U N I V E R S I D A D E D E S Ã O P A U L O

Documentos relacionados
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA

DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS CR C/H Avaliações e Intervenções em Processos Preventivos Linha Condições de Risco para o Adoecimento Linha

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA

ANAIS DO II SEMINÁRIO SOBRE GÊNERO: Os 10 anos da lei Maria da Penha e os desafios das políticas públicas transversais

DeCS - Descritores em Ciências da Saúde

Gênero. esexualidades. Prof. Agenor

A reforma da previdência e a vida das mulheres

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Eixo Temático: Temas Transversais

Interpretação de artigos científicos

Busca por informação e evidência científica na Biblioteca Virtual em Saúde

FATORES ASSOCIADOS A SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFESSORES FACTORS ASSOCIATED WITH BURNOUT SYNDROME IN TEACHERS

A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

ENVELHECIMENTO ATIVO ASSOCIADO À QUALIDADE DE VIDA E GÊNERO

REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA Especial 8 de Março Dia Internacional da Mulher

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E SAÚDE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

A taxa ou coeficiente de mortalidade representa a intensidade com que os óbitos por uma determinada doença ocorrem em dada população.

ASPECTOS SOBRE AS EXPRESSÕES DA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO EM ALTO PARANÁ/ PR E MIRADOR/ PR

A EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM UM GRUPO DE IDOSOS NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: um relato de experiência.

PLANO DE APRENDIZAGEM

TRABALHO DOMÉSTICO E ERGONOMIA: UM ESTUDO A PARTIR DA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO

Pós-graduações Cuidados Continuados e Paliativos

A OPÇÃO PELA ENFERMAGEM*

Vocabulário estruturado: DeCS. Descritores em Ciências da Saúde. Facilitador: Arão Nogueira de Araújo

A INSERÇÃO DOS NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO EM 2012

Trabalho de crianças e adolescentes e ansiedade

Reginaldo Guiraldelli é um

1 ; 2 ; 3 ; 4 ; 5.

Ingrid Mikaela Moreira de Oliveira¹ Samyra Paula Lustoza Xavier 2

OLHARES MÚLTIPLOS SOBRE DESIGUALDADE DE TRAJETÓRIAS ESTUDANTIS NO ENSINO SUPERIOR

Padrões recentes de inserção e mobilidade no trabalho doméstico do brasil metropolitano: descontinuidades e persistências

Fatores de risco de queda na pessoa idosa residente na comunidade: Revisão Integrativa da Literatura

PALAVRAS-CHAVE: Amamentação. Amamentação exclusiva. Enfermagem.

Como e onde buscar informação e evidências para tomada de decisões em saúde Biblioteca Virtual em Saúde - BVS

A INSERÇÃO DOS NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO EM 2012

Desafios para a Saúde Bucal em Estudos de Coorte. Renato De Marchi, MSc., Ph.D.

ENTREVISTA COM FAMÍLIA DE PACIENTES PÓS-INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO 1 RESUMO

A Saúde do Trabalhador

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Epidemiologia HEP 143

FEMINISMO. Luta das mulheres pela igualdade

FATORES DE RISCO ASSOCIADOS A QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Programa 25/4/2013 a 24/6/ /6/2013 a 26/7/ /7/2013 a 30/11/2014

I Workshop dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA INSERÇÃO DA TEMÁTICA QUALIDADE DO AR NO ENSINO DE QUÍMICA1 1

ANAIS DO II SEMINÁRIO SOBRE GÊNERO: Os 10 anos da lei Maria da Penha e os desafios das políticas públicas transversais

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO

CUIDADO É FUNDAMENTAL

O Desmonte da Previdência Social e as Mulheres. Brasília, 09 de março de 2017

TRABALHO DECENTE E JUVENTUDE NO BRASIL. Julho de 2009

INCAPACIDADE FUNCIONAL EM IDOSOS: ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA

AS DIFICULDADES VIVENCIADAS PELO CUIDADOR FORMAL E INFORMA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

QUEM SÃO OS INDIVÍDUOS QUE PROCURARAM A AURICULOTERAPIA PARA TRATAMENTO PÓS-CHIKUNGUNYA? ESTUDO TRANSVERSAL

Revisão integrativa sobre a intervenção humor em enfermagem

PLANO DE CURSO. 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: Curso: Bacharelado em Enfermagem

AULA 3. Busca em bases de dados e estratégia de busca

CURSO DE ENFERMAGEM CICLO DAS NECESSIDADES DO CUIDADO EM SAÚDE 1 SEMESTRE EIXO CUIDADO COM A SAÚDE DA CRIANÇA MÓDULOS

Plano de Curso nº 168 aprovado pela portaria Cetec nº 125 de 03 / 10 /2012. Habilitação Profissional: Técnica de Nível Médio de Técnico em Enfermagem

