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Transcrição:

O PAPEL DAS ATITUDES LINGUÍSTICAS NA MANUTENÇÃO OU NÃO DA LÍNGUA INDÍGENA EM COMUNIDADES INDÍGENAS BILÍNGUES: O CASO IPEGUE/TERENA THE ROLE OF LINGUISTIC ATTITUDES IN THE MAINTENANCE OR NOT OF THE INDIGENOUS LANGUAGE IN BILINGUAL INDIGENOUS COMMUNITIES: THE CASE IPEGUE/TERENA Mariana de Souza Garcia (UFMS) * RESUMO: Este artigo discute o papel das atitudes linguísticas na manutenção ou não da primeira língua e/ou do bilinguismo. As atitudes linguísticas são abordadas a partir de um modelo teórico que reconhece no contexto situacional a existência de fatores externos e internos a uma comunidade de fala. Tendo como foco as comunidades minoritárias, nas perspectivas histórica, política, econômica, entre outras, à guisa de ilustração, são analisadas algumas das atitudes linguísticas da comunidade indígena Ipegue para com a sua língua indígena (Terena) e para com a língua do contato e da sociedade envolvente (o Português). PALAVRAS-CHAVE: Atitudes linguísticas. Contato entre línguas. Língua Terena. Bilinguismo. Línguas minoritárias. ABSTRACT: This article aims at discussing the role of the linguistic attitudes in keeping or not the first language and/or bilingualism. The linguistic attitudes are dealt with from the perspective of a theoretical model that recognizes, in a situational context, the existence of external and internal factors affecting a speaking community. Focusing on minority communities and following the historical, political, and economical views, among others, this study analyses some of the linguistic attitudes from Ipegue indigenous community toward its language (Terena) and towards the contact and surrounding society language (Portuguese). KEYWORDS: Linguistic attitudes. Contact among languages. Terena language. Bilingualism. Minority languages. * Professora adjunta da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Doutora em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail: mari_s_garcia@hotmail.com. 99

INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, uma quantidade significativamente grande de línguas estão sendo extintas ou ficando próximas à extinção. A expectativa para os próximos anos, nas previsões mais pessimistas, é a morte de 90 % das cerca de 6.000 línguas ainda existentes (HALE, 1998). Entre essa maioria de línguas, que não mais serão faladas, estão as cento e oitenta línguas indígenas brasileiras (OLIVEIRA, 2005b). A língua Terena, filiada à família linguística Aruak, do povo Terena, que vivem em Mato Grosso do Sul e em São Paulo, é uma dessas línguas que vai se enfraquecendo e se esvanecendo, como se analisa em Ipegue, uma comunidade Terena tradicional segundo Oliveira (1957). As mudanças gerando o cessar da transmissão e do uso de uma língua estão sendo muito rápidas e têm levado em um curto período de tempo à extinção de um grande número de línguas. Especialistas têm chamado a atenção para este fato, desde meados da década de 1990 (KRAUSS, 1992; CRYSTAL, 2000; NETTLE E ROMAINE, 2000), mobilizando a atenção de sociolinguistas do mundo inteiro. Um significativo número de pesquisadores tem investigado as causas da rápida extinção de línguas avaliando as possibilidades de declínio, continuidade e (re)vitalização de uma língua com base não mais somente no número de falantes ou em mensurações da fluência. Como a situação de uma língua não existe no vácuo (CRYSTAL, 2000), para uma melhor avaliação da situação sociolinguística de uma língua, pesquisadores têm incrementado suas análises com dados sobre o contexto em que vivem as comunidades de fala, e também sobre as atitudes linguísticas. O presente artigo enfoca o tema das atitudes linguísticas com base em dados obtidos em uma pesquisa de campo na comunidade Terena de Ipegue, localizada no município de Aquidauana (MS). Inicialmente este trabalho apresenta uma síntese da literatura especifica da área, em especial a que aborda as atitudes linguísticas favoráveis ou não à (re)vitalização de uma língua. Na sequência há uma breve explanação da metodologia utilizada para a coleta dos dados, entrevistas com o uso de um questionário, a fim de elicitar as atitudes linguísticas da comunidade. Para cada questão, tendo como referencial o modelo analítico, extraem-se argumentos para, num parecer preliminar, concluir sobre a situação de vitalidade da língua Terena, em Ipegue, com base nas atitudes linguísticas atuais daquela comunidade. 100

1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DAS PESQUISAS SOBRE ATITUDES LINGUÍSTICAS NOS ESTUDOS DE BILINGUISMO NA SOCIEDADE E NOS ESTUDOS DE TIPOLOGIAS SOCIOLINGUÍSTICAS O estudo da atitude linguística acompanha a Sociolinguística desde a sua inauguração. Labov, em seu trabalho com os falantes da ilha de Martha s Vineyard (EUA), em 1963, já indicava o papel da atitude dos falantes ao manterem traços linguísticos peculiares da sua língua como uma forma de manutenção da sua identidade ante a invasão de turistas na ilha e a consequente pressão para mudanças linguísticas (BRAGGIO, 1992). Em um outro estudo, ao descrever uma variedade da língua Inglesa falada por negros adolescentes do Harlen, em Nova Iorque, Labov (1978) constatou que as atitudes depreciativas para com uma variante linguística não-padrão extrapolam o âmbito da linguagem e se estendem ao âmbito dos falantes, usuários dessas línguas, numa conclusão a que Fishman (1972, apud BRAGGIO, 1992) já havia chegado no seu texto The sociology of language. Antes mesmo de a Sociolinguística ser inaugurada, HAUGEN (1956, apud GROSJEAN, 1982, p. 118) já tinha observado nas situações de contato, a prevalência de certas atitudes favoráveis ou desfavoráveis às línguas envolvidas, em razão do julgamento e do estereótipo intergrupos, atribuídos aos falantes e às suas línguas. Posteriormente, Romaine ([1989] 1995, p. 290) considerou-as como mediadoras e determinadoras das relações intergrupos. Com base nessas constatações fica claro que as atitudes linguísticas funcionam como termômetros na avaliação da vitalidade de uma língua, em especial das minoritárias, mormente quando são consideradas do ponto de vista da comunidade de fala minoritária em questões dos seguintes tipos: 1) como os julgamentos da comunidade majoritária relativos à língua minoritária são percebidos e sentidos pela comunidade de língua minoritária; 2) quais são as reações aos julgamentos linguísticos externos, expressos na política de línguas da comunidade de língua minoritária; e 3) como a comunidade de língua minoritária age em relação à língua da comunidade majoritária. Em trabalhos mais recentes, no âmbito das tipologias sociolinguísticas, a atitude é considerada um fator de grande relevância na predição da mudança de uma língua (EDWARDS, 1992; GRENOBLE E WHALEY, 1998, 2006). Documentos importantes, como é o caso do Language vitality and endangerment, da Unesco (2003, apud GRENOBLE E WHALEY, 2006), também evidenciam o papel da atutide linguística, principalmente a da comunidade minoritária para com a sua língua, e a incluem entre os fatores mais críticos na manutenção e/ou revitalização de uma língua. 101

