Eng.º João de Jesus Ferreira Colaboração: Eng.º Bernardo Rebelo de Freitas Introdução Uma comparação actual de opiniões, a propósito do consumo, deixa antever, no mínimo, três cenários possíveis: Responder à procura sem limitações; Autolimitar a procura voluntariamente; Limitar o consumo pelo constrangimento. A questão energética, desempenha-se também no plano social; A Energia desempenha um papel fundamental na economia e no seu desenvolvimento, quer pela lei da oferta como pela lei da procura. Há que perceber o estado da nossa produtividade energética, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista económico. 1
A partir de 2005, deparamo-nos com o cenário: limitar o consumo pelo constrangimento. O sector energético é também um elemento vital para o desenvolvimento sustentável do país, assumindo contornos estratégicos para o aumento da competitividade da economia nacional. Fonte: DGEG Figura 1. Evolução da estrutura do consumo total de energia primária Fonte: DGEG Figura 2. Evolução da estrutura do consumo total de energia final 2
Economia Da Energia De realçar os seguintes aspectos: Uma quase estagnação do consumo final de gás natural, a partir do ano de 2008; Uma queda acentuada no consumo de petróleo, a partir do ano de 2005. O facto de a taxa do iva ter ultrapassado a barreira dos 19% em 2005, levou a que uma parcela do consumo se deslocasse para Espanha. Não se encontra uma explicação imediata para a queda no consumo de energia primária e final. Fonte: DGEG; PORDATA;JJF Figura 3. Evolução dos índices de consumo de energia e do PIB 3
O ideal será ter uma evolução do consumo de energia primária claramente inferior ao valor gerado pela nossa economia; Em 2006, ocorreu uma inflexão conjuntural, provocada pela contracção no consumo mais forte do que a contracção no crescimento económico. A Economia Portuguesa é caracterizada por uma fraca produtividade energética. Esta produtividade é normalmente medida através de um conjunto de indicadores energéticos dos quais se destacam: As intensidades energéticas do rendimento (nacional; industrial; sectorial); Os consumos específicos da produção; As elasticidades do consumo de energia (em relação ao PIB ou ao VAB). Os sectores primário e secundário têm vindo a perder peso nas últimas décadas para o sector terciário. O sector agrícola passou de uma contribuição de 14% em 1977 para 2,41% em 2010 Fonte: PORDATA Figura 4. Evolução da estrutura do VAB 4
16% 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0% Contribuição do Sector Agrícola para o VAB (Portugal) AGRICULTURA E PESCAS Fonte: PORDATA Figura 5. Contribuição do sector agrícola para VAB Consumo de Energia Final Sector de Actividade (1990 2011) 20.000 [ktep] 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Const. e Obras Públicas Serviços Doméstico Transportes Indústria Agric. e Pescas Fonte: DGEG Figura 6. Estrutura do Consumo de energia final 5
5% 5% 4% 4% 3% 3% 2% 2% 1% 1% 0% Evolução do Peso do Sector Agrícola no Consumo Global de Energia Final Agric. e Pescas Fonte: DGEG Figura 7. Peso do sector agrícola no Consumo total de energia final Consumo de Energia Final Sector Agrícola 700 600 500 [ktep] 400 300 200 100 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Agric. e Pescas Fonte: DGEG Figura 8. Consumo total de energia final no sector agrícola 6
Verificou-se uma evolução contrária ao desejável; Este indicadores estão relativamente estabilizados desde 2005, apresentando no entanto uma tendência ligeiramente decrescente. [kgep/[1000 ] 250 200 150 100 50 Intensidade Energética Final por SectordeActividadeEconómica (Preços de 2000) 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Indústria Transportes Doméstico Terciário Fonte: DGEG Figura 9. Evolução da Intensidade Energética por sector de actividade económica O sector agrícola teve um bom comportamento até 1998, esta tendência inverteu-se e tende a agravar-se. Este agravamento deve-se a um aumento do desperdício na utilização da energia. Fonte: JJF; DGEG; PORDATA Figura 10. Evolução da Intensidade Energética do PIB e do sector agrícola 7
