Desenvolvimento Sustentável no Varejo: Um Estudo da Logística Reversa de um Supermercado de Médio Porte



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Desenvolvimento Sustentável no Varejo: Um Estudo da Logística Reversa de um Supermercado de Médio Porte Autoria: Sergio Silva Braga Junior, Priscila Rezende da Costa, Edgard Monforte Merlo Resumo Com a redução da margem de lucro e o aumento da competitividade no setor supermercadista, assim como a diminuição do poder de compra do trabalhador, a busca pela sustentabilidade se torna cada vez mais importante para as empresas do setor. Desta forma, a busca contínua de novas soluções e a melhor exploração de todos os processos e atividades geradoras de renda se torna relevantes. O objetivo deste trabalho é demonstrar como a logística reversa no setor supermercadista pode ser uma alternativa de renda que, através de uma cadeia de suprimentos reversa pode contribuir para o desenvolvimento sustentável do negócio, reduzir os desperdícios e os impactos social e ambiental. Para tanto, foi realizada uma pesquisa descritiva qualitativa (VERGARA, 1998) e serão apresentados os resultados de um estudo de caso realizado em um supermercado de médio porte da cidade de Birigui-SP que prática logística reversa. Alguns resultados da pesquisa permitiram identificar a importância da logística reversa como também uma ferramenta estratégica para abrir competitividade do varejo supermercadista e a estruturação de uma cadeia de suprimentos reversa, até então, não identificada no processo. 1. Introdução De acordo com ABRAS (2006), o setor supermercadista brasileiro, no ano de 2005, fechou com um crescimento abaixo do esperado pelo setor. Fato este ocorrido por uma série de transformações econômicas acontecidas no ano como, por exemplo, o crescimento econômico abaixo do esperado, a oscilação cambial e entre outros fatores. Desta forma, a busca contínua de novas soluções e a melhor exploração de todos os processos e atividades geradoras de renda torna-se relevante para a sustentação da empresa. Aspectos como a busca de eficiência, melhor compreensão do relacionamento com o consumidor, melhor gestão de custos e preço de venda dos produtos nas lojas e principalmente o melhor aproveitamento de produtos que seriam descartados, têm sido elementos importantes para as empresas varejistas submetidas a estas transformações econômicas. Neste aspecto, a logística reversa no setor varejista pode se abrir como uma nova possibilidade de ganho para as empresas do setor, pois, passa a criar um fluxo reverso das sobras de embalagens e produtos que seriam descartados. Barbieri e Dias (2002) acrescentam que a logística reversa pode auxiliar o desempenho da empresa ao possibilitar um aproveitamento ao que foi gerado e seria descarto, gerando um aproveitamento econômico no processo de retorno de mercadorias e materiais rejeitados. Atualmente, as empresas fornecedoras do setor supermercadista se utilizam da logística para minimizar os custos que envolvem deste o planejamento e controle até a entrega e permanência do produto no estoque do cliente, mas por outro lado, poucas se preocupam em recolher as embalagens ou os produtos que seriam descartados. Sendo assim, fica para o varejista a oportunidade de ganho e, caso não aproveite esta oportunidade, passa a ser o responsável pelo impacto ambiental que estes produtos e embalagens descartadas produziriam no meio ambiente. As iniciativas relacionadas à logística reversa têm trazido consideráveis retornos econômicos as empresas praticantes (LACERDA, 2002; BARBIERI e DIAS, 2002) e neste aspecto, o objetivo deste trabalho foi demonstrar que no setor supermercadista as oportunidades geradas com embalagens e produtos podem se tornar uma valiosa fonte de 1

renda para o varejista. Seguindo este propósito, através de um estudo de caso em um supermercado de médio porte do interior do Estado de São Paulo, são analisados os resultados alcançados com a prática da logística reversa. 2. Discussão Teórica 2.1. O Varejo Alimentício As atividades envolvidas na venda de bens e serviços para consumo pessoal do consumidor final são conhecidas como varejo. Elas ocorrem sem a necessidade da venda acontecer em uma loja, pois, a mesma pode acontecer pelo telefone, correio, internet ou outros meios conforme explica Parente (2000). O varejista é o intermediário que se encarrega de vender para os consumidores finais (DIAS, 2003). Qualquer empresa que venda mercadorias ou presta serviços ao consumidor final para consumo pessoal ou doméstico está desempenhando a função de varejo. Segundo Coughlan et al. (2002) o varejo moderno é extremamente competitivo, orientado para a inovação, formado por uma variedade cada vez maior de instituições e constantemente afetado por um ambiente altamente fluido. As