Segundo Romaine (1995), Grosjean (1982), Mithun (1998), Grenoble e Whaley (2006), todos os que atuam em comunidades onde coexistem diferentes línguas e desejam reverter uma situação de mudança de língua consideram fundamental o estudo, a análise e a avaliação das atitudes linguísticas para o estabelecimento de programas e ações de revitalização linguística. Convém ressaltar que, por trás de exemplos de revitalização bemsucedidos, há atitudes positivas e dedicação, pelo menos por parte de uma pequena minoria de falantes (HINTON, 2001; CRAIG, 1992; MITHUN, 1998). No presente estudo, as atitudes linguísticas são tratadas a partir da proposta de tipologia sociolinguística de Edwards (1992) e Grenoble e Whaley (1998). Esses autores trazem, para o cerne de um modelo teórico de estudo e avaliação de línguas minoritárias, a presença das pressões externas (de natureza histórica, econômica, política, entre outras), em constante inter-relacionamento com os fatores internos às comunidades minoritárias, influenciando suas atitudes linguísticas. Nessa perspectiva, as atitudes linguísticas não são entendidas como escolhas verdadeiramente livres, ou como decisões individuais e isoladas dos falantes ou das comunidades; pelo contrário, elas são motivadas pelas pressões externas, fruto do contato e da interação social entre os povos (EDWARDS, 1992; GRENOBLE E WHALEY, 1998; FASE, JASPAERT E KROON, 1992; NETTLE E ROMAINE, 2000; HALE, 1998). Os fatores externos e internos atuantes na atitude linguística de uma comunidade de fala são como os dois lados de uma moeda. Não basta conhecer a atuação somente de um deles para se prever a atitude de uma comunidade de fala. Cada comunidade de fala reage de uma maneira particular (e, às vezes, até em oposição) às pressões externas, mesmo que estas sejam idênticas em várias comunidades de fala de um mesmo contexto ou região. Ademais, em uma mesma comunidade de fala, as atitudes linguísticas não são necessariamente homogêneas nem unânimes, mas muitas vezes heterogêneas e conflituosas (ROMAINE, 1995; CRYSTAL, 2000), em função da dinâmica do contexto. Como não são estáticas, podem mudar no decorrer do tempo, mesmo em um mesmo indivíduo (ROMAINE, 1995). Portanto, para se conhecer uma situação de mudança de língua (esteja a língua em qualquer ponto do processo), é fundamental atentar-se para as atitudes linguísticas que, se vistas no dois extremos, são favoráveis ou contrárias ao uso, à aquisição e à transmissão de uma ou mais línguas. Uma importante diferença entre os estudos em contextos bilíngues, envolvendo línguas alóctones ou autóctones 1 é colocada em evidência por Hinton (2001) e por Braggio 1 Esses termos, utilizados por Oliveira (2005b) referem-se, respectivamente, à língua dos imigrantes e à língua nativa (por exemplo, a dos indígenas brasileiros). 102

(2002). Para essas autoras, o problema de deslocamento de uma língua é muito mais grave quando decorre do contato não entre duas línguas fortes, mas entre uma língua forte e outra língua fraca. Com base na noção de nação-estado difundida no Ocidente, desde a Revolução Francesa (MAYBURY-LEWIS, 1983), defende-se que, para cada nação-estado, seja aceita somente uma língua (i.e. língua oficial). Nessa visão, as demais línguas deveriam ser ignoradas (ou apagadas oficialmente). 2 APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE HABILIDADES, USOS E ATITUDES LINGUÍSTICAS EM IPEGUE A fim de elicitar as atitudes linguísticas da comunidade de fala de Ipegue, realizaramse entrevistas através de um questionário previamente reformulado. Nesse questionário considera-se que a aquisição, o uso e a preferência de língua dos bilíngues são aspectos que dependem de uma atitude linguística favorável às línguas (GROSJEAN, 1982). No Questionário de habilidades, usos e atitudes linguísticas de Ipegue (GARCIA, 2007), as atitudes linguísticas foram tratadas especificamente em questões sobre preferências de línguas, com uma parte aberta em que o entrevistado justificava a sua escolha. As respostas foram autodeclarações dos falantes, sendo complementadas por notas de campo e também por leituras bibliográficas relativas ao grupo étnico Terena e seu contexto. Entre as perguntas sobre atitudes linguísticas, este artigo se propõe a analisar as seguintes: Qual língua você acha que é mais bonita? ( ) Terena. ( ) Português. Por quê? Qual língua você acha que é mais fácil para uma pessoa aprender e falar? ( ) Terena. ( ) Português. Por quê? Qual língua você mais gosta de falar? ( ) Terena. ( ) Português. Por quê? As entrevistas foram feitas pessoalmente por esta pesquisadora, em dezembro de 2004, o que permite uniformidade na transcrição dos dados (ROMAINE, 1995). Para o sorteio dos entrevistados, levou-se em conta variáveis como sexo e idade, abrangendo cinco gerações. A partir do censo realizado pela Fundação Nacional de Saúde, em 2004, na comunidade Terena de Ipegue, sorteou-se para as entrevistas, aleatoriamente, dezoito por 103

