ESTIMATIVAS DOS CUSTOS PARA VIABILIZAR A UNIVERSALIZAÇÃO DA DESTINAÇÃO ADEQUADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL



Documentos relacionados
ESTRATÉGIAS E DESAFIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE MMA

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE MMA

RESÍDUOS SÓLIDOS : as responsabilidades de cada Setor

Desafios na Implementação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Ricardo S. Coutinho Eng. Sanitarista e Ambiental Técnico Pericial Ambiental do MP-GO

A LOGÍSTICA REVERSA DENTRO DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS Cristiane Tomaz

RESÍDUOS SÓLIDOS : as responsabilidades de cada Setor

1º SEMINÁRIO DA AGENDA AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DO JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO

Normatização e legislação aplicada: diretrizes e parâmetros de licenciamento e controle no estado de São Paulo

Departamento de Meio Ambiente DMA/FIESP. Política Nacional de Resíduos Sólidos

O PAPEL DO MUNICÍPIO NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE LEI Nº N /2010 DECRETO Nº N 7.404/2010

A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL INCENTIVA MUDANÇAS E CRIA OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS.

PLANEJAMENTO DA GESTÃO DE RSU

A Política Nacional de Resíduos Sólidos e a questão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Estado do Rio de Janeiro. Quanto à origem Sujeitos à lei

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS e SUA

LOGÍSTICA REVERSA A INICIATIVA DO SETOR DE HIGIENE PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS

EXPO a. Feira Internacional de Equipamentos e Soluções para Meio Ambiente

Política Nacional de Resíduos Sólidos e Logística Reversa

PLANOS MUNICIPAIS DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PMGIRS

PLANO METROPOLITANO DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS COM FOCO EM RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (RSS) E RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E VOLUMOSOS (RCCV)

PLANO DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CIDADE DE SÃO PAULO

4º CONGRESSO SIMEPETRO

AUDIÊNCIA PÚBLICA Política Nacional de Resíduos Sólidos Plano Nacional de Resíduos Sólidos

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

"PANORAMA DA COLETA SELETIVA DE LIXO NO BRASIL"

Em 20 anos, Brasil poderá gerar 280 MW de energia do lixo

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. MINUTA DE EDITAL DE CHAMAMENTO nº...xxxxxx. ACORDO SETORIAL PARA LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALAGENS

POLÍTICA E PLANO ESTADUAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS - RJ

LEI FEDERAL 12305/2010 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Sustentabilidade: A Visão do Ministério Público

Implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos

Título: PGRS Bares e Restaurantes Palestrante: Julia Moreno Lara

SERVIÇOS DE SAÚDE MOSSORÓ

Lei /10 Decreto 7.404/10

PMGIRS e suas interfaces com o Saneamento Básico e o Setor Privado.

POLITICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Produção legislativa regional frente aos acordos setoriais

Logística Reversa. Guia rápido

PROJETO DE LEI N., DE 2015 (Do Sr. DOMINGOS NETO)

PREFEITURA MUNICIPAL DE VILA VELHA Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável

Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS LEI / 08/ 2010 DECRETO 7.404/ 12/ 2010

Contextualização Constituição Federal de Constituição Federal 1988: de 1988:

Parecer Técnico nº 08/2014

Política Nacional de Resíduos Sólidos. Porto Alegre RS

2 Encontro de Lideranças para Sustentabilidade Territorial de Influência de ITAIPU Binacional e Yacyretá. Política Nacional de Resíduos Sólidos

A VISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA IMPLANTAÇÃO DA LEI 12305/10

A Estratégia na Gestão de Resíduos Sólidos no Estado de São Paulo e sua Interface com a Política Nacional de Resíduos Sólidos

Do lixo ao valor. O caminho da Logística Reversa

TERMO DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DE PLANOS DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PGRS

Política Nacional de Resíduos Sólidos. Pernambuco - PE

Incentivo à compostagem como estratégia de aumento da reciclagem de resíduos orgânicos: aspectos regulatórios

11º GV - Vereador Floriano Pesaro

Planos de Resíduos Sólidos: conteúdo mínimo, implantação e deficiências. Compatibilidade dos contratos. Porto Alegre, 21 de agosto de 2015.

TÍTULO: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CIDADE DE POÁ, SP.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS LEI /2010

Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil: Situação e Perspectivas. Odair Luiz Segantini ABRELPE

Definições centrais do Plano Cidades Limpas PLANO REGIONAL DE GESTÃO ASSOCIADA E INTE- GRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS PARA O CIRCUITO DAS ÁGUAS

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA

TERMO DE REFERÊNCIA 1. TÍTULO DO PROJETO

PRÊMIO ESTANDE SUSTENTÁVEL ABF EXPO 2014

Política Nacional de Resíduos Sólidos: perspectivas e soluções

FUNDO DE COLETA SELETIVA E LOGÍSTICA REVERSA COM INCLUSÃO DE CATADORES

Política Estadual de Resíduos Sólidos: Panorama Geral e Desafios da Logística Reversa -As ações do governo do Estado de São Paulo-

RESOLUÇÃO Nº 307, DE 5 DE JULHO DE 2002 (DOU de 17/07/2002)

Prof. Paulo Medeiros

ATO DA COMISSÃO DIRETORA Nº 4, DE 2013.

MMA. D i r e t o r a d e A m b i e n t e U r b a n o S e c r e t a r i a d e Re c u r s o s H í d r i c o s e M e i o U r b a n o

CHAMAMENTO PARA A ELABORAÇÃO DE ACORDO SETORIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMA DE LOGÍSTICA REVERSA DE MEDICAMENTOS EDITAL Nº 02/2013

Ref.: Lei Estadual-RJ nº 6.805, de 18 de junho de 2014 DOERJ

Tratamento de materiais explantáveis: polêmica do descarte de resíduos. Luiz Carlos da Fonseca e Silva

EDITAL N O 01/ DISPOSIÇÕES PRELIMINARES. A proposta de Acordo Setorial a ser apresentada deverá obedecer aos seguintes.

SOLUÇÕES SÓCIO AMBIENTAIS TRATAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Prefeitura Municipal de Jaboticabal

TENDO EM VISTA: O Tratado de Assunção, o Protocolo de Ouro Preto e as Resoluções Nº 91/93, 151/96 e 21/01 do Grupo Mercado Comum.

RESOLUÇÃO N o 307, DE 5 DE JULHO DE 2002 Publicada no DOU nº 136, de 17/07/2002, págs

POLÍTICA NACIONAL DE

Gestão da Limpeza Urbana no Município de São Paulo. Ariovaldo Caodaglio

As Diretrizes de Sustentabilidade a serem seguidas na elaboração dos projetos dos sistemas de abastecimento de água são:

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

APRESENTAÇÃO. Sistema de Gestão Ambiental - SGA & Certificação ISO SGA & ISO UMA VISÃO GERAL

TESTE SELETIVO PARA CONTRATAÇÃO DE ESTAGIÁRIO Nº 001/2014 DEPARTAMENTO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS MUNICÍPIO DE MARMELEIRO-PR

O município e sua atribuição na PNRS o que devemos fazer. Eng. Sebastião Ney Vaz Júnior

SECRETARIA DE ESTADO DO AMBIENTE CONSELHO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE DO RIO DE JANEIRO ATO DO PRESIDENTE

O F I C I N A ESCLARECIMENTO - DMA - FIESP. LOGÍSTICA REVERSA Disposições Transitórias e Finais.

