VISITA DO CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA A PORTUGAL



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Transcrição:

VISITA DO CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA A PORTUGAL SEMINÁRIO - A SEGURANÇA NO GOLFO DA GUINÉ PAINEL - DIMENSÕES INTERNACIONAIS DA SEGURANÇA AFRICANA TEMA - BRASIL, POSSIBILIDADES DE COOPERAÇÃO PARA A SEGURANÇA DA ÁFRICA CARLOS AUGUSTO DE SOUSA ALMIRANTE-DE-ESQUADRA CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA Portugal 11JUL2014-1 -

SEMINÁRIO INTERNACIONAL SEGURANÇA NO GOLFO DA GUINÉ MINISTÉRIO DE ESTADO E DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS DE PORTUGAL INSTITUTO PORTUGUÊS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (IPRI) DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA INSTITUTO DIPLOMÁTICO PAINEL - DIMENSÕES INTERNACIONAIS DA SEGURANÇA AFRICANA TEMA - BRASIL, POSSIBILIDADES DE COOPERAÇÃO PARA A SEGURANÇA DA ÁFRICA (25 minutos) Moderador - Carlos Gaspar - IPRI Demais Apresentadores Embaixador Philip Carter Deputy to the Commander for Civilian-Military Engagement AFRICOM Vitor Angelo, Fundação PeaceNexus Representante Especial da ONU na África Constantino Xavier Johns Hopkins University Lisboa, 11 de julho de 2014 INTRODUÇÃO Inicialmente, gostaria de agradecer o convite endereçado ao Ministro da Defesa do Brasil, Embaixador Celso Amorim, externado pelo Ministro de Estado e de Negócios Estrangeiros de Portugal, Exmo. Sr. Rui Machete. Agradeço, também, ao Instituto Diplomático e ao Instituto Português de Relações Internacionais, da Universidade Nova de Lisboa, pela excelente organização de tão importante evento. Aos Exmos. Srs. Ministro da Defesa de Portugal José Pedro Aguiar Branco, e ao ex-presidente de Cabo Verde Pedro Pires, considero uma honra poder apresentar algumas considerações sobre as Dimensões Internacionais da Segurança Africana. - 2 -

Aproveito para saudar as autoridades civis e militares e às Senhoras e Senhores. É uma grata satisfação poder estar aqui diante de tão distinta audiência. Apresentarei o tema: Brasil, Possibilidades de Cooperação para a Segurança da África. Seguirei o seguinte roteiro: - Reflexões sobre Segurança e Defesa - O Entorno Estratégico Brasileiro - Perspectivas de Cooperação na África - Considerações Finais. REFLEXÕES SOBRE SEGURANÇA E DEFESA A Organização das Nações Unidas (ONU) na consecução dos seus trabalhos tem sobrelevado a importância da ampliação da segurança e redução de conflitos, particularmente na África. E para definição das dimensões de segurança no continente africano são exigidas análises complexas, que envolvem as vertentes políticas, econômicas, militares e sociais, de cada Estado componente, e suas inter-relações no sistema global. Estabelecer e articular estratégias de cooperação constitui-se em desafio ainda maior. Torna-se necessário envidar esforços no sentido de gerir disputas e evitar que elas se degenerem em conflitos. No entanto, tornam-se produtivas somente quando conhecidas as profundas motivações das partes. Exemplos recentes comprovam tais assertivas. É amplamente reconhecido o papel das organizações regionais e sub-regionais na construção do alicerce da Arquitetura de Paz e Segurança da África. Faço referência, como exemplo, à União Africana (UA) e à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDAO). Organizações de extensa atuação voltada para a obtenção da unidade e da solidariedade africanas, defensoras da soberania, da integração, da cooperação política e da identificação cultural. E sob esse prisma, tem-se observado a liderança pró-ativa de diversos atores que têm buscado consolidar suas capacidades militares, visando permitir atuar em prol da segurança regional e da defesa continental. Em uma perspectiva de cooperação multilateral, organizações como a ONU e a União Européia, bem como Estados não-africanos, desenvolvem políticas para a edificação do Continental Early Warning System, considerado ferramenta fundamental para a prevenção de conflitos regionais. Prevenir o seu surgimento é tão importante quanto impedir que o conflito reincida. A construção da paz, incluindo os seus componentes sócio-econômicos, é fundamental para consolidar a estabilidade em situações de pós-conflito. - 3 -

