A relação da arte, cultura e religião a partir das publicações do jornal budista Brasil Seikyo: iniciando uma discussão 1

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Transcrição:

A relação da arte, cultura e religião a partir das publicações do jornal budista Brasil Seikyo: iniciando uma discussão 1 Carlos Eduardo BERTIN 2 Universidade Metodista de São Paulo, SP Resumo O presente trabalho busca iniciar uma discussão entre a relação da Arte, Cultura e Religião pela perspectiva do jornal Brasil Seikyo, vinculado à organização religiosa, fundamentada nos princípios budistas de Nichiren Daishonin, Associação Brasil Soka Gakkai Internacional (BSGI). A partir dos pressupostos da análise do discurso, selecionamos 3 matérias publicadas nas edições 2259, 2266 e 2281 do ano de 2015. Em uma primeira observação, identificamos que o jornal Brasil Seikyo busca disseminar as atividades culturais da BSGI, reforçar sua identidade como uma organização humanista e, ao mesmo tempo, relacionar a arte e a cultura com o exercício da fé no budismo de Nichiren Daishonin. PALAVRAS-CHAVE: Budismo; Brasil Seikyo; Arte; Cultura; Religião Introdução Pretendemos, com o presente artigo, iniciar uma discussão sobre a arte, a cultura e a religião, com foco na organização religiosa Associação Brasil Soka Gakkai (BSGI) 3, fundamentada nos princípios do Budismo de Nichiren Daishonin, através das publicações do jornal Brasil Seikyo, importante veículo de comunicação desta instituição. A fim de compreender como o jornal Brasil Seikyo aborda essas temáticas em suas publicações, selecionamos como corpus de análise um artigo da edição 2259 do ano de 2015 e duas notícias, uma da edição 2266 e uma da edição 2281 do mesmo ano. Como fundamentação teórica para o presente estudo, usamos autores que realizam estudos sobre o budismo, como Gouveia (2016) e Santos (2004); sobre o humanismo, Felinto e Santaella (2012); sobre a arte e a cultura, Williams (1992), Pareyson (1997) e Santaella (2003) e sobre os gêneros e formatos do jornalismo, Marques de Melo (2003). 1 Trabalho apresentado no GT Comunicação e Religiões no PENSACOM 2017 2 Mestrando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, publicitário, jornalista e bolsista Capes. E-mail: dudsbertin@gmail.com 3 Filial da Soka Gakkai Internacional no Brasil 1

Como ferramenta de análise, partimos dos pressupostos da análise do discurso a partir das contribuições de Dominique Maingueneau (2008) sobre o ethos. Conforme explica Maingueneau (2008, p.72) a especificidade do ethos remete à figura de um fiador que, por meio de sua fala, se dá uma identidade em acordo com o mundo que ele supostamente faz surgir. E acrescenta que as ideias suscitam a adesão do leitor por meio de uma maneira de dizer que é também uma maneira de ser. Ressaltamos que a BSGI se apresenta como uma organização budista que tem o humanismo como sua principal bandeira e que busca a promoção da paz, por meio da cultura e educação. Sendo assim, nossa motivação se baseia no fato de compreender como tal instituição aborda a questão da arte e da cultura em seu principal periódico. Defendemos que o presente estudo possibilita a abertura de um novo campo de pesquisa e novas reflexões acadêmicas, tanto nos estudos sobre comunicação e religião, quanto nos estudos sobre comunicação e cultura. De Sakyamuni ao Budismo da BSGI: o Budismo e o seu percurso histórico O Budismo é uma religião que existe há mais de 2500 anos e suas diversas correntes que se disseminaram ao longo dos anos nos trazem distintas explicações. Conforme explica Santos (2004, p.14), o Budismo é o nome dado aos ensinos do Buda e refere-se a todos os sutras expostos pelo Buda Sakyamuni. As histórias relatadas pelas escolas budistas dizem que o Buda nasceu nas montanhas do Himalaia, onde hoje se localiza o Nepal, e seu pai, o rei Suddhodana, deu a ele o nome de Siddhartha. Por nascer no Clã dos Sakyas (ser capaz/ter habilidade e poder), passou a ser chamado de Sakyamuni, o sábio dos Sakyas, já que o Muni tem o sentido de sábio (GOUVEIA, 2016, p.61). Vivendo como príncipe e tendo ao seu redor luxo, riqueza e beleza, aos 29 anos de idade abandou o palácio em que morava e iniciou sua busca espiritual. Após seis anos em busca de respostas às suas indagações sobre as causas que levavam as pessoas ao sofrimento e sua possível superação, atingiu a iluminação em baixo da árvore Bodhi 4 (GOUVEIA, 2016, p.64). 4 Bodhi significa literalmente despertar 2

