Mateus Affonso Bandeira MBA - Wharton Class 2004



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Mateus Affonso Bandeira MBA - Wharton Class 2004 01.) Conte-me sobre sua formação acadêmica. Sou formado em Informática pela Universidade Católica de Pelotas (1989), sem nenhum destaque do ponto de vista acadêmico. Menciono isso porque, embora este aspecto seja um fator importante na avaliação dos candidatos ao MBA, a performance acadêmica não é necessariamente determinante - uma performance baixa pode ser compensada por outros pontos positivos. Fiz, também, duas pós-graduações, uma em Finanças Corporativas pela FGV -1995/1996 (4º /34) e outra em Gestão de Sistemas de Informação pela UFRGS -1998/1999 (5º/24). 02.) Você participou de alguma atividade extracurricular? Não exatamente. Até ingressar na faculdade eu praticava esportes. Treinei natação por 8 anos e Karatê por outros 8. Na faculdade não sobrou muito tempo, já que eu estudava à noite e trabalhava durante o dia, e no ano de 1998, estive no Exército (NPOR). 03.) O que você fez profissionalmente antes de entrar em Wharton? Trabalhei por um ano na Josapar (arroz Tio João) como programador/ analista de suporte, desempenhando atividades essencialmente de suporte técnico em sistemas operacionais Unix. Na seqüência, trabalhei por quase um ano na Cia Iochpe de Participações em Porto Alegre (naquela época, a holding do grupo Iochpe) como Analista de Sistemas e, em seguida, por aproximadamente dois anos e meio, na Iochpe-Maxion, em São Paulo, como supervisor de informática. Nesse período, atuei no desenvolvimento e na manutenção de sistemas de informação. Naquela época, em 1991-1993, tive oportunidade de participar ativamente do processo de downsizing da arquitetura de informática do Grupo e fui responsável pelo projeto e pela implantação das primeiras redes de microcomputadores da companhia. Em 1992, como supervisor de informática, liderei um projeto para automação da rede de comunicação da Unidade de Exportação do grupo. A maioria dos sistemas de informação era ainda baseada em mainframe e a computação pessoal nas empresas estava apenas começando. Em junho de 1993, fiz uma mudança radical e fui trabalhar na Administração Pública, após ter sido aprovado em um concurso para Auditor de Finanças Públicas da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul. Atuei em diversas áreas da Secretaria da Fazenda:na arrecadação de tributos estaduais,no gerenciamento de dívida tributária, em estimativas fiscais, no monitoramento da arrecadação e no planejamento financeiro. Mas com o background em sistemas de informação, logo acabei ajudando a organizar uma área de informática e gerenciei uma divisão de Sistemas de Informação no Departamento da Despesa Pública. Depois, ajudei na criação de uma área corporativa de TI para a Secretaria, onde fiquei até o final de 1998 liderando a Divisão de Planejamento de TI e Terceirização. Em 1999, fui convidado pelo presidente da Companhia Estadual de Energia Elétrica do RS (CEEE) para assessorá-lo na reorganização da área de TI da empresa, onde liderei o processo de revisão do modelo de outsourcing de TI, ajudando a internalizar funções que a diretoria da empresa considerava estratégicas e inerentes ao negócio de energia. Ainda na CEEE, liderei o processo de avaliação de oportunidades de negócio em telecomunicações para a empresa, que já possuía grande tradição na operação e na gerência de sistemas de Telecom para o atendimento de suas necessidades corporativas (operação do sistema elétrico). Gerenciei um projeto para implantação de uma unidade de negócios em Telecom, aproveitando a malha elétrica de mais de cinco mil quilômetros de linhas de transmissão e a rede de distribuição de energia, para a construção de uma rede ótica de longa distância. Assim, de meados de 1999 até abril de 2002, atuei no desenvolvimento de negócios de telecom, na formação de alianças com outras empresas de telecom, na avaliação de business cases e na renegociação de todos os contratos de pole attatchment com as operadoras de telecomunicações.

