A IMPLEMENTAÇÃO DA OUTORGA DE USO DOS RECURSOS HIDRICOS NO ESTADO DO PARÁ Verônica Jussara Costa Santos Engenheira Sanitarista, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (área Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental) da Universidade Federal do Pará / UFPA. Técnica da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Núcleo de Hidrometeorologia) atuação na área de recursos hídricos. Endereço: Trav. Lomas Valentinas, 2717, CEP.: 66095-770. Marco, Belém-PA. Tel: (91) 3184-3328. Fax: 3276-8564. e-mail: veronica@sectam.pa.gov.br. Ronaldo Jorge da Silva Lima Bacharel em Geologia - Especializado em Gestão Ambiental, Gestão de Recursos Hídricos e Sensoriamento Remoto. Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, Coordenador do Núcleo de Hidrometeorologia. Endereço: Trav. Lomas Valentinas, 2717, CEP.: 66095-770. Marco, Belém-PA. Tel: (91) 3184-3328. Fax: 3276-8564. e-mail: rehidro@sectam.pa.gov.br Aline Maria M. de Lima Geóloga Ms em Engenharia - Técnica da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Núcleo de Hidrometeorologia) atuação na área de recursos hídricos. Endereço: Trav. Lomas Valentinas, 2717, CEP.: 66095-770. Marco, Belém-PA. Tel: (91) 3184-3328. Fax: 3276-8564. e-mail: alinelima@hotmail.com
A IMPLEMENTAÇÃO DA OUTORGA DE USO DOS RECURSOS HIDRICOS NO ESTADO DO PARÁ INTRODUÇÃO O Brasil, desde janeiro de 1997, e o Estado do Pará, a partir de julho de 2001, estão empenhados em implementar seus respectivos Sistemas de Gerenciamento de Recursos Hídricos, criados pela Lei Federal 9.433 e Estadual 6.381. O estado do Pará é constituído por 143 municípios e apresenta uma vasta rede hidrográfica, incluindo a maior bacia hidrográfica do mundo, a bacia do Rio Amazonas. Apresenta grandes potenciais distribuídos em todo seu território e um complexo sistema de interesses e conflitos relacionados à utilização dos recursos hídricos, principalmente no âmbito de grandes projetos de desenvolvimento nas áreas da indústria, comércio e mineração, planos de conservação ambiental, bem como na pecuária e nas técnicas estratégicas de irrigação no ramo da agricultura e do turismo. O sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos estabeleceu como um de seus instrumentos de gestão a Outorga dos Direitos de Uso de Recursos Hídricos, trata-se de um ato administrativo mediante o qual o poder público outorgante (União, Estados ou Distrito Federal) concede ao outorgado (usuário da água) determinado volume a ser derivado ou usado, de manancial superficial ou subterrâneo, sendo imprescindível para a legalidade e regularidade quanto ao uso dos recursos hídricos quando se tratar de implantação, ampliação e alteração de qualquer empreendimento que demande água, bem como a execução de obras e serviços que alterem o seu regime, quantidade ou qualidade. OBJETIVO Segundo a Lei n 9.433/97 a outorga tem como objetivo assegurar o controle qualitativo e quantitativo dos corpos hídricos e o efetivo exercício do direito de acesso à água, dentro de cada região hidrográfica. Nesse sentido, o processo de implementação do instrumento de outorga se mostra necessário no Estado do Pará, pois através deste é possível assegurar legalmente um esquema de alocação quali-quantitativa da água entre os diferentes usuários, resolvendo ou atenuando fortemente os conflitos existentes entre os usuários competidores e assegurando as bases para o desenvolvimento sustentável. 2
Este artigo tem como objetivo apresentar a situação atual do Estado quanto ao processo de outorga, bem como discutir os principais pontos de interesse quanto à aplicação do tema, baseando-se na legislação vigente, visando garantir a gestão dos recursos hídricos de modo a permitir a convivência dos usos atuais e futuros da água. METODOLOGIA O Estado do Pará, através da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente SECTAM, pelo Núcleo de Hidrometeorologia-NHM, é o órgão responsável pela regulamentação e implantação da Política Estadual de Recursos Hídricos, em face dos fundamentos legais estabelecidos pela Política Nacional de Recursos Hídricos, através Lei Federal 9.433/97 (BRASIL, 2001), da Lei Estadual 6.381 (PARÁ, 2001) e do Decreto 5.565 de 11 de outubro de 2002. O NHM tem como função o Monitoramento do Clima e Gestão das Águas, visando definir estratégias de garantia de uso racional desse recurso e otimização do mesmo, é o setor responsável em avaliar e emitir o parecer técnico de todos os processos referentes ao uso dos recursos hídricos no âmbito estadual, implementando desde o final de 2005 o processo de solicitação de outorga. O processo administrativo da outorga inicia, quando o usuário de recursos hídricos encaminha ao órgão gestor de recursos hídricos os Formulários de Outorga 1 preenchidos e acompanhados da documentação técnica e legal solicitada. Com a lei N 6.381/2001 iniciou-se a estruturação do sistema de Gerenciamento de Regiões Hidrográficas no Estado do Pará, com a definição de 07 Regiões Hidrográficas, bem como a sistematização de informações para alimentação do banco de dados hidrometeológicos do estado do Pará, em processo de implantação pelo Núcleo de Hidrometeorologia (NHM) em parceria com o Programa de Monitoramento de Tempo, clima e Recursos Hídricos (PMTCRH), do Ministério da Ciência e Tecnologia, do centro de previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e do Instituto nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Com o intuito de facilitar o processo de gerenciamento dos recursos hídricos, procurou-se agrupar as bacias hidrográficas de acordo com as características geofísiográficas, como geomorfologia, geologia, hidrografia, solos, fator hidroclimático e ainda os municípios envolvidos (SECTAM, 2005), baseando-se nos seguintes critérios gerais para sua execução: 1 Os formulários de outorga são fichas cadastrais onde o requerente da outorga identifica, caracteriza e especifica a utilização que pretende fazer de determinado corpo de água, estão disponíveis na internet através do site www.sectam.pa.gov.br. 3