Depois de atingir a iluminação, o Buda viajou a pé pela Índia para transmitir os seus ensinamentos, tornando-se assim uma pessoa célebre. Pessoas de vários lugares se deslocavam para encontrá-lo e ouvi-lo. Aos 82 anos de idade, o Buda faleceu em uma cidade chamada Kushinagar, no nordeste da Índia, e seus restos mortais foram colocados em monumentos, conhecidos como stupa (monte, pilha, suporte de oferendas). Após sua morte, diversas interpretações foram dadas aos seus ensinamentos e várias correntes budistas surgiram. Compreendemos aqui que o estudo sobre as diversas escolas budistas e sobre a vida do Buda merece um maior aprofundamento de nossa parte, porém, com o as limitações de páginas, daremos uma maior ênfase à escola do budismo de Nichiren Daishonin, já que esta última é o ponto de referência da nossa pesquisa. Nichiren Daishonin nasceu na província de Awa, no Japão, no ano de 1822. Filho de pescadores, ele deixou a casa dos seus pais, aos doze anos, para estudar o budismo no templo Seityo. Diante de seus estudos e reflexões, percebeu contradições entre aquilo que estudava e os ensinos budistas da sua época. Sendo assim, buscou encontrar uma resposta para as complexidades da vida humana. Santos (2004, p.18) relata que no ano de 1253, Nichiren descobriu provas documentais de que as doutrinas budistas de várias seitas não se baseavam nos ensinos de Sakyamuni e que os verdadeiros ensinos budistas se encontravam em um único sutra, o Sutra do Lótus. Dessa forma, de acordo com Nichiren Daishonin, um mantra com o nome de Nam- Myoho-Rengue-Kyo possibilitaria as pessoas a atingirem a iluminação. A iluminação, como descreve Santos (2004, p.18), significa chegar a uma consciência completa e positiva do estado de Buda presente em todos os seres humanos. E o Sutra do Lótus declara que todas as pessoas, da forma como são, podem alcançar a iluminação. O estado de Buda é entendido como uma condição em que a pessoa obtém a sabedoria para observar a realidade máxima da vida (SOUZA, 2004, p.51) e compreender as questões que permeiam a própria existência humana. Neste sentido, o budismo se apresenta como uma religião em que o ser humano é o centro de tudo e responsável por sua própria existência. 3

Ao propagar os seus ensinamentos para as pessoas do Japão, Nichiren Daishonin sofreu perseguições dos seus opositores. Sendo assim, em 1279 escreveu o Gohonzon 5 em forma de mandala para que todos os seus discípulos pudessem atingir o estado de Buda, tal como ele (SANTOS, 2004, p.19). Nichiren Daishonin faleceu em outubro de 1282, na residência de um seguidor, onde se localiza hoje a cidade de Tóquio. Após sua morte, seus ensinos foram transmitidos de geração em geração por seus discípulos. No ano de 1928, no Japão, o educador Tsunessaburo Makiguti conheceu por intermédio de um amigo o budismo de Nichiren Daishonin e decidiu se converter a essa religião. Observando os princípios do budismo, o educador acreditava que a mudança da sociedade ocorreria por um modelo de educação que priorizasse a dignidade da vida humana. Assim sendo, a Soka Gakkai foi fundada no ano de 1930 por ele, primeiro presidente, e Josei Toda, segundo presidente. No início, era uma organização de educadores que estudavam e colocavam em prática a pedagogia Soka (Criação de Valor) criada pelo próprio Makiguti (SANTOS, 2004, p.140). No ano de 1943, os dois fundadores e mais vinte um líderes desta organização foram presos por se oporem à política religiosa e ao controle de liberdade de expressão do governo japonês. Tsunessaburo Makiguti faleceu na prisão, em novembro de 1944, e Josei Toda foi libertado em 1945. Com o falecimento de Makiguti, Josei Toda iniciou o processo de reconstrução da Soka Gakkai com o objetivo de propagar o budismo às pessoas no Japão pós-guerra (SANTOS, 2004, p.141). No ano de 1947, Daisaku Ikeda encontrou-se com Josei Toda em uma palestra sobre filosofia budista e decidiu converter-se ao budismo. Como explica Santos (2004, p.156), o budismo de Nichiren Daishonin baseia-se no princípio da unicidade de mestre e discípulo, onde ambos atuam pela causa do Kosen-Rufu 6. Desta maneira, Daisaku Ikeda também se tornou um discípulo de Josei Toda. Josei Toda assumiu a liderança da Soka Gakkai em 1951 e veio a falecer em 1958. No ano de 1960, Daisaku Ikeda tornou-se o terceiro presidente da Soka Gakkai e iniciou 5 Objeto de devoção do budismo de Nichiren Daishonin. No centro está escrito em sânscrito Nam- Myoho-Rengue-Kyo. 6 Kosen-Rufu significa propagar amplamente o budismo (SANTOS, 2004). 4