Em particular, cabe sublinhar a questão da segurança marítima internacional. Este é um tema contemporâneo e de proeminência para a comunidade internacional. O substancial incremento do comércio, dependente do transporte marítimo, levou à estruturação de um sistema fortemente globalizado e transnacional do uso econômico dos mares. Atualmente, dois bilhões de pessoas vivem a distâncias de até 100 km das linhas costeiras. Pelos mares, circulam cerca de 50 mil navios oceânicos, transportando 80% do comércio mundial. Todos os anos, dois bilhões de toneladas de petróleo (60% de todo o petróleo produzido) são transportados por via marítima. A elevação da produção petrolífera nos litorais da América do Sul e da África Ocidental ampliou a importância estratégica do Atlântico Sul, reduzindo a dependência extra-regional de petróleo. Na Amazônia Azul brasileira, a prospecção na camada do Pré-Sal impõe responsabilidades crescentes ao País, em vista da expectativa de reservas totais da ordem de 50 a 80 bilhões de barris. Por sua vez, os ecossistemas marinhos e os recursos pesqueiros são vulneráveis à exploração ilegal e à poluição. O aumento da temperatura, da acidificação e do nível dos oceanos constituem ameaças à vida marinha, com prejuízos para as comunidades costeiras e insulares e para as economias nacionais. As atividades criminosas, conotadas como novas ameaças (pirataria, roubo armado de navios, tráfico de pessoas, de armas e de entorpecentes) têm colocado em risco a vida humana, o transporte marítimo internacional e a segurança dos países. O ENTORNO ESTRATÉGICO BRASILEIRO A crescente participação de países no contexto da governança mundial alerta para o peso da responsabilidade em decisões multilaterais e aumentam as expectativas quanto às exigências de cooperação e de promoção da integração regional. A integração regional potencializa o poder de negociação internacional. A construção dessa identidade comum tende a proporcionar uma estabilidade intra-regional, com o fortalecimento da confiança mútua e prosperidade de seus membros, nos mais diversos campos de relação, dentre eles o da segurança e o da defesa. Essas considerações alicerçam a postura brasileira, em que são focados, além dos interesses nacionais, o diálogo, a integração e a cooperação. Isso para se edificar um ambiente de confiança, contribuindo para a redução de conflitos, para a estabilidade regional e para a manutenção da paz e da segurança, em especial no nosso entorno estratégico. - 4 -