1. O limite geográfico das regiões hidrográficas coincide com os divisores de água das bacias limítrofes da região considerada; 2. As regiões devem apresentar uma homogeneidade nos aspectos geofisiográficos; 3. O número de municípios pertencentes a uma mesma região hidrográfica não deve ultrapassar 40, para evitar conflitos de uso. RESULTADOS O sistema hidrográfico do Estado do Pará é composto de 20 grandes bacias, constituindo uma vasta rede, característica dos estados da região amazônica. Haja vista a complexidade deste sistema, o Estado foi subdividido em 07 Regiões Hidrográficas: Região Calha Norte (bacias dos rios Nhamundá, Trombetas, Cuminapanema, Maicuru, Paru e Jarí), Região tapajós (bacia do rio Tapajós), Região Baixo-Amazonas (bacias do rio Curuá-Uma e guajará), Região Xingu (bacia do rio Xingu), Região Tocantins-Araguaia (bacias dos rios Tocantins-Araguaia, Jacundá e Oeiras), Região Portel-Marajó (bacias do rios Anapu, Pacjá e e marajó ocidental e Marajó Oriental) e a Região Costa-Atlântica-Nordeste (bacias do rio Guamá, Mojú, Capim, Gurupi, e as da região do Atlântico). De acordo com as regiões hidrográficas, realizou-se uma avaliação de cada região, onde foram identificados e hierarquizados os principais conflitos e prioridades de outorga, com a base de dados e bases geradas pelo NHM/LRS/SECTAM 2 e de dados dos levantamentos do IBGE (1997/2002). Dentre os conflitos identificados destaca-se na região hidrográfica Costa-Atlântica- Nordeste e Tocantins-Araguaia a exploração desordenada dos mananciais subterrâneos, poluição da água superficial e subterrânea nos centros urbanos, infra-estrutura sanitária inadequada. Nas regiões hidrográficas do Xingu, Baixo-Amazonas e Portel-Marajó os principais conflitos são de uso da terra: comunidades indígenas, madeireiros e pequenos agricultores. Na região do Tapajós além dos conflitos de uso da terra, tem o de despoluição dos cursos d água superficiais afetado pela mineração e o impacto gerado com a implementação de hidrovias e usinas hidrelétricas, e na região Calha Norte os principais conflitos são quanto à poluição nas áreas de mananciais, desmatamento de cabeceiras, acesso para o monitoramento e a implementação de grandes projetos mineiros e extrativistas. QUADRO 01: PRIORIDADES DE OUTORGA POR REGIÕES HIDROGRÁFICAS REGIÃO HIDROGRÁFICA Abastecimento Agroindustrial Abast. Industrial PRIORIDADES DE OUTORGA Irrigação Aquicultura Mineração Geração de energia elétrica Lançamento de efluentes 2 NHM: Núcleo de Hidrometeorologia. LSR: Laboratório de Sensoriamento Remoto. SECTAM: Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado do Pará. 4
ARAGUAIA x x x x x x x x x x x x COSTA- ATLANTICO- NORDESTE TOCANTINS- XINGU x x x x TAPAJÓS x x x x x CALHA NORTE x x x x x BAIXOx x x AMAZONAS PORTEL- MARAJÓ FONTE: Adaptado de SECTAM, 2005. x x x x Estes estudos contribuem significativamente para a avaliação dos pleitos de outorga no Estado do Pará, onde neste ano de 2006 foram avaliados 16 processos, principalmente quanto ao uso dos recursos hídricos de mananciais subterrâneos (execução de poços e captação de água) para abastecimento industrial, onde se destacam empresas de grande porte com a Companhia vale do Rio Doce (CVRD) e ALBRÁS-Alumínio Brasileiro S. A. CONCLUSÃO Observa-se assim, que há necessidade de uma utilização racional dos recursos hídricos, de modo a permitir o seu mais amplo aproveitamento, o qual pode ser conseguido através de uma gestão integrada dos recursos hídricos de uma bacia hidrográfica, em que sejam definidos não só os usos da água mais também as demais atividades que possam resultar em problemas de degradação dos mananciais. A outorga de uso da água é, portanto, um instrumento essencial ao gerenciamento dos recursos hídricos, pois ela pode possuir aspectos técnicos, legais e econômicos que, se bem articulados colaboram para o sucesso de um sistema racionalizado de uso dos mananciais. O Estado do Pará ainda está iniciando e os resultados obtidos, referentes às ações executadas e propostas, são de fundamental importância para um avanço do estado nesse setor, através da implementação dos instrumentos de gestão de acordo com a legislação vigente. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 9 de janeiro de 1997. PARÁ (Estado). Lei n. 6.381, de 25 de julho de 2001. Dispõe sobre a Política estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos e dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Pará. Belém, PA, 27 jul. 2001. SECTAM. Navegando sob o céu do Pará: hidroclimatologia e recursos hídricos do Estado do Pará/ Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e meio Ambiente. Belém: SECTAM, 2005. 5
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