uma viagem ao mundo para fundar a organização em outros países. Dessa forma, ele fundou a Soka Gakkai em diversos países, mas oficializou-a como organização mundial apenas em 16 de janeiro de 1975, na Ilha de Guam, dando o nome de Soka Gakkai Internacional (SGI). No dia 19 de outubro de 1960, Daisaku Ikeda chegou em São Paulo para fundar a organização no Brasil. A cerimônia ocorreu no restaurante Chá Flora, em São Paulo, com cerca de 200 associados, a maioria imigrantes japoneses que praticava o budismo em seu país de origem (BSGI/SA). Na ocasião, recebeu o nome de Distrito Brasil. Hoje, a BSGI conta com mais de 200 mil associados em todo o país. Esta organização promove atividades que acontecem nos 2.500 núcleos de bairros espalhados em todo o Brasil (BSGI/SA). A BSGI também possui seus programas e projetos culturais que têm por objetivo valorizar o potencial do ser humano. Esses projetos são divididos por áreas, sendo elas: Educação; Exposições, Artes; Saúde e Bem Estar; Ciências; e Humanismo (BSGI/SA). Diálogos filosóficos sobre o budismo e o humanismo Historiadores do ocidente defendem que a relação entre filosofia e religião se originou na Grécia antiga. Como aponta Souza (2004, p.41), por trás das ideias de Sócrates, Platão e Pitágoras estavam as doutrinas de suas religiões. E, da mesma forma, a filosofia ocidental começou a se desenvolver a partir da teologia cristã no final da idade média. Ainda conforme Souza, Os mitos, rituais e ensinos transmitidos desde épocas antigas representam a intuição ou discernimento das pessoas. Aqueles que acreditavam que havia uma verdade neles tentavam colocá-las em prática. Essa é a origem da religião. Em contraste, a filosofia desenvolveu-se graças aos esforços para lançar uma nova luz sobre essas verdades, sistematizá-las e descobrir novas verdades por meio de sua própria metodologia (SOUZA, 2004, p.40). Diante dessas argumentações, atentamos para o fato de que o ser humano sempre busca uma verdade absoluta. Nesse sentido, a religião, a filosofia e a ciência tentam explicar as questões da natureza, da vida, de diversas situações do cotidiano e da própria existência. 5