O nosso País sublinha um entorno estratégico que extrapola a região sul-americana e inclui o Atlântico Sul e os países lindeiros da África, assim como, a Antártica. Ao norte, a proximidade do mar do Caribe impõe que se dê crescente atenção a essa região. Esta postura é consubstanciada em diversas parcerias. Hoje, o Brasil alia-se, dentre outros: aos países do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL); à África do Sul e à Índia, formando o IBAS, que aproxima três democracias multiétnicas e multiculturais, com visões e desafios semelhantes; à África do Sul, Índia, Rússia e China, formando o BRICS, um grupo com idéias inovadoras de cooperação; e à cúpula América do Sul-África (ASA). Ademais, busca ampliar o seu relacionamento internacional, participando ativamente de distintos fóruns, destacando-se: a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização dos Estados Americanos (OEA), a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Em relação à ONU, por exemplo, destaca-se que desde 1948 o Brasil já integrou mais de 30 operações de manutenção da paz, com a participação de 24.000 componentes. Na África, esteve presente, entre outros países, em Angola, no Congo, na Libéria, em Moçambique, no Sudão e em Uganda. A ZOPACAS atendeu à iniciativa brasileira para a promoção da cooperação e manutenção da paz. A congregação de todos os países da bacia do Atlântico Sul edifica importante espaço para a discussão de estratégias de desenvolvimento e de intercâmbio. Dentre outros objetivos destacam-se: as iniciativas para a concretização do uso pacífico da energia nuclear, a proteção do meio ambiente marinho e a prevenção e repressão aos delitos cometidos no mar. Em JAN2013, sob a chancela da ZOPACAS, ocorreu em Montevidéu a VII Reunião Ministerial, com aprovação do Plano de Ação para o mapeamento e exploração dos fundos marinhos, para a preservação ambiental e para a segurança do transporte marítimo. Em OUT do mesmo ano, no Brasil, foi realizado o 1 º Seminário sobre Segurança do Tráfego Marítimo, importante passo em direção ao estabelecimento de parcerias de defesa. A partir de 1998, a CPLP incentivou a cooperação em segurança e defesa, passando a conduzir reuniões para dinamizar o intercâmbio militar. Em 2010, foi aprovada a Estratégia da CPLP para os Oceanos, versando sobre: o desenvolvimento sustentável dos espaços oceânicos; a elaboração do Atlas dos Oceanos da CPLP; e o desenvolvimento combinado de projetos de extensão de plataformas continentais. É importante destacar que tanto a ZOPACAS quanto a CPLP são fóruns de realce nos quais pode-se discutir políticas e estratégias em apoio aos países africanos. E o apoio, no que tange ao mar, conduz à necessidade de se obter uma acurada consciência situacional marítima. - 5 -

Para implementá-la torna-se imprescindível fortalecer a cooperação internacional, envolvendo inteligência, respaldo jurídico e as capacidades de imposição de leis e regulamentos no mar. A Marinha do Brasil destaca para esse propósito a importância do estabelecimento de uma rede global de compartilhamento de informações, em complemento às redes regionais e nacionais. Assim, busca ampliar o monitoramento e controle de suas Águas Jurisdicionais e no Atlântico Sul como um todo, que resultará em contribuição para a segurança marítima, extensiva à costa oeste da África. O Sistema de Informações sobre o Tráfego Marítimo (SISTRAM) e o Centro Regional de Tráfego Marítimo da Área Marítima do Atlântico Sul (CRT-AMAS) são esforços nesse sentido. Além disso, o Centro de Dados Regional Long-Range Identification and Tracking System (LRIT) já conta com as adesões da Angola, Namíbia, Peru, Senegal, Uruguai e Venezuela. Em 2010, por ocasião do 8º Regional Sea Power Symposium, foi assinado o Acordo para a troca de informações de tráfego marítimo entre as Marinhas do Brasil, Marinhas de países do Mediterrâneo e de Cingapura, sob a coordenação da Marinha Militar Italiana, estabelecendo a Trans-Regional Maritime Network. Posteriormente, essas Marinhas propuseram a adesão da África do Sul, da Argentina e da Índia. Na prática, o conhecimento do que ocorre no entorno estratégico potencializará o emprego do Poder Militar brasileiro. Em particular, a Marinha vem implementando os seus Projetos Estratégicos, dentre eles, o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz). Este Sistema permitirá, quando completado, eficiente monitoramento e controle das Águas Jurisdicionais Brasileiras, desde o tempo de paz, proporcionando, por extensão, substancial incremento da segurança marítima no Atlântico Sul; a efetividade nas operações Search and Rescue (SAR); e desempenho otimizado nas operações de Patrulha Naval, com relevante contribuição às operações interagências, nacionais e internacionais. PERSPECTIVAS DE COOPERAÇÃO NA ÁFRICA Consoante a obrigatoriedade de se guardar o entorno estratégico brasileiro, verifica-se a importância político-estratégica da aproximação do Brasil com a África. Ela é fortalecida pelos laços históricos, políticos, econômicos e culturais. Ressalta-se a proximidade daquele continente com o território nacional. A distância entre a cidade de Natal, no nordeste brasileiro, e Dacar, na costa africana, é menor que a linha que une os extremos leste-oeste do Brasil. Em termos econômicos, no decorrer de uma década registrou-se o aumento de 400% no intercâmbio comercial, fato este que acompanhou os rumos da diplomacia nacional, com a instalação de - 6 -

