RELAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO: A VISÃO DOCENTE NAS PRÁTICAS ESCOLARES COTIDIANAS



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Transcrição:

RELAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO: A VISÃO DOCENTE NAS PRÁTICAS ESCOLARES COTIDIANAS Resumo Giovani de Castro Lopes 1 - UFRRJ Bruna Nogueira Pereira 2 - UFRRJ Grupo de Trabalho - Educação, Complexidade e Transdisciplinaridade Agência Financiadora: CAPES A escola em si, enfrenta grandes dificuldades em abordar temas como Gênero e Sexualidade, e com professores despreparados, será difícil mudar a realidade em que nos encontramos. O bullying, o preconceito e a discriminação estão presentes na sala de aula ocorrendo a todo instante, e fechar os olhos para essas situações, é cooperar com os atos violentos. De acordo com Borrillo (2009), há uma necessidade de se estabelecer estratégias e discussões acerca da diversidade sexual, assim como a importância dos valores de igualdade e não discriminação de homossexuais, investindo na formação de todos os profissionais que lidam com a educação. O professor precisa estar preparado para enfrentar determinados tipos de acontecimentos em seu ambiente de trabalho, tanto com seus alunos quanto ao seus colegas professores, diretores, supervisores, etc. A autonomia do docente, fará toda diferença no meio acadêmico se ele souber se posicionar diantes de várias situações que podem ocorrer eventualmente. É dever do profissional licenciado formar cidadãos conscientes e críticos, para que assim, através de seu aprendizado, o aluno possa compreender o mundo e suas complexidades. São temas que geram debates e discussões, nos quais, bem trabalhados, enriquecem não somente a vida do aluno, mas sim, do próprio educador. O sistema de educação segue um padrão tradicional determinado por uma sociedade hierárquica, e infelizmente este padrão não é inclusivo. Em pleno século XXI, é preciso rever alguns métodos usados antigamente e que não são tão cabíveis hoje em dia. O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão sobre estes temas, e colaborar com algumas dicas ao acadêmico e profissional da área da educação. E com isso, expandir cada vez mais, a importância de se trabalhar estes temas na sala de aula. Palavras-chave: Gênero. Sexualidade. Educação. 1 Graduando em Educação Física pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Bolsista PIBID/CAPES.Email: giovanicastrolopes@hotmail.com 2 Graduanda em Educação Física pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Bolsista PIBID/CAPES.Email: brunanogueira.ufrrj@gmail.com ISSN 2176-1396

22078 Introdução A sexualidade humana há anos provoca reflexões e pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, dentre elas: psicologia, medicina, sociologia, antropologia, educação física, entre outras. O aumento de estudos nesses diferentes campos de saber, também é abordado na sexualidade e na homofobia, e em muitos outros artefatos culturais, entre os quais, destacamos: televisão, jornais, revistas e sites da internet. Com o tempo, pode se observar o avanço de muitas leis e também da própria sociedade, na qual, sempre impôs o sexismo, termo que se refere ao conjunto de ações e ideias que privilegiam determinado gênero ou orientação sexual em detrimento de outro gênero. Como o profissional da Educação pode atuar nesta área, de forma a contribuir para o conhecimento de crianças, adolescentes, jovens e toda comunidade em geral? Hoje pelo mundo inteiro, o gênero e a sexualidade, tem se propagado de uma forma intensa na vida do ser humano. Alguns desejos estão sendo descobertos, outros reprimidos e há aqueles que estão sendo aflorados. Em uma sociedade que sempre impôs que meninos brincassem apenas de coisas de meninos, e meninas apenas coisas de meninas, percebemos então que na atualidade houve um grande avanço, na liberdade de expressão no que diz respeito a tempos antigos. Com isso também, houve o aumento da violência contra os indivíduos que sentem atração por pessoas do mesmo sexo. A falta de conhecimento, ignorância e intolerância por parte do ser humano, gera uma cadeia de conflitos, que a cada ano, ao mesmo tempo que se conquista alguns direitos, há o índice altíssimo de crimes contra homossexuais. O Grupo Gay da Bahia divulga mais um Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais de 2011. Foram documentados 266 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil no ano passado, 6 a mais que em 2010, um aumento 118% nos últimos seis anos (122 em 2007). Os gays lideram os homicídios : 162 (60%), seguidos de 98 travestis (37%) e 7 lésbicas (3%). O Brasil confirma sua posição em primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, concentrando 44% do total de execuções de todo mundo (GGB, 2011). No Brasil a discussão sobre sexualidade teve mais clareza a partir da década de 90, cujos estudos afirmam que a sexualidade envolve uma série de comportamentos, crenças, relações e identidades socialmente construídas e historicamente forjadas, as quais permitem homens e mulheres viverem de determinados modos, seus desejos e prazeres corporais. Dito isto, observamos que sempre houve uma hierarquia por parte da sociedade, na qual, vem

