COMPOSIÇÃO DA MACROFAUNA BENTÔNICA DURANTE O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DA MATA CILIAR DO RIO MANDU EM POUSO ALEGRE, MG.

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Transcrição:

COMPOSIÇÃO DA MACROFAUNA BENTÔNICA DURANTE O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DA MATA CILIAR DO RIO MANDU EM POUSO ALEGRE, MG. Marcos Vinícius Nunes 1 Emerson Ribeiro Machado 2 José Valdecir de Lucca 3 Odete Rocha 4 RESUMO Os macroinvertebrados bentônicos têm gradativamente recebido maior atenção devido à sua importância nos processos ecológicos, por meio de sua participação no fluxo de energia e na ciclagem de nutrientes nos sistemas aquáticos, desempenhando papel importante na troca de fósforo e nitrogênio entre o sedimento e a água de interface. Além disso, eles participam das cadeias alimentares em várias comunidades aquáticas, especialmente como alimento para peixes e aves aquáticas. O presente trabalho foi realizado em um trecho degradado do rio Mandu, em Pouso Alegre, MG, e teve como objetivo principal analisar a influência da recomposição mata ciliar sobre a comunidade de macroinvertebrados bentônicos neste rio. A coleta dos macroinvertebrados foi realizada 1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (PPG-ERN)/ Universidade Federal de São Carlos (UFSCAr) 2 Universidade do Vale do Sapucaí/Departamento de Ciências Biológicas, Pouso Alegre, MG 3 Universidade Federal de São Carlos/Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, São Carlos SP 4 Universidade Federal de São Carlos/Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, São Carlos SP 166

com amostrador Surber em dezembro de 2007 e dezembro de 2008. Após a coleta o material foi triado e identificado ao nível de família com o auxilio de bibliografia especializada. Houve um aumento significativo da abundância após o processo de recuperação da mata ciliar. Foram coletados nas duas campanhas um total de 1671 espécimes, sendo que destes 95 foram coletados em dezembro de 2007 e 1576 em dezembro de 2008. Palavras-chave: Recursos hídricos; mata ciliar; macroinvertebrados bentônicos. 1. INTRODUÇÃO As mudanças em ambientes aquáticos podem ser visualmente notadas quando se observam as comunidades que vivem nestes ecossistemas. Dentre todas as comunidades encontradas nos sistemas de águas doces a comunidade de macroinvertebrados bentônicos é frequentemente utilizada na avaliação de impactos ambientais e no monitoramento biológico (Egler, 2002; Goulart e Callisto, 2003; Buss 2004). Os macroinvertebrados bentônicos são organismos que habitam os sedimentos dos ecossistemas aquáticos continentais, que podem ser os fundos de riachos, corredeiras, rios, represas e lagos, durante parte do seu ciclo de vida ou toda a vida associados aos mais diversos tipos de substratos, tanto orgânicos (folhiço, macrófitas aquáticas, etc.), quanto inorgânicos (cascalho, areia, rochas, etc.). Geralmente possuem tamanho de corpo superior a 0,2 mm, sendo possível a observação a olho nu e ficam retidos em malhas de rede entre 0,2 e 0,5 mm de abertura de malha (Rosenberg e Resh, 1993; Callisto 2004; Silveira et al, 2004; Pinho et al, 2006). Os macroinvertebrados bentônicos têm sua distribuição controlada por vários fatores, dentre eles destacando-se a disponibilidade e qualidade do alimento, o tipo de sedimento ou substrato, a temperatura do meio, morfologia do ecossistema, presença de vegetação aquática, presença e extensão de mata ciliar e mudanças na produtividade primária. (Ward et al., 1995; Esteves, 1998; Galdean et al., 2000). A comunidade de macroinvertebrados bentônicos pode apresentar grande diversidade de espécies e diversas formas e modos 167

de vida adaptando-se aos habitats locais. O componente de maior evidência entre os grupos de macroinvertebrados bentônicos são geralmente os Insecta, com destaque para as larvas de insetos, na sua forma larvar, geralmente encontradas em grande quantidade, no caso dos grupos Diptera aquáticos, Ephemeroptera, Plecoptera, Odonata, Trichoptera e outros grupos de invertebrados como os Anellida e Mollusca entre outros (Vieira et al, 1998; Mandaville, 2002; Buss, 2004; Silveira, 2004; Moreno e Callisto, 2005; Lucca, 2006). A comunidade bentônica exerce grande influência na dinâmica dos ecossistemas aquáticos por atuarem no processo de biorrevolvimento, onde o sedimento é escavado pela atividade dos macroinvertebrados bentônicos. O biorrevolvimento depende basicamente de quatro fatores principais: tamanho do organismo, densidade, atividade e capacidade de penetração no sedimento (Berg et. al., 1997; Esteves, 1998; Beier e Traunspurger, 2001; Mandaville, 2002; Lucca, 2006). O objetivo deste trabalho foi comparar as mudanças ocorridas na comunidade de macroinvertebrados bentônicos após um ano do início do processo de recuperação de um trecho da mata ciliar do rio Mandu em Pouso Alegre-MG, Brasil. 2. MATERIAL E MÉTODOS A área em estudo e que foi reflorestada localiza-se em um trecho do rio Mandu que passa pelo bairro rural Cajuru em Pouso Alegre-MG. Foram selecionados quatro (4) pontos amostrais para serem realizadas as coletas dos macroinvertebrados bentônicos. A coleta foi realizada nos meses de dezembro de 2007 e dezembro de 2008. Para a coleta dos macroinvertebrados utilizou-se um amostrador tipo Surber, que consiste de um delimitador de área de 0,9 m² associado a uma rede de malha de 250 micra de abertura. As coletas foram realizadas na zona litorânea, em duplicata, e seguiu o Protocolo de coleta e preparação de amostras segundo Silveira, 2004 e Brandimarte et al. 2004. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos com água do local, etiquetadas e transportadas para o Laboratório de Ecologia da UNIVAS (Universidade do Vale do Sapucaí). No laboratório as amostras foram lavadas em água corrente sobre peneiras com abertura de malhas de 1,00 e 0,25mm. Os organismos foram triados em bandeja transiluminada e preservados em álcool 70% até a identificação. Com o auxílio de um estereomicroscópio os exemplares foram isolados e identificados taxonomicamente até o 168