A intensidadedaenergiaprimáriadopibde Portugal, apresenta uma ligeira tendência decrescente. É evidente a importância de promover a utilização racional e eficiente da energia, muito mais do que promover a produção de energia com recursos a fontes primárias renováveis. Há que produzir mais riqueza com cada vez menos recurso a energia. Fonte: EUROSTAT Figura 11 Índice da intensidade Energética Primária da Economia Portuguesa vs Economia Europeia de 1996 a 2009. 200 Intensidade Energética 2000 2011 175 [kgep/1000 ] 150 125 100 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 EU27 EU15 Portugal Fonte: EUROSTAT; JJF Intensidade Energética Primária da Economia Portuguesa vs Economia Europeia de 2000 a 2011. 8
200 Intensidade d Energética 2000 2011 175 [kgep/1000 ] 150 125 100 75 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 EU27 EU15 Portugal Dinamarca Alemanha Irlanda Grécia Espanha França Itália Reino Unido Fonte: EUROSTAT; JJF Intensidade Energética Primária da Economia Portuguesa vs Economia Europeia de 2000 a 2011. Entendemos que a saída para a melhor e maior competitividade energética da nossa economia, é a eficiência energética Fonte: JJF Figura 12 Análise comparativa do peso relativo da intensidade energética nos vários sectores da actividade económica 9
Não existe qualquer monitorização sobre o impacto dos programas e regulamentos que visam a eficiência energética; Existe uma avaliação a ser feita para as medidas propostas, inerentes ao SCE e SGCIE. Todavia, na realidade não se sabe se foram implementadas ou se o vão ser, uma vez que, nem sequer são de carácter obrigatório. Figura 13 Cenários de Previsão do consumo mundial de energia primária a 2030 Os custos da energia na indústria transformadora Os preços da energia têm um impacto significativo na competitividade da nossa indústria. Fonte: JJF Figura 14 Análise comparativa do peso relativo da intensidade energética em alguns subsectores da indústria transformadora 10
Os custos da energia na indústria transformadora 50% Peso dos custos com a Energia A eficiência energética tem 3 pilares fundamentais de aplicação e suporte: Comportamental Tecnológico Gestão Custos com a Energia 40% 30% 20% 10% 0% A eficiência energética não pode ser confundida com a produção de energia. Valor Máximo Valor Médio Fonte: JJF; APEQ; APF Figura 15 Peso dos custos com a energia nos custos totais de exploração Os custos da energia na indústria transformadora Oimpacto da eficiência energética é avaliado nos consumos específicos afectos à actividade; Consideramos como base, de uma política de apoio à eficiência energética, a orientação para dois universos fundamentais: O consumidor em geral, em termos da atitude comportamental; As actividades e sectores onde o impacto das medidas na redução do consumo de energia final é significativo e economicamente viável. Os sectores da actividade que considero serem os mais importantes e para onde devem ser orientados os apoios e estímulos para a eficiência energética são: Transportes basicamente comportamentais e tecnológicos; Industria tecnológicos e comportamentais; Serviços tecnológicos e comportamentais; Residencial basicamente comportamentais. 11
Os custos da energia na indústria transformadora Fonte: DOE;JJF Figura 16. Comparação do custo de investimento entre as várias tecnologias de produção de energia com o custo da eficiência energética A gestão de energia Os princípios básicos da gestão de energia numa instalação consumidora podem enumerar-se como sendo: Controlo da energia adquirida; Controlo da energia consumida; Controlo das matérias-primas; Controlo da evolução, no tempo, dos consumos energéticos em quantidade e em valor. Estes princípios devem ser adaptados a cada situação em particular. 12
