REPÚBLICA DE CABO VERDE ASSEMBLEIA NACIONAL O PRESIDENTE Discurso de S.E o Presidente da Assembleia Nacional, Basilio Ramos, por ocasião da Sessão Solene comemorativa do 40º Aniversário da Proclamação da Independência Nacional. Cidade da Praia, 5 de Julho de 2015 Senhor Presidente da República, Excelência Senhor Primeiro-ministro, Excelência Senhor Presidente do STJ, Excelência Senhor Primeiro-ministro de Portugal, Excelência Senhores Membros da Mesa da Assembleia Nacional, Excelências Senhores Ex-Presidentes da República, Excelências Senhoras e Senhores Membros do Governo, Excelências Senhora Vice-Ministra da Comissão de Saúde Nacional e Planeamento Familiar da China, Excelência Senhoras e Senhores Deputados, Excelências Senhor Provedor da Justiça, Excelência Senhoras e Senhores Embaixadores e Representantes do Corpo Diplomático, Excelências Senhor Presidente da Câmara Municipal da Praia, Excelência Senhores Combatentes da Liberdade da Pátria, Senhores Altos Dignitários Civis, Militares e Religiosos, Senhoras e Senhores Eleitos Municipais, 1
Caros Concidadãos Residentes no País e na Diáspora, Distintos Convidados, Há precisamente 40 anos, de uma tribuna improvisada do Estádio da Várzea, nesta orgulhosa Cidade da Praia, Abílio Augusto Monteiro Duarte, na qualidade de Presidente da Assembleia Constituinte, proferia para o Mundo, as palavras que ficariam gravadas para sempre nas páginas da História e no coração de todos os cabo-verdianos, e que passo a citar: Povo de Cabo Verde, hoje 5 de Julho de 1975, em teu nome, a Assembleia Nacional de Cabo Verde proclama solenemente a República de Cabo Verde como Nação Independente e Soberana. Nessa hora primeira, a soberania do Povo de Cabo Verde exprimiu-se na sua essência e a sua Assembleia Representativa afirmou-se de pleno, como expressão da vontade popular e centro vital do Poder Político. É pois essa mesma Assembleia Nacional que hoje se reúne aqui em sessão solene, com a honrosa presença de Sua Excelência o Presidente da República, do Senhor Primeiro Ministro e outras entidades da República, para evocar esse momento ímpar e sublime para o Povo das Ilhas que, ao proclamar a Independência do seu território, erigido em República de Cabo Verde, se afirmou como protagonista da sua própria História e membro de pleno direito da Comunidade das Nações. Volvidos 40 anos, olhando para o Cabo Verde de então, pelo caminho percorrido e pelos resultados alcançados em todos os domínios relevantes da vida do nosso Povo, não posso deixar de exprimir, em nome da Assembleia Nacional, o mais profundo orgulho que sentimos por esse grande Povo, o Povo de Cabo Verde. Orgulho pela tenacidade com que conseguiu enfrentar e superar ao longo de séculos os desafios da natureza e dos homens. Orgulho também pelo sentido de dignidade, pela insuperável auto-confiança e pela ousadia com que decidiu assumir o seu próprio destino e fazer destes dez grãozinhos di terra escalavrada uma República soberana, erigida em Estado de Direito, respeitadora da dignidade da pessoa humana e das liberdades fundamentais dos cidadãos e seriamente empenhada em prosseguir a luta pelo desenvolvimento, de modo a proporcionar a todos os seus filhos uma vida condigna. 2
Apesar dos constrangimentos estruturais que ainda persistem e da vulnerabilidade do nosso País a factores externos que escapam ao nosso controle; apesar das dificuldades que muitas famílias ainda enfrentam no seu dia-a-dia, apesar das incertezas que apoquentam as aspirações dos mais jovens, penso que no culminar dos quarenta anos de Independência, todos os filhos destas Ilhas, estejam onde estiverem, se sentem irmanados na força desse orgulho de ser cabo-verdiano, esse orgulho que nos leva a dizer alto e bom som, citando o Trovador, Ma m ta senti feliz di ter nascide cabo-verdiano. Com efeito, em todo o nosso percurso como Povo, sobressai de forma indelével, a têmpera