SOUSA GALITO, Maria (2010). Entrevista ao Embaixador Miguel Costa Mkaima. CI-CPRI, E T-CPLP, º8, pp. 1-6.



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Transcrição:

SOUSA GALITO, Maria (2010). Entrevista ao Embaixador Miguel Costa Mkaima. CI-CPRI, E T-CPLP, º8, pp. 1-6. E T-CPLP: Entrevistas sobre a CPLP CI-CPRI Entrevistado: Embaixador Miguel Costa Mkaima Entrevistador: Prof. Doutora Maria Sousa Galito Local: Embaixada de Moçambique, Av. De Berna, n.º 7 Lisboa. Data: 19 de Março 2010, 11h30. Sr. Embaixador, muito obrigada por me receber. Peço-lhe um comentário sobre a dinâmica actual do mercado moçambicano. O mercado moçambicano, hoje em dia, é amplo, dinâmico e muito diversificado aspectos que não existiam há décadas atrás. Isto resulta das políticas governamentais que têm sido seguidas em Moçambique de apoio à produção de bens, à regulamentação e a tudo quanto diz respeito ao consumo de bens nacionais ou bens importados. O mercado beneficia da dinâmica crescente das exportações. O programa Made in Mozambique incentiva à valorização da qualidade do produto moçambicano, para que o produto moçambicano tenha apreciação considerável no estrangeiro. Exportamos açúcar, camarão que são produtos que chegam a Portugal com boa qualidade. O mercado moçambicano é diversificado e forte. A moeda é estável. A estabilidade macroeconómica e a conjuntura nacional favorável fazem de Moçambique um bom destino para produtos externos; mas também um bom destino para investidores externos e turistas. Maria SOUSA GALITO 1

O nosso mercado também é caracterizado pela dinâmica da integração regional. Moçambique é um país vasto, com uma longa costa marítima, com cidades, aeroportos e muitos portos alguns deles naturais, propensos ao incremento de consumo para negócios e constituem atractivo para empresas e turistas. Como tem sido a experiência de Moçambique na Commonwealth? Como definiria as relações de cooperação económica e empresarial com a África do Sul e com a Índia, no contexto da Commonwealth? Moçambique e a África do Sul são países que gozam de uma relação privilegiada com Moçambique, por razões históricas em primeiro lugar. A África do Sul possui uma economia pujante e dinâmica há vários séculos. Desde então essa relação com Moçambique estabeleceu-se e consolidou-se até hoje e tende a cimentar-se cada vez mais. Moçambique e a Índia pertencem ao mesmo corredor marítimo. Vasco da Gama passou por Moçambique a caminho da Índia. Essa rota comercial já existia antes da chegada dos portugueses. Moçambique possui relações com a Índia e com a China há vários séculos. Os portos indianos e os moçambicanos sempre se mantiveram em contacto. Actualmente a Índia é uma economia emergente, o que confere um elemento acrescido às nossas relações económicas com a Índia. Existem alguns elementos culturais comuns. Moçambique possui uma grande comunidade indiana. Estes elementos todos concorrem para um relacionamento estreito entre estes dois países do ponto de vista económico. A Índia, a África do Sul e Moçambique são Estados-membros da Commonwealth, uma organização internacional regida por regras de participação iguais entre países, e em que cada qual colabora, participa e contribui na medida das suas possibilidades. A Commonwealth apoia Moçambique, África da Sul e Índia nas mesmas circunstâncias. A Commonwealth trouxe vantagens para Moçambique? Moçambique estaria interessado que a CPLP se tornasse num bloco económico no futuro? Que expectativas reserva Moçambique em relação à CPLP do ponto de vista da cooperação económica e empresarial? Maria SOUSA GALITO 2

Eu não comparo a CPLP e a Commonwealth entre si. São diferentes. Nascem em situações diferentes, com objectivos diferentes e com regras diferentes. Pelo que são completamente diferentes. Moçambique obtém vantagens por pertencer à Commonwealth. Moçambique é um país de língua oficial portuguesa mas está cercado por países de expressão inglesa e que são todos Estados-membros da Commonwealth. Retiramos vantagens de convivência com os países que nos rodeiam, com uma componente muito forte na área científica, desportiva, cultural, mas também na área de prospecção económica. É diferente com o que acontece na CPLP, na qual a base é a língua portuguesa. Não pertencemos à mesma região geográfica, mas à mesma região linguística. A Commonwealth é uma organização mais experiente, mais antiga. A CPLP está a dar os seus primeiros passos. Futuramente haveremos de entrar em áreas mais significativas e que produzem maior impacto nos Estados-membros, sobretudo no apoio ao desenvolvimento, como a área económica que é a fundamental mas também na área científica e cultural. Moçambique está mais virado para os oceanos Índico e Pacífico, onde se afirmam duas grandes economias emergentes como a China e a Índia. Ao passo que os outros Estados-membros da CPLP estão mais virados para o Atlântico. Moçambique está interessado na evolução da CPLP para um bloco económico ou é uma questão secundária para Moçambique, neste momento? A CPLP possui regras de trabalho e de convivência que residem fundamentalmente na concertação. A CPLP tem sabido dar passos positivos nesta área. Mas falta darmos um novo passo em que domine a componente económica. Tenho toda a esperança que melhores dias virão no âmbito económico. Se tal não acontecer vai ser muito difícil que a CPLP consiga impor-se nos nossos países como uma organização, mas também a nível global. Precisamos de um espaço forte, com impacto e visibilidade internacional. As relações económicas bilaterais ou multilaterais entre os Estados-membros da CPLP são fundamentais. Maria SOUSA GALITO 3

