_ TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, ~ Y< ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÃTICA ACÓRDÃO REGISTRADO(A) SOB N D "00939643* AÇÃO DE EXCLUSÃO DE SÓCIO, CUMULADA COM APURAÇÃO DE HAVERES - Tutela antecipada, para nomeação de administrador judicial da sociedade, sob alegação de má administração e desvio de recursos - Ausência de prova pré-constituída das imputações à parte adversa - Ausência dos requisitos do art 273 do CPC - Inocorrência de conexão entre a presente demanda e medidas cautelares diversas, com objetivos distintos - Recurso provido em parte, para rejeitar a conexão. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n- 424.599-4/9-00, da Comarca de BARUERI, onde figuram como agravante MANUEL DOS SANTOS SILVA e agravado INGRID PACHECO ERME E OUTROS : ACORDAM, em Quarta Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação unânime, dar parcial provimento ao recurso, de conformidade com o relatório e voto do Relator, que ficam fazendo parte do acórdão. Cuida-se de agravo de instrumento com pedido de tutela antecipada tirado contra decisão copiada a fls. 21/22 dos autos, proferida em ação de exclusão de sócio cumulada com apuração de haveres, movida pelos agravados INGRID PACHECO ERME E OUTROS em face do agravante MANUEL DOS SANTOS SILVA. Agravo de Instrumento n c 424.599-4/9-00 - BARUERI - Voto n 790 - ti. 1
dois pontos, a saber: A decisão recorrida gerou a presente insurgência, em a) indeferiu e preliminar, argüida em contestação, de inexistência de conexão entre a ação de exclusão de sócio cumulada com apuração de haveres e respectiva reconvenção, com diversas medidas cautelares, nas quais se postula a cassação de mandato outorgado pela pessoa jurídica; b) indeferiu pedido de tutela antecipada, com o objetivo de nomear administrador judicial, com plenos poderes de gerência e representação ativa e passiva, para a pessoa jurídica Large Incorporações Imobiliárias Ltda., enquanto durar a demanda, com o fito de evitar o desvio de recursos e a dilapidação do patrimônio. Fê-lo a decisão recorrida, sob o argumento de que se encontra presente a figura da conexão, diante da identidade das causas remotas de pedir das diversas demandas, principal e cautelares. No que se refere ao pedido de tutela antecipada, negou-o, porque ausentes os requisitos do artigo 273 do Código de Processo Civil. Assentou que os fatos alegados não são certos e que há o risco da concessão ser mais gravosa ao réu do que a falta de concessão ao autor. Alega a recorrente, em resumo, que não existe a alegada conexão, porque as causas de pedir das diversas demandas são absolutamente distintas, uma versando sobre a cassação de mandato e outra sobre exclusão de sócio com apuração de haveres. Insiste na necessidade da nomeação de administrador provisório, indicando evidências de malservação e desvio de recursos da pessoa jurídica. Agravo de instrumento n c 424.599-4/9-00 - BARUERJ - Voto n e 790 - fl. 2
Indeferido o pedido de liminar de efeito ativo e dispensadas as informações da MM- Juíza de Direito, a agravada apresentou contraminuta (fls. 225/295). É o relatório. 1. O recurso comporta parcial provimento. Dois são os pontos de insurgência, a saber: a) inexistência de conexão entre as diversas demandas envolvendo interesses na pessoa jurídica Large Incorporações Imobiliárias; b) tutela antecipada com o objetivo de nomear administrador judicial para a sociedade, enquanto pende a demanda de exclusão de sócio. razão o agravante. 2. No que se refere ao primeiro ponto, tem inteira Não se vê respaldo jurídico para o reconhecimento de conexão entre diversas demandas, com partes, causas de pedir e pedidos distintos. O único ponto de contato entre elas são os interesses comuns em torno da pessoa jurídica Large Incorporações imobiliárias. É texto expresso do artigo 103 do Código de Processo Civil que se reputam conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir. No caso concreto, temos as seguintes demandas: a) medida cautelar e ação principal, movidas por Manuel dos Santos Silva contra Zuleica Quicholli Arrue Juan, Ingrid Pacheco e Large Incorporações Agravo de Instrumento n- 424.599-4/0-00 - BARUERI - Voto n fi 790 - íl. 3
Imobiliárias, com o objetivo de desconstituir o mandato outorgado pela pessoa jurídica à ré Zuleica e declarar a nulidade de alteração contratual realizada pela mandatária com excesso de poderes; b) notificação judicial requerida por Manuel dos Santos Silva em face de Ingrid Pacheco, para que permita seu acesso à sede social, papeis da pessoa jurídica, além de pedir prestação de contas e destituição da procuradora Zuleica; c) medida cautelar requerida por Manuel dos Santos Silva para garantir o seu livre acesso à sede e papeis da pessoa jurídica e para administrá-la, porque a sócia Ingrid se encontrava no exterior. Note-se que a medida cautelar referida na alínea "c" perdeu o objeto, porque a sócia Ingrid retornou do exterior e a notificação referida na alínea "b" já foi ultimada e esgotou sua finalidade. Para justificar a conexão, restaria tão somente a ação relativa à revogação do mandato e invalidação da alteração social. São, todavia, demandas com pedidos diferentes - exclusão de sócio minoritário e cassação de mandato - causas de pedir diferentes e partes distintas. É verdade que o Superior Tribunal de Justiçafirmouo entendimento de que "o objetivo da norma inseria no art. 103, bem como no disposto no art. 105, ambos do CPC, é evitar decisões contraditórias; por isso, a indagação sobre o objeto ou a causa de pedir, que o artigo por primeiro que Agravo de Instrumento n c 424.599-4/9-00 - BARUER1 - Voto n" 790 - fl. 4
