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Transcrição:

dos autores, 2004 Ágalma 2004 para a língua portuguesa 1 a. edição: maio de 2004 Projeto gráfico da capa e primeiras páginas Homem de Melo & Troia Design Editores Angela Baptista do Rio Teixeira Marcus do Rio Teixeira Direção desta coleção Angela Baptista do Rio Teixeira Organização deste número Leda Mariza Fischer Bernardino Colaboram neste número Alfredo Jerusalinsk, Angela Vorcaro, Gabriel Balbo, Jean Bergès, Jean-Jacques Rassial, Maria Aparecida de Luna Pedrosa, Maria Cristina Kupfer, Ricardo Goldenberg, Rosa Maria Marini Mariotto, Rozenn Le Duault, Silvana Rabello e Sonia Motta Tradução Leda M. Fischer Bernardino Revisão a cargo dos editores Depósito legal Impresso no Brasil / Printed in Brazil Todos os direitos reservados Av. Anita Garibaldi, 1815 Centro Médico Empresarial, Bloco B, sala 401 40.170-130 Salvador - Bahia, Brasil Telefax: (71) 245-7883 Tel: (71) 332-8776 e-mail: agalma@agalma.com.br Site: www.agalma.com.br CATALOGAÇÃO Mivaldo Silva Gonçalves Filho CRB 5º / 1059 Coleção Psicanálise da Criança: Coisa de Criança. v.1, n.1 (1991 -... ). Organização Leda Mariza F. Bernardino. Tradução Leda Mariza F. Bernardino. Salvador : Ágalma, 2004 n.14, 21 cm. ISSN: 0103-7633 1.Criança. 2.Psicanálise com criança. 3.Ética 4.Desejo do analista. 5.Pai. 6.Mãe. 7.Exibição. 8.Inibição. 9.Autismo. 10.Clínica com criança.

Sumário Apresentação, 7 Leda Mariza Fischer Bernardino Uma questão preliminar A ética é o estilo,13 Ricardo Goldenberg Elementos teóricos Questões sobre o desejo do analista de crianças, 25 Jean-Jacques Rassial Ser dama do unicórnio ou psicanalista com crianças, 36 Rozenn Le Duault O desejo do psicanalista e a criança, 57 Leda Mariza Fischer Bernardino O que quer um psicanalista com as crianças?, 71 Silvana Rabello A transmissão do pai e suas conseqüências para a psicanálise de crianças, 81 Maria Cristina Kupfer Elementos clínicos Da exibição à inibição, 99 Angela Vorcaro O ponto de basta ou sobre o significante ser pai, 130 Gabriel Balbo Ponto de vista sobre a psicanálise da criança, 155 Jean Bergès Complexo de mãe, 163 Alfredo Jerusalinsky Desejo de analisar crianças: que desejo é este?, 171 Sonia Pereira Pinto da Motta Rumor, 205

Títulos originais e locais de publicação A ética é o estilo. Ricardo Goldenberg. Inédito. Questions sur le désir de l analyste d enfants. Jean-Jacques Rassial. In Le discours psychanalytique nº 18. Paris: Association Freudienne Internationale, 1983. D être Dame à la Licorne ou psychanalyste avec les enfants? Rozenn Le Duault. In La psychanalyse de l enfant. Revue de l Association Freudienne nº 2. Paris: Joseph Clims, 1986. O desejo do psicanalista e a criança. Leda Mariza Fischer Bernardino. Inédito. A transmissão do pai e suas conseqüências para a psicanálise de crianças. Maria Cristina Machado Kupfer. Inédito. Da exibição à inibição. Angela Vorcaro. Publicado, com pequenas modificações, sob o título Sob a clínica: escritas do caso, In Estilos da Clínica, vol. VIII, nº 14, 1º semestre de 2003. São Paulo, Instituto de Psicologia da USP. O que quer um psicanalista com as crianças? Silvana Rabello. Inédito. Le point de capiton, ou: du significant être père. Gabriel Balbo. In Le Bulletin freudien. Revue de l Association Freudienne de Belgique nº 34: Enfance. Bruxelas: Março de 2000. Point de vue sur la psychanalyse d enfant. Jean Bergès. In Le Bulletin Freudien. Revue de l Association Freudienne de Belgique nº 34: Enfance. Bruxelas: Março de 2000. Complexo de mãe. Alfredo Jerusalinsky. Inédito. Desejo de analisar crianças: que desejo é este? Sonia Pereira Pinto da Motta. Inédito.

Apresentação Leda Mariza Fischer Bernardino O germe para a organização deste volume está lá atrás, no início dos anos 90, quando decidi propor um grupo de trabalho sobre o tema Psicanalisar... crianças que desejo é este?, que pretendia justamente reunir jovens analistas, em sua maioria supervisionandos, para leitura e discussão de textos que ajudassem a avançar um pouco nesta escolha que muitas vezes aparecia tão marcada pelo sintoma de cada um. Inevitavelmente, era um grupo constituído apenas por mulheres, apontando então este traço particular ligado a tal especificidade. Foi um trabalho muito rico, que produziu efeitos dos mais variados na trajetória profissional de cada uma das integrantes deste grupo. No final dos mesmos anos 90, convidada a participar de um congresso sobre psicanálise de crianças, escrevi um texto 1 que fazia um pouco a função de um passe contava e teorizava sobre um percurso de vinte anos praticando a psicanálise de crianças e participando da formação de muitos colegas nesta direção. Nos debates acalorados que se seguiram à apresentação deste texto, muitas foram as perguntas e os depoimentos, alguns demonstrando claramente os preconceitos e até mesmo a ignorância de alguns colegas quanto a esta prática. Foi um momento tão importante que 7