três tarefas básicas do varejo são: (1) fazer com que os consumidores da sua área de atuação entrem na loja; (2) converter esses consumidores em clientes leais; (3) operar da maneira mais eficiente possível para reduzir custos e com isso ter preços mais baixos (CZINKOTA et al., 2001). Cabe ao varejista a função de manter o estoque dos produtos que comercializa, oferecendo variedade aos consumidores e prestação de serviço de distribuição aos fabricantes. Além de vender pequenas quantidades ao consumidor final o varejista agrega valor ao produto ou serviço que comercializa. De acordo com Czinkota et al. (2001) e Kotler (2000), há seis tipos básicos de varejistas que usam o formato baseado em lojas: lojas de departamentos, lojas de especialidade, supermercados, supercentros, especialistas por categorias (category killers) e lojas de conveniência. Dias (2003) apresenta outra forma de classificação dos varejos com loja, baseada nas categorias de produtos comercializadas: varejistas de alimentos; de mercadorias em geral e de serviços. Os varejistas de alimentos subdividem-se em supermercados; empórios e mercearias; superlojas; lojas de conveniência; padarias e lojas de desconto. Dias (2003) também define supermercado como uma loja com cerca de 700m 2 a 2500 m 2 de área de vendas, composta por seções com mercearia, açougue, frios e laticínios, frutas e verduras, produtos de limpeza, perfumaria, utensílios domésticos etc. Baseado em Czinkota et al. (2001) entende-se por supermercado, lojas que comercializam itens de mercearia e alguns produtos de caráter geral através de instalações físicas em grande escala, com expositores para auto-serviço e auto-seleção que possibilitam ao varejista transferir o desempenho de algumas funções de marketing ao consumidor. Desta forma, Parente (2000) apresenta uma possível organização por formato e tipos de lojas alimentícias com algumas características mercadológicas como demonstrado no quadro 1. Esta classificação feita por Parente (2000) permite traçar um perfil mais adequado das lojas dentro do setor de varejo alimentício. Segundo dados da AC Nielsen em pesquisa realizada no ano de 2000, encomendada pela ABRAS (2004), os supermercados representam 87% da distribuição de alimentos no Brasil. Apesar de existirem cerca de 250 mil empórios e mercearias, estes representam apenas 15% da distribuição de alimentos (Rojo in Dias, 2003) e o varejo alimentício no Brasil, ao longo dos anos, vem se desenvolvendo e acompanhando as tendências mundiais do setor (ABRAS, 2004). 2

Percebe-se no quadro 1 que no varejo, conforme varia o formato da loja e aumenta a área de venda, existe um grande número de itens e uma grande diversidade de produtos. Surge então, a possibilidade econômica de aproveitamento e comercialização para o varejista, das embalagens de papelão, plástico e madeira usadas para o transporte destes produtos. Formato de loja Área de venda/m 2 N o médio de itens % de vendas não alimento N o de checkouts Seções Bares 20-50 300 1 * Mercearias, lanches e bebidas Mercearias 20-50 500 3 * Mercearia, frios, laticínios e bazar Padarias 50-100 1000 1 * Padaria, mercearia, frios, laticínios, lanches Minimercados 50-100 1000 3 1 Mercearia, frios, laticínios e bazar Loja de Mercearia, frios, laticínios, 50-250 1000 3 1-2 conveniência bazar e lanches Supermercado Mercearia, hortifruti, carnes, 300-700 4000 3 2-6 compacto aves, frios, laticínios, bazar Mercearia, hortifruti, carnes, Supermercado 700-2500 9000 6 7-20 aves, frios, laticínios, peixaria, convencional bazar Superloja 3000-5000 14000 12 25-36 Hipermercado 7000-16000 45000 30 55-90 Clube atacadista 5000-12000 50000 35 25-35 Quadro 1 Formato e tipos de lojas do varejo alimentício Fonte: Adaptado de estudos coordenados pela Abras apud Parente (2000) Mercearia, padaria, hortifruti, carnes, aves, frios, laticínios, peixaria, bazar, têxtil, eletrônicos Mercearia, padaria, hortifruti, carnes, aves, frios, laticínios, peixaria, bazar, têxtil, eletrônicos Mercearia, hortifruti, carnes, aves, frios, laticínios, peixaria, bazar, têxtil, eletrônicos Até recentemente, acrescentam Levy e Weitz (2000), o controle das vendas e um posterior crescimento das empresas varejistas, eram apenas conhecido quando o balanço era realizado ao final de cada período fiscal. Entretanto, a pressão por melhor competitividade no varejo tem aumentado e a adoção de técnicas que agregam valor como, por exemplo, a diferenciação do produto e dos serviços prestados ao consumidor, a redução de custos ou o atendimento rápido da demanda, não tem sido suficientes para a sustentabilidade do negócio. Para Levy e Weitz (2000), essa necessidade permitiu ao varejista volta-se para a cadeia logística do setor e assim, passar a utilizá-la não apenas como um fluxo de mercadorias, mas também como fonte de informações para desenvolver vantagem competitiva. Assim, o varejista passou a ser considerado o fornecedor de informações provenientes do consumidor. Essas informações são repassadas ao distribuidor, ao representante ou às vezes diretamente a indústria. Nesse sentido McGoldrick (2002), coloca que tem ocorrido uma recente cooperação e coordenação entre varejista e fornecedores no desenvolvimento de técnicas mais eficientes de fornecimento de mercadorias como o ECR (Efficient Consumer Response)e o EDI (Electronic Data Interchange). Levy e Weitz (2000) ressaltam que essa integração é de fundamental importância para uma resposta rápida ao consumidor no que tange sua necessidade de consumo. 3

