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Transcrição:

Manutenção de volume do processo alveolar após exodontia com raspa de osso cortical autógeno. Relato de caso clínico Alveolar process volume maintenance after exodontia with autogenous cortical bone scrapes. Case report Paulo Sérgio Perri de Carvalho* Daniela Ponzoni** Ana Paula Farnezi Bassi** Mariliza Comar Astolphi de Carvalho*** RESUMO A manutenção de volume do processo alveolar após exodontia pode ser obtida por meio de implantes imediatos ou regeneração óssea guiada, associada ou não ao uso de biomateriais. Os autores apresentam um caso clínico de reabilitação com implante osseointegrado em área de exodontia por motivo periodontal, seguida da tentativa de manutenção de volume do processo alveolar com regeneração óssea guiada e raspa de osso cortical autógeno. Unitermos Implante osseointegrado; Enxerto ósseo autógeno; Regeneração óssea guiada. ABSTRACT The alveolar process volume maintenance after dental extraction can be obtained through implant immediate or bone regeneration guided associated or not to the biomaterial use. The authors present a clinical case of rehabilitation with osseointegrate implant that have been installed in region with maintenance of volume of the alveolar process by guided bone regeneration with bovine cortical bone membrane and autogenous cortical bone scrapes. Key words Osseointegrated implant; Graft bone autogenous; Bone regeneration guided. * Professor titular do Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada Faculdade de Odontologia de Araçatuba Unesp. ** Doutoranda em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial - Faculdade de Odontologia de Araçatuba Unesp. *** Mestre em Prótese Unesp São José dos Campos. V. 1, N o 1 Janeiro/Fevereiro 2004 53

INTRODUÇÃO Um dos pré-requisitos básicos para a instalação de implantes osseointegrados em posição proteticamente favorável é a presença de quantidade de osso suficiente no rebordo alveolar para conferir ao implante estabilidade inicial. Motivos comuns para perda significante de quantidade óssea são a necessidade de alveolectomias durante as exodontias, a presença de processos patológicos periodontais e/ou fraturas radiculares por longo período. A manutenção do volume dos processos alveolares após exodontia, visando a reabilitação do paciente com prótese implanto-suportada, constituise em um desafio para o profissional. A regeneração óssea guiada e os implantes imediatos estão indicados nestas situações. A técnica de regeneração óssea guiada está baseada na hipótese de que uma membrana age como barreira física quando colocada sobre um defeito ósseo, evitando a presença de células indesejáveis ao reparo ósseo, tais como aquelas derivadas dos tecidos epitelial e conjuntivo (Perri de Carvalho). Entre outras aplicações, esta técnica é indicada para alvéolos após exodontias com o objetivo de manutenção da espessura e altura óssea com ou sem o uso de enxertos, Carvalho et al. 5. Becker et al. 2, testaram a capacidade de formação óssea do osso congelado seco desmineralizado (DFDBA) e o enxerto autógeno particulado (removido da crista óssea alveolar) imediatamente após exodontias em humanos. Histologicamente todas as biópsias de DFDBA apresentaram-se similares, com partículas circundadas por tecido conjuntivo não inflamado, não havendo nenhum indício de atividade celular (osteoblástica ou osteoclástica) ao redor das partículas enxertadas. Já a avaliação das biópsias dos enxertos autógenos indicou a presença de osteócitos dentro de suas lacunas, vasos sangüíneos e formação secundária de ósteons. Algumas amostras apresentavam presença de lascas ósseas corticais residuais com formação de osso imaturo na sua adjacência. Raghoebar et al. 11 utilizaram enxertos removidos de áreas doadoras intrabucais em 27 pacientes com pequenos defeitos ósseos na região anterior da maxila. Os autores obtiveram neste estudo, uma taxa de sobrevivência de 100%, no período que variou entre 24 e 68 meses de controle. Bach et al. 1, criaram defeitos de 4 cm na mandíbula de 36 cães. Os defeitos foram enxertados com blocos cranianos cortico-trabeculares, medula ilíaca trabecular particulada e osso endocondral cortical alogênico desmineralizado. Aos seis meses, os locais enxertados com bloco ilíaco corticotrabecular tiveram a maior quantidade de formação óssea. Estes resultados conferem com a afirmação de que sob todas as circunstâncias, os enxertos aloplásticos ósseos funcionam pobremente em comparação aos enxertos autógenos, Golberg e Stevenson 7. Utilizando defeitos ósseos criados na mandíbula de ratos, Redondo et al. 12, analisaram o comportamento do osso autógeno e da associação de osso autógeno mais hidroxiapatita porosa (Interpore). Os resultados mostraram que o número de células mesenquimais no osso autógeno não associado com a hidroxiapatita, foi significativamente maior que aquele associado a hidroxiapatita, nos períodos de duas e seis semanas. No material autógeno, sem hidroxiapatita, as diferenças foram significantes entre o número de células mesenquimais, nos períodos de duas e seis semanas. Hass et al. 8, comparam o Bio-Oss, com enxerto ósseo autógeno, previamente à colocação de implantes ossointegrados. Novamente foi possível verificar que a osseointegração ocorreu em todos os casos, embora as partículas do biomaterial permanecessem envolvidas por tecido ósseo. Luppino 9 analisou raspa de osso autógeno cortical no reparo de cavidades ósseas em mandíbula de cães. Os resultados histológicos, após 120 dias, mostraram que o grupo controle (coágulo sanguíneo) apresentou, na maioria das espécimes, um reparo ósseo incompleto caracterizado pela presença de tecido conjuntivo no centro da cavidade, enquanto no grupo cuja cavidade foi preenchida por raspa de osso cortical autógeno, a reparação foi total. Observou que o remanescente do material implantado estava totalmente incor- 54 V. 1, N o 1 Janeiro/Fevereiro 2004