A INSERÇÃO DOS NEGROS NOS MERCADOS DE TRABALHO METROPOLITANOS

HIV/AIDS E QUALIDADE DE VIDA: ESTUDO COMPARATIVO EM PESSOAS ACIMA DE 50 ANOS

DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE: PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO CAMPO DA SAÚDE

E tudo d e c oort r e D f e iniçã ç o ã d e e co c ort r e: e gru r po d e pessoas que c omp m art r ilham algum m atri r buto

Departamento de Enfermagem Geral Especializada da EERP-USP. ERG-0112 Saúde do Trabalhador

A MULHER NA CIÊNCIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

III SEMINÁRIO DE PRÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA ISSN: Universidade Estadual de Maringá 23 de Novembro de 2013

A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICS) NO DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS RESUMO

CITY TOUR E QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE: O CONDUTOR NA INTERMEDIAÇÃO DO BEM-ESTAR DOS IDOSOS

Psicopedagogia: Teoria e Prática. Elizabeth Araújo Barbosa Enfermeira, Pedagoga e Psicopedagogia

RELAÇÕES DE TRABALHO E SUBJETIVIDADE EM EQUIPES INTERDISCIPLINARES DE ATENÇÃO À SAÚDE 1 ELIANE MATOS 2 DENISE PIRES 3

PERCEPÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS RESIDENTES SOBRE IDOSOS CUIDADORES DE IDOSOS EM UM AMBULATÓRIO DE FISIOTERAPIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Debate das determinações biológicas versus processo cultural. Unidade 1: O Homem

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Epidemiologia HEP Cassia Maria Buchalla

A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO NO ÂMBITO DO CURSO DE ENFERMAGEM DA UNIOESTE: RESULTADOS PRELIMINARES

ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA UFF DISCIPLINA: ANÁLISE DE DADOS PROFESSOR: HUMBERTO J. BORTOLOSSI

Diretoria de Pesquisas - DPE Coordenação de População e Indicadores Sociais - COPIS Gerência de Indicadores Sociais - GEISO 17/12/2014

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA CLÍNICA ESCOLA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

A população negra ainda convive com patamares de desemprego mais elevado

Violência no trabalho. Mara Feltes, secretária de mulheres da Contracs

CURSO: FISIOTERAPIA EMENTAS º PERÍODO DISCIPLINA: ANATOMOFISIOLOGIA DO SISTEMA LOCOMOTOR

MAURO LUIZ RABELO Presidente da Comissão

Proposta de Programa Latino-americano e Caribenho de Educação Ambiental no marco do Desenvolvimento Sustentável. Resumo Executivo

A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM FRENTE ÀS TRANSFORMAÇÕES NO CORPO DA MULHER DURANTE O CLIMATÉRIO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

O ADOECIMENTO DO PROFESSOR E O PROCESSO DE READAPTAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRICO- CULTURAL

Coordenação de População e Indicadores Sociais COPIS Gerência de Indicadores Sociais GEISO 07 de março de 2018

Prevenção as DST/AIDS e Envelhecimento. Paula de Oliveira e Sousa

Saúde coletiva e Epidemiologia

Mestrado Acadêmico em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde. Ementas 2016

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA POPULAÇÃO ATENDIDA PELA APAE DE VIÇOSA, MG Tamara Carolina Figueiredo 1, Isabel Cristina Silva 2.

ENFERMAGEM SAÚDE DO IDOSO. Aula 5. Profª. Tatiane da Silva Campos

I Workshop dos Programas de Pós-graduação em Enfermagem

PALAVRAS-CHAVE: Ostomia. Cuidados de enfermagem. Imagem corporal. Emocional.

Desigualdades étnico/raciais e de gênero no romance brasileiro contemporâneo

TÍTULOS LANÇADOS PELA EDUNEB CATÁLOGO 2010 Síntese dos Dados e Resumos referentes a cada Obra XXI BIENAL DO LIVRO EM SÃO PAULO 13/08/2010

PLURIATIVIDADE AGRÍCOLA E AGRICULTURA FAMILIAR II. META Mostrar o processo de inserção da agricultura familiar na economia brasileira.

MENTAL PARA PROFISSIONAIS DE

A VISÃO DA ESCOLA SEGUNDO OS ALUNOS DO OITAVO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA VIVÊNCIA DO ESTÁGIO E PIBID

E S C O L A S E C U N D Á R I A D E C A L D A S D A S T A I P A S

Palavras-chave: Cálculo Diferencial e Integral. Inclusão. Libras. Surdos.