PLANOS MUNICIPAIS DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS A atuação do TCE-RS. Arq. Andrea Mallmann Couto Eng. Flavia Burmeister Martins

PROGRAMA COOPERAÇÃO TÉCNICA FUNASA. twitter.com/funasa

P.42 Programa de Educação Ambiental

RESÍDUO SÓLIDO: UM PROBLEMA SOCIAL, AMBIENTAL E ECONÔMICO.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE LEI Nº / DECRETO NO /2010

Plataforma de Metanização de Resíduos Orgânicos - pmethar

Proposta do SINDILUB de Logística Reversa das Embalagens de Óleos Lubrificantes para Revenda Atacadista

M ERCADO DE C A R. de captação de investimentos para os países em desenvolvimento.

Políticas Públicas Resíduos e Reciclagem. Sérgio Henrique Forini

Eixo Temático ET Gestão de Resíduos Sólidos VANTAGENS DA LOGÍSTICA REVERSA NOS EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS

Posição da indústria química brasileira em relação ao tema de mudança climática

O Sistema Legal de Gestão dos Óleos Lubrificantes Usados ou Contaminados

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE MMA

PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (Módulo: Resíduos Sólidos) Rio Claro SP

O quadro abaixo mostra que a disposição dos resíduos em aterros é aquela que traz menos benefícios ambientais

Transcrição:

ESTIMATIVAS DOS CUSTOS PARA VIABILIZAR A UNIVERSALIZAÇÃO DA DESTINAÇÃO ADEQUADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 1

ESTIMATIVAS DOS CUSTOS PARA VIABILIZAR A UNIVERSALIZAÇÃO DA DESTINAÇÃO ADEQUADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL SÃO PAULO, JUNHO DE 2015 REALIZAÇÃO

FICHA TÉCNICA SUMÁRIO Elaboração GO Associados Equipe GO Associados Coordenadores Gesner Oliveira Fernando S. Marcato Pedro Scazufca Assistente Cláudia Orsini M. de Sousa Consultores revisão técnica Fabricio Dorado Soler Alexandre Citvaras Coordenação e edição Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE Equipe ABRELPE Coordenação Geral Carlos Roberto Vieira da Silva Filho Coordenação Técnica Gabriela Gomes Prol Otero Sartini 1 2 2.1 2.2 2.3 3 3.1 3.1.1 3.1.2 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.2.1 3.2.2.2 3.2.3 3.2.4 4 4.1 4.2 4.3 4.4 5 5.1 5.1.1 5.1.2 5.1.3 5.1.4 5.2 5.2.1 5.2.2 5.2.3 5.3 5.3.1 5.3.2 5.3.3 5.3.4 5.4 5.4.1 5.4.2 5.4.3 6 Introdução... 10 Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)... 12 A Lei n 12.305/2010 e suas principais contribuições... 12 O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares)... 19 Classificação dos resíduos sólidos... 21 Sistemas estruturantes e alternativas de destinação final... 22 Sistemas estruturantes para destinação adequada dos resíduos... 22 Coleta seletiva... 22 Logística reversa... 25 Alternativas de destinação final consideradas... 27 Compostagem... 27 Recuperação energética... 29 Tratamento Térmico... 30 Gás de Aterro Sanitário... 31 Reciclagem... 33 Disposição final ambientalmente adequada: aterro sanitário... 34 Conjuntura do tratamento dos resíduos sólidos no Brasil... 37 Composição dos RSU... 37 Coleta regular... 38 Coleta seletiva... 39 Disposição final dos resíduos sólidos... 41 Modelagem de custos... 44 Metas do Planares... 44 Eliminação de lixões... 46 Redução dos resíduos recicláveis secos dispostos em aterros sanitários... 49 Redução dos resíduos úmidos dispostos em aterros sanitários... 50 Recuperação de gases de aterros sanitários... 52 Metodologia para cálculo de custos... 53 Cenários... 53 Microrregiões... 59 Inflação... 60 Levantamento dos custos relacionados às alternativas de destinação de resíduos... 61 Custo dos sistemas de recepção e triagem dos resíduos sólidos secos... 63 Custo com compostagem... 64 Custo com aterros sanitários... 66 Custo com recuperação energética... 67 Resultados... 68 Resultados para o cenário que desconsidera o tratamento térmico... 69 Resultados para o cenário que considera o tratamento térmico... 70 Resultados regionais... 71 Conclusões... 79 Referências bibliográficas... 84 4 5

SUMÁRIO DE QUADROS Quadro 1 Quadro 2 Quadro3 Quadro4 Quadro5 Quadro6 Quadro7 Quadro8 Quadro9 Quadro10 Quadro11 Quadro12 Quadro13 Quadro14 Quadro15 Quadro16 Quadro17 Quadro18 Quadro19 Quadro20 Quadro21 Quadro22 Quadro23 Quadro24 Quadro25 Quadro26 Quadro27 Quadro28 Quadro29 Quadro30 Principais objetivos da Lei Federal n 12.305/10 Conceitos de resíduos e rejeitos Conceitos de destinação e disposição Etapas no gerenciamento de resíduos sólidos Fluxo de serviços de limpeza urbana, conforme a PNRS Conceitos: responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e logística reversa Plano de resíduos sólidos por abrangência Estrutura do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (versão preliminar) Classificação dos resíduos sólidos segundo a PNRS Funções de diferentes atores na coleta seletiva dos resíduos secos Possíveis destinos para cada classe de resíduos ou rejeitos Centrais mecanizadas de triagem de materiais recicláveis secos no município de São Paulo Procedimento da logística reversa Produtos obrigatórios ao sistema de logística reversa nos termos da Lei n 12.305/2010 Vantagens e desvantagens da compostagem Vantagens e desvantagens da incineração Vantagens e desvantagens da captação de biogás em aterros sanitários Vantagens e desvantagens da reciclagem Ciclo de vida de aterros sanitários Vantagens e desvantagens da disposição final em aterros sanitários Síntese dos dados do Panorama 2013 Participação dos principais materiais no total de RSU coletado no Brasil em 2012 Evolução da coleta de RSU Universalização de coleta seletiva: municípios com iniciativas de coleta seletiva Municípios com serviço de coleta seletiva - Área de abrangência Disposição dos RSU coletados no Brasil (ton/dia) Metas para resíduos sólidos urbanos Quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final inadequada Número de municípios brasileiros que se utilizam de cada tipo de destinação final de resíduos (2013) Metas de redução de resíduos sólidos secos dispostos em aterros sanitários (%) Quadro31 Quadro32 Quadro33 Quadro34 Quadro35 Quadro36 Quadro37 Quadro38 Quadro39 Quadro40 Quadro41 Quadro42 Quadro43 Quadro44 Quadro45 Quadro46 Quadro47 Metas de redução de resíduos sólidos úmidos dispostos em aterros sanitários (%) Metas de tratamento e recuperação de gases em aterros sanitários (Mw) Premissas para estimativa de potencial energético de recuperação de gases de aterro sanitário Esquema geral dos sistemas estruturantes e das alternativas de destinação dos RSU Diagrama da destinação de RSU no Brasil, sem tratamento térmico, para 2023 e 2031 Diagrama da destinação de RSU no Brasil, com tratamento térmico para 2023 e 2031 Inflação real anual Custos de instalação de PEV Custos de instalação (Capex) e operação (Opex) de galpões de triagem e beneficiamento primário Custos de instalação (Capex) e operação (Opex) para unidades de compostagem Custos para implantação e operação de aterros sanitários Custos para implantação e operação de unidades de unidades de tratamento térmico. Distribuição de investimentos até 2031, desconsiderando o tratamento térmico (em R$ bilhões) Distribuição de investimentos até 2031, considerando o tratamento térmico (em R$ bilhões) Investimentos em infraestrutura (Capex) necessários para cada região do Brasil (em R$ bilhões) Distribuição dos investimentos em resíduos sólidos por região Relação entre PIB per capita e investimentos necessários para adequação da destinação de resíduos sólidos nas unidades federativas 6 7