porado ao osso neoformado havendo, ainda, a sugestão de reabsorção parcial. O autor concluiu que a raspa de osso cortical autógeno é viável de ser utilizada no preenchimento de cavidades ósseas. O objetivo deste trabalho é mostrar, através de um caso clínico, a manutenção do volume do processo alveolar após exodontia e a reabilitação da área com prótese implanto-suportada. Após descolamento, foi possível observar que a extensão da perda óssea, provocada pela periodontopatia, compreendia toda a parede vestibular do alvéolo (Figura 3). Foi realizada curetagem vigorosa de toda a área do alvéolo remanescente e irrigação abundante com soro fisiológico (Figura 4). RELATO DE CASO CLÍNICO Figura 4 Remanescente ósseo alveolar após curetagem. Figura 1 Aspecto clínico inicial. Em seguida optou-se pela tentativa de manutenção do volume do processo alveolar, por meio da técnica de regeneração óssea guiada e preenchimento do defeito com osso cortical autógeno raspado, obtido da linha oblíqua pela ação de raspador ósseo. Obtenção da raspa de osso Após anestesia terminal infiltrativa da região de linha oblíqua do lado esquerdo, realizou-se incisão linear sobre a mesma e descolamento mucoperiostal, expondo a área doadora. Com auxílio de um raspador ósseo Figura 2 Exame radiográfico. Figura 3 Extensão da perda óssea periodontal. Paciente C. M., 48 anos, apresentou ao exame clínico o dente 24 com mobilidade discreta (Figura 1). Ao exame radiográfico observou-se perda óssea avançada na região, sendo indicada a sua exodontia (Figura 2). O paciente foi submetido a exodontia simples do dente 24 sob anestesia local. Foi confeccionado retalho mucoperiostal na região do dente 24 e 25, formado por incisão intra-sulcular e relaxante mesial. Figura 5 Obtenção da raspa de osso da linha oblíqua. Figura 6 Quantidade de raspa de osso obtida. V. 1, N o 1 Janeiro/Fevereiro 2004 55

(Autogenous â ) foram obtidas raspas de osso cortical mandibular em quantidade suficiente para preenchimento do defeito (Figuras 5 e 6). Enxerto ósseo e instalação de membrana O enxerto ósseo foi posicionado preenchendo o defeito na região do alvéolo do dente 24, juntamente com o coágulo que ali estava se formando (Figura 7). A região reconstruída foi recoberta por membrana absorvível de cortical de osso bovino - Gem-derm, Baumer - (Figura 8). O retalho mucoperiostal teve o periósteo parcialmente incisado a fim de aumentar sua elasticidade e obter um fechamento da ferida por primeira intenção, com ausência de forças de tensão. O retalho foi suturado com pontos simples interrompidos com fio de seda 4.0 (Etchicon â ). de 2 mm de diâmetro. A peça foi descalcificada e submetida a processamento histológico. Foi instalado um implante SIN - 3,75 mm de largura e 13 mm de altura (Figura 10). Figura 10 Implante instalado. Exame histopatológico Na análise histológica observou-se tecido ósseo neoformado com partículas de raspa de osso remanescentes no seu interior. Há sugestão de rebsorção parcial do biomaterial (Figura 11). Figura 7 Preenchimento do defeito com o enxerto. Figura 8 Recobrimento com membrana absorvível. Instalação do implante e obtenção de material para histopatológico Após 180 dias a área foi exposta para instalação de implante osseointegrado (Figura 9). Durante a fresagem, a área enxertada foi biopsiada com broca trefina Figura 11 Biópsia. Tecido ósseo neoformado com a presença de partículas de raspa de osso remanescentes (setas). Exposição do implante e instalação da prótese Cento e vinta dias após o implante foi exposto, sendo instalado o cicatrizador e posteriormente foi confeccionada a prótese parafusada (Figura 12), conforme os métodos rotineiros de moldagem de transferência, montagem em articulador e confecção de prótese. Figura 9 Pós-operatório de seis meses. Figura 12 Prótese unitária parafusa definitiva. 56 V. 1, N o 1 Janeiro/Fevereiro 2004

