Boletim do Leite ANO - NÚMERO 28 - NOVEMBRO DE 2004 USP/ESALQ - Depto. de Economia, Administração e Sociologia - Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) Safra 2004/05 pode ser melhor para produtores de Lei- A safra 2004/05 de leite avança com os preços relativamente baixos dos principais insumos utilizados na ração dos animais, com as exportações de lácteos em alta e os preços pagos aos produtores em patamares considerados bons. Dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada/Esalq-USP) mostram que, em termos reais (deflacionados pelo IGP-DI), a média bruta de novembro está 3,2% superior à do mesmo período do ano passado. Com a recuperação das pastagens no mês de outubro, a produção nacional (média de seis Estados pesquisados) aumentou 7% em relação a setembro, com destaque para São Paulo, com 9%, Minas, com 8,7% e Goiás, 5,6%, conforme pesquisas do Cepea. Excetua-se desta situação o Rio Grande do Sul, onde o período de safra está no fim e o volume captado foi 9% menor. Como o consumo não apresentou acréscimo, pelo menos não o suficiente para acompanhar o aumento da produção láctea, a maior oferta gerou mesmo recuo dos preços do leite pagos à maioria dos produtores neste mês de novembro referente ao leite entregue em outubro. Mesorregiões de São Paulo Mesorregiões de Goiás Preço pago ao produtor em novembro/04 referente ao leite de outubro - R$/litro Mesorregiões de Minas Gerais Mesorregiões da Bahia Valor Bruto: Inclusos frete + INSS 2 Valor Líquido: Livre de frete e INSS Valor Bruto: Inclusos frete + INSS 2 Valor Líquido: Livre de frete e INSS Índice de durabilidade Este índice é o mais importante quando se busca aumentar a vida útil produtiva das filhas de um determinado touro. Pág. 03 Fique Atento Rebanho de bois e vacas é maior que a população brasileira História do fornecimento de leite na Grande SP é tema de livro Argentina tem exportação recorde este ano Lactobacilos vivos: um aliado da nossa saúde! Pág. 06
Na média nacional, a queda do valor bruto foi de 2,20% em relação aos valores pagos em outubro. Já no Rio Grande do Sul, na principal bacia produtora desse Estado noroeste os preços pagos aos produtores mostraram-se superior em,4% em relação ao mês anterior. Fato que pode ser atribuído ao aumento da concorrência dos laticínios naquela região e à menor captação. Boa parte da queda dos preços pagos aos produtores também pode ser explicada pelos valores dos derivados lácteos no atacado. Destacam-se os atuais baixos preços do leite longa vida em São Paulo, comercializado por volta de R$,8/litro. Com os valores neste patamar, fica difícil uma maior remuneração ao produtor. Outro ponto a destacar são as variações nos preços líquidos, ou seja, nos valores recebidos pelos produtores (já descontados frete e INSS), que neste mês de novembro apresentaram queda de 3,5% em relação a outubro. Pesquisadores do Cepea explicam que esta variação foi maior por dois motivos. Em alguns casos, laticínios que já cobravam o frete do produtor repassaram o aumento dos custos decorrentes do encarecimento do diesel. Noutros, os laticínios voltaram a descontar o frete do preço do leite, fato que no período de entressafra neste ano era menos freqüente. Se, por um lado, o consumo doméstico não aquece, por outro, as exportações vão de vento em popa. Em outubro, as vendas externas foram 32% superiores às de setembro, e quando comparadas ao mesmo período de 2003, chegam aos impressionantes 26%. Isso significa que, de janeiro a outubro, o Brasil exportou o equivalente a 495 milhões de litros, cerca de 3,4% da produção formal do país. É bom lembrar que há quatro anos, a participação nas exportações era de apenas 0,6% e que as importações chegavam à casa dos 5%, também com base na produção formal. Do lado do produtor de leite, boas notícias chegam das bolsas de valores de Chicago. As cotações do farelo de soja, devido à alta perspectiva de safra norte-americana, estão fazendo com que os preços no mercado interno paulista batam na casa