cento da população em cada um dos dez grupos mencionados anteriormente, o que corresponde a 158 entrevistas. 3 ANÁLISE PARCIAL DE ALGUMAS ATITUDES LINGUÍSTICAS As atitudes linguísticas da comunidade Ipegue se resumem na Tabela 1 abaixo. A opção ambas as línguas não foi dada a priori para os entrevistados; entretanto essa escolha foi respeitada e registrada. Língua Terena Português Ambas Não respondeu Total porcentual Mais bonita 61% A 16% B 21% C 2% 100% Mais fácil 17% D 66% E 15% F 2% 100% Mais gosta de falar 27% G 65% H 6% I 2% 100% Tabela 1. Atitude Linguística A Tabela 1 se alicerça nas três perguntas já mencionadas. O objetivo dessas perguntas não era o de obter respostas certas ou erradas, mas o de verificar a existência de consensos e/ou conflitos em torno dos temas sociolinguísticos abordados. À primeira vista, nota-se a não-homogeneidade das atitudes linguísticas nos resultados, e também um conflito entre as atitudes linguísticas, expresso na comparação do índice A com os índices E e H; e também em A, B, e C; D, E e F; G, H e I. Para uma análise mais detalhada dos resultados, seleciona-se a variável extralinguística idade, expressa por gerações, para a constituição das Tabelas 2, 3 e 4. A consideração das gerações é muito relevante na análise da continuidade de uma língua. Entre as gerações mais novas, sobretudo, é determinante uma atitude positiva para com a língua (CRYSTAL, 2000; FISHMAN, 1991, 2000), razão pela qual a aquisição da língua pelas crianças é uma questão-chave (KRAUSS, 1992). As Tabelas 2, 3, e 4 contemplam cinco gerações em Ipegue: crianças (de 7 a 14 anos), adolescentes (de 15 a 22 anos), jovens (de 23 a 32 anos), adultos (de 33 a 54 anos) e idosos ( de 55 anos acima). A utilização das letras maiúsculas ao lado direito de cada índice porcentual das respostas tem o propósito de facilitar a visualização dos vínculos entre as Tabelas 1 e 2, 3, 4. 104

Atitudes Terena Português Ambas Não respondeu Total de pessoas Total porcentual Gerações Criança 10,8% 7,6% 1,2% 0,6% 32 20,2% A.1 B.1 C.1 Adolescente 17,1% 4,4% 7,6% 0,6% 47 29,7% A.2 B.2 C.2 Jovem 6,4% 2,6% 2,5% 0,6% 19 12,1% A.3 B.3 C.3 Adulto 16,5% 0,6% 5,7% 0% 36 22,8% A.4 B.4 C.4 Idoso 10,1% 0,6% 4,5% 0% 24 15,2% A.5 B.5 C.5 Sub total 60,9% 15,8% 21,5% 1,8% 158 100% porcentual A B C Tabela 2. Atitude linguística por gerações: a(s) língua(s) mais bonita(s). Quanto à língua mais bonita, na Tabela 2, em todas as gerações a preferência maior é pela língua Terena (cf. A e seus subíndices A.1, A.2, A.3, A.4, A.5 respectivamente com os valores percentuais: 60,9% e 10,8%, 17,1%, 6,4%, 16,5%, 10,1%) do que pela língua Portuguesa ou por ambas as línguas (cf. B e C, cujos valores porcentuais são respectivamente: 15,8% e 21,5%). Uma das justificativas encontradas para essa atitude é a existência de um sentimento étnico e de vínculos afetivos da comunidade para com a língua Terena, expressos em respostas tais como: é a nossa língua ; mostra que somos índios ; devemos valorizar e defender a nossa língua ; não podemos deixar a língua Terena e pular para outra língua ; a língua Terena tem força, terá utilidade e vai servir ; Terena aprendi da minha mãe. Uma parcela menor de entrevistados elege a língua Portuguesa como a língua mais bonita (cf. o índice B com 15,8%). Na composição de B, nota-se sobretudo a presença das três gerações mais novas (expressas nos índices B.1, B.2 e B.3, respectivamente com 7,6%, 4,4% e 2,6%). O aumento na preferência pela língua Portuguesa, da geração jovem para a geração das crianças, preocupa quando se pensa no futuro e na vitalidade da língua Terena naquela comunidade. Entre as alegações, destacam-se: a língua Portuguesa é mais respeitada se falada bem correta para fazer compras ; os brancos quando vêem um grupo de índios falando Terena não entendem nada, mas o Português é bonito e faz explicação ; 105