IDENTIFICAÇÃO DAS ANIMAÇÕES\ SIMULACÕES EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE BIOLOGIA

Transcrição:

U N I V E R S I D A D E D E S Ã O P A U L O ESCOLA DE ENFERMAGEM Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Disciplina: ENS 5743 - Enfermagem em Saúde Coletiva II Prof a. Dr a. Emiko Yoshikawa Egry Prof a. Dr a. Maria Amélia de Campos Oliveira Prof a. Dr a. Rosa Maria Godoy Serpa de Fonseca 1. Identificação da resenhista: Alexandra Bulgarelli do Nascimento, Enfermeira, Professora em Instituição de Ensino Superior, Doutoranda do PPGE, nº USP 5170372, e-mail: abnascimento@usp.br. 2. Data de elaboração: São Paulo, 24 de abril de 2014. 3. Título: Rohlfs I, Borrell C, Fonseca MC. Género, desigualdades y salud pública: conocimientos y desconocimientos. Gaceta Sanitária 2000; 14(Supl.3):60-71. 4. Descritores: gênero 1, sexo 1, desigualdades 1, saúde publica 1, gênero e saúde 2 5. Resenha: 5.1 Resumo do artigo: O artigo é proveniente de uma pesquisa de revisão de literatura. Ele teve o objetivo de localizar as publicações sobre a temática de gênero na área das Ciências Sociais, visando estabelecer um marco conceitual sobre o assunto. Os autores propõem-se a investigar os determinantes que explicariam as diferenças e desigualdades existentes quanto à mortalidade e morbidade de mulheres em comparação aos homens, partindo da premissa de que estes determinantes não seriam somente aqueles relacionados à esfera biológica, mas também à esfera social do ser humano. Para tanto, os autores buscaram os conceitos relacionados a gênero desenvolvidos pela Sociologia. Em seguida, relacionaram estes conceitos com as desigualdades em saúde no âmbito do trabalho de homens e mulheres. Os materiais científicos utilizados para esta pesquisa foram: livros e periódicos. 1 Descritores presentes no artigo analisado. 2 Descritor sugerido pela resenhista, a partir de pesquisa prévia nos Descritores das Ciências da Saúde (DeCS). 1

A busca foi realizada na base de dados "Medline", sendo elegíveis os materiais que obedeceram aos seguintes critérios de inclusão: presença da palavra "gênero" em qualquer posição do texto, publicação ocorrida nos últimos 10 anos, no idioma inglês ou castelhano e com abordagem restrita a seres humanos. A primeira seleção foi realizada por meio de uma análise qualitativa dos materiais localizados, quanto ao seus respectivos títulos e, em seguida, por meio da leitura dos seus resumos, a fim de verificar a adesão do material ao tema de interesse dos pesquisadores. Para refinar a pesquisa foi realizada uma consulta ao Medical Subject Headings (MeSH), sendo selecionados os seguintes descritores: women s health, health inequalities e work, bem como, foram consultadas as referências bibliográficas dos materiais elegíveis para a pesquisa, utilizando-se destes descritores, com a finalidade de verificar se haveria algum material adicional disponível que se enquadraria nos critérios de inclusão e que, eventualmente, não tivesse sido localizado anteriormente. Após a seleção dos materiais científicos, os autores iniciaram o artigo problematizando a presença de desigualdades em saúde entre homens e mulheres, as quais transpõem as diferenças biológicas, ditas "sexuais", uma vez que as mulheres têm esperança de vida maior em relação aos homens, no entanto, maior adoecimento e incapacidades do que eles. Eles discutiram que a esfera biológica estaria preocupada com os aspectos genéticos, fisiológicos, anatômicos, bem como com os fatores de risco e a predisposição a enfermidades a depender do sexo. Já a esfera social se relacionaria às desigualdades de gênero evidentes devido ao padrão de socialização, regras familiares, obrigações, expectativas de inserção no mercado de trabalho e tipos de ocupação, as quais são mais desfavoráveis para as mulheres em comparação aos homens. Isto, por sua vez, impactaria nas condições de saúde das mulheres, por meio do desenvolvimento de doenças crônicas que, muitas vezes, podem ser incapacitantes e limitantes, e podem resultar em morte. Diante disto, a desigualdade na divisão sexual do trabalho teria feito com que a maioria das mulheres exercessem atividades reprodutivas de cuidados, que se caracterizam pelos cuidados dirigidos às crianças, ao trabalho doméstico, aos doentes e idosos, o que por sua vez não é reconhecido e valorizado pelas sociedades ocidentais e, consequentemente, causa impacto sobre a saúde das mulheres que realizam tais atividades. A marginalização da mulher é tão estanque, que apenas recentemente, segundo o artigo analisado, os ensaios clínicos incluíram as mulheres entre os sujeitos de pesquisa. Até então, os 2