dos R$ 500,00/tonelada e a saca de milho oscile em torno dos R$ 7,00. Esses preços estimulam a alta produtividade baseada apenas em pasto com pequeno complemento de ração. Estima-se, neste mês de novembro, que o custo da dieta à base de cana para vacas de 5 litros/dia esteja na casa dos R$ 0,20/litros e, para vacas de 30 litros/dia, o custo somente com alimentação seja de R$ 0,6/litro. ACESSE Para acompanhar os valores nominais e deflacionados, por região, dos últimos sete anos, acesse: www.cepea.esalq.usp.br/indicador/leite Preço médio bruto pago ao prdutor (valores reais em novembro 04/IGP-DI=00) Mesorregiões do Paraná Mesorregiões do Rio Grande do Sul Valor Bruto: Inclusos frete + INSS 2 Valor Líquido: Livre de frete e INSS 2 - Boletim do Leite
A DEMANDA POR FATORES DE PRODUÇÃO De todas as cadeias produtivas do setor agropecuário, a do leite foi a que mais se transformou, nos últimos anos. Esta nova dinâmica do setor lácteo provocou várias conseqüências na atividade leiteira, como aumentos significativos da produção, da produtividade. Na década de 90, a produção nacional passou de 4,5 bilhões em 990, para 9 bilhões, em 999, correspondendo a um aumento de 4,5 bilhões nos anos extremos da década. De 990 a 2000, a taxa de crescimento da produção de leite, no Brasil, foi de 3,9% ao ano, segundo IBGE. Nesse período houve um aumento da produção per capita, visto que o crescimento da população foi inferior a 2%, que neste ano de 2004 aponta para os 34 litros por habitante ano. Dada a importância da atividade leiteira no país, torna-se importante conhecer a estrutura de custos do sistema produtivo. Assim, o objetivo deste trabalho é identificar a estrutura de demanda dos fatores de produção, verificando a sensibilidade dos sistemas de produção analisados à variação de preços. O referencial teórico utilizado foi baseado na função de produção e na função custo, as quais estão diretamente relacionadas pela teoria da dualidade. Os dados foram coletados por pesquisadores do CEPEA, em um trabalho conjunto com a FAO, durante o segundo semestre do ano de 2002 e se referem à safra de 200/2002. Os dados são de 60 propriedades, divididas entre os seis principais estados produtores de leite do país: Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Goiás. O fator de produção dieta animal foi agregado em concentrado, volumoso e pasto. O fator mão-de-obra foi agregado em serviços familiares e serviços feitos por terceiros na propriedade. O fator capital foi obtido a partir de um índice de depreciação de máquinas, benfeitorias, animais e somado a uma taxa de juros anual sobre o valor total do capital de cada propriedade. A Tabela apresenta as elasticidades-preço da demanda e cruzadas, que ajudam a caracterizar o mercado de insumos na atividade leiteira para as regiões analisadas. Estes valores mostram que o produtor é mais sensível a variações nos preços do fator terra, dieta animal e trabalho. Isto pode ser justificado pela maior escassez desses insumos nas regiões analisadas. O fator terra, até de uma maneira surpreendente, apresentou a maior elasticidade-demanda, isto é, para cada aumento de 0% no valor da terra a demanda por ela cai 9,6%. Vale lembrar que os dados foram coletados nas regiões sul, sudeste e no estado de Goiás, o que pode estar influenciando na elasticidade devido a uma concentração de pequenas propriedades, principalmente na região sul. Em relação aos valores das elasticidades da mão-de-obra e dieta 0,76 e 0,79 respectivamente, estes já se mostraram mais próximos do esperado, devido à elevada demanda por estes fatores de produção na atividade leiteira. O valor encontrado para a elasticidade-preço do fator capital (0,49) mostra que o produtor é menos sensível a variações de preços deste insumo em relação aos outros analisados. No entanto, o grau de substituição do capital é maior do que os outros, ou seja, um aumento no preço da terra, mão-de-obra ou dieta animal, causa uma queda na quantidade NA PECUÁRIA LEITEIRA. Alexandre Lopes