A recente visita do Primeiro-Ministro português a Moçambique demonstrou que há uma vontade política muito forte, entre os dois países, para estabelecer uma relação basicamente económica. A forma séria como os discursos foram apresentados e como os protocolos foram assinados, a forma séria como se preparou a visita e se abordaram os seus conteúdos, fiquei com a certeza que nos próximos cinco anos as relações bilaterais entre Moçambique e Portugal serão totalmente diferentes e dominadas pela acção do empresariado, pelos investimentos e pela produção de bens, questões que contribuem para consolidar os pontos de vista dos dois países nas várias áreas (económica, social, cultural, ). Assim teremos muito mais argumentos de diálogo para o reforço da amizade entre Portugal e Moçambique. O mesmo acontecerá certamente com as relações Moçambique e Brasil. Nos últimos anos, temos registado uma maior movimentação empresarial entre os dois países, com muitos projectos empresariais. Com base nestes dois exemplos é possível acreditar que as relações económicas se irão multiplicar. O que poderá transformar a CPLP de uma organização meramente de concertação, para uma organização de envolvimento das nossas comunidades, procurando satisfazer as necessidades dos nossos povos. Peço-lhe um comentário sobre o Conselho Empresarial da CPLP e sobre a recente criação da Confederação Empresarial da CPLP. O Conselho Empresarial nasceu numa altura com condicionalismos apropriados e fez o que pôde fazer. Realizou as suas actividades ao seu nível, enfrentou várias dificuldades mas não conseguiu uma forte inserção empresarial nos estados-membros da CPLP. Saúdo a forma clara e aberta com que os seus membros enfrentaram a situação e transformaram o Conselho Empresarial numa Confederação Empresarial. Entendo esta atitude como uma mudança profunda da acção empresarial dos nossos países, também levando em consideração o contexto actual das relações entre Moçambique e Portugal, entre Moçambique e o Brasil, etc. Considero que a Confederação Empresarial da CPLP procura seguir esta caminhada para contribuir para a transformação da CPLP numa comunidade que terá como o seu prato forte a acção empresarial dos nossos países. Maria SOUSA GALITO 4

E a CPLP no diálogo orte-sul e no diálogo Sul-Sul? Temos sorte da CPLP ser constituída por uma diversidade de países com presença em diferentes regiões do globo (América, África, Europa, Ásia). Também temos sorte de, no nosso seio, termos países com economias emergentes como o Brasil. Um país situado no continente americano, que tem sabido explorar a sua condição geográfica e a sua identidade cultural é o único falante de língua portuguesa naquela região o que tem contribuído bastante para ser um país influente naquela região. A CPLP tem estado muito rapidamente a ocupar uma posição, um espaço importante na América do Sul. O mesmo acontece em África. E na Europa, com Portugal que é estado-membro da União Europeia. Logo, temos a sorte de estarmos presente em quase todas as organizações regionais, tais como: a União Europeia, a SADC, a União Africana, MERCOSUL. Temos elementos muito importantes que nos assistem num diálogo Sul-Sul em condições favoráveis para a nossa organização. Temos um domínio, um conhecimento de várias realidades regionais que nos ajudam a estabelecer um diálogo mais equilibrado; mas que também nos ajuda a influenciar e a obter uma aceitação das nossas propostas nestas organizações regionais. Portanto, a CPLP é uma organização forte mundialmente. Estamos presentes em todos os continentes. Temos essa vantagem que poderemos aproveitar em nosso benefício. A língua portuguesa poderá ser elevada a idioma oficial da O U com o apoio da CPLP ou não é exequível num futuro próximo? O português é uma língua universal e de negócios. Temos de baixar os braços perante a hegemonia da língua inglesa? Há aqui aspectos históricos associados à presença das línguas inglesa e francesa no mundo. São questões históricas e de evolução do mundo. Eu sou daqueles para quem não basta discutirmos e reclamarmos pela valorização da língua portuguesa, quando nós próprios não fazemos nada para tal. Temos de fazer algo concreto que justifique a valorização da língua portuguesa no mundo. Maria SOUSA GALITO 5

Não podemos reivindicar espaço para a língua portuguesa quando nós próprios não criamos instrumentos e condições para desbravar esse espaço para a língua. Nós temos de trabalhar para trazer a língua portuguesa para essas organizações internacionais. Lamento bastante o debate desfasado que tem existido à volta do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa, quando os Estados-membros da CPLP deveriam estar unidos quanto ao que queremos, ou seja, que a língua portuguesa tenha mais força no mundo. Tem havido muita divisão entre os vários agentes que participaram no processo. Ainda discutimos sobre essa questão. Esse debate já dura há demasiado tempo. Se olharmos para a história do Acordo Ortográfico, a sua proposta como instrumento é anterior à própria criação da CPLP. O Acordo ortográfico não é produto da CPLP. Primeiro, Portugal e o Brasil debatiam e a discutiam o tema, sem chegar a um entendimento. Depois, com a criação da CPLP é que se viu que havia o ambiente apropriado para se aprovar o Acordo. E aprovou-se. Portanto, é um Acordo deve ser acarinhado. Temos de criar as condições apropriadas para o seu exercício. Os erros, as insuficiências, as gralhas, as dúvidas existem, mas onde é que não existem essas insuficiências? Que tipo de acordos internacionais que não têm essas insuficiências? Todos têm. O importante é termos a coragem de avançarmos, porque só assim é que poderemos, no futuro, ir criando condições para as correcções das insuficiências que eventualmente existam. O Acordo, na minha opinião, é importante e necessário para que a língua portuguesa se afirme no mundo. Muito obrigada, Sr. Embaixador. Maria SOUSA GALITO 6