A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA: A REALIDADE HISTÓRICA DOS NEGROS



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Transcrição:

A FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA: A REALIDADE HISTÓRICA DOS NEGROS Wanderleide Berto Aguiar 1 É traçado neste trabalho, o caminho da exploração que perpassaram a historia do negro no Brasil. Neste aspecto, o objetivo central deste estudo é fazer uma retrospectiva histórica das relações brasileiras quanto à inserção dos negros africanos. Destaca-se assim, deste a entrada do negro africano ao solo do Brasil até os dias atuais, abordando as dificuldades ainda existentes enfrentadas pelo negro. Para a realização deste estudo, utilizou-se de um estudo bibliográfico, em que fontes teóricas contribuíram para compreender o objetivo proposto. Sendo por meio então deste embasamento, que pode-se perceber que várias transformações ocorreram a partir da chegada do negro no território brasileiro, a cultura trazida foi implementada ao do povo brasileiro, é inegável o quanto o negro contribuiu nas mudanças ocorridas no país. No entanto, por mais que haja essa importância, nem sempre ela é reconhecida, haja vista que, a cor da pele ainda é um fator determinante nas relações sociais do Brasil e este quesito contribui no aumento da desigualdade, no desrespeito, uma vez que, estes seres permeiam campos invisíveis aos olhos da sociedade bem como do poder público. Palavras-Chave: NEGRO, ECRAVIDÃO, RELAÇÕES SOCIAIS, BRASIL Este presente trabalho tem por objetivo fazer uma análise da formação social do Brasil, tendo como foco as relações sociais estabelecida no bojo da sociedade brasileira. Para explicar a origem da formação social brasileira devemos recorrer à interpretação do caráter específico do capitalismo constituído no Brasil, Caio Prado (1973), o qual pontua no seu livro Formação do Brasil Contemporâneo, que se ordenou no Brasil foi um capitalismo pautado na empresa mercantil. E foi dentro desse sistema que foram inseridas a relação travada entre metrópoles Européias e suas colônias ao longo dos séculos 16, 17, 18, a partir dessa relação o Brasil assumiu a forma de colônia de exploração organizada pelo intenso volume de capital europeu, que estabeleceu aqui trabalho compulsório, ou seja, trabalho escravo. A partir deste marco, o Brasil passou a gerar produtos que não eram produzidos na Europa, essa forma de empresa mercantil montado por um capitalismo de fora, assentado sobre a grande propriedade rural e com trabalho 1 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Montes Claros- Unimontes/MG.

escravo, tinha como intuito ao fornecimento desses produtos e de matériaprima para o exterior. De acordo com Costa (2011, p. 41, apud Novais), A colonização no Brasil (e na América) esteve inserida no que se chamou de Antigo Sistema Colonização (séculos 16 a 18), indo até meados da Revolução Industrial, período este que marcou a transição do feudalismo para o capitalismo. Esse sistema esteve voltado para a acumulação primitiva de capital para a Europa e teve como base a propriedade monocultora, produzindo produtos tropicais, cujo dinheiro é representado pelo metal (ouro e prato); baseou-se também no trabalho compulsório (escravo) e produzir ou trocar alguma coisa antes de passar pela metrópole portuguesa no Pacto colonial (monopólio colonial da metrópole), isto é, as colônias não poderiam, onde se pagavam os impostos. Tal pacto é objetivamente o elemento regulador dessa conjuntura. Deste modo com o foi exposto acima, fica evidente que o tráfico negreiro alimentava a permanência da escravidão, pois era um dos negócios de maior renda tanto para a elite quanto para os Europeus, que beneficiavam com a exploração dos recursos naturais. Assim, pode-se entender que o tráfico conforme Costa (2011, apud Novais) irá introduzir o trabalho escravo nas colônias. Diante disso, essa mesma Europa que fomentou através do trabalho escravo a acumulação de bens para seu próprio usufruto, junto com o sistema capital mercantil, que foi possível a criação da imagem e a figura de trabalhador proletário, que por sua vez, através desse sistema irá recriar a escravidão neste novo mundo. Portanto, não se tratava de colonizar para somente ocupar a terra, mas sim colonizar para o capital. Neste sentido, a escravidão de africanos foi para o sistema econômico mundial um dos grandes empreendimentos comerciais e culturais, valor imensurável para as Américas que arrancaram milhares de africanos dentre eles homens e mulheres. De forma violenta os negros africanos pisaram no solo brasileiro para serem escravizados, sobretudo, violentado de todas as formas. Embora, o índio a princípio tenha sido um dos elementos de grande utilidade para a formação da colônia, com a chegada do negro, a mão- de- obra que era indígena foi substituída pela negra, considerada a principal base de