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CI GEE IBAM PGRM PLANARES PLANSAB PNMC PNRH PNRS PPCS RCC RSU SINIR SMA SNVS Comitê Interministerial Gases de efeito estufa Instituto Brasileiro de Administração Municipal Planos de Gerenciamento de Resíduos de Mineração Plano Nacional de Resíduos Sólidos Plano Nacional de Saneamento Básico Plano Nacional sobre Mudanças do Clima Plano Nacional de Recursos Hídricos Política Nacional de Resíduos Sólidos Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis Resíduos da Construção Civil Resíduos Sólidos Urbanos Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Secretaria do Meio Ambiente Sistema Nacional de Vigilância Sanitária 8 9

1 - INTRODUÇÃO I) Apresentação das metas sugeridas pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos; O objetivo deste Estudo é estimar o valor dos investimentos necessários para universalizar os serviços de tratamento e destinação ambientalmente adequada de resíduos sólidos no Brasil, conforme Diretrizes da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). Para isso, foram analisados os sistemas estruturantes e as alternativas de destinação final de resíduos sólidos, disponíveis e aplicáveis no país; foi avaliado o atual nível de desenvolvimento do setor; e foi realizada projeção do volume de investimento necessário para atingir a adequação. II) Apresentação das alternativas de destinação correta dos RSU no país; III) Discussão da metodologia utilizada para estimativa de investimentos necessários para universalização do tratamento de resíduos sólidos urbanos; IV) Apresentação das estimativas de investimentos necessários, por tipo de tratamento, e avaliação por região. O documento está organizado em seis seções, incluindo esta introdução. A Seção 2 analisa a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). Para tanto, são apresentados a Lei Federal nº 12.305/2010, que instituiu a referida Política, e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), que traz metas para gestão e gerenciamento dos resíduos e apresenta estratégias para atingi-las. Ainda nessa Seção, é apresentada a classificação dos diferentes tipos de resíduos sólidos. Por fim, a Seção 6 apresenta as conclusões obtidas a partir do Estudo, além de fornecer sugestões para aprimoramento das informações existentes. Este Estudo está baseado em fontes públicas, devidamente citadas ao longo do texto. A Seção 3 apresenta os sistemas estruturantes e as alternativas de destinação final ambientalmente adequada consideradas para o tratamento dos resíduos sólidos. A Seção 4 discorre sobre a conjuntura atual do tratamento dos resíduos sólidos no Brasil. A Seção 5 apresenta uma estimativa de investimentos necessários para a adequação do tratamento e da destinação correta de resíduos sólidos no país. Para tanto foram adotadas as seguintes etapas: 10 11

2 - A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS) O objetivo desta Seção é apresentar os aspectos relevantes da Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Nas subseções que se seguem, serão apresentados também o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, criado para servir como guia de ação para implementação das determinações da PNRS, bem como serão descritos os diversos tipos de resíduos, abordados pela Lei, com destaque àqueles que foram considerados para as estimativas do presente Estudo. 2.1 - A LEI N 12.305/2010 E SUAS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES A Política Nacional de Resíduos Sólidos é contemplada pela Lei n 12.305/2010 que, de forma genérica, compreende o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal (BRASIL, 2010a, art. 4o) no âmbito da gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, seja isoladamente, seja em conjunto a particulares ou aos demais entes federados, incluindo o Distrito Federal. Em seu artigo 7º, são elencados os principais objetivos da PNRS, apresentados no Quadro 1. A Lei n 12.305/2010 institui, de fato, um novo marco regulatório para os resíduos sólidos, tendo como diretriz basilar a não geração, a redução, a reciclagem, o tratamento dos resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Nela são consideradas as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública, bem como a promoção do desenvolvimento sustentável e da ecoeficiência (SOUSA, 2012). QUADRO 1 PRINCIPAIS OBJETIVOS DA LEI FEDERAL N 12.305/10 Lei n⁰ 12.305/10 - Objetivos (Art. 7⁰) Proteção da saúde pública e da qualidade ambiental; Não geração, redução, reutilização, tratamento e disposição final adequada; Adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas; Diminuição do uso dos recursos naturais no processo de produção de novos produtos; Intensificação de ações da educação ambiental; Desenvolvimento da indústria da reciclagem no país; Articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial; Promoção da inclusão social, por meio da geração de emprego e renda para catadores de materiais recicláveis; Gestão integrada dos resíduos sólidos. Fonte: BRASIL, 2010 (a). Elaboração GO Associados. Além disso, a PNRS prevê a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto e a logística reversa, definidas mais adiante (Quadro 7). Com esses dois conceitos, a PNRS apresenta atribuições não apenas dos fabricantes, mas também de todos os outros participantes da cadeia: importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e poder público responsável pelos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos. Trata-se, portanto, de uma inovação na maneira de a sociedade se organizar dentro desta temática. A PNRS determina que os resíduos sólidos devam ser tratados e recuperados por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, antes de sua disposição final. São exemplos de tratamentos passíveis de serem aplicados no país a compostagem, a recuperação energética, a reciclagem e a disposição em aterros sanitários. 12 13