do homem cabo-verdiano, o seu esforço titânico de desafiar e dominar a natureza; para remover montanhas e abrir vias de comunicação; para construir socalcos, diques e barragens de modo a aumentar o solo arável, aumentar a água disponível e desenvolver a agricultura, apesar da escassez das chuvas; para recorrer às energias renováveis e levar a oportunidade de desenvolvimento e progresso aos povoados mais recônditos do nosso País. São, pois, os homens e as mulheres cabo-verdianas, de Santo Antão a Brava, passando pela nossa Diáspora espalhada pelo Mundo, que têm sido a pedra angular em que repousa o nosso processo de desenvolvimento, o que nos leva a afirmar, sem receio de errar, que Cabo Verde tem sido um exemplo daquilo de que o homem é capaz quando ama o seu Torrão Natal e acredita nas suas próprias forças. Entretanto, manda a justiça reconhecer, que não temos estado sós nessa caminhada iniciada a 5 de Julho de 1975. Temos tido sempre ao nosso lado a solidariedade da Comunidade internacional e de países amigos, cuja presença neste acto através do corpo diplomático, agradeço e saúdo de forma efusiva, com justificado reconhecimento e o mais profundo sentimento de amizade. Estejam cientes, caros amigos, que tudo faremos para valorizar essa solidariedade e para que ela possa evoluir para formas superiores de cooperação, em benefício comum de Cabo Verde e dos seus parceiros do desenvolvimento. Agradeço e saúdo a ilustre presença, entre nós, de Sua Excelência o Primeiro-ministro de Portugal, Dr. Pedro Passos Coelho, representante especial desse país irmão nas comemorações do 40º aniversário da Independência de Cabo Verde. A vossa presença, Senhor Primeiro Ministro, traz-nos um enorme conforto, pois constitui expressão genuína da excelência das relações entre os nossos dois países e os nossos dois Povos que desde a primeira hora, temos vindo a cultivar, com o mais profundo empenho para preservarmos os laços históricos 3
que nos unem e partilharmos os benefícios de uma cooperação que tem sido profícua. Permitam-me, igualmente, saudar a presença amiga de Sua Excelência a Sra. Cui Li, Vice-Ministra da Comissão de Saúde Nacional e Planeamento Familiar da China, na qualidade de Enviada Especial do Governo da República Popular da China, bem como a ilustre delegação que a acompanha. É com simpatia e amizade que recebemos esta delegação, que se junta a nós nestas celebrações. Trata-se de um país amigo e nosso parceiro de desenvolvimento, desde a primeira hora. Não pode haver celebração da Independência Nacional sem uma devida homenagem àqueles que se destacaram nessa luta emancipadora, quer pelo seu papel precursor, quer pelo seu exemplo de entrega até ao mais alto sacrifício para que o Povo de Cabo Verde pudesse exercer o seu direito inalienável à Independência Nacional e assim assumir nas suas próprias mãos o seu destino como Nação Soberana. É, pois, com o mais profundo sentido do dever que nesta ocasião, em nome da Assembleia Nacional, rendo uma justa e merecida homenagem a Amílcar Cabral, arquitecto, galvanizador e líder da luta pela Independência nacional, cujo exemplo de entrega abnegada para a realização das mais legítimas aspirações do nosso Povo, continuará a inspirar gerações e gerações de cabo-verdianos. Uma palavra de reconhecimento e apreço é igualmente devida aos Combatentes da Liberdade da Pátria, homens e mulheres que nas diversas frentes deram o seu valioso contributo para que o Povo de Cabo Verde pudesse ter essa oportunidade histórica de se afirmar como senhor do seu próprio destino. A prontidão e a firmeza com que responderam ao chamamento para a Luta pela Independência Nacional, em tempos de riscos e enormes dificuldades, constitui exemplo de intervenção cívica em prol de uma causa pública, digno de inspiração para os mais novos. Senhor Presidente da República, Senhor Primeiro-ministro, Celebramos hoje 40 anos de uma caminhada exigente, que foram percorridos com optimismo, fé e muita vontade de fazer de Cabo Verde 4