Importante ressaltar que as antigas religiões consideravam os fenômenos naturais e sociais como manifestações da vontade de um deus absoluto. Porém, com o avanço das ciências, esse pensamento perdeu sua eficácia por não explicar determinados fenômenos do universo (SOUZA, 2004, p.41). O debate entre filosofia e religião tem reflexos sobre o discurso humanista da instituição religiosa BSGI, que tem como fundamentação os princípios budistas de Nichiren Daishonin. Conforme consta em seu site, esta instituição tem o humanismo como a sua principal bandeira e toda a sua atuação se baseia em ações que promovam e valorizem o ser humano (BSGI/SA). O termo humanismo está ligado ao Renascimento, surgido no século XIV, na Europa, que buscava colocar o ser humano como centro do universo, contrapondo a ideia de um deus como centro e criador do mundo. No contexto da época, essa filosofia passou a influenciar as artes plásticas, a literatura, o teatro, a música e a escultura. Vale frisar que diversas vertentes humanistas surgiram ao longo dos anos. Conforme elucida Felinto e Santaella (2012, p.132), a construção do humanismo racionalista moderno foi empreendida por Descartes. De acordo com ele, a mente racional, separada e distinta do corpo, é aquilo que dá significado ao humano. Já Kant, no texto Resposta à pergunta: O que é o iluminismo?, expõe sua defesa da inviolável essência humana, numa narrativa sobre a emancipação da ignorância e da servidão humanas pelo conhecimento e igualitarismo (FELINTO; SANTAELLA, 2012, p.134). No mesmo texto, Kant (1784, p.516) diz Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele é próprio culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Sendo assim, o iluminismo é a emancipação do ser humano e sua capacidade de reflexão e entendimento sem a intervenção de um ser superior. Sendo o humanismo um termo recorrente nos discursos da BSGI, resta-nos, agora, entender o que, de fato, significa o humanismo budista. Em nossa pesquisa bibliográfica, não encontramos pesquisas acadêmicas relacionadas a este assunto. Desta forma, buscamos nas publicações da BSGI um material que nos possibilitasse compreender o significado do humanismo budista. 6

Sendo assim, o líder religioso da Soka Gakkai Internacional (SGI), Daisaku Ikeda (2004, p.19), diz que atribuir supremo valor ao ser humano é o ensinamento do Sutra do Lótus e que esse é o significado do humanismo budista. Partindo dessa explicação, tentamos compreender com maior profundidade o Sutra do Lótus. Após a morte de Sakyamuni, o budismo se dividiu em duas principais correntes: o Hinayana e o Mahayana. Os ensinamentos do budismo Hinayana elucidam que os sofrimentos são causados pelos desejos e egoísmo do ser humano. Dessa forma, para eliminar os sofrimentos, a pessoa deve extinguir todos os seus desejos. Isso implicaria em um estado de completo vazio, conhecido como nirvana. Já o Mahayana nega a prática de extinção dos desejos e encoraja as pessoas as direcionarem eles positivamente. Dessa forma, os sofrimentos passam a ser erradicados (SANTOS, 2004, p.122). Santos (2004, p.123) explica que o budismo Mahayana é subdividido em duas partes. Uma que ensina que as pessoas devem acreditar em um ser transcendental, conhecida como Mahayana provisório, e outra que consiste no Sutra do Lótus. A autora argumenta que o Hinayana pode ser descrito como niilista, devido à inutilidade da vida neste mundo, e que o Mahayana provisório se assemelha ao escapismo, já que o ser humano delega a responsabilidade da própria vida a um ser superior. Contradizendo essas duas vertentes, o Sutra do Lótus defende a transformação no interior do próprio indivíduo. Dessa forma, essa revolução interior chamada Revolução Humana conduziria a uma mudança positiva na sociedade, ou seja, uma revolução social se desenvolveria a partir da revolução humana de cada pessoa (SANTOS, 2004, p.77). Em seu site, a BSGI expõe os principais conceitos do humanismo budista, sendo eles: a dignidade e a igualdade entre todos os seres humanos; a unidade da vida e seu ambiente; o relacionamento e o altruísmo entre as pessoas e o direito do indivíduo de cultivar a sua Revolução Humana (BSGI/SA). Ao argumentar sobre a Revolução Humana, Santos (2004, p.180) diz que a cultura desempenha um papel essencial nesse processo. De acordo com a autora, a cultura 7