eu queria ser uma purutuya (não índia) ; não falamos Terena, na aldeia, falamos mais Português ; Português é a língua que os amigos daqui entendem mais. Nessas justificativas, evidenciam-se algumas das várias pressões atuando no deslocamento da língua Terena: 1) a pressão econômica; 2) a marginalização do grupo minoritário a principal causa da morte de uma língua, segundo Nettle e Romaine (2000), 3) a visão histórica de uma língua para cada Estado 2 (MAYBURY-LEWIS, 1983), expressa em uma política oficial de língua contrária ao multilinguismo, o que contribui também para a promoção da ideologia do desdém (DORIAN, 1998). Como resultado dessas pressões, nota-se a angústia dos membros da comunidade minoritária, em especial das gerações mais novas, ante à pressão externa por uma forma subtrativa de bilinguismo, o que promove a rejeição de valores como a língua 3 e revela o grupo com o qual desejam se identificar. O fenômeno de crianças sendo ridicularizadas e até punidas por falarem a língua de seus pais ocorre em todo o mundo (NETTLE E ROMAINE, 2000). Quando as próprias crianças do grupo minoritário querem agir de acordo com as normas da sociedade majoritária, a resistência à assimilação por parte da cultura minoritária fica muito difícil. Como observam Lee e Mclaughlin (2001), o status e a atração por elementos culturais não-nativos levam os jovens e seus familiares a quase impedirem as oportunidades de aquisição da língua nativa. Outra parcela igualmente menor de entrevistados optou por considerar tanto Terena quanto Português como línguas bonitas (cf. o índice C com 21,5%). Na composição da atitude linguística expressa por C, os maiores índices estão nas gerações dos adolescentes (cf. 7,6% no índice C.2) e dos adultos (cf. 5,7% no índice C.4). Entre as justificativas encontradas na geração adulta, refletindo a existência, entre uma parcela destes, de uma atitude positiva para com o bilinguismo, ante as possibilidades de comunicação, destacam-se: Terena é a marca do povo e é para conversar com os índios e Português é pra conversar com o não índio fora ; a gente precisa de falar um pouco das duas para conversar com todos, é importante falar as duas ; precisa saber as duas pra melhorar a vida e pra conversar mais com o branco porque ele não entende bem Terena ; pra conversar com todos os que falam Português e com os que não falam Português, de outras aldeias. Nota-se, nessas justificativas, a pressão enfrentada pelo grupo minoritário para a aquisição da língua do grupo majoritário em razão das necessidades de comunicação decorrentes do contato. 2 Esta concepção é responsável por cerca de oitenta por cento dos conflitos, ocorridos entre Estadosnações e povos minoritários, em todo mundo (NETTLE E ROMAINE, 2000). 3 Este fato foi também observado por Lambert (1977, apud GROSJEAN, 1982). 106

Quanto aos resultados da geração dos adolescentes, a explicação se baseia na existência de uma pressão interna ao próprio grupo étnico por parte de algumas outras comunidades Terena favorável à aquisição da língua Terena. Um dos lócus desta última é o espaço da escola, situada na comunidade Terena de Bananal, onde convivem adolescentes oriundos de todas as comunidades da reserva Taunay/Ipegue, que, juntos, cursam o único curso de Ensino Médio disponível na reserva. Atitudes Terena Português Ambas Não respondeu Total de pessoas Total porcentual Gerações Criança 0,6% 18,4% 0,6% 0,6% 32 20,2% D.1 E.1 F.1 Adolescente 3,8% 22,2% 3,8% 0% 47 29,7% D.2 E.2 F.2 Jovem 1,9% 9,5% 0,6% 0% 19 12,% D.3 E.3 F.3 Adulto 3,8% 11,4% 7% 0,6% 36 22,8% D.4 E.4 F.4 Idoso 7% 4,4% 3,2% 0,6% 24 15,2% D.5 E.5 F.5 Sub total porcentual 17,1% D 65,9% E 15,2% F 1,8% 158 100% Tabela 3. Atitude linguística por gerações: a(s) língua(s) mais fác(il)(eis). Na Tabela 3, os resultados expressos em E (com 65,9%), em contraste com D e F (respectivamente com 17,1% e 15,2%), indicam que a língua Portuguesa é considerada mais fácil pela maioria da população de Ipegue. Essa facilidade é maior nas gerações mais novas, principalmente entre a maioria das crianças, adolescentes e jovens (cf. E.1, E.2 e E.3 respectivamente 18,4%, 22,2% e 9,5%). O índice obtido pela geração adulta (cf. E.4, com 11,4%) demonstra que, para quase a metade deles, a língua Portuguesa é mais fácil. Assim, somente para a geração idosa as atitudes linguísticas favorecem a língua indígena (cf. E.5 com apenas 4,4%). Os índices com E revelam um deslocamento em curso da língua Terena pela língua Portuguesa, como se constata na presente análise e também nos demais resultados da pesquisa sociolinguística obtidos através do Questionário de habilidades, usos e atitudes linguísticas em Ipegue (GARCIA, 2007). Para justificar a língua Portuguesa como mais fácil (cf. E com 65,9%) alegam: o Português é mais fácil de falar, é mais fácil de dobrar a 107