No contexto do tratamento de resíduos sólidos, a Lei traz distinções inovadoras. São os conceitos de resíduos sólidos e rejeitos, descritos no Quadro 2, e os de destinação final ambientalmente adequada e disposição final ambientalmente adequada, no Quadro 3. Resíduos sólidos Material, substância, objeto ou bem descartado, resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d'água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Rejeitos QUADRO 2 CONCEITOS DE RESÍDUOS E REJEITOS Resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. Fonte: BRASIL, 2010 (a). QUADRO 3 CONCEITOS DE DESTINAÇÃO E DISPOSIÇÃO Destinação final ambientalmente adequada Destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa. Disposição final ambientalmente adequada Distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos. Fonte: BRASIL, 2010 (a). Ao fazer a diferenciação entre resíduos e rejeitos, a Lei define as ações e os destinos mais apropriados a cada um deles. Nesse sentido, os rejeitos são resíduos sólidos que não podem mais ser recuperados, cabendo-lhes somente a disposição em aterros sanitários (SILVA FILHO & SOLER, 2013). Percebe-se que os processos de destinação listados pela Política guardam consideráveis distinções entre si. Conforme ressaltaram Silva Filho & Soler (2013), alguns processos de tratamento de resíduos têm por finalidade o aproveitamento dos resíduos ou seus componentes, e outros, seu tratamento, enquanto na disposição final se procede à eliminação dos rejeitos. O aterro sanitário é a maneira considerada ambientalmente correta para a eliminação dos rejeitos, ou seja, uma operação que não visa, como fim, sua valorização. Já a utilização do resíduo como combustível para a produção de energia, a compostagem e a reciclagem são operações de valorização, ou seja, operações cujo resultado principal seja sua transformação, de modo a servir a um fim útil (SILVA FILHO & SOLER, 2013). Destaca-se, nos conceitos elucidados, a diferença entre destinação e disposição finais ambientalmente adequadas. A primeira refere-se a resíduos sólidos que possuem potencial de aproveitamento energético ou de tratamento, enquanto a segunda dispõe sobre rejeitos que não apresentam outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada (Brasil, 2010a; art. 3º; inciso XV). Vale ressaltar que a disposição é considerada ambientalmente adequada quando respeitadas normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos (BRASIL, 2010(a), art. 3º, inciso VII;). Unindo as definições dos Quadros 2 e 3 tem-se que, enquanto as modalidades de destinação final ambientalmente adequada são dire- 14 15

cionadas para receber a ampla gama de resíduos, o legislador restringiu apenas os rejeitos para os aterros sanitários, estabelecendo a diferenciação entre duas classes: resíduos e rejeitos (SILVA FILHO & SOLER, 2013). No Quadro 4, a seguir, são elucidadas as etapas na gestão de resíduos. QUADRO 5 - FLUXO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA URBANA, CONFORME A PNRS Geração Redução Reutilização Conservação dos Recursos naturais QUADRO 4 - ETAPAS NO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS Destinação Final Rejeitos Resíduos Coleta Separação/Triagem Valorização Mecânica Valorização Biologica Disposição Final Disposição de rejeitos Coleta Rejeitos Tratamento/ Recuperação Reciclagem Valorização Energética Fonte: PAIVA, s.d. Elaboração GO Associados. Aterro Sanitário Recuperação/ Aproveitamento de biogás Fonte: Silva Filho, 2012. Elaboração: GO Associados. De maneira bastante sintética, pode-se afirmar que a PNRS tem por objetivos a eficiência nos serviços e o estabelecimento de um sistema de gestão integrada de resíduos sólidos, voltada para seu aproveitamento como recurso. Com a diferenciação entre resíduos sólidos e rejeitos, trazida pela PNRS, aliada às definições de destinação e disposição final ambientalmente adequada, uma nova fase deverá ser iniciada na execução dos serviços de limpeza urbana, com a substituição do sistema linear de gestão de resíduos, até então adotado, por um sistema cíclico (SILVA FILHO, 2012). O autor ressalta que tal sistema cíclico garante o cumprimento das diretrizes da PNRS, em especial da determinação de aplicação de uma ordem de prioridade de ações, veiculada pelo dispositivo que estabelece a hierarquia na gestão e no gerenciamento dos resíduos sólidos (Quadro 5). A magnitude da abrangência da Lei tem como base alguns critérios que envolvem diversos agentes econômicos e sociais. Na interpretação de Lopes (2003), a falta de conscientização da população diante dos problemas relacionados aos resíduos é o ponto de maior importância a ser trabalhado pelos agentes públicos. A necessidade de sinergia entre diversos agentes da sociedade brasileira, para atingir os objetivos traçados pela Lei, criou mecanismos importantes de gestão. O Quadro 6 apresenta dois conceitos que corroboram a característica estruturante da legislação analisada: a responsabilidade compartilhada e a logística reversa. 16 17

QUADRO 6 CONCEITOS: RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA PELO CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS E LOGÍSTICA REVERSA Responsabilidade compartilhada Conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos. Objetiva minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, além de reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos. Logística reversa Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. Fonte: BRASIL, 2010 (a). Neste contexto, criam-se condições favoráveis à participação de diversas entidades e organizações da sociedade civil em todas as etapas de políticas públicas de resíduos sólidos de diferentes entes federados. Assim, pode-se concluir que o sucesso da Lei n 12.305/2010 depende também da participação popular (SOUSA, 2012). 2.2 - O PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PLANARES) O Plano Nacional de Resíduos Sólidos é instrumento da Lei nº 12.305/2010. É uma ferramenta que, juntamente com os planos de resíduos sólidos de outras esferas (Quadro 7), visa auxiliar a execução da PNRS. QUADRO 7- PLANO DE RESÍDUOS SÓLIDOS POR ABRANGÊNCIA I - Plano NACIONAL de resíduos sólidos II - Planos ESTADUAIS de resíduos sólidos III - Planos MICRORREGIONAIS de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos de REGIÕES METROPOLITANAS ou aglomerações urbanas IV - Planos INTERMUNICIPAIS de resíduos sólidos V - Planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos A abrangência da Lei para diversos agentes econômicos e sociais, sejam eles de direito público ou privado, reflete-se inclusive na responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Observa-se, neste sentido, um viés evidentemente abrangente à sociedade como um todo, na medida em que responsabiliza também o consumidor pela redução do volume de resíduos sólidos gerados. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, portanto, contribui significativamente para a universalização da gestão ambientalmente adequada de resíduos sólidos no Brasil, e tem sua regulamentação através do Decreto Federal nº 7.404/2010, que institui normas para a execução da mesma. VI - Planos de gerenciamento de resíduos sólidos Fonte: BRASIL, 2010 (a) e (b). Elaboração GO Associados. O Plano foi objeto de discussão em cinco audiências públicas regionais, uma audiência pública nacional e consulta pública via internet. Ele ainda se encontra em sua versão preliminar, uma vez que não foi aprovado pelo Conselho Nacional da Política Agrícola 1. 1 Previa-se que o Plano fosse encaminhado para cinco Conselhos Nacionais relacionados à temática dos resíduos sólidos: Meio Ambiente (CONAMA), das Cidades (ConCidades), dos Recursos Hídricos (CNRH), da Saúde (CNS) e da Política Agrícola (CNPA). Esse último, por sua vez, foi o único que ainda não aprovou o Plano, uma vez que, na prática, esse Conselho não existe. Criado em 1991, até hoje não ocorreu nenhuma reunião dos membros do referido Conselho, o que criou um impasse no tocante à aprovação do Planares. 18 19

