EMPREENDEDORISMO E O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE EMPRESAS DA CIDADE DE ITAJUBÁ Vanessa Romancini Pereira Gomes (UNIFEI) vanessa_rpg@unifei.edu.br Valéria Fonseca Leite (UNIFEI) valeria@unifei.edu.br Resumo: O propósito deste artigo é identificar características que levam indivíduos a criarem seu próprio negócio. Após pesquisa bibliográfica sobre empreendedorismo foi elaborado um questionário. A pesquisa foi aplicada em empreendedores de Itajubá, Minas Gerais, por isso ela possui limitações quanto às respostas obtidas. Esta pesquisa fornecerá informações sobre possíveis causas de um indivíduo, neste caso itajubense, abrir sua própria empresa. Os resultados sugerem que entre as principais causas que motivaram a formação da empresa está o desemprego aliado à necessidade de realização. Palavras-chave: Empreendedorismo; Criação de novas empresas; Características do empreendedor. 1. Introdução A necessidade de estabelecer um estudo sobre empreendedorismo resultou no presente artigo. Através da perspectiva comportamental pretende-se responder às seguintes questões: O que leva um indivíduo a criar sua própria empresa? Que motivação o leva a deixar seu emprego e se arriscar numa economia tão incerta quanto a nossa? O objetivo deste texto é listar os possíveis motivos que levaram empresários de Itajubá a criarem seu negócio, e assim traçar um perfil da cidade de Itajubá para promoção do empreendedorismo. Para atingir o propósito do artigo foi feita uma pesquisa bibliográfica, e com base nela, foi elaborado um questionário. Os resultados encontrados mostraram que muitos empresários abriram seu negócio após algum tempo na informalidade, ou como empregado. O desemprego e a falta de perspectiva, os baixos salários, e a vontade de ter seu negócio fez com que vislumbrassem a oportunidade de se realizarem: sendo seus próprios patrões ou pondo em prática alguma habilidade da qual se orgulham. 2. Empreendedorismo O empreendedorismo emergiu como importante tópico no desenvolvimento econômico. Definido como o ato de organizar recursos com intuito de gerenciar uma atividade comercial, o empreendedorismo tem sido estudado sob variadas perspectivas (BHIDDE, apud FELDMAN, 2001). Stevenson & Sahlman (1999 citado por COPE, 2005) identificam três linhas de pensamento sobre a natureza do empreendedorismo. A primeira relaciona a palavra com a função econômica, o que pode ser descrito como uma perspective funcional. A segunda associa o empreendedorismo ao indivíduo, nomeada de perspectiva da personalidade. A terceira conceitua empreendedorismo a partir de uma perspectiva comportamental. Os autores
definem empreendedorismo em torno destes três aspectos, o que acaba por gerar conceitos que se complementam. O estudo do processo através do qual empresas surgem é geralmente identificado como empreendedorismo (SHANE & VENKATARAMAN apud ULHOI, 2005). O processo empreendedor envolve todas as funções, atividades e ações associadas à percepção de oportunidades e a criação de empresas que persigam estas oportunidades. (BYGRAVE & HOFER, 1991). De forma simplista podemos dizer que o empreendedor é a pessoa que abre e gerencia sua própria empresa e ainda assume responsabilidade pelos riscos associados a esta empresa. McClelland (1961) defende que empreendedores são indivíduos motivados por excepcional necessidade de realização. Já Busenitz & Barney (1997) que eles tendem a ser muito confiantes e generalizadores. De acordo com Cole (1959), existem quatro tipos de empreendedores: o inovador, o inventor calculado, promovedor altamente otimista, e o construtor de organizações. Estes tipos não estão relacionados à personalidade, mas ao tipo de oportunidade que o empreendedor encara. Mas definição de empreendedor como uma pessoa que cria uma nova empresa é um problema. Isso porque esta definição não leva em conta considerações sobre variação na qualidade das oportunidades que diferentes pessoas identificam (SHANE & VENKATARAMAN, 2000). Apesar disso, o fenômeno do empreendedorismo fornece algumas opções para pesquisa, entre elas: (1) por que, quando, e como oportunidades para a criação de empresas surgem; (2) por que, quando, e como algumas pessoas e não outras descobrem e exploram essas oportunidades; e (3) por que, quando, e como diferentes modos de agir são utilizados para explorar uma oportunidade (SHANE & VENKATARAMAN, 2000). 