PROJETO DE LEI Nº 9/2015 Deputado(a) Manuela d Avila

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Transcrição:

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015. PRO 1 PROJETO DE LEI Nº 9/2015 Cria a Política Estadual de Saúde Sexual e Reprodutiva e os Centros de Atendimento de Aborto Legal, e dá outras providências. Art. 1º Esta Lei institui a Política Estadual de Saúde Sexual e Reprodutiva que visa garantir a promoção a uma vida sexual e reprodutiva saudável, mais gratificante e responsável. Parágrafo único Para os fins desta lei saúde sexual e reprodutiva significa que os indivíduos devem ter uma vida sexual prazerosa e segura, que lhes garanta bem-estar físico, mental e social relacionada com o aparelho reprodutor, através de educação sobre a sexualidade e prevenção de DST/AIDS e a liberdade para decidirem se querem ter filhos, quando e com que frequência irão tê-los, através do acesso à informação e aos métodos contraceptivos. Art. 2º São diretrizes da Política Estadual de Saúde Sexual e Reprodutiva: I executar ações de educação sexual, proporcionando adequada informação sobre a sexualidade humana, o aparelho reprodutivo e a fisiologia da reprodução, AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, as disfunções sexuais femininas e masculinas, os métodos contraceptivos e o planejamento familiar, as relações interpessoais, a partilha de responsabilidades e a igualdade entre os gêneros e o respeito à diversidade sexual; II ampliar o acesso ao planejamento familiar e aos métodos contraceptivos; III - garantir às mulheres o atendimento obstétrico humanizado e, nos casos previstos em lei, a realização de aborto legal e seguro; IV o combate à AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis; V - a detecção precoce de afecções ginecológicas, através de exames, como a mamografia e o teste de Papanicolau, importantes na prevenção e tratamento do câncer de útero, ovários, trompas e mamas. VI - desenvolvimento de políticas de redução de mortalidade materna. Art. 3º Na implementação da política que trata esta lei, compete ao Poder Público: I - dar atendimento integral às mulheres e aos homens, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, para acesso às políticas de planejamento familiar, combate às doenças sexualmente transmissíveis e demais necessidades para garantia de vida sexual e reprodutiva saudável; II - dar atendimento integral à mulher, especialmente nos casos em que tenham sofrido violência física, sexual e psicológica e nos casos de aborto espontâneo ou nos casos previstos em lei; III promover e articular ações que visem a redução da mortalidade materna IV - criar Centros de Atendimento de Aborto Legal para assegurar às mulheres as condições necessárias para o exercício do aborto nos casos previstos em lei; V - trabalhar para que a educação sexual seja parte integrante dos currículos escolares, adequada aos diferentes níveis etários, consideradas as suas especificidades biológicas, psicológicas e sociais e promovendo: a) a promoção da igualdade entre os gêneros; b) o respeito à diversidade sexual; c) acesso à informação sobre sexualidade humana, o aparelho reprodutivo e a fisiologia da reprodução; d) a prevenção da AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis; e) conhecimento de métodos contraceptivos e de planejamento familiar; f) o reconhecimento da função social da maternidade e o incentivo à paternidade responsável;

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015. PRO 2 VI - disponibilizar o amplo acesso a preservativos, nos postos de saúde, nos hospitais e nas escolas, sendo que, nas instituições de ensino básico por decisão dos órgãos diretivos, ouvidas as respectivas associações de pais e alunos; VII promoção de ações e campanhas de planejamento familiar nos termos do previsto pela Lei 1.005, de 08 de dezembro de 1993 e da Lei Federal 9.263, de 12 de janeiro de 1996; VIII dotar os profissionais da rede pública de saúde de condições para realização de tratamento obstétrico humanizado. Parágrafo único Por atendimento integral entende-se aquele que inclui os aspectos médico, psicológico, jurídico, de assistência social e outros considerados adequados segundo os parâmetros fixados pelos órgãos competentes. Art. 4º Os Centros de Atendimento de Aborto Legal, citados no artigo anterior, ficam subordinados à Secretaria Estadual de Saúde, que deverá ouvir o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, em todas as fases do processo de sua implementação, gestão e avaliação. 1º Cada Centro de Atendimento disporá de uma Coordenação Geral, a quem compete a gestão da respectiva unidade, o planejamento dos serviços e promoção da intersetorialidade necessária ao atendimento integral de que trata esta lei. 2º Os Centros de Atendimento deverão dispor de equipe de atendimento composta de servidores técnicos e administrativos treinados especialmente para o desempenho de suas funções, composta preferencialmente por mulheres, e lotada exclusivamente nos Centros de Atendimento 3º Compete às equipes técnicas dos Centros de Atendimento de Aborto Legal: I propor aos órgãos competentes programas de formação e treinamento dos/das servidores/as públicos/as estaduais, objetivando capacitar profissionais para atender à especificidade da mulher envolvida em situação de estupro e de gravidez de feto anencéfalo, ou ainda, que ponha sua vida em risco; II - propor aos órgãos competentes políticas, no âmbito dos Centros de Atenção, que visem minimizar a violência contra a mulher no Estado do Rio Grande do Sul; III desenvolver ações preventivas e educativas a respeito da gravidez e do aborto, através de cursos, seminários, debates, fóruns e campanhas; IV executar as medidas de que trata o presente parágrafo, conforme seu planejamento de trabalho. 4º Compete às equipes técnica e administrativa: I - garantir atendimento profissional à mulher admitida à realização do aborto; II - participar da formação e treinamento de recursos humanos; III - gerenciar os serviços administrativos e burocráticos. Art.5º As denominações dos Centros de Atendimento deverão recair, obrigatoriamente, em mulheres cuja vida tenha sido marcada pela luta em prol da emancipação da mulher. Art. 6 Aplicam-se ao funcionamento dos Centros de Atendimento, no que couber, as normas que regulam o funcionamento do Sistema Único de Saúde. 1 Os Centros de Atendimento devem ser distribuídos no território do Estado segundo os mesmos parâmetros que regem a alocação dos demais serviços de saúde.