rendimento econômico, foi com base nesse argumento que se desenvolveu a sociedade colonial brasileira. Para tornar claro o porquê do negro e não o índio para a utilização da mão-de-obra escrava, antes da chegada do negro para o Brasil, o indígena vivia em condições de escravos, porém os nativos resistiam à escravidão tornando assim ameaça perigosa para as capitanias. Além da luta armada, os indígenas reagiam de muitas maneiras desde a fuga a homicídios dificultando a organização da economia colonial. Como para a metrópole o seu objetivo era acumular riquezas, vê então na atividade do tráfico negreiro também uma atividade bastante lucrativa, sendo para ela, umas das principais fontes de acumulação de capital. Dois estudiosos do assunto Reis & Gomes menciona que, A participação do Brasil nessa trágica aventura foi enorme. Para o Brasil, estima-se que vieram perto de 40% dos escravos africanos, Aqui, não obstante o uso intensivo da mão- de- obra cativa indígena, foram os africanos e seus descendentes que constituíram a força de trabalho principal durante os mais de trezentos anos de escravidão. E a escravidão penetrou cada um dos aspectos da vida brasileira. Além de movimentarem engenhos, fazendas, minas, cidades, plantações, fabricas, cozinhas e salões, os escravos da África e seus descendentes imprimiram marcas próprias sobre vários outros aspectos da cultura material e espiritual deste país, sua agricultura, culinária, religião, língua, música, artes, arquitetura... a lista é longa e já estamos cansados de ouvi-la (REIS & GOMES, 1996, p.9). Deste modo, não há que duvidar a importância do negro na formação da história do Brasil, pode-se dizer mesmo contra a vontade, os negros foram obrigados a deixarem o seu país de origem para serem submetidos ao trabalho compulsório. Vê-se então que o latifúndio monocultor exigia uma mão-de-obra fixa e a utilização do negro para esses fins era extremamente viável, uma vez que a intenção dos trabalhadores portugueses era vir para o Brasil não para executar trabalhos braçais, mas sim se enriquecerem. Diante desses aspectos, com a vinda dos negros africanos para o Brasil transportaram consigo todos seus modos de vida contribuindo para a formação

cultural brasileira. E este fator ganha evidencia quanto à imensa riqueza da cultura brasileira trazida no período da escravidão, é possível enxergar essa contribuição da cultura africana na religião, no batuque, na culinária, na capoeira, enfim tudo isso faz parte de um arcabouço cultural brasileiro. Logo, a escravidão africana especificamente no Brasil foi muito rentável para a economia portuguesa, através dela é que se proporcionou a produtividade nas terras brasileira. Com isso, os negros foram direcionados para os campos da mineração, plantação de cana-de-açúcar, algodão, tabaco dentre outros, o contingente de negros em terras brasileiras exerceram todos os tipos de trabalhos, a sua mão-de-obra era realizada tanto no meio rural e urbana, sempre executando tarefas mais pesadas que requerem maior esforço braçais. Deste modo, esse dinamismo proporcionou a formação tanto genética e cultural do povo brasileiro. A resistência negra a escravidão: Grande parte da historiografia existente aponta a respeito da escravidão dos negros e as lutas de resistência contra a escravidão em Rebeliões da Senzala de Moura (1988), que mostra a partir de seus estudos que a rebeldia do negro já explica pela própria dinâmica social do modo de produção escravista, que de acordo com autor era marcada pela existência no seu interior de classes antagônicas que tinha senhores e escravos em pleno conflito. Deste modo, as diversas formas de resistência surgida nesse período era resultado da posição inferiorizada do negro na sociedade escravista. As fugas de escravos no período colonial eram sem duvidas um dos recursos utilizado para fugir da humilhação do cativeiro e do sofrimento. Pode-se perceber que a resistência do negro sempre acompanhou a escravidão durante todo o período escravista no Brasil, Reis & Gomes faz uma análise desse processo de resistência, visto que,