3. A formação de novas empresas Por que um indivíduo abre uma empresa? Dentro da teoria econômica há duas correntes: os que acreditam que o indivíduo é motivado por forças que pressionam, ou por forças que puxam. As forças que pressionam apóiam a noção de que se a pessoa tem dificuldades no mercado de trabalho ela opta por abrir um negócio. Quando a motivação não é o desemprego a pessoa é motivada por forças que puxam (HATALA, 2005). Para alguns autores, o processo de criação de empresas pode ser estudado através da perspectiva comportamental: atitudes e ambiente. Para eles o ambiente influencia pensamentos, que por sua vez dão forma às atitudes e intenções de criação de uma nova empresa (BIRD, 2001 apud ROBERTSON et al 2003). As organizações surgem, portanto, da interação entre agentes (indivíduos, parceiros, grupos, parent organization, etc.) e o meio ambiente (KATZ & GARTNER, 1988). A perspectiva comportamental foca em atitudes individuais frente ao risco, ao trabalho, ao dinheiro, etc., que é novamente influenciado por condições sociais (ROBINSON et al 1991 apud ROBERTSON et al 2003).
Cramer et al (2002) afirma que o empreendedor é desencorajado pelo grau individual de aversão ao risco. Muitas pessoas preferem não deixar seus empregos e abrir seu próprio negócio pelo medo do risco de que esse negócio não dê certo. Por outro lado, aqueles que não temem os riscos estão mais propensos a empreender. Para Amit, Muller & Cockburn (1995) quanto menor o custo de oportunidade do indivíduo mais provável é ele envolver-se em atividades empreendedoras. Segundo a visão destes autores, a pessoa que tem pouco a perder, terá maior probabilidade de tornar-se empreendedora, comparado àquela que tem muito a perder. Os fatores contextuais também afetam o processo de crescimento da economia de um lugar. Quanto maior a disponibilidade de capital financeiro reflexo do número de depósitos per capita de um local, mais rápido é o índice de formação de empresas (SUTARIA & HICKS, 2004). Há ainda aqueles que devido à restrições financeiras preferem acumular capital, trabalhando, para só depois decidir entrar num negócio próprio (EVANS & JOVANOVIC apud EVANS & LEIGHTON, 1989). Schumpeter (1911 citado por VIVARELLI, 2004), Knight (1921 citado por VIVARELLI, 2004) e Oxenfeldt (1943 citado por VIVARELLI, 2004) concentraram suas atenções em características subjetivas do fundador da empresa: características pessoais (idade e educação) e a motivação individual para empreender. De acordo com resultados de estudos de Storey (1982 citado por VIVARELLI, 2004) e Johnson (1986 citado por VIVARELLI, 2004), o fundador da nova empresa é altamente influenciado por sua experiência como empregado. Este tipo de experiência faz com que o empreendedor desenvolva habilidades para (a) acessar recursos que ajudam a iniciar a empresa; (b) adaptar-se às regras de empreendedorismo; e (c) influenciar a realocação dos recursos de maneira nova (SHANE & KHURANA, 2003). Outros estudos mostram fatores não-econômicos como importantes influenciadores na decisão de abrir uma empresa, mais importantes até que variáveis de mercado e barreiras de entrada. De acordo com estes estudos o empreendedor é fortemente influenciado por atitudes psicológicas como desejo de ser independente, autonomia profissional, necessidade de explorar habilidades e experiências adquiridas e o desejo de ser útil à sociedade e vontade de melhorar o status social (VIVARELLI, 2004). A motivação pessoal para iniciar um novo negócio pode também estar relacionada a uma atitude defensiva como incerteza sobre perspectivas futuras da carreira profissional ou medo do desemprego (VIVARELLI, 2004). O desemprego mesmo pode ser condição para que o indivíduo crie o seu negócio (RITSILA & TERVO, 2002). Aqueles que trocam seus salários seguros para tornarem-se empreendedores tendem a ser indivíduos que geralmente recebem baixos salários, mudam de emprego com certa freqüência ou já passaram longos períodos desempregados (EVANS & LEIGHTON, 1989). Katz & Gartner (1988) concentraram seu estudo na exploração das características das empresas emergentes e sugere que elas sejam identificadas por: (a) objetivo dos fundadores