DISCUSSÃO No caso descrito, havia duas opções após exodontia do dente 24: aguardar o período de reparo alveolar e de maturação do tecido formado ou a tentativa de manutenção do volume ósseo alveolar. Se a primeira opção fosse a de escolha, provavelmente o paciente tivesse que ser submetido à reconstrução alveolar por meio de enxerto autógeno em bloco para aumento de espessura e posterior implantação. A tentativa de manutenção do volume do rebordo alveolar, por meio da instalação de implante imediato após exodontia, estava contra-indicada. Segundo Scarano et al. 13, a colocação de implantes imediatos, entre outros critérios, deve estar limitada àqueles casos com mínima perda óssea por doença periodontal, onde haja osso suficiente para estabilidade inicial do implante. Desta maneira, a opção de escolha para tentativa de manutenção do volume ósseo, foi a regeneração óssea guiada. No entanto, para que se obtenha sucesso com a técnica da regeneração óssea guiada, é imperativo que haja, abaixo da membrana, um espaço biológico que será mantido por algum artifício metálico (parafuso) ou membrana suportada por remanescente ósseo ou biomaterial. No presente caso, a opção foi utilizar a raspa de osso cortical autógeno e, sobre este, a membrana absorvível de cortical de osso bovino. Em todas as pesquisas relatadas ficou evidenciada a superioridade do osso autógeno em relação aos outros biomateriais, apresentando a desvantagem de necessitar de outro acesso cirúrgico e dependendo da quantidade necessária de ambiente hospitalar. Em se tratando de pequenas quantidades de osso, a região intrabucal oferece condições para sua obtenção. Nos casos dos defeitos ósseos de duas ou mais paredes, a raspa de osso autógeno é de grande aplicabilidade, por se tratar de um biomaterial obtido por meio de um instrumento que pode ou não estar ligado a unidade de aspiração de sangue e que, muitas vezes, nem necessita de outro acesso cirúrgico. Os resultados obtidos neste caso, com raspa de osso autógeno, foram bastante satisfatórios na manutenção de volume e na qualidade óssea obtida. A qualidade óssea pôde ser observada clinicamente (durante fresagem e travamento inicial do implante) e histologicamente (por meio de biópsia). Na análise histológica, observou-se tecido ósseo neoformado com partículas de raspa de osso remanescentes incrustradas em seu interior. O aspecto histológico refere também reabsorção parcial do biomaterial, enquanto a hidroxiapatita sintética ou natural permanece totalmente no interior da cavidade óssea, Carvalho et al. 6 ; Hass et al. 8 ; Young et al. 14. Há vantagens para o uso da raspa de osso porque, quando ele é introduzido no defeito ósseo, promove, por uma ação mecânica, a hemostasia e contribui na neoformação óssea, em decorrência de uma ação osteogenética (pequena) e osteoindutiva (intensa), já que a cortical óssea é a que apresenta maior quantidade de BMP, Luppino 9 ; Misch 10. No caso apresentado, por meio da utilização de regeneração óssea guiada, associada ao uso de enxerto ósseo autógeno raspado, o volume ósseo no rebordo foi mantido, permitindo um adequado travamento do implante (na fase cirúrgica) e um bom resultado de contorno vestibular após reabilitação protética. Novas pesquisas são necessárias em relação à presença de raspa de osso autógeno no interior do alvéolo dental, considerando que o alvéolo é uma cavidade especial e que todo material implantado intraalveolarmente provoca atraso na cronologia do reparo, devido à presença do remanescente do ligamento periodontal, Carvalho e Okamoto 5. CONCLUSÃO A utilização de osso autógeno raspado no preenchimento de defeitos ósseos, associadao ao uso de membranas, é uma alternativa nos casos de tentativa de manutenção de volume ósseo, após exodontias visando a colocação de implantes osseintegrados. Endereço para correspondência: Paulo Sérgio Perri de Carvalho Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada Faculdade de Odontologia de Araçatuba Unesp Rua José Bonifácio,1193 16015-050 Araçatuba SP Tel.: (18) 3636-3237 V. 1, N o 1 Janeiro/Fevereiro 2004 57

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