língua, é mais fácil de ler, é mais correto, sem mistério e sem enrolação, as frases são fáceis e claras ; o Terena é duro, é mais difícil de escrever, ler, falar, é mais rápido ; a maioria das pessoas aqui falam Português, não sabemos falar Terena ; as crianças dizem que é difícil, não entendem e não conseguem falar Terena; no momento Português é mais fácil porque a língua Terena está acabando, ela não está nos adolescentes mas só nos idosos ; aprendi mais Português na minha vida. A língua mais fácil é no geral aquela mais usada no cotidiano. As justificativas indicam um maior uso da língua Portuguesa, o que também se notou na pesquisa ao se analisarem os dados referentes ao uso de línguas na comunidade de Ipegue. Observa-se ainda que esta maioria de entrevistados (cf. E, com 65,9%) está sendo levada a compartilhar das atitudes negativas introduzidas pela sociedade dominante para com o bilinguismo, através da política linguística oficial e também através de seus membros em contato direto com a comunidade indígena 4. Assim, expressam atitudes negativas para com a língua indígena e para com o bilinguismo. Isso, segundo Crystal (2000) e as notas da pesquisa de campo, a partir de concepções que consideram as línguas minoritárias pouco desenvolvidas, ignorantes, inadequadas, deformadas. Entre uma parcela menor de entrevistados que considera a língua Terena mais fácil (cf. D, com 17,1%) encontra-se principalmente a geração idosa (cf. D.5, com 7%), como era de se esperar. Quando se pensa na vitalidade da língua Terena, os índices das demais gerações se assomam alarmantes sobretudo na geração das crianças (cf. D.1, com 0,6%), pois indicam um deslocamento cada vez maior da língua Terena pela língua Portuguesa. Uma minoria tenta resistir a esse deslocamento considerado ainda em curso, pois, em nenhum dos índices (D, A e G), encontrou-se zero porcento. O índice de uma pequena parcela da geração adolescentes, expresso em D.2 (com 3,8%), é significativo, pois revela a existência de alguns adolescentes que estão adquirindo a língua Terena. Algumas das justificativas declaradas para a facilidade com a língua Terena são: depende do que ouve e fala desde criança, desde pequeno, desde bebê principalmente na família ; Português correto é difícil de aprender e Terena aprende o básico e já fala ; depende da vontade, interesse e esforço da pessoa. Entre as justificativas, além da menor complexidade das línguas minoritárias vinculadas pela ideologia de desdém, fica implícito na análise dos entrevistados a ausência de uma motivação suficientemente forte que faça com que muitos adquiram e usem a língua 4 Durante os trabalhos de campo observou-se na comunidade algumas presenças de não índios como a de: professores, funcionários da Funasa, não índios que se casaram com indígenas e ali residem, comerciantes, assessores de políticos e políticos, motoristas de ônibus e de veículos oficiais, operários de empreiteiras da construção civil, além de pessoas de procedência e objetivos incertos. 108

Terena. Percebe-se também a difusão da concepção de uma idade ideal para a aquisição de uma língua. (Todavia, tal conceito admite uma idade-limite em torno dos 12 anos de idade, somente para a plasticidade do aparelho fonador humano, o que tem consequências em uma pronúncia sem sotaques). Logo, a aquisição de outras línguas em idades posteriores a esta e anteriores à senilidade, em razão das questões fisiológicas também próprias da idade, não fica de forma alguma impossibilitada. As razões do pequeno índice de pessoas da comunidade Terena de Ipegue com mais facilidade na língua Terena (cf. o índice D, com 17,1%) também merecem ser levantadas. A primeira é que, se uma língua é estigmatizada socialmente, o conhecimento de seus possíveis usuários é profundamente afetado (GROSJEAN, 1982). Vinculadas também à facilidade com uma língua estão seu uso e sua aquisição. Conforme as notas da pesquisa de campo, várias foram as famílias que decidiram não usar a língua Terena com os seus filhos 5. Nas entrevistas com a geração adulta, há relatos de algumas pessoas que justificam a atitude de seus ascendentes em não usarem a língua Terena com os filhos para não prejudicá-los, embora estes ouvissem os pais e os avós usando-a. A decisão de não transmitir a língua étnica aos descendentes ocorre a partir de atitudes negativas para com essa língua (GROSJEAN, 1982). Entre as causas, Fishman (2000) destaca a associação da língua minoritária com o anti-moderno, provinciano, o que se torna um empecilho para a almejada mobilidade social. O fenômeno de pais ajudando seus filhos a serem falantes da língua de prestígio, com o intuito de assegurar o monolinguismo deles, é amplo, e segundo Grosjean (1982) é visto como uma vantagem social, a fim de dissocia-los do estigma social vivido pelos pais. Também Dorian (1998) considera que o descaso dos povos majoritários para com as línguas minoritárias é um instrumento poderoso de pressão em muitos dos grupos étnicos minoritários. Pobres e sem poder, são levados a deixar de transmitir as suas línguas para os seus descendentes. A opção ambas as línguas (cf. F com 15,2%), para a facilidade de língua, revela a segurança desses entrevistados em se comunicarem com facilidade usando qualquer uma das duas línguas, em razão de as terem adquirido. Isto fica claro em alegações como: as duas línguas são fáceis de aprender porque eu aprendi e falo as duas ; depende do que é falado na família desde pequeno, tanto faz a língua, desde que comece cedo, pois depois de grande é mais difícil. Essas explicações vão na mesma direção das encontradas para o índice D. 5 Esta mudança na política Linguística das famílias de Ipegue atingiu a maior parte da geração hoje adulta, tendo sido continuada nas gerações posteriores. 109

Os entrevistados que elegem ambas as línguas como fáceis representam uma pequena parcela (cf. F com 15,2%). Na composição desse índice, os adultos destoam (cf. F.4 com 75), ao considerarem ambas as línguas fáceis. Somando F.4 com D.4 (resultando em 10,8%), têm-se quase a metade da geração adulta com facilidade na língua Terena (cf. D.4 com 3,8%), ou em ambas as línguas, o que inclui a língua Terena (cf. F.4 com 7%). Pensando nas possibilidades de (re)vitalização da língua Terena, é importante considerar também a soma dos índices F.3 com D.3 (2,5%), F.2 com D.2 (7,6%) e F.1 com D.1 (1,2%), pois eles revelam a existência de um número, se bem que bastante pequeno, de falantes da língua Terena respectivamente, entre as gerações jovem, adolescente e infantil. Mesmo sendo minoria, trata-se de um dado importante, pois indica que a língua Terena ainda não foi totalmente deslocada nas gerações mais novas da comunidade Terena de Ipegue. Atitudes Terena Português Ambas Não respondeu Total de pessoas Total porcentual Gerações Criança 0,6% G.1 19% H.1 Adolescente 1,9% 25,3% G.2 H.2 Jovem 1,3% 10,1% G.3 H.3 Adulto 11,4% 8,2% G.4 H.4 Idoso 11,4% 2,6% G.5 H.5 Sub total 26,6% 65,2% porcentual G H 0% I.1 1,9% I.2 0,6% I.3 2,6% I.4 1,3% I.5 6,4% I 0,6% 32 20,2% 0,6% 47 29,7% 0% 19 12,1% 0,6% 36 22,8% 0% 24 15,2% 1,8% 158 100% Tabela 4. Atitude linguística por gerações: a(s) língua(s) que mais gosta Na Tabela 4, com o resultado H (65,2%), referente à língua que a maioria da comunidade Ipegue mais gosta de falar, novamente a língua Terena obtém índices menores do que a língua Portuguesa. Nota-se nos altos índices favoráveis à língua Portuguesa, expressos em H.1, H.2 e em H.3 (respectivamente com 19%, 25,3% e 10,1%), uma maior vulnerabilidade das gerações mais novas (crianças, adolescentes e jovens) diante da pressão externa, o que é preocupante para a sobrevivência da língua. Entre as justificativas mais comuns, destacam-se: todas as pessoas falam Português e é difícil falar em Terena ; as pessoas de Ipegue falam mais Português, não falam Terena ; todo mundo 110