Diversos estudos abordam as decisões sobre a variedade e sortimento de mercadorias como forma de aumentar a qualidade e eficiência no atendimento ao consumidor através do ECR (Efficient Consumer Response), suportado pelo processo de gerenciamento de categoria (MERLO; MAUAD; NAGANO, 2004). Parente (2000) explica que o objetivo do ECR é melhorar o desempenho de toda cadeia de abastecimento unindo o distribuidor ao varejista, reduzindo os custos e ao mesmo tempo agregando valor ao consumidor com a melhoria nos serviços e no produto. Para Coughlan et al. (2002) a logística aumenta a eficácia no setor, pois, o consumidor está cada vez mais exigente e diferente em sua demanda. Assim, a logística empresarial no varejo ganha o aspecto da logística empresarial da industria que, segundo Christopher (1997), ela se preocupa com: o suporte à produção, através da disponibilização de matérias-primas no lugar e momento necessários; à distribuição dos produtos acabados aos pontos de venda, que geralmente estão mais próximos aos clientes; e à integração de todas estas atividades, com vistas à redução de custos e melhoria da eficiência, através de uma aproximação com os fornecedores e clientes. Nos períodos mais recentes Leite e Brito (2003) e Fuller e Allen (1995), apontam que a logística empresarial deve considerar também a logística reversa como área que, conforme Leite e Brito (2003), visa equacionar os aspectos logísticos do retorno dos bens ao ciclo produtivo ou de negócios através da multiplicidade de canais de distribuição reversos de pós venda e de pós consumo, agregando-lhes valor econômico-social, ambiental, legal e de localização. Este enfoque sistêmico, onde a atividade de distribuição faz parte de uma visão mais ampla de logística empresarial e que deve englobar a logística reversa, no varejo alimentício ainda não foi descoberto o potencial lucrativo da logística reversa. 2.2. Logística Reversa De modo geral a logística é tratada como um processo unilateral, pois se apresenta com um fluxo físico da indústria ao ponto final de comercialização do produto (BARBIERI, 2002; LEITE e BRITO, 2003). Para tanto, Leite e Brito (2003) complementam que a definição de logística deveria considerar todos os tipos de movimentos de mercadorias e informações. Uma das primeiras definições da logística reversa é apresenta por Rogers e Tibben-Lembke (1999) que a colocam como sendo o processo de planejamento, implantação e controle do custo efetivo no fluxo de matéria-prima e bens acabados, gerando informações do ponto de consumo ao ponto de origem, com o propósito de resgatar valor ou uso apropriado do produto descartado. Essa colocação amplia o composto de atuação da área, passando incluir não só fluxos diretos tradicionalmente considerados, mas também os fluxos de retorno dos produtos a serem descartados e de embalagens, de produtos vendidos e devolvidos e de produtos usados/consumidos a serem reciclados no caso do varejo. Para outros autores como Barbieri (2002); Lacerda (2002); Leite e Brito (2003), significa o fluxo físico reverso das mercadorias que não foram consumidas no varejo e que podem se tornar uma ferramenta importante para a sustentabilidade das organizações. Essa questão passa a ganhar mais valor quanto Tibben-Lembke (2002) traça um paralelo entre a logística reversa e o ciclo de vida do produto, pois em cada momento do ciclo, a logística reversa pode ser usada de forma diferente pelo varejo e em todas as fases, pode reduzir as perdas com produtos que não seriam aproveitados. Fica aberto assim, um espaço para as empresas analisarem como melhor aproveitar a logística reversa no contexto do ciclo de vida do produto. Atividades como: serviço ao cliente, processamento de pedidos, comunicações de distribuição, controle de inventário, previsão de demanda, tráfego e transporte, armazenagem e estocagem, localização de fábrica e armazéns/depósitos, movimentação de materiais, 4

