A ACÇÃO DO SISTEMA FISCAL SOBRE O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
1. A política de ordenamento do território assume uma inequívoca natureza intersectorial: - articula e compatibiliza as várias políticas sectoriais com incidência na organização do território no respeito por uma justa ponderação dos interesses públicos e privados em causa - assegura a justa repartição dos encargos e benefícios decorrentes da aplicação dos instrumentos de gestão territorial - incentiva modelos de actuação baseados na concertação entre a iniciativa pública e a iniciativa privada na concretização dos instrumentos de gestão territorial - deve fomentar a coesão social e territorial, contrariar as assimetrias regionais, bem como promover a qualidade de vida, a distribuição racional das actividades humanas e o desenvolvimento coerente e harmoniosos dos territórios
2. Relações entre o urbanismo ou, em sentido mais amplo, o ordenamento do território e a fiscalidade - o sistema fiscal em sentido tributário literal capaz de gerar receitas, e saber quem contribui para as mesmas - as receitas necessárias ao financiamento do ordenamento do território e especialmente da urbanização e de certos tipos de edificação - os princípios que devem nortear o sistema fiscal - reflexão final sobre instrumentos e opções capazes de orientar tendências com impacte territorial em sentidos convenientes e conclusão
Quem contribui? Que tipo de tributos? - os cidadãos em geral ( IRS, IRC e IVA) - os proprietários (Imposto Municipal Sobre Imóveis (IMI), Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e Imposto do Selo) Certos proprietários suportam ainda o encargo de mais-valia, isto é, o encargo incidente sobre o aumento de valor dos seus prédios rústicos e dos terrenos para construção em consequência da construção de pontes, grandes vias de comunicação ou obras de urbanização
Também existem contribuições especiais incidentes sobre o aumento do valor dos prédios rústicos, resultante da possibilidade da sua utilização para construção, sobre o aumento significativo do valor dos terrenos para construção ou das áreas resultantes da demolição de prédios urbanos antigos, por força de investimentos concretos e excepcionais - os promotores imobiliários suportam os encargos através do pagamento de taxas pela realização, manutenção e reforço de infra-estruturas urbanísticas (TMU), da realização de obras e de cedência de terrenos para espaços verdes e de utilização colectiva, infra-estruturas viárias e equipamentos (ou, em alternativa, compensações aos municípios em numerário ou em espécie) - os particulares que efectuam operações urbanísticas contribuem através das taxas devidas pelas licenças e autorizações municipais - os utilizadores pagam directamente a entidades públicas ou privadas os preços ou tarifas correspondentes a diversas infraestruturas ou serviços
Quando nos referimos ao financiamento do ordenamento do território, estamos a falar de encargos urbanísticos para o Estado e para os municípios num contexto abrangente de ordenamento do território. Que custos são esses? São os custos: - com a criação e funcionamento da Administração - com a construção, a manutenção e conservação e a gestão das redes de infra-estruturas públicas - com a criação, manutenção e gestão de equipamentos públicos e de espaços públicos de circulação e de estar - há ainda os custos sociais das opções tomadas
De entre os princípios que devem presidir ao sistema fiscal destacam-se: - o princípio da sustentabilidade - o princípio da eficácia e da eficiência - o princípio da equivalência - o princípio da confiança
Breves notas, reflexões e conclusão A delimitação do perímetro urbano acarreta um acréscimo de valor predial por simples decisão da Administração Ausência de entrosagem entre o previsto nos planos municipais de ordenamento do território, o cadastro da propriedade e a caracterização em termos civilísticos para efeitos de descrição predial Falta de execução programada e de avaliação da execução dos instrumentos de gestão territorial A fiscalidade pode favorecer a recuperação urbanística em detrimento do aumento dos perímetros urbanos A perequação deve corrigir desigualdades decorrentes de benefícios e encargos resultantes das opções dos planos municipais de ordenamento do território
O reforço da descentralização administrativa das políticas de ordenamento do território aos níveis regional, supra municipal e autárquico é um sinal de maturidade da democracia participativa no nosso país e de repartição da necessária responsabilização dos actores. A tributação do urbanismo, pela natureza e consequências, deve reverter essencialmente para estes níveis, pois às autarquias incumbem neste momento amplas tarefas nas áreas do planeamento territorial, do licenciamento, da gestão urbanística e de fiscalização.