proporciona uma base para que as pessoas obtenham conhecimento e moldem o seu intelecto. Arte e cultura e suas relações com o budismo e a BSGI Um dos capítulos do Sutra do Lótus descreve um personagem chamado bodhisattva Myo on (Sons Maravilhosos). De acordo com o Sutra do Lótus, esse personagem tem a faculdade de assumir qualquer forma a fim de propagar os ensinamentos do Buda. O bodhisattva Myon on adquiriu esses poderes pelo fato de ter servido ao Buda por várias existências, oferecendo cem mil tipos de músicas. Como resultado de sua devoção, adquiriu habilidades místicas. Como consta nos escritos budistas (COLETÂNEAS DOS ESCRITOS DE NICHIREN DAISHONIN, 2014), Sons Maravilhosos significa as vozes de Nichiren Daishonin e seus seguidores recitando o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo. E o mesmo termo se refere à voz humana, às artes, à cultura e à música. Sendo assim, buscamos por meio dessa parábola compreender a relação do Budismo com a arte e a cultura. Pareyson (1997, p.21) traz três definições tradicionais da arte: a arte como fazer, como conhecer ou como exprimir. O autor também chama a atenção para que, embora a arte seja expressão, é necessário entender que todas as operações humanas são expressivas. Como explica, toda a operação humana contém a espiritualidade e a personalidade da pessoa que a realizou. Dessa forma, a arte adquire o seu caráter expressivo (PAREYSON, 1997, p.21). Já Williams (1992) aponta três amplas ênfases sobre os estudos das artes: sobre as condições sociais da arte; sobre material social nas obras de arte e sobre as relações sociais nas obras de arte. O pensador diz que as condições sociais da arte sobrepõem-se à estética geral e a alguns ramos da psicologia, bem como à história (WILLIAMS, 1992, p.21). Quanto ao primeiro exemplo, Williams argumenta que os trabalhos produzidos abstêm-se totalmente de considerações sociais e passam ao largo do contexto atual. Mas, conforme afirma o autor, há, porém, tendências significativas, baseadas primordialmente em dados estéticos e psicológicos que a) introduzem condições 8

sociais como modificadoras de um processo humano, no mais relativamente constante, ou b) estabelecem períodos gerais da cultura humana dentro dos quais florescem determinados tipos de arte (WILLIAMS, 1992, p.22). Williams (1992, p.23) também nos atenta sobre a ideia de reflexo nos elementos sociais em obras de arte. De acordo com ele, os fatos básicos ou a estrutura básica de uma dada sociedade e/ou período são aceitos ou estabelecidos por análise geral, e seu reflexo nas obras concretas é mais ou menos diretamente identificados. Ao argumentar sobre as relações sociais na obra de arte, o autor diz que a ideia de reflexo, segundo o qual as obras de arte incorporam o material social preexistente, é modificada pela ideia de mediação (WILLIAMS, 1992, p.23). Sendo assim, a arte, seja ela a pintura, a música, a literatura, etc., serve como um meio de expressão ou significação de determinadas ideias, conceitos ou questionamentos de diversos assuntos. A conceituação do termo cultura adquire certa complexidade pela quantidade de definições que recebeu ao longo do tempo. Lúcia Santaella (2004, p. 52) explica que até meados do século XIX, dois tipos de cultura se desenhavam nas sociedades ocidentais: a cultura erudita, das elites, e a cultura popular, que era produzida pelas classes subalternas. Porém, como elucida a autora, o surgimento da cultura de massas, a partir da explosão dos meios de reprodução técnicos industriais, produziu um impacto atordoante na tradicional divisão da cultura erudita e cultura popular. Sendo assim, ao absorver e digerir essas duas formas de cultura, a cultura de massas tende a dissolver essa polaridade entre o popular e o erudito. Williams (1992, p.11) aponta para o desenvolvimento do termo cultura como cultivo ativo da mente. Nesse sentido, os significados de cultura estavam relacionados às atividades culturais e ao trabalho intelectual do homem, classificando, assim, as pessoas como eruditas. Desta forma, as classes populares e marginalizadas que não tinham os hábitos culturais das elites eram vistas como incultas pessoas sem cultura. Os autores dos Estudos Culturais trazem novas reflexões e contribuições para o entendimento da cultura e das produções culturais. Isso, porque, os pensadores dessa corrente buscam abordar as práticas e produções manifestas dos grupos sociais. Sendo assim, as produções culturais de grupos minoritários passam a ser estudadas e refletidas. 9