suprimentos, suporte de peças de reposição e serviços, embalagem, reaproveitamento e remoção de refugo e administração de devoluções, são relacionadas por Lambert et al. (1998) como parte da administração logística em uma empresa e que de certa forma está dentro do ciclo de vida do produto. De todas estas atividades, fazem parte diretamente da logística reversa o reaproveitamento e remoção de refugo e a administração de devoluções. Ainda conforme o autor citado anteriormente, reaproveitamento e remoção de refugos estuda e gerencia o modo como os subprodutos dos processos organizacionais serão descartados ou reincorporados ao processo. Tradicionalmente, as empresas não se sentem responsáveis por seus produtos após o consumo. A maioria dos produtos usados são descartados ou incinerados com consideráveis danos ao meio ambiente. Quando um meio entra em degradação, a sobrevivência dos sistemas fica comprometida (PARENTE e GELMAN, 2006, p. 17). Atualmente, legislações mais severas e a maior consciência do consumidor/empresário sobre danos ao meio ambiente estão levando as empresas a repensarem sua responsabilidade sobre seus produtos após o uso. A logística reversa começa quando o produto é consumido e neste momento, a empresa deve estar preparada para o que, Staff (2005), chama de 4 R da logística reversa: Recuperação, Reconciliação, Reparo e Reciclagem. O quadro 2 apresenta as definições que o autor coloca para cada fase. Fase do processo de logística reversa Recuperação possibilidades. Reconciliação Reparo Reciclagem Definição Permite a empresa manter e controlar a saídas e a confiabilidade do produto de forma a estar sempre melhorando seu produto no mercado. É a analise dos produtos defeituosos que retornam para empresa. São avaliados e caso não haja problema, o mesmo é reestocado para ser enviado ao mercado. É o tempo de espera do cliente para que o produto seja reparado ou trocado. É o retorno ao ciclo dos produtos que seriam descartados pelo consumidor e pela industria de forma que reduz os custos do processo e abre novas Quadro 2 Os 4R s da Logística Reversa e suas definições Fonte: Baseado na classificação de Staff (2005) Baseado nas definições de cada fase deste processo, várias pesquisas e trabalhos mostram a importância de se prestar atenção a este lado da logística. Caldwell (1999) entrevistou várias empresas e mostrou como um pequeno investimento no gerenciamento da logística reversa resulta em economias substanciais. Segundo este autor, o maior problema apontado é a falta de sistemas informatizados que permitam a integração da logística reversa ao fluxo normal de distribuição. Por esta razão, muitas empresas desenvolvem sistemas proprietários ou terceirizam este setor para firmas especializadas, mais capacitadas a lidar com o processo. Todos os autores pesquisados mostram o bom gerenciamento da logística reversa, permite uma agregação de valor econômico para a empresa. Rogers e Tibben-Lembke (1999) pesquisaram uma empresa varejista que obtinha 25% de seus lucros derivados de um melhor gerenciamento de sua logística reversa. Outros autores (TERRY, 2000; QUINN, 2001) também se referem as grandes economias de custos nas empresas que implementaram o controle do fluxo reverso assim, Horvath et al. (2005) refere-se ao fato da logística reversa apresentar, no inicio, um fluxo de caixa negativo, a médio prazo, a mesmo permite um resultado positivo para o varejo. Apesar de muitas empresas saberem da importância que o fluxo reverso tem, a maioria delas tem dificuldades ou desinteresse em implementar o gerenciamento da logística reversa. 5

A falta de sistemas informatizados que se integrem ao sistema existente de logística tradicional (CALDWELL, 1999), a dificuldade em medir o impacto dos retornos de produtos e/ou materiais, com o conseqüente desconhecimento da necessidade de controlá-lo (ROGERS e TIBBEN-LEMBKE, 1999), o fato de que o fluxo reverso não representa receitas, mas custos e como tal recebem pouca ou nenhuma prioridade nas empresas (QUINN, 2001), são algumas das razões apontadas para a não implementação da logística reversa nas empresas. Com relação aos fatores que motivam o desenvolvimento da logística reversa por parte das organizações é importante ressaltar a existência de inúmeras discussões teóricas que abordam tanto aspectos conjunturais quanto processuais. As principais vertentes dessas discussões podem ser assim relatadas: legislação ambiental, que força as empresas a retornarem seus produtos e cuidar do tratamento necessário; benefícios econômicos do uso de produtos que retornam ao processo de produção, ao invés dos altos custos do correto descarte do lixo; a crescente conscientização ambiental dos consumidores. Além destas vertentes, Rogers e Tibben-Lembke (1999) ainda apontam motivos estratégicos, tais como: razões competitivas, como a diferenciação por serviço; limpeza do canal de distribuição; proteção de margem de lucro; recaptura de valor e recuperação de