fala Português, ninguém fala Terena e gozam de quem fala ; é a língua que eu falo, mas não falo correto ; sei falar Português correto, claro, diferente de muitos outros índios ; tem muitos não-índios [refere-se também à própria comunidade] e não entendem se falar em Terena. Em todas essas explicações elencadas, constata-se o alto prestígio da língua Portuguesa na comunidade. É visível também uma relativa percepção das variantes linguísticas da língua Portuguesa e o status decorrente de falá-las. Ou seja, para não sofrer estigmatização, não basta falar a língua Portuguesa provavelmente em uma variante indígena dessa língua mas é preciso fazer uso de uma variante linguística mais correta. A habilidade de falar a língua da sociedade majoritária é associada a um maior status socioeconômico 6. Conforme essas justificativas, nota-se a difusão do senso comum de que em Ipegue não se fala a língua Terena, o que pode ser confirmado pelos dados do primeiro trabalho de campo realizado por esta autora. Além dessas considerações, o elemento mais destoante nessas justificativas referentes ao gosto por falar a língua Portuguesa é a ocorrência das gozações dirigidas aos falantes da língua Terena, especialmente por parte principalmente dos adolescentes e entre seus pares. Para compreender essas gozações, outras partes do questionário não contempladas no escopo deste artigo são elucidativas. A geração adolescentes, ao justificar suas respostas acerca da(s) língua(s) preferida(s) para a escolarização, expressa uma atitude extremamente negativa para com a mistura de línguas (code-switching). Essas reações tem paralelos com o que Amuda (1986, cap. 5 apud ROMAINE, 1995) encontrou ao analisar as atitudes linguísticas para com a língua Yoruba e a língua inglesa na Nigéria. O monolinguismo na língua Yoruba, na Nigéria, e na língua inglesa foi altamente avaliado em oposição ao uso do code-switching, particularmente do tipo intra-sequencial, que evocou reações negativas. Segundo Romaine, o mesmo fora observado por Labov (1966, apud ROMAINE, 1995) para quem aqueles que falam a forma mais estigmatizada são os que reagem de forma mais negativa ao seu uso pelos outros. Ainda com referência ao resultado H (com 65,2%), relativo à língua que mais gostam de falar a língua Portuguesa, nota-se uma aparente contradição entre ele e o resultado A (com 60,9%), no que tangue à língua considerada mais bonita pela maioria dos entrevistados a língua Terena. Entretanto, vê-se expresso nesses índices, principalmente como a comunidade de Ipegue se coloca perante a atitude linguística da sociedade majoritária para com a língua Terena e para com eles próprios, respectivamente. A 6 Esse fenômeno foi observado também por Parsons-Yazzie, (1995 e 1996 apud LEE; MCLAUGHLIN, 2001) entre os índios Navajo, nos Estados Unidos. 111

contradição das respostas H e A revelam, sobretudo, uma situação de conflito de língua vivida em Ipegue, principalmente pelas gerações mais novas. Um pequeno grupo elege ambas as línguas como as línguas de que mais gostam (cf. I, com 6,4%). O resultado em I é menor do que a opção ambas as línguas expresso em F (com 15,2%) e em C (com 21,5%). De certo modo, isto expressa uma tomada de posição favorável à língua Terena (cf. G com 26,6%, relativo a Terena como a língua que mais gosta, em relação a D com 17,1%, relativo a Terena como a língua mais fácil). Há uma nítida divisão na composição das respostas G, H e I referentes à língua de que mais gostam. Enquanto a maioria das três gerações mais novas elegem a língua Portuguesa (cf. H.1, H.2 e H.3, respectivamente com 19%, 25,3% e 10,1%), a geração adulta e idosa é favorável à língua Terena (cf. a soma de G.4 mais I.4 e de G.5 mais I.5, totalizando respectivamente 14% e 12,7%). Entre as justificativas para a escolha de ambas as línguas (cf. I) encontram-se: falo as duas línguas, Terena mais em brincadeiras ; Terena é pra falar com os velhos e Português pra falar com os amigos ; tem que falar as duas línguas, uma pela evolução e outra pela tradição ; as duas são fáceis porque eu falo um pouco das duas ; porque consigo falar com as pessoas que não falam a língua Terena ; porque tem muitas pessoas que falam Terena também ; me sinto na obrigação de falar a minha língua Terena e ir aprendendo mais o que não sei ; gosto de falar misturado porque é mais rápido. Esses, embora representem uma pequena parcela da população de Ipegue, demonstram uma atitude positiva para com o bilinguismo do tipo aditivo, resistindo assim, à grande pressão contrária. Finalizando, nota-se, na composição do índice G, relativo a um grupo menor que opta pela língua Terena como a língua que mais gosta de falar, os baixos índices das gerações mais novas (cf. G1, G2, G3, respectivamente com 0,6%, 1,9%, 1,3%), o que desfavorece a língua Terena. Entretanto, desde os idosos e os adultos há um deslocamento crescente da língua Terena, resultante de uma gama de fatores externos que pressionam a língua Terena. O CONTEXTO EXTERNO E CONCLUINDO... A partir da análise das atitudes linguísticas da comunidade Terena de Ipegue para com a sua língua emergem algumas conclusões. Fica claro que alguns itens desfavorecem a continuidade da língua Terena, tais como: 1) a existência de um processo avançado de deslocamento da língua Terena pela língua Portuguesa em Ipegue; 2) a mudança de política 112