34 representações brasileiras e 13 adidâncias ou acreditações militares, sendo 11 atinentes à costa oeste africana. A intensificação do relacionamento evidencia-se, mais ainda, pela assinatura de Acordos de Cooperação em Defesa. Como valoroso exemplo, refiro-me ao Acordo de Cooperação Naval Brasil- Namíbia, pelo qual a Marinha do Brasil vem contribuindo, desde 1994, para a formação da Marinha da Namíbia, e continua participando ativamente de seu aprimoramento com formação de fuzileiros navais. Em adição, a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON) foi contratada para fornecer meios navais destinados à sua segurança marítima. Esta Empresa foi solicitada, também, para realizar a supervisão do Programa de Levantamento da Plataforma Continental Namibiana. Cabo Verde e Angola propuseram ao Brasil efetuar trabalhos semelhantes. Tal contribuição brasileira aos países africanos torna-se legado de importância para as futuras gerações, que verão aumentadas as possibilidades de descoberta de novos campos petrolíferos e a exploração de recursos da biodiversidade marinha. Em AGO2013, refletida neste modelo de cooperação, a nossa Marinha inaugurou a Missão Naval do Brasil em Cabo Verde, o que levou aquele país a eleger o Brasil como significativo parceiro no âmbito da segurança e da defesa. No plano de cooperação bilateral entre o Brasil e Moçambique, a Marinha transferirá um Simulador de Manobras Navais, com o propósito de contribuir para a capacitação da sua Marinha. Outras atividades dizem respeito: ao oferecimento de cursos e estágios; ao levantamento das necessidades dos meios da Base Naval de Metangula, bem como, a recuperação do plano inclinado daquela Base; e ao estudo de engenharia para a revitalização da Escola Naval de Pemba. Em 2014, para o fortalecimento da ZOPACAS e priorização do relacionamento com as Marinhas da CPLP, foi criado o Grupo de Apoio Técnico de Fuzileiros Navais em São Tomé e Príncipe, cujo objetivo é colaborar com o fortalecimento da sua Guarda Costeira. Em JUN2014, aquele País passou a contar com uma Lancha-Patrulha doada pela Marinha do Brasil. Em 2015, está prevista a ativação da Missão Naval em Cabo Verde. Outros Acordos de Defesa foram celebrados com a África do Sul, Benin, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Nigéria e Senegal. Dentre as inúmeras colaborações em apoio aos países africanos da costa ocidental, destacam-se: o esforço no fortalecimento de suas Marinhas e Guardas Costeiras, a fim de que esses países promovam a sua própria defesa e segurança marítimas; e a formação e capacitação de pessoal em escolas militares brasileiras. Possibilidades concretas de cooperação dizem respeito, ainda: ao apoio no adestramento e manutenção de meios; implantação e integração de sistemas de controle de tráfego marítimo; difusão do - 7 -