Quando publicado e em vigor, o Planares contribuirá para a implementação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, uma vez que define diretrizes, estratégias e metas, pautado em possíveis cenários sobre o assunto. Ele apresenta objetivos intermediários a serem alcançados nos anos de 2015, 2019, 2023, 2027. Com a definição de metas intermediárias para esses anos, torna-se mais fácil atingir a universalização, nos moldes do Plano, prevista para 2031. O Planares tem estreita relação com os Planos Nacionais de Mudanças do Clima (PNMC), de Recursos Hídricos (PNRH), de Saneamento Básico (PLANSAB) e de Ação para a Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS). Além disso, apresenta conceitos e propostas que refletem a interface entre diversos setores da economia, compatibilizando crescimento econômico e preservação ambiental com desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2012b). Sua estrutura consiste em sete capítulos principais, representados no Quadro 8. QUADRO 8 ESTRUTURA DO PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (VERSÃO PRELIMINAR) Capitulo I PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS Descrição Diagnóstico da situação dos resíduos sólidos no Brasil 2.3 - CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS Para entender as metas do Planares, entretanto, é necessário entender os diferentes tipos de resíduos produzidos. Pela PNRS, os resíduos sólidos são classificados quanto à origem e quanto à periculosidade. A classificação presente na legislação encontra-se resumida no Quadro 9. QUADRO 9 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS SEGUNDO A PNRS Resíduos Sólidos classificados quanto à origem Resíduos domiciliares Resíduos de limpeza urbana Resíduos sólidos urbanos Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico Resíduos industriais Resíduos de serviço de saúde Resíduos da construção civil Resíduos agrossilvipastoris Resíduos Sólidos classificados quanto à periculosidade II Cenarização Resíduos perigosos Resíduos não perigosos III IV V VI VII Educação ambiental Diretrizes e estratégias Metas Programas e ações de resíduos sólidos Participação e controle social na implementação e acompanhamento do plano Fonte: BRASIL, 2012b. Elaboração GO Associados. Fonte: BRASIL, 2012a. Elaboração GO Associados Dentre as categorias apresentadas, a de resíduos sólidos urbanos (RSU) é a mais relevante para este trabalho, sendo composta pelos resíduos sólidos domiciliares e pelos resíduos de limpeza urbana. 20 21

3 - SISTEMAS ESTRUTURANTES E ALTERNATIVAS DE DESTINAÇÃO FINAL O objetivo desta Seção é apresentar as principais tecnologias existentes para valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos, em cumprimento àquilo que determina a PNRS. Foram analisadas as tecnologias que podem ser incluídas no gerenciamento dos RSU no Brasil, tais como: compostagem, recuperação energética e disposição final em aterros sanitários. Além disso, são descritas previamente as ações de gerenciamento fundamentais à viabilização de tais tecnologias de tratamento dos RSU. 3.1 - SISTEMAS ESTRUTURANTES PARA DESTINAÇÃO ADEQUADA DOS RESÍDUOS 3.1.1 - COLETA SELETIVA Pela Lei n 12.305/2010, a coleta seletiva é definida como a coleta de resíduos sólidos previamente separados de acordo com sua constituição e composição (BRASIL, 2010a). A coleta seletiva constitui um instrumento fundamental para atingir metas de redução e tratamento, tanto de resíduos secos quanto de resíduos úmidos. É um projeto que envolve o setor público, a sociedade civil (cidadão) e a indústria, principalmente no que se refere à interface da coleta seletiva dos resíduos secos com a logística reversa, especialmente a de embalagens em geral (Quadro 10). QUADRO 10 FUNÇÕES DE DIFERENTES ATORES NA COLETA SELETIVA DOS RESÍDUOS SECOS Agente Ação Setor Público Responsável pelo planejamento, execução e controle do sistema. Cidadão Responsável pela separação dos materiais recicláveis na fonte e disponibilização dos mesmos. Indústria Responsável por estruturar e viabilizar o sistema de logística reversa e sua eventual interface com a coleta seletiva. Elaboração: GO Associados. O sistema de coleta seletiva deve ser implantado pelo titular do serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Os geradores de resíduos sólidos, por sua vez, devem segregá-los e disponibilizá-los adequadamente, na forma estabelecida pelo titular do serviço. Por fim, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes devem estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos, após o uso pelo consumidor. A coleta seletiva também auxilia na implantação dos sistemas de valorização e tratamento de resíduos, previstos na Lei n 12.305. O Decreto n 7.404 prevê que os resíduos devem ser separados em, no mínimo, duas frações: secos e úmidos. Progressivamente, a separação deve ser estendida, segregando os resíduos secos em suas parcelas específicas. No presente Estudo, optou-se por considerar a separação dos resíduos em três frações: uma seca, uma úmida, e outra contendo resíduos contaminados ou que não podem, por diversos motivos, ser recuperados ou reaproveitados, considerados genericamente como rejeitos. Com a separação de resíduos orgânicos (úmidos), secos e rejeitos, facilita-se a destinação ao tipo de tratamento mais adequado, como mostra o Quadro 11. QUADRO 11 POSSÍVEIS DESTINOS PARA CADA CLASSE DE RESÍDUOS OU REJEITOS Residuos Organicos Residuos Secos Rejeitos Fonte: SANTOS (2013); elaboração GO Associados. Compostagem e Biodigestão Reciclagem Disposição Final (Aterro Sanitário) 22 23

Além dos destinos mais indicados para cada classe, vale ressaltar que, tanto na fração orgânica quanto na fração seca, há um volume de resíduos que não possibilita o aproveitamento por processos biológicos ou mecânicos. Para esses, uma destinação possível é a recuperação energética, antes de seu encaminhamento para o aterro sanitário. Os programas de coleta seletiva de resíduos secos no Brasil e no mundo, em geral, apresentam duas modalidades básicas que são: Porta a porta: coleta realizada em dias específicos da semana, com equipamentos adequados, coletando os materiais pré-separados nos domicílios. O poder público responsável trafega pelas vias das cidades, recolhendo os resíduos disponibilizados. Postos de Entrega Voluntária (PEVs): consiste no uso de caçambas ou contêineres, instalados, geralmente, em pontos estratégicos para onde a população possa levar os materiais previamente segregados. Após a coleta seletiva, os resíduos secos devem seguir para as centrais de triagem, cujo modelo mecanizado pode ser observado no Quadro 12, onde são separados por tipos e armazenados para serem encaminhados aos processos de reciclagem. 3.1.2 - LOGÍSTICA REVERSA A PNRS, em seu art. 31, prevê que, com vistas a fortalecer a responsabilidade compartilhada, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes devem considerar, no momento de fabricação de produtos, a possibilidade de reutilização e reciclagem dos mesmos após o uso, bem como divulgar informações e organizar o recolhimento de produtos e dos resíduos remanescentes. A logística reversa consiste no retorno de embalagens e outros materiais à produção industrial, após o consumo e o descarte pela população, possibilitando seu reaproveitamento (Quadro 13). Trata-se de um instrumento de desenvolvimento econômico e social que tem como intuito viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial. QUADRO 12 CENTRAIS MECANIZADAS DE TRIAGEM DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SECOS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO QUADRO 13 PROCEDIMENTO DA LOGÍSTICA REVERSA Matéria Prima Indústria Centro Distribuidor Varejo Consumidor Matérias Primas Secundárias Mercado Original e Mercado Secundário Retorno Coleta Pós Venda Componentes Secundários Desmanche/ Reciclagem Consolidação Pós Venda Fonte: LEITE, 2012. Elaboração GO Associados. Fonte: ABRELPE. 24 25