04.) Como foi sua preparação para o GMAT e TOEFL? Era bem cansativo porque eu morava em Porto Alegre e viajava muito naquela época, então tentava organizar minhas viagens de modo que pudesse estar em São Paulo nos dias de aula. Mas fora as aulas, sobravam apenas os finais de semana para estudar. O meu primeiro GMAT foi em julho e consegui apenas 640-Q49-V27. Estudei por mais um mês para o verbal (e muito pouco matemática) e fiz novamente a prova. Dessa fez aumentei a nota do verbal, mas piorei no quantitative, e fiquei novamente com 640-Q46-V34. Embora tivesse muitas recomendações para fazer a prova novamente, já que vinha fazendo 700+ nos mocks, decidi aplicar assim mesmo, acreditando que a minha experiência profissional pudesse compensar esse aspecto do GMAT no processo de seleção. No final, a minha nota foi a mais baixa entre os brasileiros aprovados para a classe de 2004. Já o TOEFL foi tranqüilo, fiz a prova depois do último GMAT e não estudei nada adicional e minha nota foi 275. 05.) Quando e em que circunstância surgiu a idéia de um MBA? Eu já havia feito duas pós-graduações. Quando fiz Finanças na FGV, muita gente já falava em MBA. Em 1998, fiz também um curso de aperfeiçoamento na Itália de quase 4 meses, do Instituto de Reconstrução Industrial (IRI), a antiga holding das estatais do governo italiano. Era um programa de cooperação internacional baseado em seminários, palestras sobre o modelo da União Européia, discussão de cases e minicursos; a turma tinha profissionais de dezesseis países diferentes e background profissional variado, o que enriquecia as discussões. A partir dali eu passei a pensar mais seriamente na idéia de estudar no exterior em uma escola de primeira linha, aliando o componente acadêmico à oportunidade de desenvolver uma visão internacional. Em 2000, em uma viagem de férias, passei um mês em Boston estudando inglês, e aproveitei para visitar Harvard e MIT. Conversei também com um amigo que havia feito MBA no MIT, e ele me incentivou bastante. 06.) Como é visto no Governo um funcionário com um MBA? Na administração pública um MBA é raro. No Rio Grande do Sul, até onde eu sei, ninguém do setor público fez um MBA no exterior. Ainda não existe muito incentivo para cursos desse tipo. O que acontece, quando acontece, são iniciativas individuais e isoladas, que em algumas situações têm o apoio do governo. No meu caso, quando decidi tentar o MBA, ainda trabalhava na CEEE. Conversei com o presidente da empresa, a quem eu assessorava, e ele me deu todo o apoio possível. Entretanto, como sou funcionário da Secretaria da Fazenda e estava licenciado pelo governo para trabalhar lá, foi necessária uma autorização do governador licenciando-me novamente por dois anos para realizar o curso e retornar para o governo do estado. Embora o MBA não seja algo necessário, talvez sequer valorizado em algumas instâncias do governo, acredito que a experiência e os conhecimentos adquiridos durante o curso devam criar novas oportunidades profissionais, como também ajudar a desenvolver uma visão mais empreendedora na Administração Pública. Mas, de fato, isso representa um investimento altíssimo e de risco, já que o governo não paga as despesas do curso. 07.) Como foi a escolha das escolas para as quais você aplicou? Procurei entender o perfil de cada uma das escolas de maior prestígio nos Estados Unidos. Na Europa, pesquisei apenas Insead e LBS. Queria uma escola bem posicionada nos rankings, com boa reputação no Brasil (pois eu sabia que não ficaria no exterior), forte em finanças, com boa oferta de eletivas em Public Policy e que valorizasse a diversidade de background, já que a maior parte da minha experiência profissional é no governo. Reunindo esses critérios, a minha primeira opção era Wharton; na Europa, Insead. 08.) Para quais escolas você aplicou? Apliquei apenas para Wharton, MIT e Harvard. Eu ainda tinha o processo de application quase pronto para Insead e Berkeley, mas suspendi tudo, assim que fui admitido em Wharton.