um País livre e desenvolvido, capaz de proporcionar uma vida melhor a todos os seus filhos. E vale dizer que, apesar das enormes dificuldades que persistem para inúmeros cabo-verdianos, os resultados são globalmente encorajadores, se não mesmo reconfortantes. Com efeito, a generalidade dos índices por que se mede o progresso de um País conheceram uma melhoria de forma consistente, traduzindo-se hoje na graduação de Cabo Verde a País de Desenvolvimento Médio, embora devamos estar todos bem cientes das implicações dessa ascensão e dos ónus e responsabilidades que ela representa. No tocante à educação, conseguimos mudar a face do País. O acesso ao ensino primário e secundário generalizou-se. A formação profissional constitui uma boa alternativa, facilitando o acesso ao emprego. Milhares de jovens formam-se nas diversas universidades, entretanto criadas. O analfabetismo, que atingia em 1975 uma taxa de 70%, já é residual e circunscrita à população mais idosa. Mais do que isso, através do acesso generalizado à educação que haveria de conduzir ao aumento e ao refinamento das qualificações académicas, o nosso País passou a dispor de uma pujante massa crítica que, pelo seu dinamismo interventivo, constitui hoje um dos pilares essenciais do exercício da cidadania. No domínio da saúde, as conquistas são relevantes e traduzem-se tanto nos indicadores, bastante positivos, como na rede de infra-estruturas sanitárias hoje mais modernas e mais próximas das populações, no número e na qualificação dos profissionais e no leque de serviços que podem ser prestados no País. A taxa de mortalidade infantil caiu de 105 por mil para valores de 20 por mil. A esperança média de vida aumentou de 56 para 75 anos. Se aqui destaco apenas a educação e a saúde, é porque estes dois sectores são não só os mais emblemáticos, mas também aqueles que mais directamente se relacionam com as expectativas da qualidade de vida e de bem-estar dos cidadãos. Mas, em todos os domínios da vida do cabo-verdiano, registaram-se transformações radicais no sentido do progresso. E não foram apenas as condições de vida das populações que conheceram melhorias significativas. 5
Também no plano institucional, em especial a nível do próprio governo da República, o nosso País conheceu mudanças profundas, com uma transição exemplar do regime de Partido Único para uma Democracia constitucional em que o Poder Político, a nível Nacional e Local, repousa a sua legitimidade na genuína vontade popular, em que os direitos dos cidadãos encontram-se devidamente reconhecidos na Constituição da República e efectivamente protegidos por um sistema de garantias de que se destaca um Poder Judicial verdadeiramente independente. Dispomos de um Poder Local com a sua legitimidade política própria e cujo dinamismo tem emprestado um relevante contributo ao nosso processo de desenvolvimento e à consolidação da nossa Democracia. A Administração Pública sofreu igualmente uma profunda reforma no sentido da sua modernização tendente a colocá-la ao serviço do desenvolvimento do País e da cidadania. Esses e tantos outros indicadores constituem fundamento bastante para se afirmar que para Cabo Verde e para os cabo-verdianos, a Independência significou, em todos os domínios, modernização e progresso. Por isso mesmo, a par da sua legitimidade inicial, enquanto aspiração do nosso Povo à sua soberania, a Independência viu-se substancialmente justificada pelos resultados palpáveis que trouxe para o nosso País e para todos os seus filhos. Nesse sentido, vale constatar que se realizou o anseio do Herói Nacional Amílcar Cabral quando advertia para necessidade de a Independência não se resumir a um hino e uma bandeira, devendo traduzir-se em muito mais, isto é na concreta melhoria das condições de vida das populações. Por tudo isso, afirmamos com todo o orgulho que valeu a pena a Independência! Senhor Presidente da República, Senhor Primeiro-ministro, Ilustres Convidados, Esta ocasião é, justificadamente, de celebração. Mas deve ser igualmente momento para um balanço e uma apreciação crítica sobre as opções tomadas e os resultados alcançados. Numa caminhada, os objectivos atingidos decorrem sempre de escolhas, que podem ser mais ou menos acertadas. Com humildade e sentido de responsabilidade, 6