A logística reversa possui estreita relação com o princípio do poluidor pagador, o qual imputa o ônus de arcar com os custos do impacto diretamente àquele que utilizou o recurso natural (SILVA FILHO & SOLER, 2013). Aplicada ao caso dos produtos pós-consumo, esse princípio recai sobre toda a cadeia de suprimentos - fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores finais (LEITE, 2012), afinal todos têm influência nos efeitos ambientais negativos que os resíduos podem gerar. Com a Lei n 12.305, torna-se obrigatório, a partir da celebração de acordo setorial, o processo de implantação e operacionalização de sistema de logística reversa para as seguintes classes de produtos: agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas fluorescentes, equipamentos eletrônicos, embalagens e medicamentos (Quadro 14). Ficam responsáveis pelo processo de logística reversa fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes (BRASIL, 2010a; art.33). QUADRO 14 PRODUTOS OBRIGATÓRIOS AO SISTEMA DE LOGÍSTICA REVERSA NOS TERMOS DA LEI N 12.305/2010 Medicamentos Agrotóxicos Pilhas e Baterias 3.2 - ALTERNATIVAS DE DESTINAÇÃO FINAL CONSIDERADAS Conforme mencionado anteriormente, a PNRS determina que os resíduos sólidos devam ser tratados e recuperados por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, previamente à sua disposição final ambientalmente adequada. Entende-se que se trata de tecnologias que estejam desenvolvidas em escala que permita sua aplicação nas diferentes localidades, levando-se em conta seu custo- -benefício. Tendo isso em vista, as próximas Subseções apresentam as tecnologias que atualmente têm a possibilidade de serem implantadas no Brasil, considerando as características econômicas, financeiras, ambientais e sociais. Tais sistemas já existem em escala comercial e já possuem eficácia comprovada, o que, dentre outros fatores, justifica a preferência pelos mesmos em relação a outras tecnologias. 3.2.1 - COMPOSTAGEM Embalagens em geral LOGÍSTICA REVERSA Pneus A Política Nacional dos Resíduos Sólidos prevê, em seu artigo 36, inciso V, que o titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos deve implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos urbanos, além de articular com os agentes econômicos Fonte: BRASIL, 2010 (a). Elaboração GO Associados. Produtos Eletro- Eletrônicos Lâmpadas Óleos lubrificantes e sociais formas de utilização do composto produzido (BRASIL, 2010a). A compostagem é um processo biológico de decomposição aeróbia da matéria orgânica contida em resíduos de origem animal ou vegetal. Esse processo gera, como principal resultado, um produto que pode ser 26 27

aplicado no solo para melhorar suas características de produtividade, sem ocasionar riscos ao meio ambiente (BNDES, 2014). A versão preliminar do Planares (BRASIL, 2012b) propõe a implantação de novas unidades de compostagem, que devem vir acompanhadas de: Na compostagem, microrganismos são responsáveis, num primeiro momento, por transformações químicas na massa de resíduos, e, num segundo momento, pela humificação. O composto resultante, o húmus, pode ser utilizado como fertilizante (tanto para a agricultura quanto para áreas verdes urbanas) apresentando, portanto, valor econômico (CATAPRETA, 2008; RUSSO, 2011). No Quadro 15, são elencadas as vantagens e desvantagens do processo de compostagem. Tecnologia Compostagem QUADRO 15 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA COMPOSTAGEM Vantagens Baixa complexidade na obtenção da licença ambiental. Facilidade de monitoramento Diminuição da carga orgânica do rejeito a ser enviado ao aterro, minimizando os volumes a serem dispostos. Tecnologia conhecida e de fácil implantação. Viabilidade comercial para venda do composto gerado. Fonte: ICLEI, 2011; BNDES, 2014. Elaboração GO Associados. Desvantagens Necessidade de investimentos em mecanismos de mitigação dos odores e efluentes gerados no processo. Requer pré-seleção da matéria orgânica na fonte. Necessidade de desenvolvimento de mercado consumidor do composto gerado no processo. Apesar da massa de resíduos sólidos urbanos gerada no Brasil apresentar alto percentual de matéria orgânica - 51,4%, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA 2012) 2 -, as experiências de compostagem no país são ainda incipientes. O resíduo orgânico, por não ser coletado separadamente, acaba sendo encaminhado para disposição final (em lixões, aterros controlados ou aterros sanitários). Adequação dos critérios técnicos para obtenção do licenciamento ambiental do empreendimento, por meio, por exemplo, do estabelecimento de diferentes níveis de exigências em função da quantidade de resíduo orgânico a ser tratado por meio da compostagem; Campanhas de educação ambiental para conscientizar e sensibilizar a população na separação da fração orgânica dos resíduos gerados na fonte; Coleta seletiva dos resíduos orgânicos, uma vez que a qualidade final do composto é diretamente proporcional à eficiência na separação. 3.2.2 RECUPERAÇÃO ENERGÉTICA O tratamento dos RSU por processos de recuperação energética é aceito pela legislação brasileira, sendo previsto na Lei Federal n 12.305/2010, em seu art. 9, 1, conforme segue: Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovados pelo órgão ambiental (BRASIL, 2010a). 2 Para esta estimativa, foram utilizados dados da composição gravimétrica média do Brasil, que são provenientes de 93 estudos de caracterização física, realizados entre 1995 e 2008. 28 29