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015. PRO 3 Art. 7º Apenas para fins estatísticos, sem qualquer identificação, e com total garantia da privacidade, todos os estabelecimentos de saúde ficam obrigados a elaborar um relatório semestral a enviar à Secretaria de Saúde onde constem os abortos espontâneos e previstos em lei atendidos, com indicação da causa de justificação, os abortos retidos e os abortos provocados, ou tentativas de aborto, com indicação das consequências dos mesmos, para a vida sexual e reprodutiva da atendida. Art. 8 A criação dos Centros de Atendimento de Aborto Legal não desobriga o atendimento, nas demais Unidades de Saúde do serviço público. Art. 9º Para fins de cumprimento da presente lei, o Poder Executivo poderá celebrar convênios, preferencialmente com órgãos municipais e federais e entidades ligadas à saúde sexual e reprodutiva. Art. 10º A presente lei poderá ser regulamentada para garantia de sua execução. Art. 11º Esta lei entra em vigor em 90 (noventa) dias a contar de sua publicação. Art. 12º Revogam-se as disposições em contrário. Sala de Sessões, JUSTIFICATIVA A apresentação deste projeto, que institui a Política Estadual de Saúde Sexual e Reprodutiva tem o objetivo de criar condições para que o Estado atue para diminuir as taxas de doenças sexualmente transmissíveis DSTs e a AIDS, prevenir a gravidez precoce e/ou indesejada, à partir de um planejamento familiar, ampliar o debate e o acesso ao parto humanizado, prevenir e tratar precocemente doenças do aparelho sexual e reprodutor, além de garantir, de forma segura, o direito à realização dos abortos previstos por lei. Os conceitos de saúde reprodutiva e direitos reprodutivos foram definidos claramente, pela primeira vez, em 1994, na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo, Egito, da qual o Brasil foi signatário das resoluções. Com relação à saúde reprodutiva, a CIPD ampliou e ratificou o conceito de saúde reprodutiva definido em 1988 pela Organização Mundial da Saúde (OMS): A saúde reprodutiva é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, em todos os aspectos relacionados com o sistema reprodutivo e as suas funções e processos, e não de mera ausência de doença ou enfermidade. A saúde reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfatória, tendo autonomia para se reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo. Implícito nessa última condição está o direito de homens e mulheres de serem informados e de terem acesso a métodos eficientes, seguros, permissíveis e aceitáveis de planejamento familiar de sua escolha, assim como outros métodos de regulação da fecundidade, de sua escolha, que não sejam contrários à lei, e o direito de acesso a serviços apropriados de saúde que deem à mulher condições de atravessar, com segurança, a gestação e o parto e proporcionem aos casais a melhor chance de ter um filho sadio. Em conformidade com a definição acima de saúde reprodutiva, a assistência à saúde reprodutiva é definida como a

