomotora pode ser compreendida como uma técnica: A educação psicomotora é uma técnica, que através de exercícios e jogos adequados a cada faixa etária leva a criança ao desenvolvimento global de ser. Devendo estimular, de tal forma, toda uma atitude relacionada ao corpo, respeitando as diferenças individuais (o ser é único, diferenciado e especial) e levando a autonomia do indivíduo como lugar de percepção, expressão e criação em todo seu potencial. (NEGRINE, 1995, p. :15).

28 No entanto, essa técnica não pretende realçar a automação, a eficácia, a destreza motora ou o rendimento motor. Pretende, na verdade, transformar o corpo em um instrumento de ação sobre o mundo, em que permitira a interação com os outros. Através de várias pesquisas, estudiosos do assunto acreditam que a Psicomotricidade auxilia e capacita melhor o aluno para uma melhor assimilação das aprendizagens escolares. Assim, buscou-se trazer seus recursos para a sala de aula, na modalidade da educação psicomotora. Durante vários estudos, cientistas tentaram distinguir o principal objetivo da educação psicomotora, destacando o aspecto fundamental dessa técnica, que é ajudar a criança chegar a uma imagem do corpo operatório, permitindo que ela se desenvolva da melhor maneira possível, tirando o melhor partido de todos os seus recursos, preparando-a para a nova etapa do desenvolvimento motor e consequentemente afetivo e cognitivo. Além de apresentar esse objetivo, a educação psicomotora abrange algumas metas, sendo elas: a aquisição do domínio corporal, definindo a lateralidade, a orientação espacial, desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio e a flexibilidade; controle da inibição voluntária, melhorando, o nível de abstração, concentração, reconhecimento dos objetos através dos sentidos (auditivo, visual, etc.), desenvolvimento sócio-afetivo, reforçando as atitudes de lealdade, companheirismo e solidariedade. Assim, Le Boulch destaca a importância da psicomotricidade ser trabalhada na escola nas séries iniciais: A educação psicomotora deve ser enfatizada e iniciada na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares e escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos, ao mesmo tempo em que desenvolve a inteligência. Deve ser

29 praticada desde a mais tenra idade, conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas. (LE BOULCH, 1984, p. 24). O principal objetivo da educação psicomotora não se restringe ao conhecimento da criança sobre uma imagem do seu corpo, ou seja, ela não se prende apenas ao conteúdo, mas auxilia na descoberta estrutural da relação entre as partes e a totalidade do corpo, formando uma unidade organizada, instrumento da relação com a realidade. Assim, quando mais cedo abordado no ambiente escolar mais os alunos poderão conhecer-se melhor, desenvolvendo a maturidade, a consciência e a inteligência apropriada aos seres humanos. Le Boulch aponta o objetivo central da educação psicomotora: O objetivo central da educação pelo movimento é contribuir para o desenvolvimento psicomotor da criança, da qual depende, ao mesmo tempo, a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar. (LE BOULCH, 1984, p. 24). Segundo Negrine (1995, p. 20) um dos argumentos que justificam a educação psicomotora na educação básica durante a fase pré-escolar é a evidência sobre seu papel na prevenção das dificuldades de aprendizagem. Pois, é durante esse período que a personalidade de cada indivíduo vai sendo moldada. É o momento em que a criança constrói os principais instrumentos internos de que servirá primeiramente de maneira inconsciente e depois conscientemente para interagir-se com a sua realidade externa. Assim, através da interação com o meio, a criança descobre, inventa, resiste, pergunta, argumenta e socializa-se. O que exige um bom acompanhamento daqueles que estão presentes nessa construção simbólica (pais, professores, etc.) e no seu desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo. Le Boulch menciona que a educação psicomotora é uma preparação para a vida das crianças:

30 A educação psicomotora na idade escolar deve ser, antes de tudo, uma experiência ativa de confrontação com o meio. Dessa maneira, esse ensino segue uma perspectiva de uma verdadeira preparação para a vida que se deve inscrever no papel de escola, e os métodos pedagógicos renovados devem, por conseguinte, tender a ajudar a criança a desenvolver-se da melhor maneira possível, a tirar o melhor partido de todos os seus recursos, preparando para a vida social. (LE BOULCH, 1984, p. 24). A aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde que acriança passa a ter contato com o mundo ao seu redor. Pois, a criança ao interagir com o meio físico e social, passa a se desenvolver de forma mais abrangente e de maneira eficaz. Isto significa que a partir do envolvimento com o meio social são desencadeados processos internos de desenvolvimento que permitirão um novo patamar de aprendizagem. Diante da interação da criança com o meio social, Negrine observa: A criança, por meio da observação, imitação e experimentação das instruções recebidas de pessoas mais experientes, vivencia diversas experiências físicas e culturais, construindo, dessa forma, o conhecimento a respeito do mundo que a cerca. (NEGRINE, 1995, p. 23). A educação psicomotora junto com o auxílio dos pais e do meio escolar, têm a finalidade não de ensinar a criança comportamentos motores, mas sim de permiti-lhe, mediante o jogo, exercer sua função de ajustamento, individualmente ou com outras crianças. No estágio escolar, a prioridade constitui a atividade motora lúdica, fonte de prazer, permitindo a criança prosseguir na organização de sua imagem de corpo ao nível do vivido servindo de ponto de partida na sua organização prática em relação ao desenvolvimento de suas atitudes de análise perceptiva. Outro papel atribuído