Os principais produtos energéticos que podem ser obtidos através do aproveitamento dos RSU são: o biogás (gerado em aterros sanitários ou na digestão anaeróbia); a eletricidade (gerada a partir do biogás ou do tratamento térmico); e o calor (produzido juntamente com a eletricidade, em processo de cogeração). Além da geração de energia, que pode ser comercializada, o tratamento com recuperação energética traz outra vantagem, que é a redução do volume de rejeitos a serem encaminhados para disposição final, contribuindo para a diminuição de área necessária para aterros sanitários (EPE, 2014), bem como o prolongamento de sua vida útil. 3.2.2.1 - TRATAMENTO TÉRMICO Tecnologia Incineração QUADRO 16 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA INCINERAÇÃO Vantagens Desvantagens Aplicável a diversos tipos de resíduos. Aumento da vida útil dos locais para disposição final. Degradação completa dos resíduos e quebra das moléculas dos componentes perigosos. Possibilidade de instalação em áreas próximas a centros urbanos, reduzindo custos de coleta e transporte. Alto custo de implantação. Requer uma entrada constante de resíduos com alto poder calorífico. Geração de rejeitos, que devem ser corretamente dispostos de acordo com a sua composição. Demanda por sistema de tratamento dos gases. Um dos processos mais conhecidos e utilizados no mundo para a recuperação energética é a incineração, que consiste no tratamento térmico, com consequente redução do volume dos resíduos. A energia recuperada pode ser utilizada para produção de calor e geração de energia elétrica (BNDES, 2014). A incineração dos RSU produz gases de combustão, os quais são fonte de energia térmica graças à geração de vapor superaquecido em caldeiras de recuperação de calor. Após trocarem calor dentro da caldeira, esses gases são tratados com o objetivo de abatimento de poluentes (entre eles NOx, SOx, HCl, etc.), de acordo com os limites exigidos pelas legislações vigentes. O monitoramento e o controle das emissões dos poluentes são efetuados por meio de sistemas de análise contínuos, instalados na chaminé (ABRELPE, 2012b). Algumas vantagens desse processo, além daquelas já mencionadas anteriormente, estão relacionadas à geração de energia limpa e descentralizada e à mitigação da geração de gases de efeito estufa e redução da dependência de combustíveis fósseis (SOUSA, 2012). No Quadro 16 são elencadas as principais vantagens e desvantagens relacionadas à incineração de resíduos com geração de energia. Fonte: ABRELPE (b), 2012; ICLEI, 2011. Elaboração GO Associados. 3.2.2.2 - GÁS DE ATERRO SANITÁRIO Outro método disponível para fins de recuperação energética dos resíduos é a captação de biogás em aterros sanitários, para geração de energia. Nesse tipo de empreendimento há uma rede coletora dos gases gerados no processo de decomposição anaeróbia dos resíduos aterrados que os encaminha, por meio de drenos verticais e horizontais, para uma unidade de geração de energia (BNDES, 2014). Segundo estudo do Ministério de Minas e Energia, a tecnologia de aproveitamento do biogás produzido nos aterros sanitários é o uso energético mais simples dos resíduos sólidos urbanos, uma alternativa que pode ser instalada na maioria das unidades já existentes (EPE, 2014). Por contarem obrigatoriamente com sistemas de drenagem e captação do gás, os aterros sanitários tornam-se mais atrativos para a recepção de sistemas de geração de energia elétrica (ARCADIS, 2010). Segundo o Atlas Brasileiro de Emissões de GEE e Potencial Energético na Destinação 30 31

de Resíduos Sólidos (ABRELPE, 2013b), há no Brasil 23 projetos reportados que consideram a captura e o aproveitamento energético do biogás, o que representa cerca de 50% dos projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) 3 do país no setor de resíduos sólidos e aterros. A maior parte dos projetos está situada na região Sudeste (16 ao todo). Estima-se que até 2018, a captura e o aproveitamento energético do biogás em aterros no Brasil possam chegar a mais de 180.000 toneladas de CO2 equivalente (tco2e). A média anual estimada é de 155.112 tco2e (ABRELPE, 2013b). A utilização do biogás como combustível para geração de energia elétrica ou para conversão em combustível e calor não apenas aproveita de forma sustentável os subprodutos da disposição dos resíduos sólidos em aterros sanitários, como também evita que o gás metano nele contido seja emitido para a atmosfera (ARCADIS, 2010). Assim, defende-se que deva haver incentivos públicos para a elaboração e execução de projetos de recuperação e aproveitamento de biogás, considerando-se os benefícios que esses projetos podem trazer. QUADRO 17 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CAPTAÇÃO DE BIOGÁS EM ATERROS SANITÁRIOS Tecnologia Vantagens Desvantagens Captura de biogás em aterros sanitários Eliminação da emissão de metano oriundo da decomposição da matéria orgânica. Geração de energia para consumo próprio do aterro sanitário e venda do excedente. Geração de créditos do carbono. Fonte: PARO et al., 2008. Elaboração GO Associados. Processo menos eficiente que outros de recuperação energética. Demanda por operação e sistema de captação de gás com alta eficiência. Irregularidade de sua geração ao longo da vida útil do aterro. 3 De acordo com o Protocolo de Quioto (que fixa metas de redução voluntária de gases do efeito estufa - GEEs), a captação do biogás em aterros sanitários para geração de energia é considerada um MDL, podendo gerar créditos de carbono para países em desenvolvimento, uma vez que contribui para a redução do efeito estufa. Com o MDL, qualquer país sem teto de emissões de GEEs pode desenvolver projetos de redução de emissões e receber créditos por isso, podendo vender tais créditos no mercado de carbono. O Quadro 17 apresenta as principais vantagens e desvantagens da captação de biogás em aterros sanitários. Para o presente Estudo, foi considerado que a captação de biogás em aterros sanitários utilize motores recíprocos de combustão interna (CI). Segundo o Atlas Brasileiro de Emissões de GEE e Potencial Energético na Destinação de Resíduos Sólidos (ABRELPE, 2013b), trata-se da tecnologia de conversão mais comumente utilizada nas aplicações de gás de aterro. As vantagens da opção escolhida são o baixo custo de capital, a confiabilidade no processo, os menores requisitos para processamento de combustível se comparados às turbinas, e a adequação de porte para aterros de dimensões moderadas. 3.2.3 - RECICLAGEM A reciclagem é o processo de transformação de resíduos sólidos que envolve a alteração de propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos (BRASIL, 2010a). Em outras palavras, consiste no beneficiamento e reaproveitamento de materiais. Deve-se considerar que a reciclagem permite a substituição de insumos para cuja produção há, normalmente, grande consumo de energia. Por aliviar pressões de demanda de matérias-primas e de energia, a reciclagem se constitui, em princípio, em uma forma ambientalmente eficiente de aproveitamento energético dos RSU (EPE, 2014). No Quadro 18 são elencadas as vantagens e desvantagens deste tipo de destinação de resíduos. 32 33

