ISOLAMENTO DE BACTÉRIAS ASSOCIADAS A RIZOSFERA DO CEREUS JAMACARU Rodolpho Stephan Santos Braga (1); Thereza Marinho Lopes de Oliveira (1); Maria José de Britto Costa Fernandes (2). (1) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. rodolpho.stephan@gmail.com (1) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. thereza_marinhol@hotmail.com (2) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. majofernandes@gmail.com Introdução A maior parte em que o semiárido abrange é coberta pelo Bioma Caatinga, que possui temperatura média anual elevada e baixo índice pluviométrico que varia entre 250 e 800 mm (MAIA, 2004). Perfazendo uma área com mais de 800.000 Km 2, correspondendo a quase 10% do território nacional e 70% do nordestino (IBGE, 2012). Esse bioma apresenta uma rica biodiversidade, uma alta variedade de espécies endêmicas, heterogeneidade, assim como espécies com alta adaptação à deficiência hídrica, porém dentre os biomas brasileiros, a caatinga é um dos mais degradados decorrente de atividades antrópicas. Entendemos que apesar de existir pouco conhecimento científico sobre o seu potencial biotecnológico, nestas condições extremas, há a hipótese de que os microrganismos dessa região desenvolveram mecanismos de adaptação para sobrevivência às condições adversas assim como as plantas existentes neste bioma (GIULIETTI, 2004; FERREIRA, 2012). Conforme Melo (2000) a rizosfera pode ser definida como a região do solo que é influenciada pela raiz da planta, com um ambiente rico em nutrientes e consequentemente em microrganismos, estes microrganismos residentes na rizosfera podem beneficiar ou prejudicar a planta e assim influenciar diretamente o desenvolvimento dos mesmos. O solo é o principal reservatório de agentes microbianos de controle biológico, sendo o solo rizosférico preferido para isolamento de bactérias colonizadoras de raízes. E dentre essas bactérias encontram-se dois grupos que possuem razoável eficiência no controle, o primeiro é da família Pseudomonadaceae, onde se destaca o gênero Pseudomonas, e o segundo da família Bacillaceae, que são bactérias com capacidade de esporular, onde se destaca o gênero Bacillus.
Algumas espécies do gênero Pseudomonas são capazes de liberar fitormônios como o ácido indolacético (AIA), giberelinas ou citocininas na rizosfera de plantas, exercendo um efeito estimulador do crescimento da planta (LUGTENBERG, 2009). Dentre as cactáceas, encontra-se o Cereus jamacaru (mandacaru), uma das plantas mais características do semiárido nordestino. De porte arbóreo, tronco muito grosso e ramificado, coberto de espinhos e fornecendo madeira de até 30 centímetros de largura (Lima, 1989). Dessa forma, este trabalho, teve como objetivo realizar o isolamento de bactérias rizosféricas presente no mandacaru, dando ênfase as espécies dos gêneros Pseudomonas e Bacillus. Metodologia Para realizar o isolamento das bactérias foi utilizada uma amostra de solo da rizosfera do Cereus jamacaru (mandacaru), coletada no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em seguida transportada ao Laboratório de Bacteriologia do Departamento de Microbiologia e Parasitologia (LABMED) UFRN. A metodologia deste trabalho foi baseada e adaptada dos trabalhos de Melo et al. (2000). Para isso, um frasco de vidro cor âmbar estéril e ferramentas esterilizadas, foram utilizadas para abrir um buraco no solo ao redor da planta e assepticamente, remover o solo a uma distância de aproximadamente 1cm da raiz. As amostras de solo foram então pesadas e 10g da amostra foi diluída em 90 ml de solução salina estéril (0,85g NaCl; 100mL H2O), a qual foi em seguida agitada por 15 minutos. Após a agitação foram realizadas diluições decimais seriadas da amostra, onde 1,0 ml da solução inicial foi inoculada em tubos de ensaio contendo 9,0 ml de solução salina até a diluição 10-5, fazendo agitação no Vortex