seja comum, deve ser entendida em termos, não se exigindo perfeita identidade, senão que haja um liame que os faça passíveis de decisão unificada" (RSTJ 98/191, Rei. Min Waldemar Zveiter). A jurisprudência segue a clássica lição de Manuel Carlos de Figueiredo Ferraz, para quem é a conexão "um laço envolvente que se insinua por entre as relações jurídicas, ora prendendo-as de modo indissolúvel, ora criando entre elas pontos de contato mais ou menos íntimo, que aconselham a reunião em um só processo, ainda quando possam ser decididas separadamente, sem maior dano, a não ser a lentidão e o gravame de maiores despesas" (A Competência por Conexão, 1.937, p. 10). No caso concreto, não há o menor risco de decisões conflitantes. A alteração social levada a efeito por mandatária com excesso de poderes não guarda qualquer relação de prejudicialidade ou conflito com a exclusão do sócio minoritário por atos ilícitos. Ao contrário. Estão as demandas em fases processuais distintas, de modo que não se afigura justo que a invalidação de deliberação social por excesso de poderes somente seja julgada juntamente com a exclusão de sócio, que exige prova complexa e demorada. Acolhe-se, em resumo, a preliminar de inexistência de conexão, determinando-se a livre distribuição da ação de exclusão de sócio. não tem razão o recorrente. 3. No que se refere ao segundo ponto de insurgência, Agravo de Instrumento n a 424.599-4/9-00 - BARUER1 - Voto n ç 790 - f. 5
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO A nomeação de administrador judicial é medida extrema, que importa severos riscos à própria sobrevivência da sociedade. Implica colocar um estranho à testa da gestão social, sem conhecimento específico do mercado imobiliário e com comprometimento da imagem da empresa junto a clientes e fornecedores. Como destaquei na decisão que negou o pedido de tutela antecipada, tem a medida como pressupostos a existência de prova inequívoca dos fatos, suficiente para convencer o juiz da verossimilhança da alegação. Na lição de José Roberto dos Santos Beduque. "existirá prova inequívoca toda vez que houver prova consistente, capaz de formar a convicção do juiz e respeito da verossimilhança do direito" (CPC Interpretado, diversos autores coordenados por Antônio Carlos Marcato, Atlas, p. 796). Arremata o hoje Ministro Teori Albino Zavascki que a tutela antecipada exige mais do que o fumus boni iuris. Ao contrário do processo cautelar, onde há plausibilidade quanto ao direito e probabilidade quanto aos fatos alegados, na tutela antecipada "exige-se que os fatos, examinados com base na prova já carreada, possam ser tidos como fatos certos". Isso porque, segundo o autor, a verossimilhança quanto ao fundamento de direito decorre da certeza (relativa) quanto à verdade dos fatos (Antecipação da tutela, 3 a. Edição Saraiva, p. 73). Pois bem. A prova de malversação e desvio de recursos da pessoa jurídica por parte da outra sócia se encontra amparada em meros indícios e anotações, por ora inconclusivas. A menção a códigos em Agravo de Instrumento n Q 424.599-4/9-00 - I3ARUERÍ - Voto n 790 - fl. 6
certos papéis, lançados pretensamente à mão pela outra sócia, necessitam ainda de confirmação quanto à autoria e esclarecimentos, quanto à finalidade. 4. Seria temerário desde logo, em sede liminar, nomear administrador judicial para a pessoa jurídica, medida traumática e de grande responsabilidade. Lembre-se que o próprio Agravante, em sede de reconvenção, admite a inviabilidade da manutenção da sociedade e pede também a sua retirada, apenas fundada em ato ilícito dos Autores/agravados e modo distinto de apuração de haveres. Diante de tal quadro, em que há concordância em apenas um ponto - a retirada do agravante - não vejo, ao menos neste momento, razões para alijar a sócia majoritária da administração da sociedade, substituindo-a por administrador judicial. Não me impressiona, é certo, o argumento posto na decisão recorrida, de que a concessão da liminar seria mais gravosa do que a sua não concessão. Caso houvesse prova cabal do desvio de recursos, parece claro que a preservação do patrimônio social estaria melhor assegurada com a nomeação de um estranho para gerir a sociedade. Note-se, mais, que também se negou liminar, pleiteada na inicial, de afastamento sumário do ora agravante. Aliás, os próprios agravados, no curso das diversas demandas, afirmam que nunca impediram o acesso do sócio Manoel à sede e livros da sociedade. Num primeiro momento, parece mais adequado garantir ao sócio minoritário acesso à contabilidade da pessoa jurídica do que nomear um estranho para sua gestão. Agravo de Instrumento n a 424.599-4/9-00 - BARUERI - Voto n q 790 - fl. 7
Não há controvérsia a respeito - e os próprios agravados admitem de modo explícito na inicial - que o Agravante tem o direito e o dever de auxiliar a gestão da sociedade, com pleno e integral acesso à sede da pessoa jurídica, sua contabilidade e seus arquivos. Ao invés de pleitear a intervenção judicial, melhor se afigura que tome pessoalmente as medidas gerenciais assecuratórias da preservação da sociedade e, de modo oblíquo, de seu próprio interesse. 5. Em resumo o agravo merece parcial provimento, apenas para reconhecer a inexistência de litispendência, preservadas, porém, as liminares negadas pela MMa. Juíza. provimento ao recurso. Diante do exposto, pelo meu voto, dou parcial Participaram do julgamento, os Desembargadores Carlos Stroppa (Presidente) e J. G. Jacobina Rabello. São Paulo, 2 de fevereiro de 2006. ' FRANCISCO LOUREIRO Relator Agravo de Insirumenio n Q 424.599-4/9-00 - BARUERI - Voto w" 790 - fi. 8