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015. PRO 4 constelação de métodos, técnicas e serviços que contribuem para a saúde e o bem-estar reprodutivo, prevenindo e resolvendo problemas de saúde reprodutiva. Isso inclui também a saúde sexual, cuja finalidade é a intensificação das relações vitais e pessoais e não simples aconselhamento e assistência relativos à reprodução e a doenças sexualmente transmissíveis (NACIONES UNIDAS, 1995, anexo, cap. VII, par. 7.2). O estabelecimento de uma política intersetorial que abranja a saúde reprodutiva e sexual da população gaúcha é uma necessidade premente. Em Portugal, a lei nº 120/1999 traz, há mais de 15 anos, diretrizes para promoção da saúde sexual da população, através de medidas que integram o combate às DSTs, o planejamento familiar, a educação sexual, a proteção à maternidade e a realização de aborto seguro. É necessário que o Poder Público seja protagonista na defesa da saúde sexual e reprodutiva dos gaúchos e gaúchas. Segundo a Organização das Nações Unidas, enquanto a epidemia de AIDS diminui no mundo, no Brasil e, especialmente, no Rio Grande do Sul ela cresce vertiginosamente. Entre 2005 e 2014, a infecção pelo vírus HIV cresceu 21% no estado, quase o dobro da taxa nacional (de 11%). O Brasil registra cerca de 20 novos casos por 100 mil habitantes. No Rio Grande do Sul, são 41 ocorrências, fazendo com que mais de 70 mil gaúchos vivam com HIV. Em 2007, os Três Poderes do Rio Grande do Sul, firmaram protocolo de intenções para a promoção do planejamento familiar. A presente proposta vem no sentido de reafirmar as intenções protocoladas, e o previsto na Lei Federal 9.263/1996, Lei do Planejamento Familiar, que prevê planejamento familiar como direito da pessoa e que deve ocorrer no âmbito da família. Desta forma o mesmo não pode ser confundido, portanto, com qualquer ação externa no sentido de intervir na intimidade individual e familiar. Tampouco o Planejamento Familiar é instrumento de controle demográfico, lhe cabendo a tarefa de facultar que os direitos reprodutivos sejam exercidos nas condições de liberdade seja como direito e possibilidade de decidir, seja como valor moral. A importância de estabelecimento da política de saúde sexual e reprodutiva é, também, reafirmada, pelo disposto na Lei Federal 12.852/2013, o Estatuto da Juventude, que destaca como mecanismo para efetivação de direitos dos jovens a necessária inclusão da educação sexual nos currículos escolares: Art. 18. A ação do poder público na efetivação do direito do jovem à diversidade e à igualdade contempla a adoção das seguintes medidas: [...] VI - inclusão, nos conteúdos curriculares, de temas relacionados à sexualidade, respeitando a diversidade de valores e crenças No que diz respeito ao parto humanizado, é preciso ressaltar que trata-se de uma forma diferente de lidar com a gestante e não de um tipo de parto. A humanização do parto coloca a gestante e seu filho que está para nascer como protagonistas. Tão importante quanto os procedimentos médicos também é a atenção e cuidado com o delicado momento em que mãe e filho estão vivendo. Uma diferença marcante dessa nova forma de parto são os procedimentos, muitas vezes não necessários, de rotina usados nos hospitais como indução do parto, corte do períneo (episiotomia), uso de anestesia, raspagem dos pelos pubianos, parto cirúrgico (ou parto cesárea). Esses e outros procedimento são utilizados apenas quando a gestante e seu cuidador concordam na manobra a ser feita, isto é, a gestante participa ativamente do processo.

DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015. PRO 5 O debate e acesso ao parto humanizado, por exemplo, pode ser elementos determinante para a redução do número de cesarianas desnecessárias. Sobre este último tema, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), expediu a Resolução Normativa 368, em 06 de janeiro de 2015, que estabelece normas para estímulo do parto normal e a consequente redução de cesarianas desnecessárias na saúde suplementar. As novas regras ampliam o acesso à informação pelas consumidoras de planos de saúde, que poderão solicitar às operadoras os percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico. Segundo a ANS, atualmente, no Brasil, o percentual de partos cesáreos chega a 84% na saúde suplementar. Na rede pública este número é menor, de cerca de 40% dos partos. A cesariana, quando não tem indicação médica, ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Sobre a necessidade de criação dos Centros de Atendimento Aborto Legal é, primeiramente, fundamental destacar que o aborto é a quinta maior causa de morte materna no Brasil, segundo o Conselho Federal de Medicina. Uma mulher morre a cada dois dias e meio no país, após se submeter a um aborto ilegal. Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), órgão do Ministério da Saúde responsável por essa estatística. Diante do sofrimento psicológico, e muitas vezes físico, a que é submetida uma mulher grávida em razão de estupro, ou cuja gravidez põe em risco sua própria vida, e diante da dificuldade em optar pela realização do aborto, é necessário que o Sistema Público de Saúde garanta a concretização da matéria prevista em lei, atendendo-a de maneira integral. Existem no país hoje, apenas 64 centros disponíveis para a realização do aborto legal. No Rio Grande do Sul, o aborto legal é oferecido em quatro hospitais públicos (Fêmina, Conceição, Presidente Vargas e Hospital de Clínicas). Como decorrência, procedimentos ilegais continuam se multiplicando ao preço de riscos para a vida das gestantes. A criação dos Centros de Atendimento Aborto Legal ajudará na conscientização e na superação de uma gravíssima omissão do Estado, que permite que suas cidadãs sofram riscos com a realização de abortos clandestinos, quando há meios legais de evitar esse sofrimento. Tal omissão tem, inclusive, beneficiado os estabelecimentos particulares que realizam abortos, que auferem elevadas somas com esta prática. No Rio de Janeiro, o Deputado Estadual Marcelo Freixo, apresentou em 2007, o Projeto de Lei 144/2007 que cria os centros de referência para atendimento das mulheres que realizam aborto nos casos previstos em lei. Tal proposição nos inspirou e tornou-se parte da presente proposta. À luz de todo o exposto, apresentamos à consideração dos nobres pares este Projeto de Lei, confiando na sua aprovação. Sala de Sessões,