ativos. Cabe ressaltar, que a logística reversa não serve necessariamente para aprimorar a produtividade logística. No entanto, o movimento reverso é justificado sobre uma base social e deve ser acomodado no planejamento do sistema logístico. O ponto importante é que a estratégia logística não poderá ser formulada sem uma consideração cuidadosa dos requerimentos da logística reversa (BOWERSOX et al., 1986). Em termos logísticos, quando se adiciona o sistema de logística reversa ao fluxo de saída de mercadorias, tem-se uma Cadeia de Suprimentos Integral. (KRIKKE, 1998). A Cadeia de Suprimentos Integral (CSI) é baseada no conceito de ciclo de vida do produto. Durante seu ciclo de vida, o produto percorre a cadeia de suprimentos normal. O que é acrescentado na CSI são as etapas de descarte, recuperação e reaplicação, permitindo a reentrada do fluxo de material na cadeia de suprimentos (KRIKKE, 1998). Uma vez determinado o volume e as características do fluxo reverso, devem-se estabelecer os locais de armazenagem, os níveis de estoque, o tipo de transporte a ser utilizado e em que fase se dará a reentrada no fluxo normal do produto. Bowersox et al. (1986) estabelecem que o objetivo administrativo fundamental é obter integração de todos os componentes no sistema logístico. Esta integração deverá ser buscada em três níveis: primeiro, a integração dos componentes das áreas de distribuição física, suporte à manufatura e compras em uma base de custo total. Depois, estas três áreas têm que ser coordenadas em um esforço logístico único. E, finalmente, a política de logística da empresa tem que ser consistente com os objetivos globais e dar apoio às outras áreas na busca destes objetivos. De acordo com Krikke (1998), pode-se identificar algumas diferenças entre os sistemas de logística com fluxo normal e a logística reversa, tais como: a primeira diferença é que a logística tradicional à frente é um sistema onde os produtos são puxados, enquanto que na logística reversa existe uma combinação entre puxar e empurrar os produtos pela cadeia de suprimentos; em segundo lugar, os fluxos tradicionais de logística são basicamente divergentes, enquanto que os fluxos reversos podem ser fortemente convergentes e divergentes ao mesmo tempo; em terceiro, os fluxos de retorno seguem um diagrama de processamento pré-definido, no qual produtos descartados são transformados em produtos secundários, componentes e materiais, já no fluxo normal esta transformação acontece em uma unidade de produção, que serve como fornecedora da rede; por último, na Logística reversa, os processos de transformação tendem a ser incorporados na rede de distribuição, cobrindo todo o processo de produção, da oferta (descarte) à demanda (reutilização). 6

Um outro ponto importante é que fluxos reversos estão envoltos em um nível de incerteza considerável. Ao se definir um sistema de Logística reversa, a incerteza sobre quantidade e qualidade se torna bastante relevante. Todos estes fatores levam a concluir que um sistema de Logística reversa, embora envolva os mesmos elementos básicos de um sistema logístico tradicional, deve ser planejado e executado em separado e como atividade independente. Lacerda (2002) aponta seis fatores críticos que influenciam a eficiência do processo de logística reversa. Os fatores são: a) Bons controles de entrada; b) processos mapeados e formalizados; c) tempo de ciclo reduzidos; d) sistemas de informação; e) rede logística planejada; e f) relações colaborativas entre clientes e fornecedores. Por fim, acredita-se que a posse de melhor organização logística convencional refletese em melhores condições de gerenciar a Logística reversa e, por conseguinte, em vantagem competitiva sobre a concorrência. 3. Metodologia As metodologias aplicadas para o estudo da logística na cadeia de suprimentos são variadas. Sachan e Datta (2005) apresentam uma revisão metodológica de 1999 a 2003 nos três mais importantes periódicos internacionais e destaca que nos últimos anos os métodos de pesquisa mais utilizados foram o survey no International Journal of Physical Distribution & Logistics Management (IJPDLM) representando 35,5% das pesquisas publicadas sobre logística e estudo de caso no Supply Chain Management: An International Journal (SCMIJ) representando 25,2% das pesquisas publicadas em logística. Sendo o estudo de caso, segundo Yin (2001), o método mais apropriado para resolver problemas com indagações de como e por que e verificado que é um dos principais métodos de estudo para as pesquisas no campo da logística e o mais utilizado nas pesquisas publucadas pelo Supply Chain Management: An International Journal (SCMIJ), segundo Sachan e Datta (2005), optou-se pelo estudo de caso. Segundo Triviños, (1995) somente o estudo intensivo de um caso permite a descoberta