09.) Como foram as entrevistas? Câmpus ou não: há diferença? Na minha opinião não há diferença entre ser entrevistado no câmpus ou em São Paulo, por exemplo. Talvez um candidato consiga demonstrar interesse genuíno na escola indo até o câmpus, mas acho que a performance na entrevista é o que realmente conta. Minha entrevista para Wharton foi em São Paulo. Foi bem tranqüila (na primeira semana de janeiro de 2002) e não teve nada muito diferente daquelas perguntas clássicas que a gente encontra nos livros de orientação para MBA. Uma ou outra pergunta um tanto inusitada, mas sem muitas surpresas em relação a como eu já imaginava que seria. 10.) Qual é seu projeto pós-mba? Em um primeiro momento, vou retornar para o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, em princípio na Secretaria da Fazenda. O Rio Grande do Sul, como todos os outros estados brasileiros, passa por uma situação crítica de déficit estrutural nas finanças públicas, com dificuldade para realizar os investimentos que a sociedade espera. E tempo de crise é sempre tempo de oportunidade. Nesse ambiente, as mudanças necessárias são sempre mais palatáveis, porque todos sabem que algo precisa ser feito. Como os governos têm um ciclo de quatro anos, existe um fator positivo que é o desejo de os agentes políticos implementarem projetos de mudanças de curto e médio prazos, o que cria uma série de oportunidades para projetos interessantes. E na Administração Pública ainda existe muito espaço para projetos de redução de custos e melhoria de eficiência. Outra área do governo pela qual tenho particular interesse é a de investimentos. A experiência de um MBA e o networking fantástico que fazemos aqui me qualificam bastante para contribuir com esse tipo de iniciativa, podendo agregar muito na identificação de investidores potenciais, na avaliação de investimentos e nos resultados para o Estado. Acho que posso, também, de alguma forma, gerar um efeito multiplicador, estimulando outras pessoas a buscarem alternativas para o aperfeiçoamento profissional. 11.) Wharton é ideal para que perfil de candidato? Embora Wharton seja reconhecida como uma escola forte em Finanças, acho que o seu maior diferencial é o perfil de escola internacional, que valoriza bastante a diversidade como componente essencial na formação das turmas de MBA. Aproximadamente 40% da turma é formada por estudantes internacionais. Boa parte dos alunos foge do padrão banco de investimento/consultoria. Há diferentes perfis da indústria (marketing, finanças, operações), empreendedores e até médicos ah, e até gente do governo! Alunos com diferentes formações culturais, acadêmicas e profissionais, o que certamente ajuda a criar um ambiente rico para o aprendizado. 12.) Que imagem você tentou passar no seu application para Wharton? A minha estratégia foi justamente me apresentar como profissional, com perfil completamente diferente da grande massa de candidatos. Dei ênfase à minha experiência de treze anos e meio, distribuída entre os setores público (nove anos) e privado ( quatro anos e meio). Em vez de passar a idéia de potencial futuro, procurei falar mais daquilo que já havia feito, da progressão rápida que tive no início da carreira, quando ainda trabalhava com TI, da transição para a Administração Pública e de todos os projetos de impacto/modernização nos quais me envolvi. A ênfase maior foi sobre os últimos três anos, quando estive na CEEE assessorando o presidente da companhia e liderando a implementação de uma unidade de negócios em telecomunicações. 13.) Sobre as aulas: case ou lecture? Competitivo ou cooperativo? Como se dar bem? Acho que depende muito do perfil e dos objetivos de cada aluno. O sistema de aprendizado em Wharton combina lecture e cases; e em muitas disciplinas há os famosos cold-calls. Além disso, boa parte das disciplinas tem um componente da nota (em algumas 30%) que é dado em função da participação em aula. Os brasileiros não têm essa cultura de falar em aula e,

geralmente, boa parte dos internacionais fica em desvantagem, pois não têm a mesma eloqüência que os americanos falando na sua língua nativa (ainda que algumas vezes com pouco conteúdo...). Para aqueles que querem se dar bem, a dica é chegar com um bom inglês. Eu particularmente acho o sistema um tanto injusto (com os internacionais) e ineficiente, pois força boa parte dos alunos, aqueles que dão maior importância para as notas, a disputar air time na aula, e nem sempre os comentários acrescentam valor às discussões. As participações espontâneas, na minha opinião, seriam bem mais interessantes. Por outro lado, com certeza, o ambiente de Wharton é de muito mais de cooperação do que de competição. Os alunos colaboram bastante, distribuem resumos dos casos de aula, se dividem para a leitura dos textos e inclusive se ajudam no período de entrevistas para o summer-job, com os alunos do segundo ano se voluntariando para fazer mock interviews com o pessoal do primeiro. Enfim, nesse aspecto, percebo o ambiente de Wharton como extremamente positivo. 