linguística favorável à língua Portuguesa, que começou a atingir mais eficientemente a geração hoje adulta; 3) o crescente deslocamento da língua Terena, que atinge maciçamente as gerações dos jovens, dos adolescentes e das crianças; 4) a existência de uma atitude linguística de conflito, em relação às línguas Terena e Portuguesa, por parte da maioria da população. Outros itens podem favorecer não só a resistência ao deslocamento da língua Terena, mas também sua continuidade: 1) o fato de cerca de metade da população adulta declarar ter a facilidade de se comunicar tanto em Português como em Terena, ou mais facilidade em Terena (cf. F.4 e D.4 com 7% e 3,8%); 2) a existência de uma minoria numérica de crianças, de adolescentes e de jovens que declara ser falante da língua Terena e declara ter facilidade em usá-la (cf. D.1, D.2, D.3 respectivamente com 0,6%, 3,8%, 1,9%); 3) o fato de a língua Terena ser considerada a mais bonita por mais da metade da comunidade de Ipegue (cf. A com 60,9%). Os itens 1, 2 e 3 podem ser considerados favoráveis em um programa de revitalização linguística que parta da comunidade de fala. Entretanto, eles, por si só, não garantem a continuidade da língua. Uma mudança de política favorável à língua Terena depende não só da própria comunidade (fatores internos), mas também da mudança dos fatores externos que atuam sobre ela, como os de ordem econômica e política. Esses fatores externos existem no macrocontexto, subdivididos em locais, regionais, nacionais e supranacionais (GRENOBLE E WHALEY, 1998). Pelo macrocontexto externo à comunidade de fala, nega-se à comunidade Terena de Ipegue, minoritária e minorizada, a possibilidade de escolha pela continuidade da língua Terena. Alegando o progresso e a modernização, os poderes políticos externos agem internamente de maneira não-democrática, como em muitas outras comunidades minoritárias, ocultando seus reais interesses (NETTLE E ROMAINE, 2000; HALE 1998). Nesse caso, economia e política estão intrinsecamente relacionados (GARCIA, 2007). No início do século XX, os Terena foram obrigados pelo então Serviço de Proteção ao Índio (SPI) a viverem em pequenos espaços de terra; as reservas indígenas. Para sobreviver, a única alternativa foi iniciar o processo de venda da sua mão-de-obra fora da reserva, nas então empresas agropecuárias recém-formadas que se apropriaram das terras anteriormente ocupadas por eles. Essa situação marcada pela dependência do salário externo foi descrita na década de 1940 por Oberg (1949). Atualmente, a densidade demográfica da reserva aumentou, mantendo-se, porém, a mesma área. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e também os políticos locais e regionais (REIS, 2004; TELAROLLI E CARVALHO, 1986) controlam os índios promovendo divisões 113

políticas internas entre eles 7. À medida que a situação se agrava, um grande contingente de jovens e adultos encontra como única alternativa para a sobrevivência o trabalho assalariado externo, principalmente no corte de cana-de-açúcar 8. Na perspectiva sociológica, a comunidade de fala sofre uma ruptura na preparação cultural das lideranças políticas, assim como na coesão familiar que tem de reformular as divisões de papéis antes existentes). A comunidade vive um ciclo de preparar as gerações mais novas para a vida laboral externa, o que interfere no uso e na atitude linguística da comunidade para com as línguas Terena e Portuguesa. Uma língua é trocada, substituída e morta, como uma resposta a pressões sociais, econômicas, entre outras (NETTLE E ROMAINE, 2000). Os grupos políticos e econômicos dominantes repugnam o pluralismo, inclusive o étnico e o linguístico, de forma sutil e eficiente, divulgando ideologias de intolerância com as diferenças para eliminá-las, e também agem por meio do apagamento oficial da diversidade étnica e linguística (MAYBURY-LEWIS, 1983; OLIVEIRA, 2005a; NETTLE E ROMAINE, 2000; DORIAN, 1998). Por trás dessa ideologia dominante, está não só a intenção de esconder a exploração, o autoritarismo e o privilégio hegemônico de uma parte da população, mas também o projeto e sonho das elites de ter uma nação com um centro, um poder, um povo e uma língua, de preferência monolíngue. Nessa perspectiva, os grupos étnicos e a diversidade linguística são vistos como um empecilho ao progresso, sendo culpados pelo atraso vivido pelas nações, além de receberem o rótulo de separatistas, simplesmente por serem diferentes, mesmo sendo uma minoria em termos numéricos, não subversivos e nem separatistas, como é o caso do Brasil. O contato com a sociedade majoritária é gerido também pela variável política. No que tange à língua, essa variável atua através da política linguística oficial para com as línguas minoritárias e minorizadas no Brasil, que não as reconhece oficialmente, mas pelo contrário, promove o apagamento delas (OLIVEIRA, 2005A). Isto gera uma atitude negativa na sociedade majoritária para com as línguas minoritárias, através de uma ideologia do desdém para com a língua minoritária. Essa atitude da sociedade majoritária desdobra-se nas propostas políticas: 1) para a educação escolar, com sua política de língua praticada de fato 9 ; 2) para as missões religiosas que atuam entre indígenas, pois para serem 7 Esse tema é discutido por Telarolli e Carvalho (1986), mencionado por Reis (2004), observado nos trabalhos de campo em 2004 e acompanhado através da imprensa eletrônica local. 8 A demanda internacional por álcool tem levado à instalação de novas destilarias de cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul, que podem colocar em risco o futuro até do Pantanal sul mato-grossense, uma importantíssima reserva de biodiversidade. Nettle e Romaine (2000) estabelecem importantes relações ético-ecológicas, entre a preservação da diversidade de flora e fauna e a manutenção da diversidade Linguística e etnocultural. 9 Segundo o linguista coordenador da ONG Ipol, Gilvan Miller de Oliveira (2005b) As escolas indígenas bilíngues são bilíngues, na sua maioria absoluta, só no papel. 114