22079 passando de geração a geração. Entretanto, em pleno século XXI, já podemos ver alguns feitos que estão mudando toda essa hierarquia social. Dentre as possibilidades de vivenciar a sexualidade, a homossexualidade segundo Borrillo (2009) compreende aos indivíduos que supostamente sentem desejo ou mantêm relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo. Logo, as pessoas que se enquadram nesta orientação, sofrem um tipo de discriminação e preconceito relacionado a Homofobia, comportamento de algumas pessoas ou grupos, que nutrem uma aversão irreprimível, medo e ódio aos homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais. Pode ser que aqueles que guardam estes sentimentos, ainda não definiram sua identidade sexual, causando revolta e dúvida, na qual, são direcionada para aqueles que já definiram suas preferências sexuais. É uma discussão longa e com várias interpretações. Tal fato ocorreria como consequência direta da hierarquização das sexualidades, que confere à heterossexualidade (atração por indivíduos do sexo oposto), um status superior e natural. Para Junqueira (2007; 2009) os estudos e pesquisas atuais à respeito da homofobia, ampliam essa discussão, compreendendo-a como fenômeno social relacionado a preconceitos, discriminação e violência voltados contra quaisquer sujeitos, expressões e estilos de vida que denotem desvio em relação às normas de gênero, sendo essa relacionada a heterossexualidade e heteronormatividade como única possibilidade. Há pelo mundo diversos profissionais como: professores, psicólogos, médicos, polícia, entre outros; que participaram e ainda participam de movimentos de repressão a gays, lésbicas e afins. É neste momento, que atividades pedagógicas devem ser desenvolvidas. Goellner (2010) afirma a necessidade de atentar para a diversidade, incluindo debates sobre gênero, corpo e as sexualidades nas práticas educativas, destacando e valorizando a pluralidade dos indivíduos que precisam ser aceito nas suas singularidades. DESENVOLVIMENTO Gênero e sexualidade: desafios e inserção à prática pedagógica Segundo Junqueira (2007) ações educacionais que promovam a equidade de gênero, a inclusão social e a constituição de uma cidadania para todos com o combate ao sexismo e à homofobia, já encontram respaldo em algumas leis e programas, como o programa desenvolvido pelo governo Federal Brasil Sem Homofobia (BRASIL, 2004). Para atingir

22080 tal objetivo, o programa é constituído de diferentes ações, na qual podemos destacar o cap V. da página 22, que diz: Direito à Educação: promovendo valores de respeito à paz e à nãodiscriminação por orientação sexual. Elaborar diretrizes que orientem os Sistemas de Ensino na implementação de ações que comprovem o respeito ao cidadão e à não-discriminação por orientação sexual. Fomentar e apoiar curso de formação inicial e continuada de professores na área da sexualidade; Formar equipes multidisciplinares para avaliação dos livros didáticos, de modo a eliminar aspectos discriminatórios por orientação sexual e a superação da homofobia; Estimular a produção de materiais educativos (filmes, vídeos e publicações) sobre orientação sexual e superação da homofobia; Apoiar e divulgar a produção de materiais específicos para a formação de professores; Divulgar as informações científicas sobre sexualidade humana; Estimular a pesquisa e a difusão de conhecimentos que contribuam para o combate à violência e à discriminação de GLTB. Criar o Subcomitê sobre Educação em Direitos Humanos no Ministério da Educação, com a participação do movimento de homossexuais, para acompanhar e avaliar as diretrizes traçadas. (BRASIL, 2004) Portanto, com a ajuda do Programa, é possível fortalecer a perspectiva dos direitos humanos, situando a sexualidade entre os direitos fundamentais para o livre e pleno exercício da cidadania. Os cursos de graduação em sua grande maioria, não dispõem de disciplinas que debatem sobre relações de gênero, sexualidade e diversidade sexual. O motivo talvez seja, pela autonomia do estudante universitário buscar conhecimentos à respeito do tema discutido, porém, é algo extremamente relativo. É necessário que o profissional licenciado encare o desafio da discussão sobre sexualidade, gênero e homofobia no exercício da docência. Os temas que geram problemas no âmbito escolar são os que precisam de esclarecimento, uma reflexão. A escola muitas vezes tem o papel de tirar dúvidas, de indicar o caminho correto, e até mesmo de fazer o indivíduo se conhecer, se inteirando profundamente de sua identidade. Esta situação oportuniza que os professores desconstruam totalmente uma visão conservadora, tornando assim um ganho, tanto para si quanto para os alunos. Torna-se um desafio aos docentes, abordar questões envolvendo estas temáticas, pois muitos professores não se sentem habilitados a tratar destes assuntos em sala de aula, principalmente nos casos de discriminação e preconceito que sempre acabam acontecendo em alguma aula ou outra. Existe uma vulnerabilidade na oposição a norma heteronormativa na educação. Segundo Louro (2000), a escola está absolutamente empenhada em garantir que seus