resultados encontrados para o sexo masculino eram considerados replicáveis para a população feminina. Diante disto, os autores abordaram o conceito de gênero e discorreram que apenas em 1955, um médico estadunidense e endocrinologista, propôs a diferenciação entre os conceitos de "sexo" e "gênero". O primeiro se relacionaria à classificação: macho ou fêmea, o segundo às diferenças comportamentais relacionadas ao sexo. A partir da década de 1970, vários estudiosos passaram a definir "gênero" como um constructo fundamentado na organização social dos sexos, ou seja, a construção social do sexo biológico, por meio das relações sociais diante da historicidade vivenciada pelos sujeitos. Neste ínterim, a socialização emerge como um processo que influencia o desenvolvimento da personalidade, a qual seria resultado da aprendizagem de conteúdos de uma cultura transmitida de geração a outra, por meio das relações familiares e da escola. Estas transmitiriam os valores e normas aos indivíduos, com a instauração dos papéis sociais, que por sua vez poderiam restringir as oportunidades destes, a depender das diferenças de gênero e das classes sociais nas quais estes indivíduos estivessem inseridos socialmente. Para exemplificar, os autores citaram dois trabalhos que explicitaram a preferência pelo nascimento de meninos na sociedade chinesa, o que fez com eles fossem melhor alimentados e recebessem mais estímulos durante o seu desenvolvimento e crescimento, em comparação às meninas nascidas no mesmo contexto social. Isto fez com eles tivessem, provavelmente, um desenvolvimento cognitivo favorável em relação às meninas, tendo melhores oportunidades sociais em comparação a elas. Desta forma, surge a visão sociológica, voltada para a compreensão de gênero a partir das relações sociais. No entanto, a visão sociobiológica, que parte dos aspectos biológicos e sociais, organizados em fatores, também tenta explicar as questões de gênero. Nesta perspectiva, ocorre a influência da herança genética determinando o comportamento social do indivíduo, como por exemplo: a identidade de gênero se dando num processo de aprendizagem nos primeiros anos de vida; a orientação sexual homossexual como resultado de níveis hormonais deficitários ao longo do desenvolvimento do indivíduo; e as diferenças morfofisiológicas e hormonais de mulheres e homens estabelecendo as capacidades cognitivas. Portanto, os autores alertaram para a necessidade da adoção da terminologia correta a depender do que o pesquisador se propõe a estudar exatamente. 3

Diante disto, ao se abordar os aspectos da saúde sob a perspectiva de gênero, os autores afirmaram que a saúde dos homens e mulheres é diferente e desigual. Diferente por conta dos aspectos biológicos e desigual devido à presença de aspectos sociais que são determinantes para esta desigualdade. Foram discutidas as diferenças entre homens e mulheres sobre a percepção da doença, uma vez que os homens se declaram mais sadios em comparação às mulheres, no entanto, vivem menos do que elas. Da mesma maneira há maior ocorrência de doenças psíquicas, como depressão e ansiedade, entre as mulheres e de doenças funcionais entre os homens, como deficiência visual e auditiva. No entanto, um estudo contrapôs estes achados, apontando que os homens estão mais suscetíveis às doenças psíquicas em comparação às mulheres. Além disso, outro estudo, realizado na década de 1990, propõe pesquisas mais aprofundadas, a fim de que não se concluíssem e reproduzissem conclusões que pareceriam inconclusivas. Porém, os autores apontam ser de conhecimento que aspectos biológicos, representados pela genética, fisiologia e morfologia, e que a estrutura social, representada pelos papéis e normas, podem influenciar as diferenças de gênero. Elas incidem de forma mais contundente sobre as mulheres em comparação aos homens, no que se refere às perspectivas de vida que incluem o acesso à educação, trabalho, renda, satisfação com o trabalho, entre outros. O trabalho compreendido como atividade fundamental da sociedade contemporânea, ganhou destaque no artigo ao articulá-lo com aspectos relacionados à saúde. O trabalho foi diferenciado entre trabalho produtivo, remunerado, e trabalho reprodutivo, não remunerado. Cabe à mulher, compulsoriamente, devido aos papéis sociais postos e à divisão sexual do trabalho, o trabalho reprodutivo, relacionado aos afazeres domésticos e cuidados com as crianças, enfermos e idosos. Isto, por si só, conforme evidenciado pelo artigo, pode desencadear processos de adoecimento nas mulheres. A partir dos estudos citados no artigo, recomenda-se que se relativizem as evidências referentes ao agravamento da saúde da mulher ao conciliar o trabalho reprodutivo com o trabalho produtivo. Alguns apontaram que realizar somente trabalho reprodutivo pode ser deletério para a saúde da mulher, por conta da ausência de remuneração, baixa valorização dos componentes da família, baixa autoestima, entre outros. Porém, outros apontaram que a conciliação destes tipos de trabalho, principalmente, dentre aquelas com inserção social desfavorável, pode agravar a condição de saúde desta mulher, visto que esta configuração de vida, exigirá dupla ou tripla jornada de trabalho. Há ainda o viés de que este trabalho pode ser menos reconhecido e remunerado em comparação ao trabalho realizado pelos homens ou ao estrato ocupacional que elas ocupam, em relação aos outros estratos ocupacionais mais valorizados. 4