14.) Fale um pouco sobre um "pequeno detalhe": dinheiro!! Wharton tem o CitiLoan, que é um acordo com o Citibank para o financiamento dos alunos internacionais, na qual a escola atua como co-signer. A taxa de juros no nosso foi fixada em Prime + 0.5% mas eu sei que este ano a taxa subiu para Prime + 3%, por conta da inadimplência. O prazo para pagamento pode chegar a quinze anos, começando seis meses após o término do curso. O financiamento é limitado ao orçamento da escola, por volta de $58,000 por ano, que na realidade fica um pouco abaixo do que realmente se gasta. O meu orçamento está estimado em $150,000 para os dois anos e eu estou bem abaixo da média de gastos dos brasileiros casados. Mas claro que o orçamento depende muito do nível de sofisticação que cada um está disposto a bancar, do tipo de lazer que espera ter, do conforto que pretende preservar, etc. Para os solteiros, acho que o orçamento mínimo deva ser por volta de $120,000, mas para quem for morar em Center City isso já sobe um pouco. 15.) Onde você fará o seu summer-job? Este ano talvez tenha sido um dos piores para o summer-job. Pelo que sei, após a semana de entrevistas (DIP-week), menos de 30% da escola tinha oferta. Felizmente acho que todos os brasileiros conseguiram colocações. Eu vou fazer meu summer-job no Brasil, dividido em 3 períodos de quatro semanas cada, em uma empresa de private-equity e duas empresas do seu portfólio. 16.) Como é o dia-a-dia de um MBA em Wharton? O dia-a-dia fora da escola depende muito do período do MBA. Durante o primeiro semestre, existe uma carga muita intensa de estudos e praticamente não sobra muito tempo livre. No segundo semestre já fica mais tranqüilo, enquanto que o segundo ano, assim espero, permite relaxar um pouco mais. Eu acho importante você, de alguma forma, manter um ritmo de vida que inclua outras atividades, isso ajuda a evitar o estresse do primeiro período. Por isso, a escolha da moradia se torna também super importante. Se você mora perto dos brasileiros, certamente a sua convivência será maior com eles e as chances de você estabelecer grandes amizades também será muito maior. Por mais que se relacione com os demais alunos, os nossos laços culturais são muito fortes e as turmas de brasileiros costumam ser bem unidas. Então essa convivência se torna parte da sua experiência aqui e fator fundamental para que o seu dia-a-dia seja bem mais agradável. 17.) Wharton, alguma decepção? Não exatamente. Mas eu não esperava chegar aqui e, antes mesmo de começar a aprender alguma coisa, descobrir que, desde o primeiro dia, a grande maioria já esta fazendo o seu job search. Ainda no pre-term, antes do início do ano acadêmico, já começam as visitas e as apresentações de empresas. Aí você percebe aquela abordagem característica dos alunos, que imagino seja igual em todas as escolas, onde muitos tentam fazer perguntas para parecer inteligentes ou para serem lembrados, e logo depois escrevem e-mails de follow-up para demonstrar o seu interesse pela empresa, na tentativa de assegurar uma vaga para entrevista. Chega a ser ridículo, e realmente esperava um pouco mais de maturidade nesse processo,

assim como esperava também outra abordagem dos recrutadores. Mas isso é inerente ao MBA, e não específico de Wharton. 18.) Quais seriam suas sugestões para quem está fazendo seu application? Uma dica para aqueles que têm boa experiência profissional: considere realmente os programas de um ano, como o de Insead e o Sloan Fellows do MIT, como alternativas interessantes. Se eu fosse começar novamente estaria muito inclinado por esses programas. Sobre a preparação para as provas, recomendo procurar a ajuda de um bom profissional, o investimento que você faz tem retorno garantido e poupa muito do seu tempo. Você se organiza melhor e tem uma boa idéia do seu progresso e do desempenho que pode esperar na prova. 19.) Alguma outra consideração sobre o MBA em si. Os MBAs continuam sendo uma formação essencial para algumas posições, embora já não ofereçam aquela alternativa infalível para quem deseja mudar radicalmente a carreira. Muito disso é resultado do final da era de ouro da Internet, que impulsionava as contratações de MBAs para as start-ups, consultorias e bancos de investimento. Quem pensava em um MBA como forma de migrar para essas oportunidades de carreira, com salários e pacotes de benefícios sensacionais, precisa repensar o processo. Eu continuo percebendo o MBA como um projeto de retorno no longo prazo, uma experiência gratificante que nos permite desenvolver uma visão internacional, estabelecer um networking fantástico, adquirir novos conhecimentos e aperfeiçoar determinadas habilidades. O aprendizado pela experiência de vida no exterior também é algo essencial, o que acaba tornando o MBA aqui fora incomparável com qualquer dos MBAs realizados no Brasil. 