conceito de autoridade marítima e gerenciamento de águas jurisdicionais; aumento da presença na região, em missões de paz, de ajuda humanitária e em exercícios combinados; e apoio na formulação de políticas e estratégias marítimas. Recentemente, o Brasil atendeu à solicitação da União Africana, designando um Oficial da Marinha, para contribuir na formulação da Estratégia Marítima Integrada da África 2050, ratificando o engajamento político brasileiro com aquele continente. Em apoio ao desenvolvimento da consciência situacional marítima, a Marinha do Brasil estará presente nos exercícios multinacionais bianuais com as Marinhas da Angola, África do Sul e Namíbia. Para 2015, na costa ocidental africana, está previsto o exercício Atlantic Tidings, que incluirá adestramentos em controle de área marítima, ações antipirataria e treinamento contra as demais novas ameaças. Os exercícios multinacionais Obangame Express representam outra esfera de atuação brasileira. Destinados à ampliação da segurança marítima no Golfo da Guiné, esses exercícios representam excelentes oportunidades para o compartilhamento de informações e ampliação da interoperabilidade. Em 2014, a Marinha enviou o Navio-Patrulha Oceânico Apa para realizar exercícios de abordagem, contextualizados em cenários regionais. Na ocasião, sob o controle tático do Maritime Operation Center, em Douala (CMR), Oficiais brasileiros contribuíram com Oficiais africanos no planejamento e execução de uma operação de interdição marítima regional. De modo a ampliar a interoperabilidade com as Marinhas da costa oeste africana, a Marinha vem executando um extenso programa de preparo e emprego. São exemplos os exercícios: ATLASUR (com a participação da África do Sul, Argentina, Brasil e Uruguai), FELINO (realizada pelos países da CPLP) e IBSAMAR (entre a Índia, Brasil e África do Sul). Complementarmente, os Navios-Patrulha Oceânicos Amazonas, Apa e Araguari, recentemente adquiridos pela Marinha, em seu trânsito para o Brasil, tiveram a oportunidade de aportar em diversos países da costa oeste africana, e cumprir um valioso programa de adestramento voltado para a prevenção e repressão aos delitos realizados no mar. Cabe ressaltar que, em JUN2013, a pedido do Conselho de Segurança da ONU, reuniu-se em Iaundê a Cúpula Tripartite de Chefes de Estado e de Governo, formada pelas Comunidades Econômicas dos Estados da África Central e Ocidental e pela Comissão do Golfo da Guiné. Nessa ocasião, foi manifestada a preocupação com a segurança marítima naquele Golfo. As decisões tomadas na referida Cúpula e os importantes documentos decorrentes, em especial a Declaração de Iaundê e o Código de Conduta de Iaundê, expressam o esforço na obtenção do entendimento regional e global. O Brasil ratifica e está contribuindo ativamente desses empreendimentos. - 8 -

Importante deliberação foi a criação do Centro Inter-regional de Coordenação da Luta Contra a Pirataria no Golfo da Guiné, ação atualmente em curso, visando à necessária concertação política na esfera internacional, ao acompanhamento das atividades de segurança marítima e a tempestiva troca de informações, de forma a facilitar o processo de tomada de decisão e as ações combinadas em patrulhas marítimas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em variados fóruns tem-se discutido o atual e preocupante tema relacionado à segurança no Golfo da Guiné. Organismos internacionais, regionais e sub-regionais, pautados pelos princípios de não intervenção e de solução pacífica de controvérsias, têm participado de modo pró-ativo na busca de soluções para essas intrincadas questões. A União Africana, as Comunidades Econômicas Africanas, a Organização Marítima Mundial, a ZOPACAS e a CPLP estão empenhadas em reduzir os flagelos produzidos pelas atividades ilícitas no continente africano, hoje com o seu incontestável transbordo para o ambiente marítimo. Acredito que, para solidificar a segurança na África, é preciso agir em consonância com esses organismos. O Brasil, e em particular a Marinha tem ampliado a atuação naquele continente, conforme procurei demonstrar. Há que se observar que no tocante à utilização de meios navais em operações efetivas, a nossa participação deve se efetivar sob a égide de organismos multilaterais consagrados, como a ONU e a OEA. E em relação aos oceanos, cumpre lembrar, ademais, a obediência aos ditames da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, a Lei do Mar. Por fim, louvo a iniciativa de realização deste Seminário, parabenizando a todos que prestaram contribuição para a sua concretização. Aproveito para formular os agradecimentos, em nome do Ministério da Defesa do Brasil, e em meu próprio, pela distinta oportunidade em estar presente junto a distintas autoridades. O Ministério de Relações Exteriores, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas brasileiras não têm medido esforços para responder de maneira coordenada, cooperativa e multilateral aos cenários que apontam para a necessidade de ampliação da estabilidade e segurança regional, mantendo especial ênfase e atenção ao Atlântico Sul. E nesse contexto está abrangida a costa ocidental africana, e em particular, o Golfo da Guiné. Muito obrigado. - 9 -