22081 meninos e meninas se tornem homens e mulheres verdadeiros, ou seja, que correspondam às formas hegemônicas de masculinidade e feminilidade. Roselli-Cruz (2011) estudou a relação entre o palavrão e a homossexualidade e constatou que chamar alguém, pelo palavrão de homossexual, pode levar o jovem ofendido que não é homossexual a criar resistência e rejeição à homossexualidade, além de implicar em medos, resposta agressiva e aumento da violência. Da mesma forma, um simples palavrão que insinue orientação sexual diferente do modelo heteronormativo pode implicar baixo desempenho, reprovação e evasão da escola. O Professor e sua metodologia Por meio de ações, o professor pode trabalhar gênero e sexualidade de uma forma indireta. Por falta de conhecimento, muitas vezes os professores são induzidos pela segmentação da cultura, separando homens e mulheres, dando-lhes tarefas distintas, pesando sempre de um lado e deixando o outro. Cabe ao professor ter uma visão ampla, e deixar o seu preconceito e medo de lado. Só por que as turmas são divididas em fila de meninos e meninas na hora de voltar para sala, que você professor, deva continuar com esta prática. O profissional licenciado deve ter autonomia sobre sua aula, sobre seu espaço de trabalho, mesmo que tudo em volta não coopere para o que deseja fazer. Gênero e sexualidade precisam sim, ser trabalhados na sala de aula. Um aluno que se sente melhor perto das meninas ou vice-versa, não faz dele (a) um homossexual, todavia, é preciso intervir imediatamente. Mesmo que sejam apenas crianças, já é possível observar algumas piadinhas entre elas, e por muitas vezes o professor deixa passar como se fosse apenas uma brincadeira. A homofobia acontece também em forma de brincadeiras, piadas, comentários, etc. Essa atitude pode gerar um afastamento de jovens homossexuais das atividades propostas, visto que, frequentemente, são alvos de práticas dessa natureza, muitas vezes observadas em situações de práticas corporais e esportivas (GOELLNER, 2010). Tal ato de Bullying ou preconceito tem uma consequência imensa no futuro daquela criança, sabe-se lá, o que pode desencadear na vida dela, e todos os transtornos que podem ser causados. O Bullying acaba aparecendo, pois é nessas brincadeiras que traumas são gerados, e o que isso causa psicologicamente em uma criança, é de fato algo perigoso. De acordo com a Revista Nova Escola (2008) o Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um