Onde houve escravidão houve resistência. E de vários tipos. Mesmo sob a ameaça do chicote, o escravo negociava espaços de autonomia com os senhores ou fazia corpo mole no trabalho, quebrava ferramentas, incentiva plantações, agredia senhores e feitores, rebelava-se individual e coletivamente. Aqui também a lista é longa e reconhecida. Houve no entanto um tipo de resistência que poderíamos caracterizar como a mais típica da escravidão- e de outras formas de trabalho forçado. Trata-se da fuga e formação de grupos, é importante lembrar. Ela podia ser individual ou até grupal, mas os escravos terminavam procurando se diluir da massa escrava e de negros livres (REIS & GOMES, 1996, P.9). Sendo assim, não se pode negar que a relação do negro com a sociedade escravista foi de extremo conflito, porém a partir da análise de Gilberto Freyre (1996), com suas obras na década de 1930, fica percebido uma visão contraditória no que tange o olhar do autor supracitado, já que Freire descreveu as relações escravistas como sendo de uma forma geral. No entanto vê-se um embate de idéias quanto a esta questão, haja vista que, Moura (1987) contrapõe fazendo referência ao negro como aquele que lutou contra a opressão em busca da liberdade e da dignidade como se não fosse passivo de direitos iguais. Para tanto, a visão elitista e racista da realidade social tenta naturalizar e ao mesmo tempo justificar a escravidão com idéias no sentido de amenizar a violência das práticas escravistas. Por essa razão, desde a colonização as relações raciais no Brasil são marcadas por preconceitos para com a população negra. A sociedade colonial ao se estabelecer nas terras brasileiras estruturou com a unidade produtiva do latifúndio e com a mão-de-obra escrava tanto do índio e do negro. A partir disso, o índio (nativos) e africanos, ficaram de fora de todos os projetos políticos, ou seja, das dimensões da cidadania, perderam a liberdade, foram excluídos do novo modelo econômico. Em torno destas questões verifica-se que, tiveram de trabalhar forçados para contribuir na acumulação do capital, não estudavam e ainda eram vítimas de violência física e moral. Nessa perspectiva, o preconceito disseminado contra toda a população em específico a étnia negra marcou a história do Brasil no passado e ainda sobrevive na contemporaneidade. Nos estudos feitos por Florestan Fernandes

(1978), é demonstrado a difícil situação dos negros vivenciados em um passado escravista já que, mesmo com a abolição da escravatura com a Leia Áurea em 1988, o negro encontra uma serie de dificuldade para adaptar nos moldes da sociedade de trabalho livre. Deste modo, a abolição dos escravos arremessou um imenso contingente humano na complexa exclusão social e econômica. Os negros africanos ganharam a condição de liberdade, mas não tiveram sua dignidade respeitada, foram abandonados e expulsos de suas terras, tornaram-se vítimas dos preconceitos e discriminação, formando assim, um numeroso grupo de excluídos sociais, políticos e culturais. O preconceito racial perdurado até nos dias atuais expõe uma realidade ainda existente na sociedade brasileira, A cor continua a operar como marca racial e como símbolo de posição social, indicando simultaneamente raça dependente e condição social inferior. Além disso, a população de cor, em sua quase totalidade, não possui elementos para livrar-se dessa confusão, vexatória e nociva ao mesmo tempo. O próprio negro que sobe entidade privilegiada dessa população- tem de travar uma luta heróica, ininterrupta e inglória par desfrutar, pessoalmente, parcelas mínimas das prerrogativas polarizadas em torno de suas posições sociais (FERNANDES, 1978, p, 337). Para Fernandes (1978), a forma como a condição negra está imersa dentro das relações sociais por si só é um ato de violência simbólica, onde a cor da pele tornou algo determinante na estrutura social. Conforme sua análise, dizer que não existe preconceito contra a população negra no Brasil é uma balela, esta precisa opinião aconteceu em uma de suas manifestações ocorrida num debate público, onde foi transcrita na obra de Da Matta (1981), em que fez a seguinte indagação: (...) negar o preconceito de cor no Brasil é negar as cores da bandeira nacional. Em resumo, o negro se viu comprimido, numa situação histórico-social de existência sufocante, por um