Como fundamenta Williams (1992, p.14), a abordagem da cultura requer novos tipos de análise social de instituições e formações especificamente culturais e o estudo das relações concretas entre estas e os meios materiais de produção cultural e as formas culturais concretas. O autor chama-nos a atenção para que, muitas vezes, a análise sociológica da cultura necessita trabalhar com o sentido. Segundo ele, esse é o modo principal pelo qual a produção cultural pode ser relacionada com classes sociais ou outros grupos que podem definir-se em outros termos sociais, mediante análise política, econômica ou ocupacional (WILLIAMS, 1992, p.26). Porém, Williams defende que a análise cultural não pode se limitar ao nível das crenças formais e conscientes. É preciso, segundo ele, que a análise se estenda em dois sentidos. O primeiro, para área mais ampla dos sentimentos, atitudes e pressupostos que marcam de maneira muito característica, a cultura de determinada classe ou grupo. O segundo, sobre a necessidade de ampliação até a área de produção cultural manifesta, a qual, pela natureza de suas formas, não é, ou não é primordialmente apenas a expressão de crenças formais e conscientes: ou filosofia, ou religião, ou teoria política e econômica, mas teatro, ficção, poesia e pintura. Diante dessas fundamentações, atentamos para a relação da BSGI com a arte e a cultura. Conforme consta em seu site (BSGI/SA), a instituição tem diversos projetos culturais que visam a disseminações dos seus ideais humanísticos. Sendo assim, a BSGI conta, em sua estrutura, com diversos grupos artísticos que se dividem em bandas musicais, orquestras, grupos de dança, entre outros. O Departamento de Artistas (Depart) é composto por atores e atrizes, musicistas, bailarinas e bailarinos, artistas plásticos, escritores e escritoras, cineastas, fotógrafos e fotógrafas. Esse grupo realiza diversas apresentações em distintos locais do país com o objetivo de promover os ideais da BSGI na sociedade. As bandas musicais Taiyo Ongakutai, formada por rapazes, e Nova Era Kotekitai, composta por meninas, se apresentam periodicamente em atividades feitas pela instituição, mas também participam de concursos de bandas em todo o país. Dentre outros grupos, há a Orquestra Filarmônica Brasileira do Humanismo Ikeda (OFBHI), o Coral Esperança do Mundo (CEM), o Coral Filarmônico Ikeda e os grupos de dança, compostos por mulheres, Taiga e Fukuchi. 10

Diante disso, nosso interesse agora é compreender como o jornal Brasil Seikyo aborda as temáticas da arte e da cultura em suas publicações. O jornal Brasil Seikyo A história deste jornal teve início no ano de 1965, tendo sua primeira edição publicada no dia 3 de maio daquele ano, com o nome Boletim da Nova Era. Um ano depois, passou a se chamar Brasil Seikyo por solicitação do presidente da Soka Gakkai, Daisaku Ikeda (BRASIL SEIKYO, 2015, p.7). Na edição especial comemorativa aos 50 anos do jornal, diz que o Brasil Seikyo foi importante na divulgação de momentos marcantes da história da BSGI, sendo as três visitas do líder budista Daisaku Ikeda ao Brasil, nos anos de 1966, 1984 e 1993 (BRASIL SEIKYO, 2015, p.7) as mais importantes. Esta edição especial também elucida as razões da existência deste veículo (BRASIL SEIKYO, 2015, p.4): ser o manual da fé, prática e estudo do budismo; ensinar com clareza os princípios budistas, inspirar o leitor a realizar a sua revolução humana; publicar as notícias da SGI e BSGI; promover os ideais de paz, cultura e educação. Atualmente, cerca 60 mil associados da BSGI assinam o jornal que é publicado semanalmente e é produzido por jornalistas, editores e colaboradores de diversas localidades do país. Análise das publicações do Brasil Seikyo sobre arte e cultura Baseamo-nos na teoria de gêneros e formatos jornalísticos proposta pelo professor Marques de Melo para fundamentação do nosso corpus de análise desta pesquisa. Dessa forma, escolhemos uma publicação do gênero informativo, formato notícia, e uma do gênero opinativo, formato artigo. Conforme explica, a notícia é o relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social e produziu alterações que já são percebidas pela instituição jornalísticas (MARQUES DE MELO, 2003, p.66). Já o artigo, não necessariamente representa a opinião da empresa jornalística (MARQUES DE MELO, 2003, p.65). Os autores de artigos são geralmente pensadores, 11