Tecnologia Reciclagem QUADRO 18 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA RECICLAGEM Vantagens Diminuição de materiais a serem coletados e dispostos, aumentando a vida útil dos aterros sanitários. Economia no consumo de energia. Geração de emprego e renda. Preservação de recursos naturais e insumos. Fonte: ICLEI, 2011. Elaboração GO Associados. Desvantagens Custo de uma coleta diferenciada. Necessidade de participação ativa da população. Alteração do processo tecnológico para o beneficiamento, quando da reutilização de materiais no processo industrial. A atividade de reciclagem envolve diversas etapas e processos e não representa uma atividade de baixo custo. Por isso, é importante que, junto com sua implementação, seja incentivada a formação de um mercado de material reciclado, de forma a tornar o processo mais eficiente e rentável (SOUSA, 2012). A transformação de resíduos em novos insumos e matéria prima é uma atividade econômica integrante de um sistema industrializado, portanto, realizada por empresas privadas que devem contar com infraestrutura física, técnica e econômico-fiscal para poderem contribuir efetivamente com o reaproveitamento dos materiais e conservação dos recursos naturais. 3.2.4 - DISPOSIÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA: ATERRO SANITÁRIO Os aterros sanitários, conforme visto anteriormente, são considerados pela PNRS como a forma de disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. A aprovação do marco regulatório para o setor de resíduos, na forma da PNRS, reforça a tendência de eliminação dos lixões e aterros controlados existentes e a implantação de aterros sanitários. O aterro sanitário é a forma correta de dispor os rejeitos no solo. Seu projeto de engenharia é baseado em critérios e normas operacionais específicas: os resíduos dispostos são cobertos com material inerte, com o objetivo de controlar a entrada de ar e água, controlar a saída de gás do aterro, reduzir o odor e de outros inconvenientes e facilitar a recomposição da paisagem, dentre outros fatores (CATAPRETA, 2008). Quando há a necessidade de uma nova área para depósito de resíduos sólidos, uma série de critérios deve ser considerada para a implantação desta instalação. A decisão pode ser auxiliada por meio de modelagem e deve levar em consideração tanto a eficiência ecológica quanto a econômica. Para tal, devem ser analisados os custos de distribuição e de transporte, as externalidades negativas e controle de poluição, tendo como objetivos a preservação do meio ambiente, a minimização de custos e geração de padrões de distribuição dos resíduos (GANDELINI, 2002). Devido à crescente urbanização, as áreas ambiental e economicamente adequadas para disposição final dos RSU tornam-se cada vez menos disponíveis. Isso porque para dispor resíduos no solo, deve-se levar em consideração uma série de fatores sobre o local, tais como a topografia, as características do solo, os corpos d água e a distância do centro gerador. Devido às características necessárias para a área da disposição final e aos impactos que ela receberá, não é simples determiná-la e encontrá-la (SOUSA, 2012). Os aterros têm em média 42 anos de ciclo de vida, sendo que é possível que eles recebam resíduos somente nos primeiros 20 anos (Quadro 19). No Quadro 20 são elencadas as principais vantagens e desvantagens deste tipo de método de disposição final de rejeitos. 34 35

Investimento Estudos e projetos Terreno Ano 1 (Pré implementação) Estudo de viabilidade Aquisição de terreno Projeto Licenciamento QUADRO 19 CICLO DE VIDA DE ATERROS SANITÁRIOS Investimento Instalações Equipamentos Custos Depreciação Amortização Etapas do ciclo de vida dos aterros sanitários (42 anos) Ano 2 (Implementação) Infraestrutura Geral Sist. Tratamento líquidos e percolatos Sist de Drenagem Áreas verdes Apoio Administração Anos 3 a 22 (operação) Disposição Disposição de resíduos Trat. percolados e gases Equipe operação Outros Fonte: DEL BEL, 2012. Custos Encerramento Pós encerramento Ano 23 (Encerramento) Obras de encerramento Anos 24 a 42 (Pós-encerramento) Trat. percolados Monitoramento 4 - CONJUNTURA DO TRATAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL O objetivo desta Seção é apontar para a urgência de mais investimentos no setor de resíduos sólidos, por meio de dados que contribuam para a compreensão de sua conjuntura. 4.1 - COMPOSIÇÃO DOS RSU QUADRO 20 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA DISPOSIÇÃO FINAL EM ATERROS SANITÁRIOS Tecnologia Vantagens Desvantagens Aterro Sanitário Baixo custo operacional Tecnologia amplamente conhecida Possibilidade de aproveitamento do biogás, que pode ser aproveitado para geração de produtos como energia elétrica, calor e metano Geração de odores característicos Necessidade de grandes áreas para o empreendimento Exige captura e tratamento do chorume Após a capacidade esgotada, ainda exige cuidados e manutenção, por anos. Fonte: PARO et al., 2008; ICLEI, 2011. Elaboração GO Associados. Conforme dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013, foram geradas 76,4 milhões de toneladas de RSU no ano em referência, das quais 69,1 milhões de toneladas foram coletadas. Desse montante coletado, 40,3 milhões de toneladas foram encaminhadas para disposição final em aterros sanitários, e 28,8 milhões de toneladas foram enviadas para lixões ou aterros controlados, que são formas de disposição final ambientalmente inadequadas (Quadro 21). Quantidade (milhões ton/ano) Quadro 21. Síntese dos dados do Panorama 2013 Geração total Coleta total Aterros Sanitários Lixões/Aterros controlados 76,4 69,1 40,3 28,8 Dentro do grupo de RSU, destacam-se alguns subconjuntos dos principais materiais: i) metais, ii) plástico, iii) matéria orgânica, iv) papel, papelão e tetrapak, v) vidro e vi) outros, conforme gravimetria apresentada no Quadro 22. Analisando as participações desses subconjuntos no total coletado, conclui-se que a matéria orgânica apresenta a maior participação, com 51,4% do total, seguida pelo plástico com 13,5%, papel, papelão e tetrapak com 13,1% e outros com 16,7%. 36 37

QUADRO 22- PARTICIPAÇÃO DOS PRINCIPAIS MATERIAIS NO TOTAL DE RSU COLETADO NO BRASIL EM 2012* 2.9% QUADRO 23 EVOLUÇÃO DA COLETA DE RSU (% DE RESÍDUOS COLETADOS POR ANO) 100% 90% 80% 70% 60% 16.7% 13.1% Metais 50% 40% 13.5% Papel, Papelão e TetraPak Plástico 30% 20% 10% 51.4% 2.9% Vidro Matéria Orgânica 0% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Nordeste Norte Centro-Oeste Sul Sudeste BRASIL Outros Fonte: ABRELPE, 2014. Elaboração GO Associados. Fonte: (ABRELPE, 2013a). Elaboração GO Associados. * Consideram-se os dados de 2012, uma vez que no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil mais recente (de 2013) não foram apresentadas estas informações. Apesar dos avanços nas últimas décadas, com o ritmo atual de expansão da coleta, ou seja, sem considerar um avanço nos investimentos e nos esforços, a universalização desse serviço no país tardará mais do que o estipulado pelo Planares. 4.3 - COLETA SELETIVA 4.2 - COLETA REGULAR A coleta regular de RSU está presente em todas as regiões brasileiras. Pela análise de sua evolução até 2013 (Quadro 23), verifica-se que a porcentagem nacional de resíduo coletado aumentou no decorrer dos anos, atingindo 90,4%. No entanto, a região Norte chama atenção por ter apresentado uma queda na porcentagem de resíduos coletados nos últimos anos (de 88% em 2002 para 80% em 2013), sendo que nas demais regiões brasileiras, a coleta de resíduos sólidos aumentou em até 13% no decorrer desses anos. O conceito de destinação final ambientalmente adequada também possui direta relação com a prática de coleta seletiva, que distingue os resíduos secos dos resíduos úmidos (orgânicos). A quantidade de municípios que contam com iniciativas de coleta separada dos resíduos secos no Brasil chegou a pouco a mais de 62% do total (ABRELPE, 2014). Nesta estimativa, são considerados não somente a coleta porta-a-porta, mas também a existência de pontos de entrega voluntária (PEV) ou convênios com cooperativas e/ou organização de catadores. Segundo dados históricos da ABRELPE, o crescimento do número de municípios que realizam alguma iniciativa em coleta seletiva é de aproximadamente 2,2 % ao ano. Com um crescimento a este ritmo, a 38 39