PSICANALISAR CRIANÇAS não pude deixar de compartilhá-lo com Angela do Rio Teixeira, diretora da Coleção Psicanálise da Criança da Editora Ágalma. Angela, com seu habitual entusiasmo, abraçou a idéia de incluir este tema na coleção e me encarregou de organizar este volume. De lá para cá, foram alguns anos de preparação que resultaram nesta obra. Vocês encontrarão aqui elementos teóricos e práticos para refletir sobre este tema, prefaciados por uma questão preliminar: um texto de Ricardo Goldenberg sobre a ética em psicanálise, que não poderia faltar em um livro que se propõe a pensar sobre o desejo do psicanalista. Depois de Lacan, que soube fazer a passagem da contratransferência tão cara aos ingleses para a questão do desejo do analista implicado em toda análise, uma discussão sobre a ética na psicanálise se impõe e sem rodeios. Goldenberg o faz com a propriedade de quem já trabalhou a moral em Freud e o cinismo contemporâneo 2, para desembocar em uma reflexão original que merece ser compartilhada. Compondo os elementos teóricos, temos um artigo de Jean- Jacques Rassial, que aponta justamente o paradoxo desta especificidade da psicanálise de crianças, já que não há especificidade do desejo do analista, radiografando-a a partir da demanda, da interpretação e do fim da análise de crianças. Rozenn Le Duault, por sua vez, também faz deste o ponto de partida de muitas outras reflexões, sobretudo no que concerne à difícil posição do analista de crianças na transferência, ao sofrer um impuxo à maternagem. No meu artigo, preocupo-me em apresentar uma panorâmica da discussão sobre a especificidade desta prática na literatura, articulando-a com o conceito freudiano de infantil e com o conceito lacaniano de desejo do psicanalista. Silvana Rabello questiona com sutileza a implicação do analista na questão que situa como específica da clínica com crianças: o acompanhamento do processo de constituição subjetiva, a partir de sua experiência com crianças autistas e psicóticas. Já Maria Cristina Kupfer, assume-se psicanalista de crianças num texto soberbo, a partir de um percurso singular, norteado pela questão da transmissão do pai, percorrendo exemplos da história de Freud, da literatura e da 8

APRESENTAÇÃO teoria lacaniana, para analisar as novas formas de conjugalidade e seus efeitos na clínica. Na segunda seção, dos elementos práticos, Angela Vorcaro debruça-se sobre a primeira análise de crianças, do Pequeno Hans, dissecando a presença do desejo de Freud ali, a partir da escrita do caso. Contamos em seguida com um texto polêmico de Gabriel Balbo, que demonstra em um caso clínico uma tomada de posição nada convencional, que resultou no desvio de um encaminhamento psicótico e na retomada da questão estrutural para uma criança, justamente porque um analista agiu segundo seu desejo de analista. O texto seguinte, de Jean Bergès, aponta o grande impasse desta clínica: a tentação do ver, que obscurece o ouvir, tanto mais quando se trata de crianças que apresentam síndromes, lesões ou outros problemas de desenvolvimento. Em seu artigo, Alfredo Jerusalinsky se detém a analisar este sintoma da psicanálise de crianças, já indicado acima: o de ser uma escolha predominantemente feminina, fato que marca também outros campos de cuidados prestados às crianças contemporâneas, o que o leva a inventar um novo complexo, tirando daí conseqüências históricas e também éticas. Fechando o volume, temos o artigo de Sonia Motta, que fala de seu percurso e de sua clínica, num texto entremeado de poesia, demonstrando na sua escrita o quanto o psicanalista de crianças é marcado pela paixão pelo significante. Relendo os textos e esta apresentação, para finalizar o volume, dei-me conta de que esta produção é também um manifesto, produzido por analistas brasileiros, franceses e argentinos, pela clínica do significante em todas as suas manifestações, como tão bem Lacan soube apontar e transmitir. Falta agora a sua presença de terceiro, caro leitor, para tirar deste manifesto as conseqüências que ele possa ter em seu caminho. Curitiba, fevereiro de 2004. 9

PSICANALISAR CRIANÇAS Notas 1 Ver BERNARDINO, L.M.F. Psicanalisar... crianças, que desejo é este? In: Trata-se uma criança / I Congresso Internacional de Psicanálise e suas Conexões. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999, pp. 64 a 73. 2 Ver: GOLDENBERG, Ricardo. Ensaio sobre a moral de Freud. Salvador: Ágalma, 1994. No círculo cínico, ou, caro Lacan, por que negar a psicanálise aos canalhas? Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002. Sobre a Organizadora Psicanalista, membro-fundador da Associação Psicanalítica de Curitiba, analista membro da Association Lacanienne Internationale, doutora pela USP e professora titular da PUC-PR. É co-autora e organizadora, nesta mesma coleção, do volume Neurose infantil versus neurose da criança As aventuras e desventuras na busca da subjetividade. Salvador: Ágalma, 1997. 10