no momento da criação da empresa; (b) recursos necessários: capital financeiro e humano, matéria-prima, equipamentos; (c) fronteiras; e, (d) transações com o meio externo. 4. Metodologia O foco principal deste estudo é entender a motivação de um indivíduo em envolver-se no processo de criação de uma empresa. Para coletar as informações necessárias foi elaborado um questionário, cujos resultados foram tabulados e as conclusões baseadas nas respostas dos proprietários. O questionário abordou questões referentes ao proprietário como sexo, nível de escolaridade e estado civil. Para dividir as empresas foram feitas questões com relação ao tempo de vida delas e número de empregados contratados. As empresas foram divididas em três grupos: (a) empresas com nenhum empregado; (b) empresas com até 10 empregados; e, (c) empresas com mais de 11 empregados. Para verificar a influência de experiência prévia foi perguntado se o proprietário já havia trabalhado para terceiros, por quanto tempo e o motivo da saída. Para descobrir a motivação para criação do negócio foram feitas questões sobre o motivo de ter formado a empresa, sobre fonte de investimento, se houve necessidade de buscar informações de terceiros, e porque havia escolhido determinado tipo de negócio. Foram levantadas também questões que pudessem avaliar o grau de aversão ao risco. Com o questionário buscou-se entender o que levou pequenos empresários a criarem seu próprio negócio na cidade de Itajubá, bem como traçar um perfil do mercado empresarial da cidade. Os dados utilizados neste estudo foram coletados entre 62 pequenas empresas situadas no centro de Itajubá, Minas Gerais. 4. Resultados Os empresários entrevistados responderam às questões, mas informações adicionais fornecidas espontaneamente por eles foram adicionadas à pesquisa. Através da análise dos dados verificou-se que 77% dos proprietários entrevistados é mulher. Empresas com nenhum empregado foram todas criadas por mulheres, cuja habilidade com vendas e artesanato possibilitou a abertura de um pequeno empreendimento. A maioria dos empresários possui ensino médio completo. E verificou-se que em empresas com mais de 21 anos de criação, ou seja, mais antigas no mercado, a maioria possui apenas o ensino básico completo. A propriedade está concentrada nas mãos de brancos e as demais etnias contam com 27% das propriedades no centro. Os solteiros são minoria entre os proprietários. A faixa etária predominante é de 41 a 60 anos.
Dos 73% que já foram empregados, com carteira assinada ou não, quase 90% teve experiência de menos de 10 anos, até decidir abrir um negócio. As causas que levaram a saída do emprego estável foram, por ordem: (a) vontade de abrir um negócio próprio; (b) demissão e falta de perspectiva futura; (c) baixo salário; e no caso de algumas mulheres, (d) casamento e filhos. O interesse em abrir uma nova empresa vem em conjunto com a vontade de pôr em prática alguma habilidade, como a de vendas, por exemplo. Os motivos que levaram à criação de uma empresa foram: (a) independência financeira e realização profissional; (c) desemprego e vontade de ter um negócio para pôr em prática alguma habilidade. A maioria disse ter investido capital pequeno e próprio, por medo de arriscar-se em um algo que pudesse não dar certo. Os empresários disseram que começaram pequenos e conforme a situação fosse favorecendo iam expandindo gradativamente. Os proprietários têm muita restrição quanto à economia brasileira, e 80% deles não se arrisca por medo de perdas. Quase todos disseram ser muito arriscado iniciar um negócio novo utilizando empréstimo, pois todo o ganho da empresa seria revertido no pagamento de juros. O empréstimo é utilizado apenas em caso de expansão do negócio. As empresas mais antigas (com mais de 21 anos no mercado) são aquelas cujos proprietários possuem o menor nível de escolaridade. Eles iniciaram sua habilidade para negócios com seus pais e tios antes de abrir o negócio. Alguns são estrangeiros provenientes do Líbano (5 das 20 entrevistados). Na questão de busca de informação em órgãos, através de pesquisa de mercado ou busca de informação com terceiros, apenas 30% dos entrevistados utilizou-se de algum desses recursos. A maioria abriu a empresa na raça (expressão utilizada por alguns proprietários). 