20.) Mateus, você conseguiu o financiamento da Fundação Estudar. Vamos tentar entender esse processo... i.) Quando você aplicou para a Fundação Estudar (FE) você já tinha sido admitido em Wharton. Você pode aplicar com aprovação em uma certa escola e deixar claro que você ainda vai receber respostas ao longo do ano? Imagine que você só entrou em Ucla até fevereiro, mas que em maio você receba aprovação de Wharton... Sim. Um dos requisitos para você se candidatar a bolsa da Fundação Estudar é ter sido aprovado para o MBA em uma escola de primeira linha. A partir da primeira aprovação você já pode aplicar e, caso seja aprovado em outra escola que seja sua primeira opção, você pode informar a Fundação durante o processo de seleção. Se você for aprovado em mais de uma escola, acredito que também seja interessante salientar, pois você mostra a consistência do seu application. A minha intuição diz que talvez isso ainda reforce a sua candidatura pela bolsa. ii.) Como você se vendeu nesse application para a Fundação? Qual foi o seu diferencial? Da mesma forma que no application para o MBA, eu contei a mesma história, que é exatamente o meu projeto de carreira. Aliás, essa coerência é necessária, pois você precisa enviar cópia dos seus essays. O único aspecto adicional que enfatizei ainda mais foi a minha experiência e background de Governo, bem como meu compromisso em voltar para a Administração Pública, criando uma nova frente para divulgar os ideais da Fundação. Claramente, esse foi, para mim, um diferencial positivo em relação aos demais candidatos. iii.) Dizem que é importante demonstrar que você tem interesses reais de voltar ao Brasil. Comente. Eu acredito que seja fundamental, já que o principal objetivo da Fundação Estudar é facilitar o financiamento do estudo de jovens brasileiros em escolas de business de

primeira linha no exterior, com o intuito de colaborar para a formação de uma nova elite empreendedora no Brasil. Se a pessoa não pretende voltar para o Brasil, claramente não pode estar alinhada com esses objetivos. iv.) Se você tiver o resultado positivo de, por exemplo, Wharton ou se você tiver de Harvard, você deve encarar o processo de uma forma diferente? Existe preferência entre as TOP- 10 para os entrevistadores? Imagino que não exista esse tipo de preferência. Em 2002, a Fundação Estudar selecionou sete novos bolsistas entre os candidatos que se apresentaram, cada um deles tendo sido admitido para diferentes escolas, inclusive fora das Top -10. v.) Quantas entrevistas? Como foram? Qual o estilo delas? Em 2002, o processo havia sido aperfeiçoado e no total foram cinco entrevistas. A primeira logo após o application, com a superintendente e uma equipe da Fundação.Essa entrevista é individual. Na seqüência tivemos uma dinâmica de grupo. Depois, uma nova entrevista individual, dessa vez com um ex-bolsista. Há ainda uma entrevista do tipo psicotécnico. Depois dessa fase, apenas alguns candidatos chegam a etapa final, que é a entrevista com os conselheiros da Fundação. Essa entrevista também é em grupo e com vários entrevistadores. vi.) Quais são os termos desse financiamento? As bolsas são negociadas individualmente com cada bolsista. O valor estabelecido em Dólar é convertido em Real na época do pagamento, que acontece em duas parcelas, uma a cada ano. Um dos compromissos é o retorno do valor recebido, na forma de doação, para a Fundação. Esse compromisso é importante porque estabelece a sua co-responsabilidade com o estudo dos próximos bolsistas. Após o final do curso, você inicia as doações à Fundação, estabelecidas previamente na base de 10% do seu salário, até a devolução total do valor recebido. vii.) Por que o financiamento pela FE seria melhor do que o loan pela própria escola? A bolsa da Fundação por definição é parcial, e portanto não vai substituir todo o financiamento garantido pelo Loan da escola. Ela pode ser importante na redução do seu endividamento, na medida em que a condição de reembolso parece ser bem mais vantajosa. Não há incidência de juros no reembolso da bolsa, apenas correção monetária pela variação cambial. Mas o mais importante na bolsa da Fundação Estudar não é apenas o aspecto financeiro, mas sim o fato de que ela te proporciona um networking adicional, às vezes mais interessante do que o da sua própria escola de MBA, pois te permite interagir com pessoas que têm experiências relevantes nos mais variados segmentos da economia brasileira.