Crise econômica do Rio de Janeiro: A evidência de um impasse no estilo de desenvolvimento

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Transcrição:

Crise econômica do Rio de Janeiro: A evidência de um impasse no estilo de desenvolvimento Bruno Leonardo Barth Sobral Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ

Divergência sobre ponto de partida Não resumir a fatores aparentes e conjunturais: ajustes contáveis e de governança Não é anos de ouro como pressuposto e análise sobre porque foi desperdiçado Ressaltar desafios estratégicos e de longo prazo: crise estrutural É um impasse no estilo de desenvolvimento (!!)

Divergência sobre contextualização Evitar uma visão monoescalar: o problema não se explica apenas na escala estadual ou apenas na escala nacional Nem choque externo à economia estadual (superestima crise nacional), nem conjunto de casos particulares locais (subestima crise nacional) Buscar unidade interpretativa no lugar de punhado de recortes parciais: Não há apenas um único determinante: deve buscar não apenas listar, mas avaliar como eles se articulam entre si Efeitos da Lava-Jato nacional na produção e os ataques à política de conteúdo local não são a causa fundamental, antes explicitam um quadro de vulnerabilidades econômicas estaduais Não há solução econômica para o RJ sem vir junto de uma solução nacional, mas também é essencial o exame de suas especificidades

Vivia-se ou não momento de bonança econômica estadual? Crescimento contratado X Manipulação de expectativas no ciclo Economia pujante X Estrutura Produtiva Oca

Visão usual: ignora a crise estrutural Cenário econômico era favorável esbarrou em irresponsabilidade fiscal Saídas: Políticas de austeridade, Lava Jato na escala estadual, CPIs etc. Idealização da neutralidade técnica: busca de um Estado eficiente com base de um ambiente de negócios (efeitos positivos sobre expectativas de mercado) Pode se somar uma visão crítica de viés distributivista (ex: valor dos incentivos fiscais) que pouco problematiza a organização produtiva Cria Bodes na sala : Só tangencia a dimensão econômica da crise e sua natureza político-estratégica Desvia da de uma agenda propositiva de recuperação econômica Tende a fortalecer Ideologia Antiestado sobre economia

Bodes na sala : não determinantes, mas questões paralelas Corrupção sistêmica e valor dos incentivos fiscais (Meta: mais Lava Jato estadual e CPIs) Crescimento da despesa com pessoal: previdência estadual, contratações e reajustes salariais/gratificações (meta: cortes e mais cortes em gastos obrigatórios) Meta1: Políticas estaduais de austeridade Meta 2: Reformas legais para desengessar o orçamento Risco de desestruturar mais a máquina pública estadual já desestruturada e reafirmar falta de visão estratégica

Fatores primários da crise: 1)Desatenção as tensões federativa Pontos iniciais: Falta de prioridade às disputas tributárias levando à problemas de déficit primário Investimentos públicos com alto endividamento estadual Desdobramentos: Postura servil ao governo federal levando a ciranda de agiotagem (novas dívidas) Perda de patrimônio público Políticas públicas sob risco

Pressupostos para evitar um ajuste fiscal que não leva a lugar nenhum (1) 1) Receita corrente não está dada para a tomada de decisão do gestor público: Na falta de inventar novos mecanismos irresponsáveis de receitas extraordinárias, o dilema não se resume a escolha entre "sacrificar" duas categorias de gasto. A retórica de que falta de gasto em uma função é por excesso de gasto em outra função não tem validade universal e apriorística. O quanto se gasta em cada função depende de consenso social. A opção de impor sacrifico na maioria das vezes não é técnica e sim juízo de valor sobre área que deseja enfraquecer a responsabilidade pública direta.

Pontos iniciais: Fatores primários da crise: 2) Marco de Poder Máquina pública desestruturada Falta de visão estratégica da administração estadual Desdobramentos: Fraco planejamento estadual levando a ineficácia das políticas de fomento estadual e limites as poder estruturante da políticas setoriais nacionais Explicitação da estrutura produtiva oca levando aos problemas de déficit primário

Pressupostos para evitar um ajuste fiscal que não leva a lugar nenhum (2) 2) Despesa e receita públicas não são variáveis independentes uma da outra: Ou seja, menos despesa muitas vezes pode levar a menos receita. Tratar como variáveis independentes entre si é não reconhecer por ideologia que o Estado é um agente econômico e julgá-lo mero "sugador" de recursos úteis da economia. 3) Ajuste fiscal é meio e não fim (evitar visão etapista): Ajuste fiscal não é etapa inicial pois em si mesmo é uma busca de eficiência às cegas, não tem visão estratégica nem discute eficácia da política pública. Essas duas dimensões são fundamentais serem somadas e tem especificidades próprias a serem observadas para que o interesse público seja discutido concretamente.

Quem assumir próximo governo: não basta política econômica, é preciso também economia política Não basta lógica do um dia de cada vez e ir tocando como dá, mas sim uma visão estratégica organizada Virtude necessária: articulador político/negociador ao invés de gestor catando milho. Não defender austeridade como um valor e um legado. (em particular, posicionamento crítico à capitulação anterior e ao tratado de rendição ) Realinhar retórica e ação, deixando claro que tudo vai depender de: Soluções não apenas dentro da própria gestão Focar na política para negociar alternativas e liderar frentes em um debate nacional (exemplo: reforma tributária) Superar desorganização de lideranças/bancadas para defender interesses do estado.