Gomes demandada por estes insumos e um aumento na demanda por capital. A elasticidade preço cruzada da demanda do fator capital em relação aos outros insumos de 0,5, isso significa que um aumento de 0% no preço da mão-de-obra, por exemplo, faz com que a demanda pela própria mão de obra se reduza em 7,6%, e ocorre uma substituição do fator mão-de-obra pelo fator capital da ordem de 5,%. O mesmo ocorre em relação aos outros fatores de produção, mas numa proporção menor. O fator que se mostrou com menor grau de substituição em relação aos Tabela. Estimativa das elasticidades-preço diretas e cruzadas da demanda de fatores de produção da pecuária leiteira nos estados analisados em 2002. outros foi terra (0,04). Daí pode-se entender o porque de os produtores serem tão sensíveis a variações no preço da terra. A avaliação das elasticidades-preço cruzadas mostrou que os produtores têm no capital, o fator de produção que mais facilmente pode substituir os outros. Isto mostra que o aumento de preço da terra permite que este fator possa ser substituído por sistemas mais intensivos em capital, onde os animais ficam mais tempo confinados. O aumento do preço da mão-de-obra faz com que produtor possa escolher por utilizar maior quantidade de ordenhadeiras mecânicas, que permitem ganhos de produtividade da mão-de-obra e redução do uso deste insumo. E finalmente, aumentos no preço da dieta animal, como custo de manutenção de pastagens ou custo de armazenamento de volumoso, fazem com que o produtor utilize rações mais bem preparadas ou com maior nível de tecnologia. Isto ilustra bem a substituição do fator dieta pelo fator capital. Portanto, o produtor de leite no Brasil, mesmo com todas as dificuldades, ainda se mostra eficiente na atividade. Isto é, com os fatores de produção disponíveis ele ainda utiliza a combinação de fatores que maximiza sua renda e sua produção. No entanto, ao escolher o sistema de produção, deve ser considerado, além da combinação de insumos que permite ao produtor auferir um custo médio reduzido, o sistema de produção deve apresentar também elevada capacidade de resposta à variações no preço. Buscar custo médio baixo é importante, mas o aumento de sua renda anual e a sobrevivência na atividade só virão com a implantação de sistemas que permitam obter ganhos de produtividade, e conseqüentemente, da produção total. Eng. Agrônomo e Doutorando em Economia Aplicada na Esalq/USP. Bolsista CNPq algomes@esalq.usp.br
Média dos preços do queijo Mussarela e Prato no Atacado de São Paulo. Média dos preços do leite pasteurizado e UHT no Atacado de São Paulo. Média dos preços do leite em Pó e da Manteiga no Atacado de São Paulo. Preços do Leite para os próximos 30 dias Comportamento dos preços no atacado A partir desta edição, duas páginas são destinadas a informações sobre o mercado de derivados lácteos obtidas pela parceria entre o Cepea, a Embrapa, a OCB e a CBCL que, juntos, empreendem o SimLeite. Em cada edição do Boletim do Leite, serão publicados os preços no atacado dos principais derivados lácteos. Essas informações são obtidas quinzenalmente em 270 laticínios e cooperativas distribuídos por 0 Estados. Nas tabelas e gráficos destas páginas são apresentados apenas os valores negociados nos principais mercados atacadistas do País. Respeitando a dinâmica do setor, os dados serão apresentados sempre com um mês de defasagem. Nesta edição de novembro, seguem os valores praticados nas duas quinzenas de outubro. Muito importante é notar que o gráfico sobre as expectativas de preços do leite ao produtor nos próximos 30 dias não tem esse atraso. Nesta edição de novembro, por exemplo, as expectativas referem-se ao quanto deve ser pago ao produtor em dezembro, pelo leite entregue em novembro. Dos leites fluidos, a maior queda em outubro foi para o UHT, decorrente da oferta de produto gaúcho no atacado paulista (Estado). /////Por outro lado, o produtor é quem conseguiu uma melhor sustentação. Ainda que tenha ocorrido queda típica para o período -, o percentual foi baixo. Mercados mais regionalizados, como o do pasteurizado, mostrou menor oscilação////// SIMLEITE