padrão de manifestação de preconceito de cor que operava, por si mesmo, como uma espécie de areia movediça, e por mecanismos tortuosos de reação societária ao desmascaramento da ideologia racial dominante.não se configuraram saídas fáceis de construtivas para o uso produtivo das formas de percepção e de consciência do preconceito de cor, com as quais uma minoria racial impotente e desarticulada pôs em cheque os fundamentos da democracia racial Brasileira ( DA MATTA, 1981, p,63). Em suma, o mito da democracia racial tão discutida engendrou umas das formas mais perversa do racismo no Brasil. Autores como Da Matta (1981), trazem uma importante discussão, em que a fábula das três raças está centrada em uma ideologia dominante dentro de um sistema hierarquizado fomentado por regime fundado por um discurso religioso. Essa observação feita pelo autor acima, torna visível como as relações sociais estão estabelecidas em torno da sociedade. A criação de certos conceitos tem interferido profundamente e gerado preconceitos contra negros, mestiços e índios, e acima de tudo permitindo a dominação de uma classe sobre a outra. O que parece ter ocorrido no caso brasileiro foi uma junção ideológica entre um sistema hierarquizado real, concreto e historicamente dado e a sua legitimação ideológica num plano muito profundo. Observo que as hierarquias sociais do <<antigo regime>>, isto é, o regime anterior à Revolução Francesa, eram ideologicamente fundadas nas leis de Deus e da Igreja. Era o fato de Deus ter armado uma pirâmide social com os nobres lá em cima e em o Imperador e o Papa legitimando seus poderes no plano temporal e espiritual que respondia às questões neste sistema. No caso brasileiro, a justificativa fundada na Igreja e num Catolicismo formalista, que chegou aqui com a colonização portuguesa, foi o que deu direito à exploração da terra e à escravização de índios e negros (DA MATTA, 1981, p.59). A partir das leituras de Da Matta (1981), o que se observa é que a escravidão implantada no Brasil estabeleceu aqui um sistema de hierarquização, onde a situação do branco está em um nível mais elevado do que a posição ocupada pelo negro, e isso garante ao grupo branco a superioridade que tem dominado as questões permeadas no interior da

sociedade brasileira. Assim, a inferioridade racial dos negros e mestiços é fato posto na realidade brasileira e isso pode ser visto no momento atual, pelos trabalhos exercidos pelos negros que ainda continuam a exercer e ocupar posições secundárias no meio societário, podendo destacar quanto este aspecto, os trabalhos braçais, fonte de remuneração de grande contingente negro. A teoria da superioridade racial, gerada durante o século XVII, tem sobrevivido por ter encontrado sustentação nos comportamentos e atitudes praticada ao longo do tempo da escravidão, esses fatores contribuíram para a consolidação e manutenção no subconsciente da sociedade brasileira. Diante disso, o que presenciamos é um tipo de racismo disfarçado, mas que ainda permanece no cotidiano da nação brasileira, e esse tipo de racismo torna visível quando é legitimado o padrão europeu de sabedoria, inteligência, beleza, entre outros, continua seguindo as características do período colonial. Nessa perspectiva, os valores da cultura africana vinda com os negros têm sido negados perante a sociedade brasileira, assim a idéia de rejeição configura-se na própria negação do racismo dentro das relações sociais. Saímos de uma sociedade extremamente hierarquizada entre senhor e escravo para uma sociedade nos moldes capitalista regida pela concorrência e, além disso, pela competição exacerbada em que o negro pelas suas condições históricas encontra-se em desvantagem em relação ao branco que esteve e ainda mantém uma grande vantagem diante do negro. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pós abolição da escravatura, os negros ganharam sua condição de libertos, mas não tiveram a sua cidadania respeitada foram içados no meio social sem nenhuma política social que lhes assegurasse condições de vida digna. No contexto, pós a abolição percebe-se que não proporcionaram alternativas para a população negra a dar continuidade seus projetos de liberdade. Contudo, após tanto abandono por parte dos setores políticos há