Os autores finalizaram o artigo discutindo que o reconhecimento das diferenças de gênero enriquecem e expandem a compreensão sobre as ações em medicina preventiva e saúde pública, visto que para se propor a estudar a morbidade e mortalidade de qualquer grupo social faz-se necessário relativizar as necessidades quanto às diferenças de gênero. 5.2 - Comentários da resenhista: Tendo como referência a concepção preconizada pela Saúde Coletiva, à luz do materialismo histórico e dialético, e do modo de produção capitalista, ao qual a sociedade global está submetida, o artigo permitiu a compreensão da divisão sexual do trabalho como temática abordada transversalmente por ele. Aspectos relacionados à organização social sob a perspectiva capitalista impõem à mulher uma certa desvalia em relação ao homem. Esta herança de papéis sociais desfavoráveis adotados pelas mulheres em comparação aos homens, decorre dos aspectos relacionados à historicidade, que remontam períodos préhistóricos em que cabia à mulher o trabalho reprodutivo, relacionado aos cuidados com as crianças, idosos, doentes, feridos e com o lar, bem como o trabalho produtivo, relacionado, em algumas culturas, à confecção do vestuário e à coleta ou, posteriormente, à agricultura. O ponto em discussão é que passados milhares de anos, esta situação se mantém e em muitos aspectos se agrava, principalmente, pelo modo de produção atual, que obriga a mulher à manutenção de um comportamento herdado culturalmente, agregado a um novo comportamento, que a atual organização social impõe a ela, fazendo com que a sua condição de saúde fique precária. O artigo foi uma oportunidade de reflexão sobre as relações de gênero presentes, cujas práticas são reiterativas de outros momentos históricos, frente às novas exigências que o capital impõe para a manutenção da sobrevivência da mulher na atual conformação social. 6.0 Intertexto para ampliação: 6.1 - Leituras que subsidiaram a compreensão do artigo: Fonseca RMGS. Gênero como categoria para a compreensão e a intervenção no processo saúde-doença. PROENF- Programa de atualização em Enfermagem na saúde do adulto. Porto Alegre: Artmed/ Panamericana, 2008, v.3, p.9-39. Fonseca RMGS. Gênero e saúde da mulher: uma releitura do processo saúde doença das mulheres. In: Fernandes RAQ; Narchi, NZ. (org.). Enfermagem e saúde da mulher. São Paulo: Manole 2007; p.30-61. 5

6.2 Leituras futuras para ampliação da compreensão sobre a temática do artigo: Brah A. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu 2006, 26: 329-76. Neves IR. LER: trabalho, exclusão, dor, sofrimento e relação de gênero. Um estudo com trabalhadoras atendidas num serviço público de saúde. Caderno de Saúde Pública 2006, 22(6): 1257-65. 7. Apreciação geral O artigo mostrou-se rico ao propor delimitar o marco teórico relacionado à temática de "gênero", frente aos conhecimentos e desconhecimentos sobre o assunto. Sob a perspectiva metodológica percebeu-se a preocupação dos autores em realizar uma revisão de literatura que abarcasse o maior número possível de materiais científicos sobre o tema. No entanto, em alguns momentos, a linha argumentativa proposta exigiu uma leitura mais atenta dos motivos pelos quais os autores retomaram aspectos abordados em momentos anteriores do artigo, possivelmente, tentando destacar os conhecimentos e equívocos sobre o assunto. Quanto ao idioma de publicação foi possível experimentar o espanhol, o que exigiu um conhecimento intermediário, bem como permitiu a compreensão de alguns vocábulos utilizados em menor frequência nos materiais científicos, proporcionando um aprendizado adicional enriquecedor. 6