escritores e especialista em diversos campos e cujas opiniões interessam ao conhecimento e divulgação do editor e do seu público. Sendo assim, partindo dos pressupostos da análise do discurso, selecionamos três textos para análise. No artigo, sem assinatura, intitulado Revolução Cultural, publicado na edição 2259, em 24 de janeiro de 2015, partimos da observação do seguinte trecho: Em pleno pós-guerra, em 1945, a única arma que o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, utilizou para realinhar a organização foi a do respeito à dignidade humana por meio de uma revolução interior capaz de transformar o drama da vida em infinita fonte de alegria e boa sorte. No mundo inteiro, os associados da Soka Gakkai conduzem a vida com base na filosofia encorajadora do budismo e descobrem em si um universo de possibilidades para se expressar e inspirar as pessoas. São grupos musicais, orquestras, corais, inúmeras exposições que, juntos, formam um movimento cultural ímpar, embasado no comportamento humano e seu infinito potencial (BRASIL SEIKYO, 2015, p.c4). No trecho analisado acima identificamos que o jornal Brasil Seikyo, ao relatar um fato ocorrido no pós-guerra, afirma a identidade da Soka Gakkai como uma organização humanista que preza pela dignidade da vida humana. Ao mesmo tempo, apresenta o budismo como uma religião que encoraja o ser humano a superar os sofrimentos e inspirar as pessoas a realizarem a Revolução Humana. Quanto à questão da arte e da cultura, os grupos e atividades culturais promovidas pela SGI servem de alento para que as pessoas desenvolvam seu humanismo e o seu máximo potencial. O outro texto analisado neste trabalho foi publicado na edição 2266, em 07 de maio de 2015. Trata-se de uma notícia, RM Mooca, CCSP, promove exposição, que divulga um evento cultural promovido por um determinado núcleo da BSGI. No presente texto, observamos: Para levar arte, cultura e educação às pessoas, a RM Mooca, Sub. Centro- Leste, CCSP, promoveu nos dias 21 e 22 de fevereiro a exposição Sementes da Mudança A Carta da Terra e o Potencial Humano, em uma das unidades das Fábricas de Cultura, localizada no bairro Belém, SP. (...) Os convidados assistiram a um vídeo sobre as ações da BSGI, as apresentações do Coral Uirapuru da Divisão Sênior (DS), o street dance do Grupo Revelação da Divisão dos Jovens (DJ), o Coral da Divisão Feminina (DF) da RM Mooca, entre outras atividades culturais. (...) Na ocasião, também foi realizado o evento Arte pela Paz, por intervenções culturais com a finalidade de propagar os ideais da SGI (BRASIL SEIKYO, 2015, p.a7). 12

Neste texto, identificamos que por meio da divulgação de uma atividade cultural, a BSGI reforça o seu ethos como uma organização budista e humanista, que busca a paz por meio da cultura e educação. Nesse sentido, a exposição teve como finalidade promover os ideais da instituição. O terceiro e último texto utilizado para análise deste artigo remete-se à notícia Imigração Japonesa é comemorada no Paraná, publicada na edição 2281, em 27/06/2017. A matéria aborda a participação da BSGI nas festividades dos 100 anos da imigração japonesa no Estado. Analisamos o seguinte trecho da notícia: Na abertura da festividade, o público ovacionou a banda masculina Taiyo Ongakutai de Curitiba e de Campos Gerais, que surpreendeu com o potpourri da banda sueca Abba. Representando a SGI, Hiromasa Ikeda, observou que o intercâmbio entre os dois países gera bons frutos para toda a sociedade. Esse rica convivência entre japoneses e brasileiros e a harmonia entre os povos me fazem acreditar que é possível construir um mundo de paz, e a arte e cultura são instrumentos para se chegar a esse ideal, afirmou (BRASIL SEIKYO, 2015, p.c3). Observamos neste trecho que, além da divulgação da participação de um grupo musical em uma atividade cultural, o discurso do representante da SGI reforça, mais uma vez, a imagem da BSGI como uma organização que promove a paz por meio da cultura. Considerações finais Partindo da fundamentação de Williams, as produções culturais, muitas vezes, trabalham com o sentido. Dessa forma, podem estar relacionadas aos sentimentos, interesses e ideais de determinados grupos. Sendo assim, em uma primeira observação, identificamos que o jornal Brasil Seikyo busca disseminar as atividades culturais da BSGI, reforçar sua identidade como uma organização humanista e, ao mesmo tempo, relacionar a arte e a cultura com o exercício da fé no budismo de Nichiren Daishonin. Referências bibliográficas 13

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