de determinadas relações tornando possível à investigação de um fenômeno atual dentro de um contexto de vida real, e como coloca Gil (1999) a modalidade de estudo de caso é caracterizada pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. Com base na tipologia de Vergara (1998), que classifica as pesquisas quanto aos fins e quanto aos meios. Este estudo pode ser classificado como uma pesquisa descritiva qualitativa, quanto aos fins, e como uma pesquisa bibliográfica e de campo quanto aos meios. Pesquisas descritivas, segundo Gil (1996), podem ter como objetivo estudar as características de um grupo, levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. A pesquisa é também bibliográfica porque, para a fundamentação teórica-metodológica do trabalho, foi realizada uma investigação sobre os preceitos teóricos do varejo alimentício, da logística empresarial e da logística reversa. Configura-se como pesquisa de campo porque foi realizado um estudo de caso em uma unidade supermercadista, localizada no município de Birigui, interior do estado de São Paulo. Relações entre circunstâncias particulares observadas, a partir de um estudo de caso, podem sugerir conexões que precisam ser exploradas em outras instâncias. O mesmo estimula a formulação de hipóteses que poderão orientar novas pesquisas em que os resultados podem conduzir a generalizações. Por último, o estudo de caso pode se constituir em teste de uma teoria que precisa ser comprovada em todas as instâncias, embora aceita como verdade universal. Ao se estudar uma situação especifica, os resultados obtidos podem invalidar a teoria, ainda que em uma instância particular (ALENCAR, 1988). 7

A coleta de dados e a estruturação de modelos para diagnóstico se processaram pela observação, análise de documentos e pela realização de entrevistas não-estruturadas com o proprietário e funcionário responsável pelo gerenciamento do centro de processamento de embalagens. Ressalta-se que os dados obtidos foram tratados de forma qualitativa e interpretados a partir das discussões contidos na fundamentação teórica que norteou o desenvolvimento deste estudo. 4. Estudo de Caso: A Logística Reversa no Varejo Supermercadista O processo da logística reversa no varejo é pouco explorado e como conseqüência o varejista acaba deixando de lado uma fonte alternativa de recursos financeiros. Outro aspecto relevante é a agregação de valor da empresa, que pode resultar na geração de competitividade no mercado, conforme pesquisa apresentada por Rogers e Tibben- Lembke apud Leite e Brito (2003) onde 65,2% das empresas buscam a prática da logística reversa com finalidade estratégica. O supermercado objeto de pesquisa está no mercado varejista há aproximadamente doze anos e é a loja matriz de uma rede que, atualmente, conta com seis lojas. Distribuídas em cinco cidades da região noroeste do Estado de São Paulo, as lojas da rede estão localizadas num raio de 50 km de distância da loja matriz. Quanto a loja matriz, objeto da pesquisa, está localizada na região central da cidade de Birigui, interior do estado de São Paulo e apresenta um fluxo médio de 2000 pessoas por dia, onde a base utilizada para a contagem foram os comprovantes de venda, entrevista informal com o proprietário do varejo alimentício e com alguns funcionários e a observação direta dos pesquisadores. A proposta de aproveitar as caixas de papelão, o plástico das embalagens e as caixas de madeira das frutas e verduras, surgiu no ano de 2004, apresentada por uma empresa de reciclagem de plástico e papelão. A empresa se comprometeu a fornecer uma prensa e uma balança ao supermercado e a buscar o material periodicamente, conforme solicitação do supermercado. Por outro lado, o varejista assumiria os custos de mão-de-obra, operacionalização e exclusividade na venda dos produtos. Assim, o supermercado objeto de pesquisa separa, prensa e armazena o papelão e plástico gerado pela loja para, periodicamente, solicitar a coleta do material acumulado. O gráfico 1 demonstra o quando cada produto participou em cada período analisado pelos pesquisadores. 11,6% 22,4% 65,9% 5,5% 23,6% 70,9% 0, 10,6% 7,2% 43,6% 49,2% 11, 35,2% 53,8% 10,5% 37,5% 52, 89,4% Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Papelão Plastico Cx Madeira Gráfico 1 Participação dos produtos reciclados no resultado do período 8