A gestão de energia Figura 18 - Princípios básicos da gestão de energia. A gestão de energia Tradicionalmente existem três níveis de abordagem energética, num sistema organizado de gestão de energia, que poderão ser adoptados: Figura 19 - Níveis de execução possíveis num sistema de gestão de energia. 13
O Procurement da energia As principais preocupações a ter, e nestes aspectos poderá estar implícita uma importante redução da factura, são a correcta definição de: Opção tarifária; Potencia a contratar; Regime tarifário (normal, bi-horário, trihorário) Períodos horários do tarifário (ciclos diário, semanal) Utilizações (curtas, médias, longas). O PNAEE 2016 (Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética) de 2013 O PNAEE 2016 pretende corrigir, a medida em que o sector agrário representa só por si cerca de 3% do consumo final de energia em Portugal, isto é, cerca de 463 mil tep. A área da Agricultura integra um programa Eficiência Energética no Sector Agrário que tem como objectivo contribuir para a redução dos consumos energéticos no sector através da modernização de equipamentos, sistemas de gestão e auditorias energéticas direccionadas. No total, foi estimado um potencial de cerca de 40 mil tep de economia de energia para o horizonte de 2020 e de 30 mil tep para o horizonte de 2016. 14
O PNAEE 2016 (Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética) de 2013 Medidas Indicadores Apoio à conversão de estufas baseadas em aquecimento com Redução do consumo de combustíveis nas combustíveis fósseis para a utilização de fontes geotérmicas e estufas sistemas de gestão de energia Redução da utilização dos agro-químicos através da introdução de Redução dos químicos usados por hectare técnicas ligadas à agricultura biológica e à protecção integrada (ton/ha) Apoio à conversão e modernização de frotas de tractores e outra maquinaria agrícola e florestal, com maiores níveis de eficiência e Consumo por km ou consumo por hectare menor consumo energético Promoção da redução do consumo de energia directa (calor, Variação dos consumos energéticos (GWh, tep) iluminação) em animais confinados (estábulos, suiniculturas, aviários, por instalação ou por cabeça etc ) Comportamental (análise top-down por Apoio à realização de diagnósticos ou auditorias energéticas nas comparação dos consumos específicos explorações agrícolas/acções de aconselhamento verificados antes e após) Valores típicos da redução do uso de Apoio ao emparcelamento rural combustíveis Modernização de sistemas de rega Consumo específico por hectare Conclusões As perspectivas para Portugal A implementação de medidas de eficiência energética poderá representar uma oportunidade para reduzir este peso e aumentar a competitividade, quer nos mercados externos quer no mercado interno, para as empresas que ainda pouco ou nada fizeram. A avaliação realizada ao impacto das medidas implementadas no passado, apresentadas pela DGEG no PNAEE, não é real e estão muito longe de virem a ser efectivadas, uma vez que nem sequer são de caracter obrigatório. O Programa do XIX Governo Constitucional definiu uma nova política energética que deverá procurar activamente atingir, entre outros, os objectivos: Garantir fontes de energia final a preços relativamente competitivos, contribuindo para reduzir os custos intermédios das empresas e aumentar a sua competitividade nos mercados internacionais; Melhorar substancialmente a eficiência energética do País (redução em 25% do consumo até 2020), com o Estado como primeiro exemplo (redução de 30% do consumo até 2020), combatendo os desperdícios, contribuindo para a melhoria da balança de pagamentos e para um mais cabal cumprimento dos objectivos de sustentabilidade; 15
Conclusões As perspectivas para Portugal Neste enquadramento favorável à eficiência energética seria de esperar uma intensa actividade nesta matéria, o que de facto não acontece, de forma generalizada. AS MAIS MAGNÍFICAS INTENÇÕES PODEM RESULTAR NOS MAIORES ABSURDOS, SE NÃO FOREM CONSIDERADOS O FACTOR HUMANO, OS INTERESSES EGOÍSTAS DE PEQUENOS GRUPOS E DE MINORIAS 16