TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO Registro: 2014.0000061130 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0016401-14.2009.8.26.0114, da Comarca de Campinas, em que é apelante GEP INDUSTRIA E COMERCIO LTDA, são apelados CONDOMINIO CIVIL DO SHOPPING CENTER GALLERIA, EDR 47 PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS LTDA e PARTICIPAÇÕES E COMERCIO ANHUMAS LTDA. ACORDAM, em 35ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MENDES GOMES (Presidente) e CLÓVIS CASTELO. São Paulo, 10 de fevereiro de 2014. José Malerbi RELATOR Assinatura Eletrônica
2 COMARCA DE : CAMPINAS APELANTE(S) : GEP INDUSTRIA E COMÉRCIO LTDA. APELADO(S) : CONDOMÍNIO CIVIL DO SHOPPING CENTER GALLERIA E OUTROS VOTO Nº 26.502 EMENTA LOCAÇÃO DE IMÓVEL - AÇÃO RENOVATÓRIA - VALOR DO LOCATIVO - LAUDO PERICIAL BEM FUNDAMENTADO - ADOÇÃO PELO D. JUÍZO - CORREÇÃO - Correta é a adoção, pelo d. juízo, do valor do aluguel apurado pelo perito em laudo imparcial e bem fundamentado, e que não foi derribado pelas críticas ofertadas pela demandante, as quais, aliás, sofreram fundamentada rejeição pelo experto - Devida a repartição dos ônus da sucumbência entre as partes, haja vista a fixação do aluguel no meio termo, isto é, entre a proposta de uma parte e a contraproposta da outra - Apelo improvido. Trata-se de ação renovatória de locação, cujo pedido foi julgado parcialmente procedente. Apela a autora com argumentos de que o valor fixado a título de aluguel para o novo período de locação é superior àquele pago pelos demais lojistas com áreas semelhantes ao da loja por ela mantida. Aduz que o d. juízo não sopesou as críticas por ela apresentadas no que tange à análise de outros contratos similares. Diz que os contratos analisados pelo perito dizem respeito a lojas com metragens inferiores ao do imóvel locado, o que, em se tratando de shopping center, redunda no pagamento de valores unitários superiores. Sustenta o cerceamento ao direito de defesa. Insurge-se contra a repartição dos ônus sucumbenciais, os quais devem ser atribuídos integralmente à ré, na medida em que, preenchidos os requisitos legais, o pedido de renovação da
3 locação foi acolhido. É o relatório. Não assiste razão à apelante. Propôs ela a presente demanda com o objetivo de renovar a locação comercial que mantém junto aos demandados, relativamente à loja LUC Nº A102, localizada no piso 1 do Shopping Center Galleria, em Campinas. A demandante ofereceu o valor de R$ 21.296,19 (em março/09), a título de aluguel para o novo período de locação (01.10.09 a 30.09.14); a locadora pleiteou R$ 28.894,11 (setembro/08), sendo que, ao final, o d. juízo acolheu o montante apontado na perícia, tal seja, R$ 24.415,00 (válido para outubro/09). Ao contrário do pretendido pela apelante, o valor do aluguel foi arbitrado com fulcro em bem fundamentado laudo pericial produzido por expert de confiança do juízo (fls. 163/195). Nesse minucioso trabalho, o d. perito, após dissertar sobre os critérios de avaliação, concluiu pela adoção do Método Comparativo, eis que o caso possui parâmetros técnicos próprios, face a localização do imóvel avaliando dentro de shopping e pesquisa de valores locativos com aproveitamento comercial semelhante à situação paradigma (fls. 189). Conforme consta do laudo, foram procedidas vistorias, constatações e medições com trena do imóvel, examinadas as características físicas, locais, padrão construtivo, estado físico-funcional e de conservação. A pesquisa de valores foi desenvolvida sobre um conjunto de contratos locativos fornecidos pelo Réu, similares ao contrato sub judice, formado de elementos
4 comparativos inseridos no empreendimento em questão, tendo sido checados um a um pelo signatário, procedendo a coleta de informações, verificando as características principais, confrontação com a situação paradigma, apuração dos fatores incidentes e determinação do valor unitário locativo homogeneizado [...]. O trabalho envolve extensa e minuciosa homogeneização no tratamento dos elementos coletados dentro da situação paradigma (fls. 168 e 190). O anexo III traz uma descrição detalhada das fontes pesquisadas para lojas no shopping, inclusive com planilha de homogeneização (fls. 212/330). Em resposta ao pedido de esclarecimentos complementares pela autora, justamente em virtude de os imóveis utilizados como paradigma terem áreas inferiores ao locado, assim se manifestou o expert: As testadas (frentes) e as áreas dos elementos comparativos da perícia foram tratadas pelas Normas Técnicas, através da aplicação usual da Fórmula de Harper às fls. 329. É justamente para isso que serve o referido fator: corrigir as testadas e as áreas em função da situação paradigma (sub judice). [...] Simplificando, temos que a homogeneização com a Fórmula de Harper faz uma 'compensação' no cálculo do valor unitário final: dá um 'desconto' tanto maior quanto menores forem a testada e/ou área. Quanto menores esses parâmetros do elemento comparativo em relação ao paradigma (sub judice), então maior é a 'redução' na homogeneização. [...] a reclamação do Autor (pesquisa com imóveis menores) foi tratada matematicamente pela perícia. O cuidado técnico que se deve ter, e que a perícia tomou, é excluir os elementos muito diferentes que o sub judice. Foi isso que a perícia fez às fls. 10 e fls. 331/392 (excluímos os elementos fora do paradigma) (fls. 403). Portanto, suficientemente justificada pelo auxiliar do juízo a adoção daqueles imóveis para fins de comparação e, por consequência, de cálculo do aluguel apropriado para o período de locação vindouro, inafastável se afigura o acolhimento do trabalho pericial, que não foi derribado pelas críticas tecidas pela
5 autora. Também por isso não cabe falar em cerceamento ao direito de defesa pela ausência de utilização de contratos de locação de outras lojas apontados pela demandante, o que, aliás, consubstancia questão de mérito, devidamente apreciada. Por fim, é certo que o pedido de renovação da locação em si foi acolhido, mas a fixação do aluguel no meio termo, isto é, entre a proposta de uma parte e a contraproposta da outra, autoriza a procedência parcial e, consequentemente, o reconhecimento da sucumbência recíproca, com a repartição dos respectivos ônus entre as partes, nos termos do artigo 21 do Código de Processo Civil. Em suma, fica mantida a r. sentença, como prolatada pelo Dr. Renato Siqueira de Pretto. Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. JOSÉ MALERBI Relator