Fonte: Dados da pesquisa Com base no volume total vendido as empresas compradoras de papelão, plástico e caixa de madeira, a pesquisa conseguiu observar a participação de cada um dos itens no resultando financeiro alcançado. Visto que o papelão é o produto de maior volume, o impacto sobre a receita, gerado com a venda, acaba sendo maior. Baseado no faturamento bruto do supermercado objeto de pesquisa, o gráfico 2 apresenta uma análise dos ganhos obtidos com a venda dos produtos. Participação no Faturamento. 0,17% 0,1 0,11% 0,11% 0,08% 0,08% Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Periodo Analisado Gráfico 2 Participação da Logística Reversa no Faturamento Bruto da Empresa Fonte: Dados da pesquisa. O comportamento do volume de vendas tem oscilado ao longo do ano criando uma tendência de crescimento a partir do mês de dezembro/05, pois, a empresa passou a ajustar seu volume de venda às tendências de preços praticados pela empresa compradora de papelão e plástico, gerando assim, flutuação no volume de venda e sua representatividade no faturamento. O gráfico 3 demonstra quanto foi agregado no lucro líquido da empresa com a prática da logística reversa. Assim como no faturamento bruto, uma das causas da oscilação é a participação do papelão na composição da receita sobre a venda de produtos para a reciclagem. 9

Participação no Lucro Liquido... 18% 16% 14% 12% 1 8% 6% 4% 2% 16,9% 10,2% 10,4% 8,6% 6,9% 6,7% Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Periodo Analisado Gráfico 3 Participação da Logística Reversa no Lucro Líquido da Empresa Fonte: Dados da pesquisa. Apresentando um lucro liquido médio de 1,2% sobre o faturamento bruto e de acordo com o estudo realizado, em uma análise do período de Setembro/05 a Fevereiro/06, o resultado apurado gerou uma renda média de aproximadamente 9,9% de receita sobre o lucro liquido da loja objeto de pesquisa. As variações na participação período a período observadas nos gráficos 1 e 2 demonstram uma arrecadação bem acima da média no mês de Outubro/05 e um crescimento a partir do mês de dezembro/06. Este fato aconteceu devido à variação do volume vendido e à variação do preço estabelecido pela empresa compradora do plástico e do papelão que, segundo o proprietário do supermercado, vem caindo com o passar do tempo. Ainda de acordo com o proprietário, no inicio de 2005 conseguia-se até R$0,32 por quilo de papelão, enquanto que em dezembro/05 e inicio de 2006 foi pago R$0,18 por quilo, representando uma queda de aproximadamente 44% em um ano. Mesmo com a queda dos preços e as variações da participação da receita dos produtos reciclados no lucro liquido, que passam a crescer após dezembro/05, uma analise do processo foi feita sobre o investimento dos recursos financeiros arrecadados com a venda dos materiais a empresa de reciclagem. Ficaram assim, identificados os seguintes benefícios: - Qualificação de funcionários através do custeio das despesas com cursos internos e externos a organização Antes da implantação do processo, os investimentos nesta área eram restritos em termos de números de cursos e números de colaboradores participantes. Atualmente, aproximadamente 57% da receita está direcionada para a qualificação e desenvolvimento dos colaboradores. - Compra de equipamentos para a realização de treinamentos A implantação do processo permitiu a empresa investir em equipamentos como computadores e projetor que reduziram os custos dos treinamentos e geraram maior volume de cursos. - Geração de emprego direto e indireto O varejo alimentício objeto de pesquisa, emprega um funcionário para o centro de processamento de materiais da empresa e outro de forma indireta no processo de seleção das caixas de madeira. - Redução do fluxo de lixo das lojas 10

O volume de lixo produzido na loja reduziu e como conseqüência a contribuição da empresa na redução do impacto ambiental local. Atualmente, a loja matriz recolhe o material produzido nas outras lojas da rede. Ao analisar a logística reversa que o supermercado praticava, foi possível mapear uma cadeia de suprimentos reversa da qual a varejista faz parte e está constituída por cinco elementos principais, sendo eles: os fornecedores, o varejo supermercadista, o centro de processamento da empresa, as empresas de reciclagem e por fim, o consumidor final. Essa cadeia de suprimentos reversa está esquematizada na Figura 2. Os fornecedores entregam os produtos comprados embalados em caixas de papelão ou protegidos pelo mesmo, como também, embalados em pallets protegidos por plástico. Já os fornecedores de frutas e verduras entregam os produtos embalados em caixa de madeira. O varejo supermercadista, recebe e abastece as gôndolas com os produtos, separa e envia para o centro de processamento da empresa que prensa, pesa e armazena o material a ser vendido. O papelão e o plástico são vendidos a uma empresa de reciclagem que possui exclusividade de compra e as caixas de madeira são vendidas à produtores rurais que procuram o supermercado para a compra das caixas. Por fim, o papelão e o plástico voltam a indústria que seria o consumidor final do produto sub-acabado e a caixa de madeira volta aos distribuidores de frutas e verduras fechando a cadeia. 11