5. Conclusão O objetivo deste estudo foi identificar os motivos que levam o indivíduo a abrir sua própria empresa no universo de Itajubá, Minas Gerais. Para isso foram analisadas características pessoais do empreendedor e das empresas, motivação para empreender (forças que puxam e que pressionam), experiência anterior como empregado e se ela teve influência para a formação do negócio, aversão ao risco, custo de oportunidade do indivíduo, fonte do capital obtido. Depois de feita uma revisão bibliográfica, foi elaborado um questionário que serviu de roteiro para pesquisa de campo com 62 empresários. O que pode ser notado é que a grande maioria possui uma paixão por seu negócio e fala com muito orgulho de sua empresa. As empresas mais antigas nasceram da paixão pelo comércio, por vendas, e seus proprietários gostam de ficar frente a frente com sua clientela. Estes proprietários são aqueles que viviam na informalidade, a exemplo de um dos proprietários que era fotografo ambulante até decidir abrir sua empresa de revelação, ou a sacoleira que vendia roupa de porta em porta até abrir a sua boutique. A aversão ao risco não impediu que a maioria dos entrevistados abrisse seu próprio negócio, talvez isso possa ser explicado pelo fato de que possuíam um conhecimento prévio do foco
central do negócio, ainda que informal. Por outro lado essa aversão fez com que testassem sua vontade ao abrir uma empresa pequena, e ao longo do tempo foram expandindo. O custo de oportunidade baixo de todos eles impulsionou a vontade de empreender. Os motivos principais para que se aventurassem num empreendimento sem consulta prévia a nenhum órgão de fomento e sem pesquisa de mercado foi a necessidade de realização aliada à necessidades financeiras e desemprego. As forças que pressionam foram mais significativas que as forças que puxam, pois a falta de emprego ou baixo salário fez com que colocassem em prática o desejo de ser seu próprio patrão. Este trabalho possui limitações, por isso sugere-se que seja feito um estudo mais aprofundado e com um número maior de proprietários. 6. Referências bibliográficas CRAMER, J.S., HARTOG, J., JONKER, N., VAN PRAAG, C. M., Low risk aversion encourages the choice for entrepreneurship: an empirical test of a truism, Journal of Economic Behavior & Organization, 48, 26-29, 2000. AMIT, R., MULLER, E., COCKBURN, I., Opportunity costs and entrepreneurial activity, Journal of Business Venturing, 10, 95-106, 1995. EVANS, D. S., LEIGHTON, L. S., Some empirical aspects of entrepreneurship, The American Economic Review, 79, 3, 519, 1989. FELDMANN, M. P., The entrepreneurial event revisited: firm formation in a regional context, Industrial and Corporate Change, 10, 4, 861, 2001. SUTARIA, V., HICKS, D. A., New firm formation: Dynamics and determinants, The Annals of Regional Science, 2004. KATZ, J., GARTNER, W. B., Properties of emerging organizations, The Academy of Management Review, 13, 3, 429, 1988. COPE, J., Toward a Dynamic Learning Perspective of Entrepreneurship, Entrepreneurship Theory and Practice, 2005. MCCLELLAND, D., The achieving society, Van Nostrand, Princeton, NJ, 1995. BUSENITZ, L.W., BARNEY, J.B., Differences between entrepreneurs and managers in large organisation: biases and heuristics in strategic decision making. Journal of Business Venturing, 1997. COLE, A.H., Business enterprise in its social setting, Cambridge, MA: Havard University Press, 1959. SHANE, S., VENKATARAMAN, S., The promise of entrepreneurship as a field of research, Academy of Management. The Academy of Management Review, 2000. ULHOI, J. P., The social dimensions of entrepreneurship, Technovation, 2005.
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