Número de Organismos nível de família por meio de chaves taxonômicas especializadas como: Pérez (1988), Trivinho-Strixino e Strixino (1995), Merritt e Cummins (1996) e Costa (2006). Após a identificação os organismos foram fixados em nova solução de álcool 70%. Para avaliar a estrutura da comunidade de macroinvertebrados bentônicos foi calculada a frequência de ocorrência (% de indivíduos), a riqueza taxonômica (através do número total de táxons encontrados em cada ponto amostral), o número de indivíduos coletados e a densidade (calculada considerando-se o número total de indivíduos e a área do amostrador). 3. RESULTADOS Foram coletados no total 1671 organismos, sendo desde 95 organismos coletados na coleta de dezembro de 2007 e 1576 na coleta de dezembro de 2008 (Figura 1). Foram registrados 25 táxons diferentes, com ocorrência de 15 táxons em dezembro de 2007 e 23 em dezembro de 2008. (Figura 2). Os Chironomidae foram os mais representativos nas 2 campanhas (64,69% da fauna total) (Tabela 1). Em dezembro de 2007 este grupo representou 47,37% do total de macro-invertebrados e em 2008, 65,74% (Tabela 1). Na Figura 3 é mostrada a riqueza de espécies registrada nas 2 campanhas realizadas. Na segunda campanha (dezembro de 2008) houve um aumento marcante da riqueza taxonômica (Figura 3) e da densidade (Figura 4) em todos os pontos de amostragem. 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Total dez/07 dez/08 Mês de coleta Total dez/07 dez/08 Figura 1- Número de organismos coletados nas campanhas de dezembro de 2007 e dezembro de 2008 e o total. 169

Número de Taxas 30 25 20 15 10 5 0 Total dez/07 dez/08 Mês de coleta Total dez/07 dez/08 Figura 2 Riqueza de táxons dos macroinvertebrados bentônicos registrada nas campanhas de dezembro de 2007 e 2008. Tabela 1- Freqüência de ocorrência dos macroinvertebrados bentônicos registrada nas campanhas de dezembro de 2007 e 2008. Táxons Dez/07 Dez/08 Total Ceratopogonidae Chironomidae Culicidae Simuliidae Baetidae Leptophlebiidae Tricorythidae Perlidae Calamoceratidae Hydrobiosidae Hydropsychidae Philopotamidae Leptoceridae Calopterygidae 170

Numero de taxa Coenagrionidae Gomphidae Libellulidae Elmidae Psephenidae Pupa Ptilodactylidae Tubificidae Hirudinea Crustacea Hydrachnidae 50% 20% < 50% 5% < 20% < 5% 25 20 15 10 5 0 P1 P2 P3 P4 Pontos amostrados Dezembro 2007 Dezembro 2008 Figura 3 - Riqueza de táxons dos macroinvertebrados bentônicos registrada nos 4 pontos de amostragem nas campanhas de dezembro de 2007 e 2008. 171

Densidade (ind/m²) 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 P1 P2 P3 P4 Pontos amostrados Dezembro 2007 Dezembro 2008 Figura 4 - Densidade dos macroinvertebrados bentônicos registrado nos 4 pontos de amostragem nas campanhas de dezembro de 2007 e 2008. 4. DISCUSSÃO O aumento na riqueza taxonômica e na densidade dos macroinvertebrados bentônicos entre a campanha de dezembro de 2007 e dezembro de 2008, provavelmente está relacionado com a recuperação da mata ciliar no trecho em estudo. Alguns autores como os de Corbi (2006), Paula & Fonseca-Gessner (2008), Guereschi (2004) verificaram maiores valores de riqueza em áreas em recomposição e com cobertura florestal, ao contrário de áreas que não apresentam mata ciliar. Isto deve ao fato da mata ciliar proporcionar maior disponibilidade de alimento e habitats (Hynes, 1970). A elevada abundância de Chironomidae (64,69%) e a sua ocorrência em todos os pontos de amostragem relaciona-se também ao fato de que os Chironomidae estão amplamente distribuídos, ocorrendo tanto em ambientes lóticos como lênticos e geralmente em elevadas densidades (Pérez, 1988 e Costa 2006). 172

5. CONCLUSÔES Houve aumento da riqueza e densidade dos macroinvertebrados bentônicos entre dezembro de 2007 e 2008;período de recomposição da mata ciliar; Os Chironomidae foram os macroinvertebrados bentônicos mais representativos nos dois períodos amostrados confirmando a importância deste grupo para as comunidades de macroinvertebrados em águas doces tropicais; A preservação e recuperação da mata ciliar aparentemente refletiram de forma positiva para o aumento da riqueza de espécies na comunidade de macroinvertebrados bentônicos. 173

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