CADEIA DE RESUPRIMENTOS MATERIAIS DE EMBALAGEM FORNECEDORES EMBALAGEM: PAPELÃO PLASTICO CAIXA de MADEIRA VAREJO SUPERMERCADISTA RECEBIMENTO E SEPARACAO DAS EMBALAGENS CENTRO DE PROCESSAMENTO DA EMPRESA PRENSA E ARMAZENAMENTO DAS EMBALAGENS EMPRESAS DE RECICLAGEM COMPRA E PROCESSAMENTO DAS EMBALAGENS: PAPELÃO, PLASTICO CAIXA DE MADEIRA CONSUMIDOR FINAL SUB-PRODUTO ACABADO FLUXO FINANCEIRO E DE INFORMAÇÕES FLUXO DE MATERIAIS Figura 2 Cadeia de Suprimento Reversa da Logística Reversa na empresa estudada Fonte: Dados da pesquisa. 5. Considerações Finais Com base na pesquisa efetuada, foi possível demonstrar que a prática da logística reversa não só possibilitou a criação de uma fonte alternativa de renda como também criou competitividade e valorização da empresa. Observou-se que o investimento neste projeto agregou a empresa uma receita que até então não existia e gerou recursos adicionais que puderam ser investimentos com desenvolvimento e treinamento. 12

A logística reversa no varejo supermercadista estudado, é praticada com o papelão, o plástico e as caixas de madeira, permitindo a empresa uma abertura de visão. Há um ano o projeto foi ampliado e as sobras de frutas e verduras rejeitadas pelo consumidor e que eram descartadas, agora, antes que os alimentos estraguem, estão indo para a cozinha do supermercado que produz alimentos prontos e semi-prontos. As sobras de frios e açougue também são vendidas, mas ainda não representam um volume financeiro significativo. A pesquisa também permitiu que os pesquisadores estruturassem melhor a cadeia de suprimentos reversa onde o supermercado está participando e que para o supermercado objeto de pesquisa não estava clara no processo. Desta forma, foram feitas algumas sugestões para melhorar o aproveitamento da estrutura e do processo, como por exemplo, formação de parcerias com supermercados de pequeno porte da cidade para compra das embalagens de papelão e plástico que seriam descartadas por eles; criar promoções que estimulem o consumidor a trazer para o mercado embalagens plásticas, papel e papelão em troca de desconto ou produto. Diante desses resultados, confirma-se a importância da logística reversa como também uma ferramenta estratégica para abrir competitividade do varejo supermercadista. No entanto, há alguns aspectos que precisam ser considerados para que a logística reversa tenha esse perfil. Em primeiro lugar, a utilização do potencial de logística reversa está condicionada às decisões estratégicas da empresa, ou seja, é necessário que parta da direção a iniciativa de explorar as oportunidades como forma de agregar no resultados. Em segundo lugar, é necessário também que o processo de logística reversa seja conduzido de maneira a garantir sinergia das decisões, isto é, é preciso que as decisões tomadas em seu âmbito estejam em consonância com as decisões da empresa. Este estudo permite sugerir aos gestores das empresas do varejo alimentício, através dos objetivos propostos e alcançados pela pesquisa, uma maior atenção à questão logística do varejo e principalmente a logística reversa que podemos considerar como uma fonte real de renda e competitividade. Outro fator relevante foi a contribuição da logística reversa na redução de matérias que seriam descartados no meio ambiente e que estariam impactando de forma negativa. Quanto a questão social, abre novas frentes de trabalhos e oportunidades de emprego direto e indireto num setor que, segundo ABRAS (2006) cresceu 2,57% em 2004 e 0,66% em 2005. Finalizando, como pode ser observado, o segmento de varejo pode ser caracterizado, como vivendo um momento de crescente competição no Brasil, existindo uma crescente pressão para a melhoria do desempenho operacional das diversas unidades varejistas. Nesse sentido, este estudo de caso procurou mostrar que a adoção de práticas de logística reversa pode ser uma interessante alternativa de agregação de valor a este segmento. Em um setor de grande concorrência a obtenção de ganhos médios de oito por cento em relação ao lucro é de significativa relevância, principalmente se considerado que a margem de lucro líquido média deste setor gira em torno de dois por cento. Assim sendo, a sugestão, desenvolvida a partir da análise da importância do papel do varejista ao desempenhar o papel de coordenador desta cadeia, é que os ganhos obtidos pelo varejista são de tal magnitude que justificariam encarar-se esta atividade como parte fundamental deste negócio. Neste caso especificamente, os ganhos foram consolidados com a constituição do centro de processamento da empresa, entretanto, alternativas similares que explorem este aspecto podem ser igualmente possíveis. 6. Referências Bibliográficas ABRAS. Disponível em: http://www.abrasnet.com.br. Acesso em: 13 ago. São Paulo: 2004. 13

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