31 à educação psicomotora é a de prevenção, esse que é argumentado por Fonseca: A educação psicomotora pode ser vista como preventiva, na medida em que dá condições à criança desenvolver melhor em seu ambiente. É vista também como reeducativa quando trata de indivíduos que apresentam desde o mais leve retardo motor até problemas mais sérios. É um meio de imprevisíveis recursos para combater a inadaptação escolar (FONSECA, 2004, p. 10). A educação psicomotora, quando bem aplicada, é preponderante para o sucesso no sistema escolar. Entretanto, é fundamental que a participação do professor como pesquisador, principalmente nos assuntos relacionados sobre Psicomotricidade. Dessa maneira, é interessante que o docente intere-se sobre a educação psicomotora, do que essa trata essa prática pedagógica; conhecer sua estrutura, o desenvolvimento psicomotor, as implicações do sistema nervoso e a importância da maturação neurológica; compreender como ocorre o desenvolvimento infantil (etapas do desenvolvimento), as funções psicomotoras, as dificuldades de aprendizagem presentes no ambiente escolar, para a organização, planejamento e encaminhamentos acadêmicos. O educador precisa saber se sua proposta de trabalho está de acordo com as necessidades dos alunos, que caminho deve seguir, aonde pretende chegar e qual a importância da psicomotricidade nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Segundo Fonseca (2004, p.13), a Psicomotricidade inicialmente foi vista como prescrição da medicina psiquiátrica por Dupré, em 1920, atingiu com Wallon (1925; 1934; 1947) e Ajuriaguerra (1977; 1988) uma dimensão

32 teórico-prática, sobre o desenvolvimento humano, significativa, educativa, reeducativa e psicoterapêutica. A Psicomotricidade, em sua ação educativa, pretende atingir a organização psicomotora da noção do corpo como marco espaço temporal do eu (entendido como unidade psicossomática). Esse marco é fundamental ao processo de conduta ou de aprendizagem, pois, busca conhecer o corpo nas suas múltiplas relações: perceptiva, simbólica e conceitual, que constituem um esquema representacional e uma vivência indispensável à integração, à elaboração e à expressão de qualquer ato ou gesto intencional. Para Galvão a Psicomotricidade pode ser vista como a ciência que estabelece a relação do homem com o meio interno e externo: Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. È sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o cognitivo (GALVÂO, 1995, p. 10). A Psicomotricidade é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. A Psicomotricidade permite ao homem sentir-se bem com sua realidade corporal, possibilitando-lhe a livre expressão de seus sentimentos, pensamentos, conceitos, ideologias. Mesmo que a Psicomotricidade assuma grande importância na resolução de problemas encontrados em sala de aula, ela necessariamente não é única solução para as Dificuldades de Aprendizagem, mas sim o meio de auxiliar a criança a superar os obstáculos e

33 prevenir possíveis inadaptações. Assim, essa procura proporciona ao aluno algumas condições mínimas a um bom desempenho escolar e aumenta seu potencial motor dando-lhe recursos para que o aluno obtenha progresso no âmbito escolar. Através da Psicomotricidade pode-se estimular e reeducar os movimentos da criança. A estimulação psicomotriz educacional se dirige a indivíduos sãos, através de um trabalho orientado à atividade motriz e as brincadeiras. Na reeducação psicomotriz se trabalha com indivíduos que apresentam alguma deficiência, transtornos ou atrasos no desenvolvimento. Tratam-se corporalmente mediante uma intervenção clínica realizada por um profissional especializado. O indivíduo não é feito de uma só vez, mas se constrói, através da interação com o meio e de suas próprias realizações. (Fonseca, 2004, p.19). Diante desta visão, a Psicomotricidade desempenha papel fundamental, pois o movimento é um suporte que ajuda a criança a adquirir o conhecimento de mundo que a rodeia através de seu corpo, de suas percepções e sensações. Por esse motivo, a educação psicomotora tem sido enfatizada em várias instituições escolares, aplicada nos anos iniciais do Ensino Fundamental, fase em que as crianças estão descobrindo a si mesmo e o mundo em que vive. Neuropsiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos reforçam cada vez mais a importância do capital do desenvolvimento psicomotor durante os primeiros anos de vida, entendendo que é nesse momento que as aquisições são extremamente significativas a nível físico. Essas que marcam conquistas igualmente importantes no universo emocional e intelectual.