de 30 segundos antes de realizar a próxima diluição. A partir de 100 μl das diluições 10-3 e 10-5, adaptado de Araújo (2013), e através da técnica de Spread-Plate (plaqueamento por espalhamento), foram semeadas em dois diferentes meios de cultura sólidos: Ágar Nutriente (Peptona de Gelatina 5,0g/L; Extrato de Carne 3,0g/L; Ágar 15,0g/L) e o Ágar Cetrimide (Extrato Pancreático de Gelatina 20,00g/L; Cloreto de Magnésio 1,40g/L; Sulfato de Potássio 10,00g/L; Cetrimida 0,30g/L; Ágar 15,00g/L). Dessa forma, o plaqueamento foi realizado em duplicata e as placas foram incubadas em estufas a 30 0 C e 37 0 C, e as leituras realizadas em dois (2) e até seis (6) dias. As placas que apresentaram crescimento no segundo dia, foi realizada a contagem das colônias e verificada o seu tipo morfológico, as que só apresentaram crescimento com seis dias
procedeu-se da mesma forma. As colônias que cresceram em AC, com morfologia semelhante ao gênero Pseudomonas foi realizada a prova da oxidase. A determinação da oxidase é um teste diferencial importante na identificação da família Pseudomonacea, pois apresentam oxidase positiva. Todas as colônias foram selecionadas, purificadas e feita a coloração de Gram, sendo em seguida estocadas em meio de AN em tubo inclinado para posterior identificação e análise da atividade antimicrobiana. Resultados e Discussão Tabela 1. Densidade populacional de bactérias associadas a rizosfera da espécie mandacaru (Cereus jamacaru), nos meios AN e AC em diferentes diluições e temperaturas, com dois (2) e seis (6) dias. Diluições Dias Meios de cultura Temperatura 0 C Densidade populacional UFC/g 10-3 2 AN 37 1,9 x 10 5 10-3 2 AC 30 6,0 x 10 5 10-3 2 AN 30 6,0 x 10 4 10-3 6 AC 37 9,0 x 10 4 10-5 6 AC 30 8,0 x 10 6 10-5 6 AN 37 5,0 x 10 6 10-5 6 AC 37 1,3 x 10 7 10-5 6 AN 30 S/C AN = Agar Nutriente AC = Agar Cetrimide S/C = sem crescimento A quantificação das bactérias no AN e no meio AC, contidas na amostra de solo rizosférico coletada da espécie mandacaru, estão apresentadas na Figura 1. O número de unidades formadoras de colônias (UFC) de bactérias no AC e no meio AN, foi de 1,3 x 10 7 UFC/g a 8,0 x 10 6 UFC/g e 1,9 x 10 5 a 5,0 x 10 6 respectivamente. Observamos que a densidade populacional foi mais elevada no meio AC, nas duas temperaturas e em ambas as diluições, em comparação ao meio AN, com
dois e seis dias de incubação, apesar do AC ser um meio seletivo para o gênero Pseudomonas, mostrando talvez uma predominância dessa espécie na rizosfera. Enquanto AC mostrou melhor crescimento a 30 0 C no AN a melhor temperatura de crescimento foi 37 0 C. Avaliando o efeito das condições ambientais sobre populações microbianas, verificaram que na rizosfera, de modo geral, encontram-se maiores números de UFC/g de solo das populações microbianas, comparando-se com o solo não rizosférico, em amostras coletadas no Cerrado com vegetação nativa. A variação foi atribuída a condições climática, principalmente a distribuição desuniforme das chuvas. Essa desuniformidade da distribuição pluviométrica é, também, uma característica do Bioma Caatinga, portanto, a população microbiana pode sofrer influência do regime hídrico dessa região. Na Tabela 2, podemos observar o aspecto colonial nos meios utilizados quanto às diferentes características morfológicos (tamanho, borda, aspecto e coloração). Tabela 2. Tipos morfológicos encontrados na rizosfera da espécie mandacaru (Cereus jamacaru), de acordo com o meio de cultura utilizado (AN e AC) e em diferentes temperaturas (30 0 C e 37 0 C). Meio de cultura Tipos de colônias observadas Ágar Nutriente (AN) Rugosa com pigmento alaranjado; rugosa elevada com pigmento difuso; branca rugosa espraiada; branca leitosa com bordas irregulares; branca pequena; branca mucóide. Ágar Cetrimide (AC) Rugosa branca com bordas irregulares; branca mucóide; branca rugosa pequena com bordas regulares.
