CESSAÇÃO DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E PAGAMENTO DO SALDO RESIDUAL CONSEQUÊNCIAS

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Transcrição:

CESSAÇÃO DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E PAGAMENTO DO SALDO RESIDUAL CONSEQUÊNCIAS ANDRÉ LUIZ MORO BITTENCOURT Com a nova sistemática do pente fina determinada pelo governo federal, mais especificamente no tocante aos benefícios de aposentadoria por invalidez, cresceu o número de indagações quanto ao pagamento residual do benefício, bem como suas consequências, possibilidade de acumulação dele com o salário, com outros benefícios, contagem do tempo em benefício como carência, entre tantas outras situações. O presente texto tem por finalidade conhecer as peculiaridades do pagamento residual e aprofundar o debate. Até então, como as altas de aposentadoria por invalidez não faziam parte do nosso cotidiano, o assunto acabava não sendo explorado, porém, como já referido, o presente momento pede uma maior reflexão sore o tema. O benefício de aposentadoria por invalidez há certo tempo sofreu alteração e passou a ser transitório. A possibilidade de recuperação da capacidade fez com que fosse possível a revisão do benefício, num primeiro momento a cada dois anos e, mais recentemente, a qualquer tempo. Portanto, sua cessação, independentemente do tempo em que o mesmo estivesse ativo. Em conjunto com o processo de mudanças, a Lei n.º 8.213/91, no artigo 101, 1º, II afastou a necessidade de revisão para fins de verificação de capacidade ao aposentado por invalidez 1 que tiver 60 (sessenta anos completos). Assim, atualmente a revisão pode ocorrer a qualquer tempo, porém, após completar 60 (sessenta) anos, não pode o Segurado em benefício de aposentadoria por invalidez ser chamado para perícia de revisão. Isto não quer dizer que ele não poderá voltar a atividade. O direito subjetivo de pedir sua volta ao mercado de trabalho ainda existe. O que fica afastada é somente a possibilidade de a administração pública chamar o aposentado com 60 (sessenta) anos completos. Havendo a perícia administrativa e sendo determinada a necessidade de cessação do benefício de aposentadoria por invalidez, dependendo do tempo em benefício, bem como da forma de recuperação da capacidade, poderá haver o pagamento residual da aposentadoria. Ao fazer a leitura da norma, se percebe que o benefício continua ativado, pelo que muitas dúvidas estão surgindo. Já que ele possibilidade o recebimento do benefício em 1 (Incluído pela lei nº 13.457, de 2017)

conjunto com remuneração mensal, seria ele substitutivo do salário ou perderia essa qualidade? Pode ser recebido em conjunto com outro benefício? A contribuição posterior a alta para fins de contagem como carência deveria ser após a alta ou após o término do pagamento do benefício residual? O artigo 47 refere que verificada a recuperação da capacidade de trabalho do aposentado por invalidez, será observado o seguinte procedimento: I - quando a recuperação ocorrer dentro de 5 (cinco) anos, contados da data do início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem interrupção, o benefício cessará: a) de imediato, para o segurado empregado que tiver direito a retornar à função que desempenhava na empresa quando se aposentou, na forma da legislação trabalhista, valendo como documento, para tal fim, o certificado de capacidade fornecido pela Previdência Social; ou Se percebe então que nesta primeira situação, o benefício será interrompido no momento da fixação da data de cessação dele (DCB) quando o benefício foi pago por até 5 (cinco) anos e o retorno ao trabalho se der para mesma função que o aposentado executava no momento em que o benefício foi ativado. Portanto, se o trabalhador exercia a função de vigia e restou afastado por motivos psicológicos em agosto de 2013 e agora em junho de 2018 passou por perícia administrativa com resultado de recuperação da capacidade para sua atividade de vigia, o contrato de trabalho será reativado e o Segurado voltará a exercer sua função, sem prejuízo de recurso administrativo ou ação judicial visando o restabelecimento. A regra, contudo, está direcionada ao Segurado Empregado. E se for um contribuinte individual ou um facultativo que teve sua alta constatada por perícia e a DCB estiver dentro dos 05 (cinco) anos a contar do início do benefício? Sendo assim, a alínea b do inciso I do artigo 47, para regulamentar tais situações definiu que em tais casos, o benefício cessará após tantos meses quantos forem os anos de duração do auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez, para os demais segurados. Utilizando o exemplo acima, se o Segurado fosse um facultativo ou contribuinte individual, por exemplo, havendo recuperação após 04 (quatro) anos, o benefício ficaria ativo por mais 04 (quatro) meses. Em ambos, a constatação da perícia se deu ao sentido de recuperação total para o trabalho e em período de até 05 (cinco) anos a contar da DIB. Poderá, contudo, haver recuperação parcial para o trabalho ou ainda a possibilidade de reabilitação do Segurado (justamente em função da existência de capacidade residual) após 05 (cinco) anos a contar da DIB. A Lei n.º 8.213/91, no inciso II do artigo 47 tratou de regulamentar também essas situações. Como se nota, estamos diante de 03 (três) situações possíveis:

a) Recuperação parcial da capacidade; b) Existência de capacidade residual com possibilidade de exercício de nova função; c) Ocorrer após 05 (cinco) anos da DIB. Cumpre desde logo notar que não estamos diante de situações que devem ocorrer de forma conjunta para que se defira o direito de percepção do resíduo da aposentadoria por invalidez. Havendo qualquer uma delas, o resíduo deve ser pago. Assim sendo, se o vigia, ao passar pela perícia administrativa, receber conclusão pericial ao sentido de que não está apto para função de vigia, podendo, contudo, exercer outra atividade, mesmo que a DCB ocorra em prazo inferior a 05 (cinco) anos a contar da DIB, o pagamento do saldo residual deve ocorrer. Para estes, o pagamento ocorrerá por prazo de tempo maior, a saber: a) no seu valor integral, durante 6 (seis) meses contados da data em que for verificada a recuperação da capacidade; b) com redução de 50% (cinqüenta por cento), no período seguinte de 6 (seis) meses; c) com redução de 75% (setenta e cinco por cento), também por igual período de 6 (seis) meses, ao término do qual cessará definitivamente. Nos termos do artigo 219 da IN 77/2015, durante o período de 18 meses em que houver o pagamento do saldo residual, apesar de o segurado continuar mantendo a condição de aposentado, será permitido voltar ao trabalho sem prejuízo do pagamento da aposentadoria, exceto para o Segurado Empregado que tiver direito a retornar à função que desempenhava na empresa quando se aposentou, posto que para este o benefício cessará de imediato. A legislação é clara quanto a possibilidade de percepção conjunta de salário e benefício neste período. O mesmo ocorrerá quanto a percepção conjunta com outro benefício? Poderá haver pedido de aposentadoria por idade, tempo de contribuição? Mais uma vez a resposta parece estar na Instrução Normativa. No 1º do artigo 219, se percebe que não poderá haver pedido de novo benefício nos primeiros 06 (seis) meses do pagamento do saldo residual, se ocorrer algum dos seguintes casos: a) houver a recuperação total e ocorrer dentro de cinco anos contados da data do início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem interrupção; b) quando a recuperação for parcial; c) quando ocorrer após cinco anos contados da data do início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem interrupção; d) quando o segurado for declarado apto para o exercício de trabalho diverso do qual habitualmente exercia, não caberá concessão de novo benefício.

Se observa então que para a Instrução Normativa, nos casos acima indicados, no período em que o pagamento do saldo residual do pagamento da aposentadoria por invalidez, somente se faz possível a cumulação do benefício com o salário ou a remuneração da atividade, nunca com outro benefício. Pois bem: a impossibilidade de concessão de novo benefício (termo este usado pela Instrução Normativa), faz referência a todo e qualquer benefício ou somente a um novo pedido de aposentadoria por invalidez? Seja qual for a interpretação, o que desde logo já se tem como certo é que será possível a concessão de novo benefício em conjunto com a percepção do saldo residual do pagamento da aposentadoria por invalidez, do 7º (sétimo) ao 18º (décimo oitavo) mês. Ou seja, somente se veda a percepção conjunta do saldo residual com novo benefício nos meses em que o pagamento for integral (100 por cento). Para rebater qualquer dúvida, o 2º do artigo 219 adverte que durante o período de percepção do saldo em percentuais inferiores a 100% (cem por cento), poderá ser requerido novo benefício, devendo o segurado optar pela concessão do benefício mais vantajoso. Ora, se a redação deixa aberta a possibilidade de opção por benefício m ais vantajoso, resta claro que a cumulação referida na norma é para todo e qualquer benefício e não somente uma nova aposentadoria por invalidez apenas. Portanto, no que atine a possibilidade de acumulação de outro benefício com o saldo residual, a vedação da Instrução Normativa atinge apenas aos 06 (seis) primeiros meses em que o mesmo é pago de forma integral. Não se pode perder de vista que a acumulação com a remuneração é possível, somente com outro benefício que não. É de se destacar ainda que o legislador entendeu por bem fazer o pagamento do saldo residual para que o Segurado pudesse ter uma readaptação mais tranquila no retorno a atividade e até mesmo, ter como garantir sua subsistência em caso de desemprego. Portanto, caso haja uma recuperação para atividade outra que não a habitual (existência de capacidade residual e possibilidade de readaptação), estaríamos diante de uma possibilidade de percepção de auxílio-doença. Porém, pera redação da IN, não haveria possiblidade de acumulação dos benefícios nos primeiros seis meses e, a partir do sétimo, ao Segurado caberia optar entre o saldo remanescente ou o auxílio-doença. Porém, se continuasse trabalhando, receberia ambos. Poderia ainda haver hipótese de recuperação da capacidade com existência de redução dela em situação originada em acidente do trabalho ou de qualquer natureza, hipótese que ensejaria a percepção de auxílio-acidente. Ocorrendo na prática, também seria inviabilizada a percepção de auxílio-acidente nos seis primeiros meses e opção nos demais? Não parece ter sido este o espírito do legislador! Poderia a norma regulamentar restringir algo que a lei não fez?