PARCERIA
FIQUE ATENTO O rebanho de bois e vacas no Brasil no ano passado somou 95,5 milhões, mais que a população brasileira estimada em 82 milhões de habitantes para este ano. A informação faz parte de um estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a produção agropecuária, extração vegetal e silvicultura no País. Em relação ao leite, a captação brasileira passou de 4,4 bilhões de litros por ano em 990 para 22,3 bilhões no ano passado, um crescimento de 54,86%. O Estado de Minas Gerais concentra mais de 28% da produção, seguido por Goiás e Rio Grande do Sul. (O Tempo/MG). No começo do século passado,.600 vacas de.700 granjas dos chamados vaqueiros portugueses forneciam os 47.800 litros de leite que São Paulo consumia a cada dia. Hoje, o consumo diário da região metropolitana é de 5,5 bilhões de litros, boa parte na forma de queijo e iogurte, vindos dos 80 grandes laticínios que disputam o maior mercado brasileiro. É o que conta o livro O Leite na Paulicéia, escrito por João Castanho Dias, depois de mais de dois anos de pesquisa sobre a história do leite. Embora seja formado em direito, Castanho é jornalista rural desde 970. O livro está à venda no site www.leitebrasil.org.br. (Milk Point). Os lactobacilos vivos melhoram a pele, o cabelo, o sono e tem uma boa fonte de nutrientes para nossa flora intestinal, sendo responsável pela absorção dos nutrientes ingeridos através da alimentação. São eles que melhoram as condições da parede intestinal e assimilam nutrientes importantes para o corpo, como o ferro e o cálcio. Segundo a nutricionista Rosana Bianchi, do Centro Integrado Dominium Corpus, não adianta a pessoa seguir uma dieta saudável se a flora intestinal não estiver em ordem. Alimentos como o leite, queijo fresco, coalhada e iogurte são fundamentais para o nosso cotidiano porque contêm o melhor dos microorganismos: os lactobacilos vivos. Rosana diz também que é muito importante, principalmente no caso de leite fermentado, que ele não fique fora da geladeira ou exposto a uma temperatura elevada por muito tempo, pois, do contrário, os lacto bacilos morrem. Não é que o produto fará mal depois desse tempo, mas o usuário não obterá o efeito desejado para sua saúde; na verdade, consumirá um produto como qualquer suco, finaliza. (Láctea Brasil). Em setembro, as vendas do comércio varejista do Brasil cresceram 8,87% em relação ao mesmo período de 2003, informa o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O percentual representa também aumento em relação a agosto (6,95%). O ramo de supermercados e lojas de alimentos e bebidas, em que a maior parte das compras é feita à vista, sem depender de crediário, foi determinante para o desempenho do setor, diz o IBGE. Neste segmento, as vendas subiram 9,7% frente a setembro de 2003. (Láctea Brasil) A exportação de produtos lácteos da Argentina deve totalizar US$ 500 milhões este ano, montante 25% superior ao obtido em 2003 (US$29,8 milhões) um recorde impulsionado pela alta dos preços internacionais. No primeiro semestre, o principal importador dos lácteos da Argentina foi a Argélia, que absorveu 26% das vendas. Na seqüência ficaram Brasil, México, Venezuela, Estados Unidos e Chile. (Balde Branco). O Boletim do Leite é uma publicação do DEAS/CEPEA Endereço: Caixa Postal 32, Piracicaba, SP, CEP 3400-970 Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização. Coordenador Científico: Prof. Dr. Geraldo Sant Ana de Camargo Barros Conselho Editorial: Responsável - Eng. Agr. Leandro Augusto Ponchio; Ademir de Lucas - técnico em extensão rural, depto. Economia, Administração e Sociologia / Esalq-USP.; Paulo do Carmo Martins - Chefe da Embrapa Gado de Leite - Juiz de Fora. Equipe Técnica: Raquel Mortari Gimenes, Juliana M. Angelo, Erica Rodrigues da Paz e Priscila A. Cardoso. Jornalista Responsável: Ana Paula Silva - Mtb 27368 Tiragem mensal: 8.000 exemplares IMPRESSO