autorizadas a ingressarem nas reservas indígenas devem acatar a política indigenista do Estado. Enfim, um arranjo hierárquico dos vários fatores 10 ; construído em razão de seus pesos relativos em um dado contexto, que contribuem para a promoção de uma atitude linguística negativa para com a língua nativa também interna às comunidades minoritárias. Em suma, pode-se afirmar que os julgamentos negativos da comunidade majoritária para com a língua Terena são interiorizados pela maioria da população de Ipegue 11. Conforme as entrevistas nos trabalhos de campo, a comunidade Ipegue é vista como mais civilizada do que as demais comunidades da mesma reserva, em razão do uso da língua Portuguesa. Citam como exemplo a participação dessa comunidade em eventos, como concursos de quadrilhas, na sede do município. Consequentemente, sua atitude em relação à língua Portuguesa é de assimilação mais do que de resistência praticada por uma minoria de famílias e cada vez mais enfraquecida ante as gerações mais novas. Nessa comunidade, a política linguística está direcionada para um monolinguismo na língua Portuguesa. Para a sobrevivência das línguas minoritárias, é fundamental uma atenção também na perspectiva ecológica, englobando o relacionamento entre povos, seu ambiente, seus pensamentos e sentimentos (CRYSTAL, 2000; NETTLE E ROMAINE, 2000), uma vez que o bem-estar físico de uma comunidade é sua principal prioridade. Segundo Rhydwen (1998 APUD CRYSTAL, 2000), quando as necessidades básicas por abrigo, comida, proteção e saúde não estão satisfeitas, temas como manutenção de língua ou revitalização são vistos como luxos irrelevantes. Assim, as escolhas das línguas pelas pessoas acontecem sob certas condições que não podem ser chamadas de livres; a real escolha ocorre quando se permite que o próprio povo tenha um real controle e responsabilidade de suas comunidades (Nettle e Romaine, 2000). Quanto à solução de problemas como o deslocamento da língua, concorda-se com Oliveira (2004), que não acredita em soluções de cima para baixo e nem em soluções únicas. Segundo o autor, o primeiro passo para solucionar problemas é enxergá-los localmente, a partir de níveis concretos de intervenção. O deslocamento da língua Terena pela língua Portuguesa está em curso acelerado; mas ainda há possibilidades de mudança, desde que a minoria, armada de atitudes positivas, se torne consciente da importância da sua atuação e decida agir, como nos casos relatados por Hinton (2001), Craig (1992) e 10 Propostos por Grenoble e Whaley (1998) e segundo Crystal (2000) pela sua interação uns com os outros tornam a análise mais complexa. 11 Penteado (1980) chega a uma conclusão semelhante em seu estudo entre os Terena citadinos, inclusive na sede do município de Aquidauana (MS), o mesmo município em que se localiza atualmente a reserva Taunay/Ipegue. 115

Mithun (1998). Entretanto uma língua não resiste somente com a força de fatores internos à comunidade. Na luta pela mudança nos fatores externos, que é bem maior, são muitos os interesses que atuam de forma oculta e sutil, e explicitá-los, tornando-os conhecidos, talvez seja uma primeira forma de resistência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGGIO, Silvia, L. B. Leitura e alfabetização: da concepção mecanicista à sociopsicolinguística. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. BRAGGIO, S. L. B. Línguas indígenas brasileiras ameaçadas de extinção. Revista do Museu Antropológico, v. 5/6, n. 1, p. 9-53, 2002. CRAIG, Colette. A constitutional response to language endangerment: the case of Nicarágua. Language Journal of the Linguistic Society of America, v. 68, n. 1, p. 17-24, mar. 1992. CRYSTAL, David. Language death. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. DORIAN, Nancy C. Western language ideologies and small-language prospects. In: GRENOBLE, Leonore A.; WHALEY, Lindsay J. (Eds.), Endangered languages. Cambridge: Cambridge University Press, 1998, p. 3-21. EDWARDS, John. Sociopolitical aspects of language maintenance and loss towards a typology of minority language situations. In: FASE, W., JASPAERT, K., e KROON, S. (Eds.), Maintenance and loss of minority languages. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishng Company, 1992, p. 37-54. FASE, W., JASPAERT, K., e KROON, S. (Eds.). Maintenance and loss of minority languages Introdutory remarks. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishng Company, 1992. FISHMAN, Joshua, A. Reversing Language Shift. Clevendon: Multilingual Matters, 1991. FISHMAN, Joshua, A. Why is it hard to save a threatened language? In: FISHMAN, Joshua A. (Ed.). Can threatened languages be saved? Reversing languages shift, revisited: a 21st century perspective. Clevendon: Multilingual Matters, 2000. p. 1-22. GARCIA, Mariana de Souza. Uma análise tipológica sociolinguística na comunidade indígena Terena de Ipegue: extinção e resistência. Tese (Doutorado em Linguística) Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2007. 116

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