Figura 1. Isolamento de bactérias do solo rizosférico da planta mandacaru, apresentando diferentes tipos morfológicos nos meios de cultura Ágar Nutriente e Ágar Cetrimide na diluição 10-3 a 37 0 C. 1 2 3 Figura 2. Morfologia bacteriana após coloração de Gram. (1) bacilos Gram negativos (2) bacilos Gram positivo, (3) bacilos esporulados. Na Figura 1, vemos o crescimento das colônias com suas características morfológicas, nos diferentes meios, na diluição 10-3 e nas duas temperaturas, enquanto a Figura 2, mostra a coloração de Gram. Através dessa coloração é possível identificar e diferenciar os dois principais grupos de bactérias, Gram-positivas e Gram-negativas, além permite visualizar a forma, o arranjo e a presença de esporo. Conclusão Este trabalho evidência a importância de estudos da microbiota do solo rizosférico e mostra a necessidade de mais experimentos para a caracterização das bactérias isoladas do Bioma caatinga. Entendemos, que existe uma dinâmica dos microrganismos no solo e na rizosfera e as flutuações numéricas destes ao longo do tempo. Portanto é necessário realizar coletas em diferentes épocas do ano para verificar a ocorrência de diferença na densidade bacteriana dessa população.
Referências CORRÊA, G.G.; SILVA, I.L.; LINS, M.R.C.R.; SILVA, W.O.; LOPES, W.; ARAÚJO, E.A.; VASCONCELOS, N.M.; FONTES-VIEIRA, J.M.; SILVA, D.T.F.; LIMA, G.M.S.; ARAÚJO, J.M. Isolamento e atividade antimicrobiana de actinobactérias da rizosfera da caatinga. In: I CONICBIO/ II CONOBIO/ VI SIMCBIO, V.2, 2013, Recife. Anais Recife: UNICAP, 2013. p. 2-11. FERREIRA, C. Descoberta metagenômica da dinâmica do microbioma da rizosfera de Mandacaru na Caatinga. 2014, Piracicaba. Biblioteca Virtual. Disponível em : <http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/131539/dinamica-do-microbioma-da-rizosfera-de-mandacaruna-caatinga/>. Acesso em 27 set. 2017. p. 25-26. 2014. GIULIETTI, A. M. et al. 2004. Diagnóstico de vegetação nativa do bioma Caatinga. In: J,M,C. SILVA, M. Tabarelli, M.T. fonseca & L.V. lins(orgs.).biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. p. 48-90.2004. GONÇALVES, G. S. Estratégias de controle de invasão biológica por Prosorpis juliflora, na Caatinga e ecossistemas associados. 2011. 81 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Areia. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mapas de biomas e de vegetação. Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm>. Acesso em: 27 set. 2017. LIMA, D. A., 1989. Plantas da Caatinga. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências. 1989. LUGTENBERG, B.; KAMILOVA, F. Plant-growth-promoting rhizobacteria. Annual Review of Microbiology, Palo Alto, v. 63, p. 541 556, 2009. MAIA, G. N. Caatinga: Árvores e arbustos e sua utilidades. 2. ed. Fortaleza: Printcolor Gráfica e Editora, 2012. MELO, I.S.; AZEVEDO, J.L. Controle biológico. v. 3. Jaguariúna, SP. EMBRABA Meio Ambiente, 2000.