34 Sendo assim, instituições de ensino buscam oportunizar as crianças condições de desenvolverem capacidades básicas, aumentar seu potencial motor, utilizando o movimento para atingir aquisições mais elaboradas, como as intelectuais, como também sanar as Dificuldades de Aprendizagem apresentadas pelos alunos. Para que esses objetivos sejam alcançados, as escolas estão adotando metodologias que visem o desenvolvimento motor através de uma série de exercícios psicomotores, jogos e brincadeiras. Essas atividades além de desenvolverem as estruturas físicas, também auxiliam na maturação mental, afetiva e social. No entanto, Negrine faz algumas observações sobre a adoção das metodologias pelos professores: Seja qual for à experiência proposta e o método adotado, o educador deverá levar em consideração as funções psicomotoras (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio, etc.) que pretende reforçar nas crianças com as quais está trabalhando. Mesmo levando em conta que, em qualquer exercício ou atividade proposta, uma função psicomotora sempre se encontra associada a outras, o professor deverá estar consciente do que exatamente está almejando e onde pretende chegar. (NEGRINE, 1995, p.:25). Contudo, em se tratando de educação psicomotora é importante ressaltar nesse aspecto, que o professor primeiramente precisa conhecer sobre o desenvolvimento infantil e as funções psicomotoras, para posteriormente organizar o seu planejamento de aulas. O professor precisa ter muito claro qual o caminho a seguir, quais as necessidades de seus alunos naquela etapa do desenvolvimento em que se encontram e o que pretende alcançar com a realização de determinada atividade, ou melhor, se sua proposta de trabalho está realmente de acordo

35 com as necessidades daquele grupo. Acontece, muitas vezes, uma busca por receitas, como os procedimentos de um jogo, por exemplo. Porém, dessa forma, o professor acaba esquecendo-se da base fundamental, a instrumentalização teórica. De nada adianta conhecer a brincadeira ou o jogo psicomotor, se não souber aplicá-lo com significados no processo de ensinoaprendizagem. Lapierre em relação às Dificuldades de Aprendizagem menciona: Nós deveríamos levar mais longe essa lógica; se a criança tem deficiências que a impedem de chegar ao cognitivo, é porque o ensino que recebeu não respeitou as etapas de seu desenvolvimento psicomotor. Sob o aspecto da prevenção, passaríamos da reeducação à educação psicomotora. Portanto, torna-se importante estudar as funções psicomotoras, bem como sua importância para o desenvolvimento infantil. (LAPIERRE, 2002, p. 25). É importante o educador conhecer as funções psicomotoras e qual a sua contribuição para o crescimento infantil, pois sem esse conhecimento, o professor, poderá pular etapas do desenvolvimento motor o que causará problemas futuramente as crianças. Seguindo esse viés sobre ação educativa como reeducativa, é interessante destacarmos a visão proposta por Le Boulch (1984), sobre a união do aspecto funcional ao afetivo. Segundo o médico e professor de Educação Física, tanto o aspecto funcional como o afetivo devem caminhar lado a lado para que o desenvolvimento infantil seja completo. Por meio do vínculo afetivo ou relacional podemos entender a relação da criança com o adulto, com o ambiente físico e com as outras crianças. A maneira como o educador penetra no universo da criança assume aqui um aspecto essencial. É muito importante que o professor demonstre

36 carinho e aceitação integral do aluno para que este passe a confiar mais em si mesmo e consiga expandir-se e equilibrar-se. O bom desenvolvimento da afetividade é expresso através da postura, das atividades e do comportamento. Um educador, a partir de um bom conhecimento do desenvolvimento do aluno, poderá estimulá-lo de maneira que as áreas motricidade, cognição, afetividade e linguagem estejam interligadas. O aluno irá se sentir bem na medida em que se desenvolver integralmente através de suas próprias experiências, da manipulação adequada e constante dos materiais que o cercam e também das oportunidades de descobrir-se. E isso será mais fácil de conseguir se estiverem satisfeitas suas necessidades afetivas, sem bloqueios e sem desequilíbrios tônico-emocionais. Nesse sentido, pode-se afirmar o cuidado especial que se deve tomar com as crianças sem seus primeiros anos de escolaridade. Muitas Dificuldades de Aprendizagem podem surgir com uma aprendizagem falha na escola. Está certo que algumas habilidades motoras começam a ser desenvolvidas na família, mas não se pode negar a importância dos primeiros anos de escolaridade. Por outro lado, também há alunos que já vão para a escola com problemas motores que prejudicam seu aprendizado. Existem alguns prérequisitos, do ponto de vista psicomotor, para que uma criança tenha uma aprendizagem significativa em sala de aula. É necessário que, como condição mínima, ela possua um bom domínio do gesto e do instrumento. Isso significa que precisará usar as mãos para escrever e, portanto, deverá ter uma boa coordenação fina. Ela terá mais habilidade para manipular os objetos de sala de aula, como lápis, borracha, régua, se estiver ciente de suas mãos como parte de seu corpo e tiver desenvolvido padrões específicos de movimentos.