22082 ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. O desejo de inferioridade, revolta, medo, angústia, vingança, solidão, podem ser facilmente estimulados com tal ato. E as consequências são as mais variadas possíveis, todas que levam a um caminho de tristeza e sofrimento, no qual poderia ser evitado, por uma simples interferência do professor na hora, repreendendo o ato de mal intencionado. Portanto, se faz necessário o preparo principalmente dos profissionais da educação, para ajudar a disseminar o real conceito sobre os temas relações de gênero e sexualidade, dos alunos aos seus familiares e amigos. Desta forma, acredita-se que haverá uma compreensão sobre qualquer tipo de discriminação, contribuindo assim para que haja respeito à liberdade e à individualidade de cada ser humano. Metodologia Esta pesquisa foi realizada pesquisa bibliográfica através de diversos análises de livros e artigos relacionados às palavras chaves: homofobia, gênero e sexualidade e educação, a partir da base de dados da Scielo (Scientific Eletronic Library). Na revisão bibliográfica sistemática foi possível encontrar alguns textos bastantes ricos nos temas usados. Este tipo de pesquisa faz uma análise de determinada teoria, sempre utilizando embasamentos teóricos para explicar a pesquisa que está sendo levantada. Boas revisões sistemáticas são recursos importantes ante o crescimento acelerado da informação científica. Esses estudos ajudam a sintetizar a evidência disponível na literatura sobre uma intervenção, podendo auxiliar profissionais clínicos e pesquisadores no seu cotidiano de trabalho (SAMPAIO e MANCINI, 2006). A revisão sistemática de literatura consiste em uma pesquisa que utiliza como fonte de dados a literatura sobre determinado tema. Esse tipo de investigação concede um resumo das evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de métodos compreensivos e sistematizados de busca, com apreciação crítica e uma síntese da informação selecionada. Ela serve para identificar temas que necessitam de evidências, auxiliando na orientação para investigações futuras. Com a escasses de publicações, pode se sugerir que a educação ignora temas como a sexualidade e a homofobia que atravessam e marcam o cotidiano escolar, apontando para a carência e a necessidade desses debates na educação atual.

22083 Considerações Finais A escola como qualquer outra instância social deve contribuir para discussão de questões relacionadas a sexualidade, sendo que, na formação docente é de suma importância ter uma base de conhecimentos. É de grande importância a necessidade e abordagem da sexualidade e relações de gênero em sala de aula, para que crianças, adolescentes e os próprios adultos obtenham informações que possam contribuir na sua formação intelectual referente a sua sexualidade e construção da identidade sexual. Com isso, o professor poderá desenvolver o senso crítico dos alunos relacionado aos assuntos propostos em sala de aula. Há uma carência no processo de formação dos docentes, guiado pelo modelo heteronormativo das instuições familiares de forma geral, bem como outros setores da sociedade, além da falta de publicações envolvendo as temáticas. Por fim, ressalta-se que para que se tenha sucesso nesta prática, é preciso conhecer a realidade do ensino/aprendizagem e que a escola incorpore em seu currículo as diferentes linguagens, bem como analisar a estrutura, o desempenho dos alunos, os conteúdos a serem ministrados, e a interação entre escola, comunidade e família. REFERÊNCIAS CORDEIRO, Aliciene Fusca Machado; BUENDGENS, Jully Fortunato. Preconceitos na escola: sentidos e significados atribuídos pelos adolescentes no ensino médio. Psicol. Esc. Educ. Maringá, v. 16, n. 1, p. 45-54, June 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1413-85572012000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 Aug. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/s1413-85572012000100005. GGB Grupo gay da Bahia; Disponível em: <http://grupogaydabahia.com.br/assassinatos/relatorios/relatorio-2011/> Agosto de 2015 Acesso: 06 de GOELLNER, S. V. A Educação dos Corpos, dos Gêneros e das Sexualidades e o Reconhecimento da Diversidade. Cadernos de Formação RBCE, p. 71-83, mar. 2010.. R. O reconhecimento da diversidade sexual e a problematização da homofobia no contexto escolar. In: SEMINÁRIO CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE: discutindo práticas educativas, 3., 2007, Rio Grande. Anais... Rio Grande, RS: Ed. da FURG, 2007 JAEGER, ANGELITA. Sexualidade, Homofobia E Educação (Física): Notas Preliminares. In: VII CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 2014, Matinhos, PR UFPR. Anais. Disponível em http://cbce.tempsite.ws/congressos/index.php/7csbce/2014 Acesso em 12 ago. 2015

22084 JUNQUEIRA, R.; DINIZ. Homofobia: Limites e possibilidades de um conceito em meio a disputas. Natal: Bagoas, v. 1, nº 1, p.145-165, jul./dez. 2007. REVISTA ABRIL. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/ Acesso: 27 de Junho de 2015 ROSELLI-CRUZ, Amadeu. Homossexualidade, homofobia e a agressividade do palavrão: seu uso na educação sexual escolar. Educ. rev., Curitiba, n. 39,p. 73-85,abr. 2011. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0104-40602011000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 08 ago 2015. http://dx.doi.org/10.1590/s0104-40602011000100006. SAMPAIO, RF; MANCINI, MC. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Rev. bras. fisioter. São Carlos, v. 11, n. 1, p. 83-89, Feb. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1413-35552007000100013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 Aug. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/s1413-35552007000100013.