séculos atrás que organizava a sociedade brasileira, os negros não foram incluídos na puta de discussão do novo modelo econômico do país. Muito se tem avançados mesmo em passos lentos, excluídos das benesses de uma vida digna. O movimento negro tem travado uma luta constante com o Estado brasileiro na efetivação dos seus direitos. É notável o estado de degradação vivida por essa população, onde são estigmatizados. Pode-se perceber que os Afrodescendentes em questão numérica estão em desvantagem em vários setores societária, podendo destacar quanto este fator mercado de trabalho, bem como o sistema educacional que é ainda muito precário, uma vez que estes dois elementos como demonstra os estudos atualmente possui um grande percentual de pessoas da cor negra dentro de um contexto extremo de vulnerabilidade. Com a liberdade, teoricamente brancos e negros passaram a serem cidadãos, e terem os mesmos direitos, embora camuflados, no entanto, o preconceito e a extensa desigualdade que se depara em nosso país estão relacionada à cor da pele e isso tornou um fator que impedem que a igualdade seja colocada em prática. Como bem afirma, a ideologia da democracia racial foi e é utilizada a fim de anular o processo de luta de classes e a reformulação do sistema de produção vigente (CASADO & AUGUSTO, apud Moura, 2011, p.14). Portanto, esta retrospectiva histórica sobre a situação do negro na formação da identidade brasileira, revela um Brasil miscigenado tendo como presença marcante os africanos, que contribuíram na constituição de um país diversificado culturalmente e socialmente. Porem, este mesmo país trás ainda do seu passado preconceito e discriminação, são fatores que vigora sobre a vida da população negra brasileira. Nesse aspecto, pode-se observar no decorrer deste artigo, a etnia negra no que tange as questões políticas, sociais e econômicas, fazendo um balanço histórico do país veremos que a população negra sempre foi colocada em segundo plano no que se refere às ações de interesse desses sujeitos.

REFERÊNCIAS: CASADO, Deise Donatoni & AUGUSTO, Viviane Viola. Liberdade ou utopia. In: Sociologia Ciência & Vida, v.36, ano IV. São Paulo: Escala, 2011. COSTA, Rodrigo Furtado. Capitalismo e formação social escravista no Brasil. In: Sociologia Ciência & Vida, v.34, ano IV. São Paulo: Escala, 2011. DA MATTA, Roberto. Digressão: A fábula das três raças ou problema do racismo à brasileira. In: Relativizando: Introdução à Antropologia social. Ed; Vozes. Petropólis, 1981, pp. 58-85. FERNANDES, Florestan. O problema do negro na sociedade de classes. In: A integração do negro na sociedade de classes. V. 2. Ed: Átina. São Paulo, 1978, pp.333-463. FREIRE, Gilberto. Casa grande e senzala: A formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Ed: Record. Rio de Janeiro, 1996, Cap. I, pp. 3-54. JUNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. Ed: Brasiliense. ED. 13º. São Paulo, 1973, p. 19-32. MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião negra. Ed: Brasiliense. São Paulo, 1987.

REIS, J. J. & GOMES, F. dos S. Introdução: A história dos quilombos no Brasil. In: liberdade por um fio: A história dos quilombos no Brasil. Ed. Campanhia das Letras. São Paulo, 1996, PP. 9-25.