Quando se questiona a natureza do saldo remanescente de aposentadoria por invalidez, se percebe que ele não tem natureza substitutiva do salário. A própria lei traz a possibilidade de percepção conjunta a remuneração. Assim, mais uma vez resta claro que o intuito do legislador foi possibilitar um retorno mais digno e seguro ao ex aposentado. Portanto, entendemos como indevida a restrição da IN 77/2015 quanto a possibilidade de cumulação no período de pagamento do saldo remanescente, eis que em nosso entender, trata-se de benefício com natureza indenizatória, que pode ser pago em valor inferior ao salário mínimo (nos casos dos percentuais do 7º ao 12º mês) e que não substitui salário, sendo inclusive permitida a acumulação entre salário e o saldo remanescente. Assim, que tem recuperação parcial da capacidade, porém se encontra incapacitado para atividade habitual, poderia receber auxílio-doença até que reabilitado em conjunto com o saldo remanescente. Quem teve origem acidentária no benefício, caso reste recuperado para função diversa, poderia receber auxílio-acidente em conjunto com o saldo remanescente. Nunca a vedação e posterior escolha pelo mais vantajoso. Por fim, quanto a possiblidade de cômputo do tempo em benefício como tempo de contribuição e carência, sabemos que se a natureza for decorrente de acidente de trabalho, de forma automática será reconhecido tal período como contribuição e carência. Se tiver natureza comum, somente se estiver entre períodos contributivos. Recentemente, porém, começou a se indagar se pode haver ou não intervalo entre a cessação e a nova contribuição ou se deve ser ininterrupta, bem como, sobre o número de meses contribuídos no retorno. Segundo a TNU, na Súmula n.º 73, temos: O tempo de gozo de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez não decorrentes de acidente de trabalho só pode ser computado como tempo de contribuição ou para fins de carência quando intercalado entre períodos nos quais houve recolhimento de contribuições para a previdência social. Por sua vez, o Decreto n.º 3.048/99 em seu artigo 60 menciona que a contagem se daria (para fins de contribuição e carência) se estivesse intercalado entre períodos de atividade, o que traz interpretações ao sentido de que somente os Segurados obrigatórios receberiam o benefício de contagem diferenciada. Mas e o facultativo? O artigo 164 da IN 77/2015 parece responder a questão. Ela faz menção de forma clara a contagem como tempo de contribuição e carência ainda que em outra categoria de segurado. No que toca ao número de recolhimentos necessários, não é forçoso lembrar que a lei não definiu um valor, pelo que, não se pode criar critérios restritivos ao arrepio da legislação em vigor.

Assim, uma única contribuição tem o condão de fazer valer o período em benefício como tempo de contribuição e carência, desde que o pagamento ocorra na sequência da cessação, sem que haja intervalo entre a cessação e o pagamento. Destarte, tendo a alta fixado a DCB em junho, o Segurado deveria pagar a competência julho, o que irá ocorre no mês de agosto. Vale ainda advertir, que diante da dinâmica de pagamento do saldo remanescente, entendemos que o pagamento deve se dar independentemente de pagamento do saldo. Assim, havendo alta em junho, não se deve esperar a finalização do pagamento do saldo para reiniciar as contribuições. Vale notar que no caso do exemplo o Segurado é um empregado, pelo que, com o retorno ao trabalho restaria cumprida a determinação legal quanto ao tempo em benefício para fins de carência para outras formas de aposentadoria.