devemos reconhecer as insuficiências, corrigi-las e tentar fazer melhor, visando sempre o desenvolvimento de Cabo Verde e o bem-estar dos seus cidadãos. Hoje, os grandes desafios são quantitativa e qualitativamente diferentes de há 40 anos. E seguramente mais complexos. Apesar de todos os esforços de desenvolvimento, persistem problemas sociais que clamam por respostas mais consistentes e eficazes. É o caso, por exemplo de bolsas de pobreza, do desemprego, em especial do desemprego jovem, de situações de exclusão, de assimetrias regionais e sociais, da equidade de género. Com a mesma determinação com que enfrentamos os desafios ingentes dos primeiros anos da nossa Independência, devemos também mobilizar competências, recursos e sinergias capazes de responder às mazelas que vão persistindo, muitas das quais de natureza estrutural, de modo a preservar a esperança e a confiança da Comunidade nesse dia melhor, que a Independência e a instauração da Democracia fizeram almejar. Senhor Presidente da República, Senhor Primeiro-ministro, 40 anos de Independência significam também para o Parlamento caboverdiano 40 anos de vida. Apesar do juízo que se possa fazer a esse respeito, tenho por mim que o contributo do Parlamento para a construção de Cabo Verde Independente tem sido inestimável. Nos mais variados domínios da sua actividade, essa marca é visível, nomeadamente na estruturação e no aperfeiçoamento do quadro jurídico institucional do País, na feitura das leis, na fiscalização da actividade governativa e da Administração Pública e na expressão da vontade dos cidadãos cabo-verdianos na sua pluralidade e na sua diversidade. Com isso, de modo algum, pretendo negar as falhas e insuficiências existentes afinal, que construção humana não as tem? Sendo assim, a sua progressiva superação está prevista no âmbito da Reforma em curso. Entendemos que a Reforma do Parlamento é um imperativo nacional. Não é possível prosseguir a modernização da Assembleia Nacional, com vista à melhoria do seu desempenho face aos complexos desafios da 7
actualidade, enquanto órgão vital do sistema político, sem a implementação da Reforma, nas suas três principais vertentes aprovação de um Novo Regimento, do Estatuto dos Titulares de Cargo Político e a eleição dos órgãos externos, estando esta última dimensão praticamente concluída. Importa por conseguinte que a avaliação da reforma do Parlamento seja deslocada dos epifenómenos em que tem sido focalizada para ser recentrada na sua dimensão institucional e na sua necessidade para a melhoria efectiva da qualidade do nosso sistema político. É este anseio que gostaria de partilhar com todos os actores políticos e com a sociedade cabo-verdiana, particularmente na altura em que se aproxima a passos largos o fim da presente Legislatura, momento em que alguns de nós deixarão espaço e oportunidade para os mais novos. Permitam-me, pois terminar, renovando em nome dos Deputados da Nação, os meus agradecimentos a todos os que quiseram nos honrar com a sua presença, em especial Sua Excelência o Presidente da República, e formulando votos de sucessos, a todos os cabo-verdianos, residentes no País e na Diáspora, bem como a todos os que escolheram a nossa Terra para residir e trabalhar. Viva o 5 de Julho! Viva Cabo Verde! Muito obrigado pela vossa atenção. Praia, Salão Nobre Abílio Duarte da Assembleia Nacional, 5 de Julho de 2015 8